La Reine du Monde escrita por Laëtitia


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/533433/chapter/5

Na manhã seguinte, Ginevra acordou com os olhos inchados e com dor no pescoço. Ela se levantou e foi se olhar no espelho. As manchas antes vermelhas agora assumiam um tom arroxeado, e as de seu pulso também. Ela suspirou, imaginando que teria que encontrar Teobaldo no café da manhã, e em seu estado atual, ela não pretendia nem olhar para ele.

Para ver se se animava, vestiu seu vestido favorito, saindo para tomar café da manhã logo em seguida. Se arrependeu por não ter coberto as marcas em seu pescoço pois todos os criados que passavam por ela olhavam descaradamente para elas. Para piorar seu dia, a mesa estava vazia com exceção de Teobaldo. Ela se sentou em silêncio em seu lugar de costume, ao lado dele.

Teobaldo parecia estar quase tão mal quanto ela. Haviam olheiras debaixo de seus olhos vermelhos e inchados e o cabelo estava despenteado, fazendo ressaltar a mecha loira que ele possuía. Ele tinha a cabeça apoiada em uma das mãos e com a outra ele brincava com um garfo.

Ele levantou a cabeça rapidamente e olhou para Ginevra, sem a olhar nos olhos.

"Gosto do vestido. Eu lhe dei de aniversário" Falou, sua voz rouca. Da distância da qual estava, ela pode sentir o cheiro de álcool em seu hálito. Ela apenas acentiu com a cabeça.

"É meu favorito" Murmurou em resposta, sua voz também soando incrívelmente rouca. Teobaldo abriu um pequeno sorriso mas logo voltou sua atenção para o garfo.

Ginevra ouviu passos entrando na sala e logo surgiram sua tia e seu tio, que se sentaram. Seu tio começou a comer porém sua tia apenas parecia que queria falar alguma coisa. Ela olhou para Ginevra e arregalou os olhos.

"Ginevra! Por Deus, o que é houve com seu pescoço?" Perguntou. Ginevra abaixou a cabeça e Teobaldo se mexeu desconfortável ao seu lado. Seu tio levantou a cabeça e arqueou uma sobrancelha.

"Eu...caí" Disse apenas. Sua tia não lhe fez mais perguntas.
Ginevra não comeu muito portanto foi a primeira da mesa a acabar. Quando se levantava e se preparava para se retirar, foi chamada novamente por sua tia.

"Ginevra, minha querida. Eu e seu tio estivemos pensando...bem, você já tem 17 anos" Começou, fazendo a menina franzir as sobrancelhas.

"Sim, o que tem isso?" Perguntou.

"Você sabe que o Conde Páris pediu a mão de Julieta em casamento, porém ainda achamos que ela é muito jovem e por mais que tenhamos pedido para que ela tente se aproximar dele, isso não parece lhe interessar" Respondeu. Ginevra estava ficando mais confusa. Seu tio suspirou.

"O que estamos tentando dizer é que caso Julieta continue resistindo a essa ideia de casamento, você seria a próxima opção para o Conde Páris" Completou.

"Eu? Me casar com Páris?" Perguntou. Teobaldo ao seu lado parecia tão surpreso quanto ela.

"Mas, tio ela..." Começou porém foi interrompido.

"Teobaldo, quieto!" Gritou seu tio.

"Pense nisso Ginevra, você é quase tão bela quanto Julieta, e já pode ter filhos" Sua tia disse com um sorriso no rosto, fazendo Ginevra corar.

Realmente, Ginevra era considerada uma das moças mais bonitas de Verona, pois herdara a beleza do lado da família de seu pai, irmão de sua tia. Embora ela não achasse que seus comuns cabelos castanhos herdados de sua mãe fossem tão belos como os cachos loiros de Julieta e sua tia.

"Eu irei pensar nisso" Disse.

Naquele mesmo momento, Julieta entrou na sala radiante, o que ultimamente não era muito comum. Deu um beijo na bochecha de seu pai e se sentou na mesa, com um sorriso no rosto e começou a comer.

Mas havia algo diferente nela, e Ginevra passou uns bons cinco minutos tentando identificar o que era. Foi quando notou um pequeno anel no quarto dedo de sua mão esquerda. Aquilo era uma aliança?

Ginevra então ligou os fatos de ter visto Julieta saindo de madrugada para se encontrar com Romeu, e de no dia anterior a ama de Julieta ter ido encontrar com o mesmo.

