Shiver escrita por Aurora


Capítulo 10
Sun and Ocean Blue


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Acordou depois do almoço. Havia dormido mal pela ansiedade que tinha vindo para casa com ela, e agora não conseguia parar de olhar pela janela, como se realmente esperasse ver alguma coisa.

Ela se aquecia com vários casacos, sentada sobre o parapeito da janela. Estava agitada, e só depois de algum tempo ali, decidiu que se chamasse seu lobo, provavelmente conseguiria distrair a mente um pouco.

Saiu do quarto, e no caminho para a escada, esbarrou-se em sua mãe.

– Bom dia, meu bem. – a mulher sorriu para ela, e Miku apenas virou o rosto. – Hoje eu gostaria de apresentar você e a Luka para meu noivo.

Ela arqueou as sobrancelhas, se certificando em fazer uma expressão de desprezo antes de responder.

– Acha que me importo com quem você vai casar? Pode ser de um estuprador a um filantropo, eu não ligo. Desde que eu não tenha que vê-lo nos meus dias, está ótimo. – não esperou pela resposta da mãe para começar a descer as escadas e ir para os fundos.

Quebrava-lhe o coração ter que ser esse tipo de pessoa, principalmente com sua mãe, mas não via outra escolha. A errada da história não era ela.

Andou até a entrada da reserva. Caminhou entre as árvores por um tempo, até sentir que estava longe de tudo e de todos.

Tirou suas roupas, afinal, estava cansada de rasgá-las toda vez que se transformava. Escondeu-as embaixo de um arbusto, tendo certeza de se lembrar qual.

Antes que o frio lhe açoitasse a pele, fez como Luka havia ensinado, e chamou seu lobo. Essa foi a melhor transformação que tivera, mesmo que a sensação ainda não fosse cem por cento familiar.

Como lobo, pensou em que lugar iria primeiro. Poderia ir aonde quisesse e voltar antes do anoitecer, por ser tão rápida. Um lugar brotou-lhe na mente, e ela não quis saber de nenhum outro.

Com as patas fortes, começou a correr. Saltou sobre obstáculos e desviou de árvores como se tivesse nascido para isso. Diria que o tempo que levou correndo foi de mais ou menos uma hora, até que o focinho apurado começou a sentir o cheiro do salgado oceano, e algo mais.

Parou de correr e se abaixou, furtiva. Andou devagar e com cautela, seguindo uma nova olência que havia captado. Era conhecida de alguma maneira, mas não iria apostar todas suas fichas nisso.

Conseguia ouvir as ondas fortes do Pacífico se chocando contra rochas, e a brisa marinha balançando os pinheiros altos. Passou entre algumas árvores quando um sexto sentido apitou, e ela ficou completamente imóvel.

Entre alguns arbustos e galhos baixos conseguia ver o Pacífico azul. Estava em um precipício não muito alto, e sobre uma rocha que se assemelhava a um trampolim encorpado, viu uma figura alta e completamente negra deitada sobre.

A princípio, achou ser o lobo da primeira noite, aquele que a havia transformado. Mas não era. Esse era ainda maior, e a pelagem vezes mais escura. O outro era mais acinzentado, e esse não apresentava nenhuma outra cor. Mesmo sabendo que nunca havia o visto antes, algo nele lhe era familiar.

Aproximou-se cautelosamente pela diagonal, vendo que o lobo ainda não havia a notado ali. Provavelmente porque estava contra o vento, e seu cheiro não havia chegado ali.

Estava quase sem nada para escondê-la. Perto do rochedo, as árvores e arbustos tornavam-se escassos, e ficaria a vista se avançasse mais.

Por sorte ou azar, o vento repentinamente mudou. Chocou-se contra seu corpo com força, e ela quase pôde ver a brisa carregando seu odor para onde o lobo estava.

A reação foi instantânea.

O grande animal se pôs de pê automaticamente, se virando na direção dela. Curvou o corpo e mostrou os dentes grandes e brancos, tão ameaçador quanto podia.

Miku estremeceu. Achava-se um animal grande, mas comparado a ele, sentia-se impotente e desprotegida. A resposta interior falou mais alto. Ela abaixou o corpo e colocou o rabo entre as pernas, olhando para baixo. Fazia um som como o de um cachorro chorando, e a própria incapacidade de se proteger a irritou.

O lobo negro pareceu hesitar ao vê-la. Como se não tivesse certeza se deveria atacar ou não.

Para sua sorte, ele decidiu que não. Começou a correr entre a mata e em questão de segundos, havia desaparecido.

Não iria negar que foi algo estranho. Porque um lobo daquele tamanho fugiria dela?

Ignorou a pergunta, deitando-se no chão e olhando para o vasto oceano que nascia a sua frente.

A sensação da brisa salgada voando com seus pelos era boa, e ela se sentiu extremamente relaxada por alguns instantes. Sempre havia adorado tudo que envolvia praias, mares e coisas assim.

Faziam-na se sentir em casa.

Quando voltou para sua casa, não passava muito das seis. Havia pegado suas roupas embaixo do arbusto, e passado pela porta como se absolutamente nada tivesse acontecido.

Passou direto por sua mãe, subindo as escadas de dois em dois degraus e se trancando novamente em seu quarto.

Tomou um banho para tirar todo o sal do corpo, regenerando-se do dia. Por algum motivo, resolveu vestir algo mais arrumado, por que sabia, independente do que tivesse dito, sua mãe ainda lhe apresentaria ao seu noivo.

Vestiu um jeans com blusa de manga branca, e um Vans vermelho que juntava mofo atrás da sua cama.

Saiu do quarto a tempo de se encontrar com Luka no corredor. Luka sim estava propriamente arrumada, com um vestido rosa e um salto. Perto dela, Miku se sentiu uma mendiga que assaltara uma loja de descontos.

Desceram as escadas juntas, e viram sua mãe arrumando a mesa.

– Que roupa é essa, Miku?

– Fique feliz pelo fato de eu ter vindo e deixe as nuances de lado. – falou calmamente, indo até a cozinha pegar um copo de água. Saiu da cozinha a tempo da campainha ser tocada.

– Eu atendo! – sua mãe anunciou, arrumando os cabelos curtos sobre os ombros e passando a mão para desembolar o vestido. Tirou o avental e o jogou atrás do sofá. – Chegou cedo!

Miku estava escorada no portal da cozinha, esperando ver um homem no estilo de sites de encontro passar pela porta, mas não foi o que ela viu. Teve que segurar o copo com força para não deixá-lo cair.

Ficou boquiaberta ao ver Big Al passar por sua porta vestindo terno e segurando uma garrafa de vinho. Seu estômago se revirou e ela teve certeza que se não sentasse, iria vomitar. Olhou para Luka procurando por ajuda, mas a irmã agia como se aquilo fosse normal. Ou melhor, agia como se já soubesse daquilo.

Ah, sim. Aquela seria uma longa noite, sem sombra de dúvidas.


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Notas finais do capítulo

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