Crônicas de São Paulo escrita por Pepper


Capítulo 4
Da Paulista para a Penha part.4




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Já disse que ODEIO escola pública? coisa de pobre. Não deveria estar aqui. É um nojo. Meu irmão me levou e me acompanhou até minha sala, junto com o amigo.

– Essa é a burguesinha? - Perguntou o amigo dele.

– É sim, ficou pobre e traumatizou. - Ele zombou.

– Eu estou ouvindo tá? - Falo, irritada. - Não sou burguesinha, só sou rica.

Eles riem.

– Você era. Burguesinha. - Responde o amigo do meu irmão.

– Mesmo assim, eu sou melhor que você.

Novamente ele ri.

– Aham. Quantos anos ela tem, Caio?

– 16, acredita? Nem parece, né?

– Achava que tinha 10.

– Querem parar? Essa inveja de meu dinheiro já cansou minha beleza.

– Metidinha hein?

– Cara, você não vive com ela o dia todo. Acredite, aqui ela está um doce.

– Como uma verdadeira burguesinha.

– How, garoto-que-eu-não-sei-o-nome-mas-fica-me-xingando, já te disse que não sou...

– É sim, - Ele me corta. - E meu nome é Leo. Agora entre nessa sala. É a sua. Estaremos na sala ao lado, caso precise tomar água potável.

– Não confiaria em você nem para isso. - Retruco. Entramos na sala.

– Toma, sua bolsa, carregue-a sozinha depois. - Meu irmão joga minha bolsa numa carteira vazia.

– Tá de namoradinha nova, Caio? - Pergunta um garoto no canto da sala, era caucasiano e seu cabelo castanho estava coberto por um gorro. Todos riram.

– Nem cara, ela é minha irmã.

As risadinhas cessam.

– Sério? - Pergunta o mesmo garoto.

Caio me olha, olha pra Leo, e respondem juntos:

– Infelizmente.

Novamente todos riram. Caio e seu amigo insuportável, Léo, me deixam na sala. Sento na carteira vazia e fico quieta até o professor chegar. E claro, teve que me apresentar...

– Gente! Temos uma aluna nova, por favor se levante. - Eu levantei. - Qual seu nome?

– Karina Bittencourt.

– Nome bonito, você estudava onde?

– No Maria Imaculada. Fica na Paulista.

– Já dei aula lá, é um colégio bem caro. Porque mudou?

– Vim passar alguns meses com a minha mãe enquanto meu pai trabalha nos Estados Unidos.

– Ah, hum, pode sentar, Karina.

Eu me sentei. Fiquei fazendo anotações durante aquela aula de matemática, parecia que era só eu mesmo, alguns apenas o olhavam e outros conversavam, Fiz anotações em todas as aulas, até o intervalo. Eu estava seguindo as pessoas pela escada, o garoto do gorro me chamou.

– Karina, né? - Ok, confesso, ele era bonito. Tinha olhos claro.

– Até onde sei, sim. - Brinco.

– Ah. Hum, está sozinha?

– Acho que sim. Por que?

– A, sei lá, pra você se enturmar, Tem muita gente legal na sala, a gente fica tudo junto no intervalo. Trouxe dinheiro pra comprar algo na cantina?

– Só R$20,00. - Respondo mostrando-lhe a nota velha.

– Só? Você está mal acostumada, Karina.

– Sei.

– Vai vir ou não? - Ele me pergunta.

– Vou né. - E então eu o sigo até o grupo de amigos.

Eles conversavam sobre assuntos que eu não tinha conhecimento, com nomes que eu não conhecia. Então decido ir até a cantina, que estava cheia. Fiquei na fila parada por muito tempo. Chega Léo, amigo chato do Caio, e me diz:

– Olha, se não furar fila, não vai conseguir nada.

– E você veio fazer o que aqui?

– Ah, é que o tio na cantina tem um estoque secreto de drogas e bebida, como todos, eu vim pegar uns aí.