Teobaldo parecia ter notado também pois ele olhava intensamente para a aliança e apertava um copo com força. Tanta força que o copo de vidro quebrou em sua mão.

Com o barulho todos na mesa se viraram para ele e Ginevra se afastou um pouco para que não se cortasse com o vidro.

"Preciso me retirar" Teobaldo declarou, se levantando rapidamente enquanto segurava a mão, que começava a sangrar. Ginevra se levantou também e foi para seu quarto.

Não muito tempo depois ela ouviu o som da porta do quarto de Julieta se fechando e resolveu falar com a prima. Bateu na porta e Julieta a atendeu.

"Preciso falar com você" Disse. As duas se sentaram.

"Tudo bem, vai me dizer o motivo de estar usando esta aliança?" Perguntou. Julieta abaixou a cabeça, porém abriu um pequeno sorriso.

"Eu e Romeu nos casamos em segredo" Respondeu.

"O quê?!" Gritou Ginevra. Julieta tremeu com o grito.

"Nós iremos embora de Verona assim que possível, você pode vir também" Ela explicou. Ginevra ainda não podia acreditar.

"Não, não posso, se você for eu terei que me casar com o Conde Páris em seu lugar." Julieta abriu a boca para falar algo porém a fechou novamente.

"Desculpe, eu não..." Começou porém Ginevra balançou a cabeça

"Vocês não tem ideia do quanto isso é perigoso, Teobaldo agora sabe que você está com Romeu" Falou. Julieta arregalou os olhos, preocupada.

"Eu vou tentar falar com ele. Embora já tenha causado muitos problemas" Ginevra se levantou porém antes de sair abraçou sua prima rapidamente.

"Você e Romeu são dois idiotas irresponsáveis. São perfeitos um para o outro" Sorriu. Julieta não sabia se aquilo era um elogio ou não então apenas acentiu com a cabeça.

Ginevra foi ao quarto do irmão e bateu na porta. Ninguém a atendeu. Bateu mais uma vez e nada. Ela então abriu a porta bem devagar e sem fazer nenhum barulho adentrou o quarto.

O quarto de Teobaldo era um pouco maior do que o dela, nele haviam prateleiras com livros e espadas espalhadas por todos os lugares. Garrafas vazias de conhaque e licor espalhadas pelo chão. Ela viu seu irmão sentado em um banco de costas para ela, falando consigo mesmo.

"...Loiras, morenas...todas menos uma, só uma que importa, só uma que importa" Murmurava triste enquanto cuidava do ferimento na mão causado pelos cacos de vidro. Ginevra se aproximou ainda mais dele, tentando ouvir o que falava.

"Primo e prima, que boa piada. Eu a vi crescer e agora a vi partir com ele. Como ela pode amar o filho dos Montecchio?" Ginevra estava confusa. Ele estava falando de Julieta?

"Hoje mandarei o recado. Ah, meu amigo eu irei lhe matar. Irei matá-lo, não machucá-lo como ela faz comigo. Julieta, lhe farei pagar por sua fraqueza" Falou com mais raiva, pegando um punhal e começando a polir o mesmo com uma tira de tecido.

"Eu nunca ousei e nunca ousarei...contar a ela que é amada por mim em segredo, mas hoje é o dia" Ginevra não sabia o que pensar. Então todo aquele tempo em que ela achava que ele estava apenas sendo protetor em relação a Julieta, ele realmente a amava? Ela sabia que não era muito incomum o relacionamento entre primos, porém nunca havia ouvido falar de um em sua família.

Ginevra estava tão envolvida em seus pensamentos que nem reparou que havia dado alguns passos para trás e chutou uma garrafa, fazendo o irmão se virar para trás, surpreso.

"O que faz aqui?" Perguntou com raiva. Ginevra respirou fundo, porém mais pareceu um guincho e se afastou um pouco, com medo dos ataques de raiva de Teobaldo. Seus olhos estavam começando a se encher de lágrimas ao se lembrar do dia anterior.

"M-me desculpa. Eu sei que não deveria ter escutado isso" Se desculpou. Teobaldo já estava de pé em sua frente e Ginevra apenas se encolheu, com medo.
Para sua surpresa, ele apenas a abraçou.

"Eu é que devo me desculpar" Sussurrou no cabelo de Ginevra, que tinha os braços ao redor do pescoço do irmão.

"Por favor, não o mate." Pediu. Teobaldo a beijou na testa, ignorando seu pedido.

