Shiver escrita por Aurora


Capítulo 11
Changing of the Seasons


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não ficou muito grande, mas em troca, tenho CERTEZA que amantes de MiKaito amarão o próximo! Até as finais!



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Estava sentada com a cabeça abaixada, encarando seu prato. Luka sentava-se ao seu lado do mesmo jeito, parecendo igualmente desconfortável.

Balançava os pés sobre sua cadeira, enquanto estava consciente de tudo que fazia. Cada pedaço de ar que entrava em seu corpo e irrigava suas células, cada piscada que dava, cada mexida que seu corpo fazia.

Não sabia se isso se devia ao fato de agora ser um lobisomem forte, sensível aos sentidos e, de certa forma sobrenatural, ou se estava apenas entediada demais para tentar sequer se ocupar com algo mais lúdico.

Big Al e sua mãe estavam empenhados em tentar trazer à tona algum assunto que todos pudessem discutir, mas não daria muito certo. Era como se sua mãe estivesse noiva de seu chefe. Ou como o inferno terrestre. Basicamente a mesma coisa.

Tomou em mãos sua taça de vinho, o girando sobre a palma levianamente, para aguçar o sabor. Ou só para disfarçar mesmo.

– Então... – dessa vez, ela tentou puxar assunto para cobrir o silêncio embaraçoso. Mesmo que não estivesse minimamente interessada, perguntou – Como se conheceram?

Sua mãe deixou os talheres de lado e sorriu como se estivesse esperando para que alguém perguntasse para que ela pudesse dizer. Típico.

– Uma história engraçada, na verdade... – e foi só até aí que Miku ouviu. Fingia o riso quando eles riam, e acenava sempre que sua mãe parava de falar temporariamente. O que conseguiu prender da história foi algo sobre uma última lata de ervilhas, uma grande fila de supermercado e muito tempo livre.

Quando a história terminou, ela pediu licença e foi para a cozinha, apenas por ir. Fora das vistas, andou de um lado a outro, apreensiva. Controlava a respiração para que não fosse notava, mas estava explodindo por dentro. Era como um pesadelo, mas que acontecia enquanto ela estava acordada.

Parou de andar, fechou os olhos e respirou fundo e devagar, soltando o ar pela boca. Olhou para o relógio. Dez e quarenta e dois. Parecia que o tempo não passava mais!

Controlou-se para que não batesse os pés ou nada que pudesse ser perceptível por quem estava na sala. Porque não pediu para ir ao banheiro ao invés disso?!

Debruçou as mãos sobre a pia, respirando fundo. Uma coruja piou lá fora, assustada, e seus olhos seguiram pela janela. Viu um carro – provavelmente de Al – parado na frente da sua garagem, e do outro lado da rua, uma moto preta. Teria dado mais de seu tempo para refletir, mas sua mãe a chamou de volta.

Sentou-se à mesa outra vez, enquanto ouvia sua mãe, Big Al e Luka discutindo sobre um jogo que havia passado dias atrás, mas não opinando nada. Brincou com seu salmão sobre o prato – odiava peixe, e não se via na obrigação de comê-lo.

– E você, Miku? – a voz austera e grossa de Al a despertou dos devaneios, fazendo com que ela estremecesse. Era como se o presidente estivesse falando com ela em pessoa. Manteve o olhar baixo para que ele não tomasse nenhuma de suas ações como desafio, e sua voz saiu fraquíssima ao responder.

– O que?

– Quais seus passatempos favoritos? – soou quase como se fosse um teste. Seus olhos afiados pareciam ver se ela daria a resposta certa, causando assim sua aprovação ou reprovação.

– Não tenho muito tempo livre, ultimamente. – respondeu com calma, já levantando os olhos.

– Ultimamente? – ele virou o rosto levianamente, aumentando o clima tenso entre os dois ainda mais. – Então antes você tinha tempo livre. Antes de quê, exatamente?

O que é isso? Estou sendo interrogada pelo FBI?

– Antes de me mudar. – mesmo que acidentalmente, acabou soando rude. Luka a chutou por baixo da mesa e Miku fez uma careta.

Não é necessário dizer o quão estranho foi o resto do jantar.

Ao final, ela subiu para seu quarto de mau humor. Ainda estava com fome, e agora, sentia-se extremamente pressionada.

Trancou a porta atrás de si e berrou. Estava irritada por uma série de motivos. Andou em passos pesados até seu banheiro, onde agarrou uma escova e começou a pentear irritadamente seu cabelo. Resmungava enquanto isso.

Três batidas na sua janela a fizeram esquecer essa raiva e adotar uma postura assustada. Agarrou a escova como se fosse algum tipo de espada, e cuidadosamente, espiou por fora do banheiro. Não seria tão assustador se seu quarto não estivesse no segundo andar.

Antes de sair de seu esconderijo – o banheiro – esperou para ver se as batidas voltariam. Afinal, poderia ter sido a árvore lá fora que com o vento, bateu na janela.

O som de alguém dando batidinhas amigáveis no vidro voltou e ela estremeceu.

Por que estava sendo tão covarde? Agora era forte, poderia derrubar o que quer que estivesse lá fora com uma única “escovadada”.

Andou gatuna até a janela, tentando ver o que estava do lado de fora. Sobre um galho grosso, conseguia ver uma silhueta grande abaixada, mas isso era tudo.

Quando se convenceu de que não era uma ameaça, levantou a janela e colocou a cabeça para fora.

Kaito estava olhando para baixo, e ao ouvir a janela abrindo, levantou o rosto. Estava em uma posição adaptada sobre o galho, com roupas de frio e mesmos olhos de raposa.

– Estava começando a achar que não iria abrir. – ele sorriu, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e estreitando os olhos.

Miku suspirou aliviada, jogando a escova de lado e relaxando seu corpo.

– O que está fazendo aqui?

– Soube que o Al e sua mãe estão noivos, e que houve toda uma cerimônia de apresentação hoje.

– E daí?

– Conheço o Al. Sei como ele pode ser insuportável, e pelo visto, ele foi.

– Não foi nada. Não era como se eu esperasse algo melhor de qualquer jeito.

Ele se levantou sobre o galho, inclinando seu corpo para frente e se segurando no parapeito da janela. Tinha o famoso “sorriso-presunção” estampado no rosto, e ele parecia acomodado até demais ali.

– Quer dar o fora daqui?

O que? Kaito, senhor Perseguição, estava a chamando para sair depois do toque de recolher?

Miku riu com a ironia do próprio pensamento. Mas afinal, não havia levado seu pedido a sério.

– Por favor, não tem crianças para assustar?

Quase caiu da janela quando Kaito tomou sua mão e a puxou para perto, fazendo com que quase se esbarrassem.

– Prefiro assustar você.

Era um convite encantador.

Miku teve cuidado ao se afastar dele, e refletiu sobre a ideia. Tinha acabado de ter o pior jantar da sua vida, e estava faminta. Kaito poderia distraí-la e talvez levá-la para comer alguma coisa. Seria como dois coelhos por uma cajadada só.

Suspirou, surpresa com sua própria conclusão. Até um tempo atrás – talvez dois dias – não cogitaria a ideia nem de falar mais de cinco frases para Kaito. E agora?

– Cinco minutos, e eu te encontro lá em baixo.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Acho que vou continuar logo, mas depende muito de como essa semana irá fluir. De qualquer jeito, espero vê-los nos reviews!