Eu o olho, não duvidaria se fosse verdade.

– Você acreditou? - Ele ri.

– Não duvido nada de gente como você.

– How, burguesinha, saiba que estamos no mesmo barco agora. Você é pobre. Vai fazer que nem seus amigos ricos e se cortar por isso?

– Não. Como todo bom rico, vou voltar a ficar rica.

– Você é patética. Se acha demais só porque é riquinha. Você não é nada. É mais uma só.

– Não é a primeira vez que ouvi isso.

– Talvez porque seja verdade. Burguesinha.

– Perdi a fome. - Me irrito e saio, subo as escadas e volto pra classe, que é onde eu fico até tocar o sinal.

O garoto do gorro para na minha frente e me pergunta:

– Porque sumiu? O Léo disse que discutiram.

– Ele é um idiota total.

– Só porque ele te chama de burguesinha? - O garoto do gorro ri.

– Não caçoe de mim, nem sei seu nome.

– "Caçoe" - Ele ri.

– Qual a graça?

– Quem fala isso? - Eu reviro os olhos. - E meu nome é Guilherme.

– Ok. Guilherme.

Ele se levanta e vai para o seu lugar. A aula foi Educação Física. Os garotos jogaram futebol e eu fiquei sentada, olhando. As garotas jogaram vôlei.

– Ei, burguesinha, não vai jogar? - Perguntou uma garota morena, blusa curta e calça jeans justa preta.

– Não.

Até o final do dia foi assim. Tediante, me chamando de burguesinha. Meu deus, como pobre é chato! Bateu o sinal para o fim das aulas, ainda bem! Demorei um pouco pra descer. Quando fui procurar Caio para irmos embora, ele estava com aquele Léo e o Guilherme. Léo era um skatista, alto, moreno de sol, tinha uma pulseira lá do Bob Marley, e era até que bonito, porém Guilherme era um pouco mais.

– A burguesinha chegou! Vamos embora gente, daqui a pouco chega a Camila querendo o Léo. - Brinca meu irmão.

– E alguém quer ele? - Pergunto, olhando para o skatista com seu skate na mão.

– Pra sua informação, muitas garotas me querem. Só você que é esquisita. - Fala ele.

– Não, eu tenho bom gosto. - Comento.

– Cara, Caio, você tava certo. Esses dois se amam.

– Credo. - Falo. - Caio, vamos embora ou não?

– Vamos sim burguesinha. Mas Léo e Guilherme vão pra casa.

Guilherme: Ebaaa! Gato

Léo: Eca.

Não entenda mal, ele é bonito até, porém, é pobre e chato.

– Fazer o quê? Vamos embora?

– Ok, você manda.

E assim fomos. Entramos naquela estação de metrô. Eu sentei naquele banco que fica na janela, o do meu lado ficou vazio, Caio e os amigos ficaram de pé. Guilherme dentou do meu lado.

– Você é sempre tão brava assim.

– Não me entenda mal, é que não estou acostumada com isso...

– Em ser pobre?

Eu desvio meu olhar. Parece rude vindo de outra pessoa, mas era isso.

– Olha, ser pobre não é tão ruim. Não moramos na rua nem em favelas tá? Apenas em casas humildes. Nem todos gastam mil reais em um dia no shopping.

– Dois mil e quinhentos.

– O que?

– Eu gastava dois mil e quinhentos reais quando ia fazer compras no shopping.

– Você comprava o que? Ouro?

Novamente desvio o olhar. Sim, anéis de ouro ou pulseiras, e roupas e sapatos...

– Não importa.

– Sabe, se você encarasse as coisas sem pensar no que tinha, talvez, descubra que não é tão ruim. Arruma um emprego pra passar o tempo, ocupar a cabeça e de quebra consegue um dinheiro a mais.

– Trabalhar? Não é pra mim.

– Então acostume-se a ser pobre. Sem esforço você não consegue nada.

Eu responderia algo, se tivesse respostas.