"Não fale comigo de honra. É de amor que os homens morrem. Eu o encontrarei Romeu, eu lhe matarei, Romeu. E então saberá que todos os homens tem corações partidos" Pegou seu punhal, o colocando no cinto e saindo logo em seguida do quarto, a deixando sozinha.

Ginevra correu até seu quarto, calçou suas botas e saiu de casa usando a janela de seu quarto como saída, já que ela dava na rua ao lado, o que fazia sua viagem até a Piazza delle Erbe mais rápida do que se saísse pelo portão principal.

Ela andou o mais rápido possível para tentar chegar lá antes de seu irmão, e teve sorte de avistar Romeu assim que chegou.

Benvólio e Mercúcio estavam brigando com Romeu, assim como todos os outros Montecchio presentes ali.

"O que tinha na cabeça?!" Gritava Mercúcio.

"Namorar tudo bem, mas casar? E sem nos contar nada?!" Benvólio dizia.

"O que houve?" Perguntou Ginevra a um rapaz que xingava Romeu com todos os tipos de nomes possíveis.

"Ele nos traiu! Casou com uma Capuleto em segredo! Traidor!" Gritou. Ginevra o ignorou e tentou chegar até Romeu porém este saiu correndo.

"Mas que droga!" Ginevra xingou, passando a mão pelos cabelos, irritada. Mercúcio se virou para ela, curioso.

"O que foi?" Perguntou. Na hora que Ginevra ia responder, viu seu irmão chegando na praça, com seus capangas ao seu lado. Ela apontou para Teobaldo. Mercúcio o viu e abriu um sorriso.

Os Montecchio presentes ficaram na defensiva ao ver os Capuleto

"Olha, olha! Teobaldo está entre nós" Mercúcio disse zombeteiramente. O olhar de Teobaldo foi de Mercúcio para Ginevra, e ele balançou a cabeça.

"Ah, Mercúcio, se o cão está aqui, suponho que o dono não deve estar muito longe" Falou Teobaldo. Mercúcio gritou e pôs a mão sobre o peito, como se estivesse ofendido.

"Procuro Romeu" Teobaldo revirou os olhos. Mercúcio franziu as sobrancelhas.

"Você procura Romeu? Ele procura Romeu!" Gritou para os Montecchio, que riram.

"Ah, Teobaldo, já te vi procurando tantas coisas: fortuna, amor, brigas..." Contou Mercúcio, empurrando alguns Capuleto que haviam se aproximado demais.

"...Mas Romeu? Por que?" Perguntou. Ginevra se aproximou dele e colocou a mão em seu ombro.

"Isso não é de sua conta, Mercúcio. Romeu sabe bem porque"

Mercúcio abraçou Ginevra por trás e fez carinho em seus ombros, enquanto beijava sua bochecha. A menina se sentia desconfortável por Mercúcio fazer aquilo na frente de seu irmão. Teobaldo desviou o olhar dos dois.

"Teobaldo você está louco, louco, louco" Cantarolou e logo parou.

"Não, não, não! O que é estar louco? Louco de ciúmes, talvez, de tristeza? De raiva?" Perguntou subindo a escadaria da igreja. Se apoiou em um muro, com a cabeça nas mãos.

"Diga-me Teobaldo, aqui entre nós, entre amigos...que loucuras fez em sua vida? Hein?" Perguntou. Olhou para Ginevra e ela apenas deu de ombros.

"Nada? Nada, nada. Ah, sim, sim, sim! Amar aquela que nunca irá lhe amar" Colocou a mão na testa e fingiu desmaiar, caindo no colo de um Montecchio, rindo.

"Ah, sim, é uma loucura. Mas já dançou com a morte alguma vez?" Fez um rodopio de balé e desceu as escadas novamente, indo para o lado de Ginevra.

"Já fez amor com alguém mais velho do que você? Pensou em matar o príncipe? Não, nada disso...se bem que eu podia lhe ensinar" Deu um sorriso sedutor e piscou para Teobaldo, enquanto enlaçava a cintura de Ginevra com o braço.

"Mas não, ninguém fica louco, se nasce assim" Explicou.

"O que faz os homens correrem? Sabemos de verdade quem somos? O que faz nossas almas queimarem? Porque corremos assim atrás das mulheres?"Perguntou acariciando a bochecha de Ginevra.

"Eu, a única que amo, a que conhece os sofrimentos e me tomou por amante. Vocês nunca a verão" Disse largando Ginevra. Ela ficou surpresa e um tanto quanto confusa.

