Crônicas de São Paulo escrita por Pepper
Eu estava no quarto do meu irmão, ele havia me deixado dormir lá na primeira semana. Minha mãe fora para o trabalho e meu irmão estava na sala vendo tv. Apenas a tv era boa, e a cama também, de certo modo era macia. Estava no tédio. A essas horas eu estaria com meu celular fofocando com minhas amigas pelo Skype.
Começo a investigas as coisas do meu irmão, abro o seu armário, muitas roupas jogadas, e em baixo de toda aquela coisa tinha alguns livros. Ele lê? Sério? Pego um livro qualquer e leio seu título: "Romy&Jullieta" vejo que é brasileiro. "Deve ser horrível" penso. Leio o resumo. Ridículo. Falava de duas lésbicas separadas pelo preconceito. Essas histórias são tão... modinhas. Decido irritá-lo um pouco. Vou até a sala com o livro na mão.
– Sério? Que livro modinha!
Ele me encara, revira os olhos e fala:
– Tudo é modinha para você?
– Um conto lésbico é modinha. É muito Romeu e Julieta, elas se matam no final também?
– Sua idiota. - Ele se levanta. - A história leva como inspiração, romeu e Julieta. por isso o nome.
– Descobriu sozinho? - Zombo. - Você roubou isso ou economizou anos para comprar?
Ele arranca o livro de minha mão com uma certa fúria. O joga no sofá e me segura pelos braços.
– O burguesinha metida a rica. Saiba que não é pobre só que rouba, e saiba que tenho orgulho de ter que economizar para compra um livro. Agora escute, melhor parar de se4 achar superior, porque você é uma entre 7 bilhões. você não é ninguém importante. - Ele me solta. - Quando for fazer algo útil por alguém, aí você será importante.
Fico com raiva.
– EU NÃO SOU NINGUÉM? O POBRE AQUI É VOCÊ!
– IDAÍ QUE SOU POBRE? ISSO ME FAZ UM LIXO DE SER HUMANO? O DINHEIRO DO SEU PAPAI VAI ACABAR SUA INÚTIL. VAI PRECISAR TRABALHAR PRA COMER UM PÃO! E VAI TER QUE LAVAR PRIVADA PRA VIVER. APOSTO QUE NÃO SABE FRITAR UM OVO!
– Quando for rico, vem me julgar, ok?
– Quando for útil para alguém, me liga.
Eu saio e bato a porta, e o escuto gritar algo. Mas não entendo o que. Fico na cama macia por um tempo, até ficar de noite e a mamãe chegar. Abro a porta do quarto devagar e os escuto conversar.
– Seu pai ligou. - Minha mãe comenta. - Ele está definitivamente sem dinheiro. O banco tomou conta de tudo. Ele vai ficar alguns meses nos Estados Unidos, tem um emprego pra ele lá. Pediu para matricularmos a Karina na sua escola até lá. Segunda-feira você resolve isso pra mim?
– Ele não pode arrumar um emprego aqui?
Minha mãe suspira, e minhas lágrimas caem.
– É que lá ele ganhará o dobro do que ganharia aqui. Quando ele tiver dinheiro para cuidar dela, ele volta.
– Dinheiro é tão importante assim pra ele? Pra fazê-lo sair do pais?
– Filho. algumas pessoas acreditam que dinheiro é felicidade. Cadê Karina?
– Espero que ela tenha fugido pra casinha dela.
– Agora a casa dela será aqui. Vai fazer o que pedi?
– Vou sim, relaxa. Segunda eu a levo pra lá e converso com o diretor.
– NÃO! - Intervenho na conversa. - Não vou pra uma escola pública!
Minha mãe se levanta, mas meu irmão entra em sua frente e diz:
– Você vai, acabou o dinheiro do papai, vai aprender a ser pobre, Burguesinha. - Ele sorri e vai para seu quarto me deixando naquela sala com minha mãe me encarando, ela vai pra cozinha e me deixa lá. Na minha nova casa. Pobre.
– Odeio ser pobre. - Resmungo para mim mesma. Já havia virado meu bordão dramático.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
sorry gente, pelo cap pequeno!