— Eu fui bem, tia Cass? — perguntou Lily, rodopiando com seu tutu rosa brilhante.

— Claro que sim, querida! — a abracei, entregando o buquê costumeiro, que eu sempre comprava antes de suas apresentações.

— Amor, você estava linda! — disse Crys ao meu lado, já a enchendo de beijos. As duas eram bem semelhantes, Lily herdara quase tudo da mãe e por isso, também parecia um pouco comigo.

Na verdade, minha irmã e eu sempre fomos muito parecidas fisicamente. Mas, claro, todos a achavam mais bonita. E pode-se dizer que eu me irritava muito com isso, dá para perceber claramente que somos irmãs. Nosso cabelo é muito igual, castanho e meio ondulado. O formato de nossos rostos é realmente similar. E, a parte que eu mais odeio, ela tem olhos incrivelmente azuis, enquanto os meus são mel. Droga, a Crystal é a sortuda. E claro, passou esse dom para a filha. Ter olho azul na nossa família é difícil, antes de Crys, só nosso tataravô teve, mas lógico que a Lily também foi abençoada. Sem falar no Jayden e na Ann, os dois têm olhos bem claros. Eu sou a única excluída do clube, olha que alegria.

Olhei no relógio novamente. Eram 9:25. E eu tinha mandado o endereço do teatro certinho para Jayden, conferi umas três vezes.

Meu celular tocou. Quase dei um pulo, puxando-o do bolso com certa urgência. E, graças a Deus, no visor, estava escrito “Jayden chamando”. Desbloqueei.

— Cass? Você está em que fila, mais ou menos? Já estou aqui dentro.

Levantei-me, balançando um braço no ar.

— Está me vendo? — perguntei, dando alguns pulinhos também para o caso de ele não ter me notado.

— Já vi — ele respondeu, rindo. Então desligou.

Jay logo apareceu do meu lado já me abraçando.

— Pronta?

— Claro, as malas estão na recepção, eu pedi para a Crys guardar para mim — e só assim ele pareceu notar minha irmã ali.

— Oi, Crystal, Lily — ele as cumprimentou com um aceno e um sorriso aberto.

— Jayden! Nunca mais tinha te visto — disse minha irmã, abraçando-o — fale com o tio Jay, Lily.

— Oi, tio Jay — minha sobrinha disse meio tímida.

Ele se agachou até a altura dela.

— Lembra de mim, pequena? — ele perguntou baixinho para a menina.

Ela fez que não com a cabeça. Jayden sorriu e cochichou alguma coisa que eu não pude ouvir em seu ouvido. E, surpreendentemente, os dois riram. Ótimo, eles provavelmente estavam fazendo piadas sobre mim. Isso é bem a cara de Jayden.

— Então... Vamos, Jay? — perguntei, meio inquieta.

— Mas já? — Lily choramingou.

— É, anjo, temos que estar lá daqui a meia hora — respondi, com minha melhor cara de “por favor não me peça pra ficar porque eu provavelmente não vou dizer ‘não’”.

Ela deu um olhar triste a Jay, me encarou, depois riu de novo. Maravilha, meu amigo botou na cabeça de minha sobrinha que eu sou um motivo de piada, ou algo assim.

— Boa viagem para vocês dois — Crys disse, enquanto me abraçava e me entregava o casaco para que eu não esquecesse.

— Tchau, pequena! — Jayden falou, ainda agachado, e passou a mão no coque alto de Lily. Depois levantou e abraçou minha irmã também — Tchau, Crys.

— Até depois, gente — dei “tchauzinho” para as duas.

Elas acenaram de volta enquanto íamos até a entrada do teatro.

— A Lily parece gostar de você — falei para meu amigo, o cotovelando de brincadeira.

— É — ele deu de ombros — sou bom com crianças.

— O que você disse no ouvido dela?

Jay riu.

— Nada de mais.

— Hm, tá.

— É sério — me devolveu a cotovelada — Vamos, a gente ainda vai fazer check-in e despachar as malas — com isso, ele me arrastou até a recepção.

*****

— Ann, já estou para entrar no avião! — cantarolei, ajeitando o celular na orelha.

— Graças a Deus, eu estou surtando sem você aqui, Cass.

— Já prevejo o trabalho que eu vou ter quando chegar aí, não é?

— Óbvio. Você é minha madrinha principal, tem que me ajudar. Está sobrando para a Jen e a Vic, lembra delas? Minhas primas. A Wendy e a Mary só chegam hoje de noite, um pouco antes de você e o Jay... — ela fez uma pausa dramática, que já parecia ensaiada – Em falar nele, caramba! A Emily não vem mais?