"Mas nem eu mesmo sei o que é! A loucura, a loucura, a loucura!" Gritou, correndo em direção aos Capuleto, e mesmo Ginevra tentando segurá-lo, não conseguiu.

Teobaldo que agora estava à frente de seu grupo se abaixou e Mercúcio fez o mesmo, os dois encostando testa com testa.

"É minha amiga, é a loucura" Disse Mercúcio, se levantando e empurrando Teobaldo.

"Loucura, que me faz seguir em frente, que chora e que ri" Gargalhou, porém parou e correu novamente em direção a Teobaldo.

"Sim, devo a ela tudo o que aprendi, loucura, loucura, loucura!" Encostou sua testa com a de Teobaldo novamente e começou a empurrá-lo, suas testas ainda juntas.

"Ela me tem em suas mãos e eu sei bem! Ah, a loucura!!" Começou a ter uma crise de risos, caindo no chão, com Teobaldo em cima dele, lhe apertando o pescoço. Benvólio que apenas observava tudo se aproximou e os afastou.

"Teobaldo, Teobaldo, você vai morrer!" Gritou apontando para ele e correndo em sua direção, empurrando todos em seu caminho.

"Teobaldo, pare de rir. Não é mais do que um idiota, não, é muito pior! Sua alma manca e acha que pode correr. O som da sua voz e o seu jeito de andar, tudo em você me dá nojo! Ah, Teobaldo, vou te matar!" O segurou pelos ombros porém Teobaldo o jogou no chão, de joelhos.

"Mercúcio, olhe para você. Você tem espírito, mas só! Você é um palhaço, um poeta fracassado. E quando eu ouço seu nome, eu tampo o nariz, mas agora, isso acabou!" Teobaldo andava ao seu redor e Mercúcio apenas sorria para ele.

"Desde nossa infância só tive uma ideia. Até que enfim minha paciência será recompensada. Mercúcio, irei te matar!" Mercúcio pulou na sua frente de braços abertos e começou a rir, esperando Teobaldo fazer alguma coisa, porém quando o mesmo avançou em sua direção, Romeu apareceu, apartando a briga.

"Parem já, estão loucos? Não tem esse direito! Matando, irão matar nossas ideias e leis, parem!" Pedia, porém foi empurrado para o lado por Mercúcio.

"Viver, todos queremos viver, sem ódio e sem morrer por isso" Romeu disse.

"Viver, conversar, se respeitar e até se amar" Ginevra completou, segurando Teobaldo enquanto Benvólio e Romeu seguravam Mercúcio. Isso apenas fez começar uma luta entre os dois lados. Agora os servos dos Montecchio e dos Capuleto lutavam entre si.

Mercúcio e Teobaldo se livraram das mãos os segurando e continuaram brigando, porém Romeu conseguiu afastar Mercúcio que a esse ponto, chorava, assim como Ginevra.

"Ele me odeia tanto, e a tanto tempo, não Romeu! Isso é demais! É como um cão com raiva. Um covarde! Que acredita em sua coragem" Gritou, nos braços de Benvólio. Ginevra estava ao seu lado e Romeu tentava fazer as pazes com Teobaldo.

"E você? Acha que é rei? Não! Você é como nós, porém pior." Chutou Romeu, o fazendo cair. Ginevra tentou ajudá-lo porém foi segurada no lugar por Benvólio, que estava tentando mantê-la afastada da briga.

"Aqui está você cheio de amor, mas você mija na ternura. Você é como um abutre, que espera qualquer fraqueza" Teobaldo desembainhou o punhal e se preparou para golpear Romeu.

Mercúcio gritou, correndo até Romeu e Ginevra o seguiu, se soltando de Benvólio. Mercúcio se pôs na frente de Romeu, fazendo com que ele se tornasse o alvo do punhal. Porém Ginevra foi rápida e entrou em sua frente.

"Viver, isso é guerra. A vida não é teatro!" Teobaldo gritou.

Tudo aconteceu muito rápido, os sons a sua volta se tornaram abafados e ela pode ver a expressão de surpresa nos olhos de Teobaldo. Ela não compreendeu o que havia acontecido, até notar uma dor maçante em seu abdômen.

Atrás dela, ela pode escutar um grunhido de dor vindo de Mercúcio e sentiu o mesmo se apoir nela.

Ela olhou para baixo e viu que uma parte de seu vestido havia sido rasgado e o punhal a havia ferido, tingindo seu vestido com seu sangue.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "La Reine du Monde" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.