A História dos Selvagens - Parte 1 - Medo escrita por ShiroMachine


Capítulo 13
Lucas: Nossos pais entram na festa




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Tatiane ficou vários minutos em silêncio.

_Ahn, Tati?_ Falei.

_Até que faz sentido._ Falou ela. Esperou que eu falasse algo, mas eu não o fiz, então ela continuou. _Quer dizer, ela disse que conhece cada ser que pisou na Terra, certo? Talvez ela não queira só ajudar o Fernando. Talvez queira ajudar ela mesma também.

Fiz uma careta.

_Nunca mais faça isso de novo._ Falei.

_Fazer o quê?_Perguntou.

_Agir como um robô. Sei lá, você deu uma resposta quase que no automático

_O que você esperava? Que eu ficasse surpresa? As coisas não estão normais. Ficar assustado pode atrapalhar tudo._ A irritação dela me pegou de surpresa.

_A Terra não é um planeta normal._ Argumentei. _Ao contrário do que você disse, agir como se tudo isso fosse normal é o que pode arruinar tudo. Ou você acha que Fernando agiu com indiferença ao que aconteceu?

_A questão não é o Fernando...

_É sim. É por causa dele que as coisas estão fora do normal, é por causa deles que estamos tendo esses sonhos, é por causa dele que estamos discutindo._ Aumentava o tom de voz a cada frase.

_Você tem razão._ Falou ela, suspirando. _Desculpe.

Fiquei alguns segundos em silêncio.

_Quando sua mãe vai na prefeitura?_ Perguntei.

_No mesmo dia que a gente. Daqui a três dias.

_Ok._ Suspirei. _Quando minha mãe acordar vou tentar falar com ela. De novo.

_Por que você acha que ela desmaiou?_ A voz dela tinha tom de preocupação.

_Talvez pelo mesmo motivo que eu._ Respondi. _Acho melhor você avisar tudo isso a Vitor.

Ela concordou. Depois se despediu e desligou o telefone.

Sentei-me no sofá, esfregando a mão na testa e com a respiração trêmula. Eu queria sair daquela situação o quanto antes, mas tinha a impressão de que quanto mais eu me aprofundasse naquele assunto, quanto mais rápido eu tentasse terminar aquilo, mais lento e doloroso aquilo seria. Mas eu tinha de fazê-lo.

Era por volta de oito horas da noite quando minha mãe acordou. Eu estava vendo TV quando ela me chamou.

_O que é aquela fita?_ Perguntou ela, totalmente confusa.

Eu contei a história pela milésima vez. Como eu achei a fita, os primeiros sonhos, a ida à prefeitura. Minha mãe não esboçava reação. Apenas ficava sentada, olhando pro chão, confusa. Depois que eu terminei, ela perguntou:

_A quanto tempo isso vem acontecendo?

_Começou no dia do meu aniversário, então, há mais ou menos um mês.

Ela suspirou.

_E nem passou pela sua cabeça me contar?_ Ela não estava tão irritada quanto eu pensei que estaria.

_Eu não queria te preocupar, mãe._ Falei.

Ela fechou os olhos e esfregou a mão na testa.

_Quando é que você tem de ir na prefeitura de novo?

_Três dias.

_Ótimo. Eu vou com você._ Disse ela. _Deixa eu ouvir a fita, por favor?

Franzi a testa, mas não questionei. Entreguei a fita a ela. Antes de sair do quarto, me lembrei de perguntar:

_Mãe, você teve sonhos? Quer dizer, enquanto estava desacordada?

Ela balançou a cabeça negativamente.

_Mas, você parece reconhecer a fita._ Falei.

Ela olhou pra mim, com o olhar vago. Então, olhou pro chão de novo.

_Eu tenho a impressão de já ter sonhado com essa fita._ Falou ela.

Três dias depois, minha mãe, meu pai e eu estávamos na prefeitura, para a reunião com o prefeito.