— Ann, não toca nesse assunto. Acho que ele não quer falar nisso, ouviu?

— E você aceitou a passagem dela? Que vaca!

— O que você queria? Que eu só chegasse aí na hora do bolo? — revirei os olhos, a minha fase de me sentir culpada já havia passado.

— Não, que você tivesse comprado a passagem com antecedência, que tal? — ok, a culpa tinha acabado de voltar. Se eu tivesse comprado semana passada, eu não precisava roubar a passagem alheia.

— Ann! — repreendi, mesmo sabendo que eu estava errada — Olha, o que importa é que eu vou estar aí, não é?

— Você não já pensou na possibilidade de Jayden ter terminado com Emily por você? — ela mudou de assunto subitamente, o que me fez ter certeza que ela tinha ensaiado aquela conversa.

— Não, eles não iam terminar só para me dar uma passagem, né?

— Não é isso, idiota. Você não acha estranho eles terem começado logo depois de você ter começado com o Richard? E terminarem uma semana depois que vocês terminaram?

— Já disse para você não...

— Eu sei, não estou falando de Richard, estou falando de Jayden.

— Ann, para com esses absurdos, certo?

— Mas é sério, não pode ser coincidência.

— Claro que pode! Ele me disse que eles concordaram em terminar.

— Ah, por favor, Emily do jeito que é orgulhosa, nunca iria terminar assim com alguém. Ela é mais do tipo de brigar por qualquer coisinha. Ou se um cara der um pé na bunda dela, ela nunca mais olha na cara dele.

— Anna Elizabeth Walker — repreendi mais uma vez — ela era nossa amiga!

— Quem liga, depois desse término ela vai nos ignorar e nos tratar feito idiotas mesmo.

— Não acho. Ela era bem legal, certo?

— Claro que era, tinha que agradar as amigas do namorado. É assim que se ganha, querida. Sem demonstrar os ciúmes crônicos que sente por qualquer uma que sequer fale com o cara. Ela devia é nos odiar mesmo.

— Nos odiar? Ela nos convidou para a festa do pijama dela!

— É mesmo, quem faz uma festa do pijama aos vinte e tantos anos? Essa mulher é louca.

— Ann — suspirei, ela sempre me tirava do sério — seja agradável com Jay, tá? Ele não vai gostar se você tocar no assunto.

— Ele não é igual a você, Cassie. Jayden não tem esse tabu de não falar da ex, que nem você com o Richard.

— Quer parar? — gritei ao telefone.

— Viu só? Você é uma fresca, Cass.

Contei até três para não me estressar. Normalmente funcionava. E caso não funcionasse, eu pensava em coisas tipo arco-íris e unicórnios, isso sim me fazia voltar ao normal.

— Certo, vamos mudar de assunto, sim? Como é o vestido? Estou louca para ver!

— Aposto que o Richard iria estar mais empolgado que você. Sempre o achei meio gay, mas você amava tanto ele! Deve ser gay mesmo, quer dizer, ele deixou você.

Perdi a paciência.

— Olha, se você tocar nesse assunto mais uma vez eu juro que...

— Que assunto? — Jayden perguntou atrás de mim. Me virei, ele já estava com as nossas malas protegidas com plástico e empilhadas no carrinho do aeroporto.

— Depois eu falo com você, Ann. Jay já está aqui.

— Mas o que isso tem a ver? — ela perguntou — Sou muito mais importante que ele, eu vou casar!

— Tá, e eu vou viajar para o seu casamento — balancei a cabeça, rindo — tenho que ir, sério.

— Te vejo amanhã de tarde.

— Eu vou chegar de madrugada, Ann.

— Pelo horário daí. Aqui vai ser 13h, mais ou menos — ela respondeu, como se eu fosse algum tipo de idiota por não saber todos os fusos do mundo inteiro de cor.

— Ah, ótimo. Ainda tenho que me preocupar com o jet lag.

— Não se preocupe, durma no avião que você não vai nem perceber. Beijo!

— Beijo, Ann — respondi. Desliguei o celular.

— Vocês estavam falando de quê? — Jayden perguntou, curioso, enquanto estreitava os olhos para mim — Acabaram de se falar no carro. Esse assunto não acaba, não?

— Não mesmo — sorri para ele — Vamos, eu quero entrar logo.

Jay suspirou.

— Sim, senhora — então fomos até o portão de voos internacionais.