A História dos Selvagens - Parte 1 - Medo escrita por ShiroMachine


Capítulo 12
Fernando: Melhor do que lobos




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Havia colocado a máscara antes mesmo de perceber. Saquei a espada e dei dois passos para trás. Meus amigos pararam ao meu lado, ambos com uma expressão forçada de coragem.

_Acha que vão atacar?_ Perguntou Felipe.

_Bem, pedindo pra fazer carinho eles não estão._ Respondeu Letícia.

Os lobos começaram a nos rodear. Meus amigos se afastaram um pouco de mim, tentando achar uma melhor posição para se defender. Andei alguns passos para frente e me posicionei de um modo que podia defender tanto o que atacasse pela frente, quanto pelas costas.

Ficamos observando os movimentos dos lobos, esperando que eles atacassem. Tentei fazer uma contagem rápida. Tinha mais ou menos vinte deles. Fiquei me perguntando por quê estavam ali.

Os lobos atacaram. A maioria foi em Felipe e em mim. Ataquei qualquer coisa peluda que se mexia. Eles eram mais fortes do que eu pensei. Quase me desequilibraram duas vezes, mas consegui manter o equilíbrio me apoiando na espada. Podia sentir ferimentos nos braços, nas pernas e nas costas. Não tinha como nós ganharmos aquela luta.

De repente, os lobos recuaram. Voltaram a fazer uma roda, olhando pra nós e rosnando. Olhei ao redor, procurando meus amigos. Ambos pareciam bem, só um pouco feridos. Felipe havia ganhado um arranhão feio no rosto. Letícia ganhou um arranhão perto do joelho.

Voltei a olhar pros lobos. Por que haviam recuado? Por que não acabaram com a gente naquele momento?

Fosse o que fosse, foi momentâneo. Alguns deles saíram do grupo e atacaram Felipe de novo. Eu fui tentar ajudar. Antes de chegar a ele, percebi que aquilo era uma distração. Um lobo atacou Letícia, que tentou desviar, mas ele ainda acertou a mão que segurava a faca. A faca foi para longe dela. Letícia caiu no chão. O lobo já se preparava para dar outro ataque, e dessa vez não tinha como errar. Ele começou a correr, e eu também. Me joguei em cima dele no momento exato em que ele ia atacar. Rolamos pra longe de Letícia. Ele tentava se desvencilhar, e acabou conseguindo isso com uma mordida no meu ombro direito.

Aquela foi a dor mais forte que eu já sentira. Procurei minha espada, mas ela havia escapado da minha mão. Tentei afastá-lo com meu braço esquerdo. Consegui manter suas presas longe de mim. Estiquei meu braço direito. Senti uma coisa fria. A faca de Letícia estava ali. Peguei-a e cravei no lobo. Ele tombou pro lado.

Afastei-o e fiquei de joelhos. Olhei ao meu redor. Letícia estava em pé, com a minha espada na mão. Olhava pra mim, boquiaberta. Senti uma onda de raiva tomar conta de mim. Eu não sabia exatamente do quê. Levantei e peguei a espada. Então olhei para a matilha. Não sentia mais nada, a não ser raiva.

A partir daí, só me lembro de ter atacado a matilha. Eu girava, atacando e matando os lobos um por um. Tudo que via era pelos, dentes e a minha lâmina. Eu atacava, desviava e atacava de novo. Fui repetindo o processo até que não sobrasse nenhum. Olhei para todos os lados. Os lobos que atacaram Felipe recuaram e fugiram pra floresta. Passaram bem longe de mim. Havia corpos e sangue de lobo por toda a parte. Meus amigos estavam imóveis, olhando para mim boquiabertos.

A dor no ombro voltou, a minha raiva passou e eu desmaiei.

Eu estava na casa do meu pai adotivo. Morávamos num ponto da floresta que ficava bem perto da cidade. Ele estava sentado na beirada da poltrona, balançando a perna, como fazia quando estava nervoso. Eu sempre lembrava dele com o cabelo preto, porém no sonho, estava com os cabelos louros. Já os olhos verdes estavam ali, do jeito que eu lembrava. Usava a camisa marrom de sempre e as calças jeans. O Governo aposentou ele alguns meses antes da minha chegada, por isso que usava camisa marrom.

A campainha tocou. Meu pai adotivo levantou e foi abrir a porta. Segui ele, na expectativa de ver aonde aquele sonho me levaria. Uma mulher apareceu na porta. Usava um jaleco e uma camisa branca e calça jeans.

_Olá, Luís._ Disse ela.

_Olá._ Respondeu ele, secamente.

A mulher fez uma careta, inclinando a cabeça levemente para o lado esquerdo.

_Você tem que entender que estamos fazendo isso para ajudar um garoto que já tem uma história horrível, antes mesmo de saber quem é._ Falou.

_Não estou irritado._ Disse ele. _Só acho que poderiam ter um pouco mais de coragem e contar pra ele toda a história, quando chegasse a hora.

Ela abaixou a cabeça. Então, foi em direção a um carro. Abriu a porta de trás e pegou algo que eu não reconheci até chegar a porta de novo.
Era eu, com um ano de idade.

Meu pai pegou-me no colo. Olhava para mim com um sorriso dócil. Eram poucas as vezes que eu o via assim. Parecia que podia ficar assim o dia inteiro, mas foi interrompido pela mulher do Governo:

_Você sabe qual é o plano, certo?

Ele assumiu uma expressão de desprezo:

_Sim._ Respondeu e fechou a porta.

Ele me colocou no chão, se ajoelhou, e disse:

_Eles que se danem. Eu vou proteger você do seu passado.

Eu acordei assustado. Estava no apartamento de Mário de novo, deitado no sofá, com o ombro direito enfaixado. Letícia estava ao meu lado, sentada na beirada da poltrona, com a preocupação estampada no rosto. Felipe estendeu um balde pra mim. Por um milissegundo, não entendi o porquê, mas depois disso, eu vomitei tudo o que eu havia comido nos últimos dias.

_Que horrível._ Falei.

Felipe fez uma careta e assentiu.

Pensei um pouco no sonho. Fazia tudo sentido para mim. Meu pai adotivo havia dito que o Governo o aposentou para que ele pudesse cuidar de mim, e que eu fui trazido por eles. Contudo, eu tinha a impressão de que quando falavam sobre o meu "passado horrível" não queriam dizer sobre como meus pais me abandonaram, como ele contava.

Letícia sacudiu meu ombro saudável, me trazendo de volta à realidade.

_Você está bem?

Assenti, sentando calmamente, com a cabeça doendo. Felipe, que estava de braços cruzados, falou:

_Dá um espaço pra ele. Acabou de acordar e está com o ombro furado pelas presas daqueles malditos lobos. A única coisa de que ele não precisa é de alguém querendo ficar à menos de um metro dele.

Letícia lançou um olhar de ódio ao irmão. Eu ri da cena. Era tão legal ver eles brigando. Mas meu sorriso se esvaiu assim que lembrei o que havia acontecido. Mário apareceu na entrada da cozinha, a expressão muito séria, e disse:

_Você tem um poder de destruição incrível.


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