Meu pai se chamava Gilberto. Tinha cabelos castanhos encaracolados e olhos também castanhos. Eu sempre franzia a testa quando via um foto minha quando pequeno, pois nelas, eu tinha os mesmos cabelos encaracolados dele. Mas, atualmente, meu cabelo é liso. Eu sempre me perguntava com que idade essa mudança ocorreu.

Tatiane e os pais haviam chegado antes de nós. Ela era uma mistura incrível do pai e da mãe. Havia puxado os olhos azuis do pai (que tinha cabelo preto) e os cabelos louros da mãe (que tinha olhos cinzas). O pai era advogado e a mãe era médica. Tatiane me cumprimentou com um sorriso evergonhado quando eu cheguei. Obviamente, não se sentia muito à vontade com o fato dos pais serem tão importantes (ou ricos, como preferir).

Vitor chegou um pouco depois, acompanhado apenas da mãe. Cheguei a conclusão de que ele deveria ser parecido com o pai. A mãe tinha cabelos castanhos lisos que batia quase na cintura, e olhos verdes hipnotizantes.

Eu e Tatiane nos afastamos dos nossos pais. Fiz um gesto para fazer com que Vitor nos seguisse, embora não fosse necessário. Quando ficamos num ponto onde achei que nossos pais não nos ouviriam, perguntei a Vitor:

_Por que seu pai não veio?

Ele deu de ombros.

_Ele acha tudo isso besteira, e quis jogar o toca fitas fora.

_Bem, então isso pode ser um problema para a nossa viagem._ Falou Tatiane, roendo as unhas. _Meus pais estão muito irritados. Acham que é uma perda de tempo, que é uma incompetência do governo e etc.

Olhei na direção dos pais dela. Pareciam muito arrogantes.

_Parece bem a cara deles, não é?_ Ela riu um pouco.

Eu assenti. Carlos pediu para que a gente seguisse para a sala de reuniões, aonde o prefeito nos esperava. Havia dez cadeiras no total. O prefeito pediu para que todos nos sentássemo, mas eu e meus amigos preferimos ficar de pé. Sendo assim, quatro lugares ficaram vagos. O prefeito começou a reunião dizendo:

_Creio que seus filhos contaram a vocês o que anda acontecendo, estou certo?

Nossos pais assentiram. Ele então continuou:

_Sei que pode ter um motivo racional para tudo isso, mas acho que é muito difícil que seja coincidência.

O pai de Tatiane se manifestou:

_Então, você é tão tolo a pensar que uma força divina está agindo?

O prefeito tentou falar algo, mas logo foi cortado pelo pai da Tati:

_Eu pensei que podia confiar no governo para conseguir respostas racionais aos problemas do povos.
Meu pai, que era um homem muito religioso, contradisse:

_E quem disse que não pode ser uma força divina?

E então, cada um começou a gritar mais alto do que o outro. O pai da Tati gritava para o meu pai com ele era tolo em achar que existia algo além da ciência, e meu pai argumentava que a ciência era uma tolice. Logo, a mãe de Tatiane também tomou partido. A mãe de Vitor concordava com meu pai em parte, dizendo que nem tudo era ciência. O prefeito tentava acalmar a todos. Minha mãe, olhava a tudo com a testa franzida, a expressão de indignação no rosto. E então fez uma coisa que sabia bem, sendo umm ex-professora. Bateu a mão na mesa três vezes, sendo o suficiente para todos se calarem. Sempre que ela fazia aquilo, meu queixo caía. Ela se levantou e falou:

_Escutem, o verdadeiro motivo de estarmos aqui, é pra decidir se vamos viajar para descobrir o que está acontecendo ou não, e eu acho que devíamos. Porque, sendo ou não uma força divina agindo, temos que descobrir quem está fazendo isso e por quê.

_Eu concordo._ Disse meu pai.

A mãe de Vitor olhou para todos antes de dizer:

_Eu também.

Todos nós olhamos para os pais de Tatiane. Eles se entreolharam, discutindo mentalmente por um bom tempo, e por fim, o pai dela disse:

_Ok. Nós concordamos.


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