– Quero trabalhar depois da faculdade, não agora. - Conclui.

– E quem pagará sua faculdade?

– Meu pai, claro.

Ele faz um gesto leve de rendição.

– Se você diz, burguesinha.

– Quer parar de me chamar assim?

– Quer que eu te chame como?

– Karina mesmo, ou Ká. Tudo menos "Burguesinha", é ridículo.

– OK, Ká. - Ele ri, e eu também.

Saímos do metrô e fomos para a casa, Léo, com seu skate se achando o máximo. Aquele garoto me enjoa. Quando chegamos, comemos, eu comi um filé de frango com salada. Os garotos me olharam torto.

– Estou de regime. - Explico.

Depois eles foram para a rua andar de Skate, fazer manobras e etc. Eu peguei um livro do Caio, presente de uma ex-namorada, e li sentada na calçada, de vez em quando os olhava cair ou zombar um do outro. Consegui rir algumas vezes. Quando era três e meia, Caio teve de ir trabalhar, e os garotos continuaram lá em casa, eles o esperariam voltar, que seria lá pelas dez da noite, aparentemente Léo dormiria lá, já Guilherme não tinha o que fazer mesmo, então acompanhou Léo na espera pelo meu irmão. Estávamos todos na sala vendo um filme, eu sentada no meio, Guilherme do meu lado e Léo do outro. Ouviu-se um toque de celular, era o de Guilherme. Ele teria de ir embora depois do filme. Me deixei encostar em seu ombro durante o filme. Quando ele se foi, eu o acompanhei até a porta.

– Até amanhã, Ka?

– Até. - Sorrio.

Ele se aproxima de mim, eu deixo, ele fica tão perto que sinto sua respiração, eu avanço lentamente olhando em seus olhos claros, e o beijo em seu macio rosto. Quando me afasto, ele me olha confuso. Jurando que rolaria algo.

– Olha, desculpa. - Peço, envergonhada. Porque fiz isso?

– Imagina Ká. Se você não quiser, tudo bem.

– Mas eu quero! - Explico.

– Então porque me evitou? - Ele sorri.

– Não sei...

– Amigos, Ká. Sério.

Então ele se vai pela rua pobre. Volto para a sala, onde Léo está sentado.

– Vem, vai passar outro filme, burguesinha.

Olho no relógio, eram seis e meia, ver mais um filme não faria mal.

– É sobre o que?

– Sei lá, vem ver.

Até que a primeira parte do filme era legal, Comédia romântica, porém logo adormeci. Quando acordei, o filme estava no final, e eu estava deitada no colo de Léo que me fazia carinho na cabeça. Virei minha cabeça para olha-lo. Ele me olhou e sorriu.

– Acordou burguesinha?

Não me irrito, apenas dou uma risada. Ele não para de fazer carinho em minha cabeça.

– Acho que sim. Para um pobre mau educado, até que você é legal.

– Isso é um elogio, riquinha fresca?

Rimos.

– Talvez.

Eu levanto de seu colo.

– Devo estar te machucando.

– Tá nada.

Volto a assistir o filme, Mas ainda estou com um pouco de sono.

– Posso encostar?

– Pera. - Ele levanta e vai até o quarto do meu irmão, volta com um cobertor. - Pronto. - Ele me cobre e se cobre também, eu encosto em seu ombro e ele põe seus braços em volta da minha cintura. Eu o encaro com um olhar brincalhão. Ele ri. - Fiz nada, oxe. Menina louca.

Dou uma risada. e o encaro, ele não entende e fica com um olhar confuso, eu reviro meus olhos, o que o deixa mais confuso.

– Esquece. - Digo, desistindo, passo a prestar atenção no filme.

– EI. - Ele me chama, eu o olho.

Então, com uma mão na minha cintura e com a outra mão pousando em meu queixo, ele diz:

– Esqueço nada. - Eu sorrio tímida e ele sorri, com um sorriso malicioso, então nos beijamos.

E que beijo...


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