Eu juro que tentava criar coragem para ligar para a Ann. Eu tinha que fazê-lo, ela tinha que saber. Mas eu simplesmente não conseguia, quer dizer, onde encontra essa súbita coragem para dizer para sua melhor amiga que não vai poder organizar o casamento com ela? Droga, eu era a madrinha principal. Ela nunca mais vai olhar na minha cara de novo, e, cara, eu e ela nunca brigamos, e olha que a gente se conhece por uns quinze anos!

O celular estava na minha mão. Acho que como uma melhor amiga, pelo menos, razoável, eu devia ligar e não deixa-la me esperando. Vou contar até dez, vamos lá.

1, 2, 3, 4...

Certo, calma, eu vou ligar. Essa era a hora.

5, 6, 7, 8...

Cliquei em “Ann ♥”, segundo contado da minha lista. Logo depois de “A melhor pizzaria do mundo”, eu sempre esquecia o nome desse lugar.

Ok, para, concentra. Agora vai.

9... 10.

Juro que ia clicar em “ligar” para ir direto para a ligação. Mas aí apareceu “Jay chamando” na tela, e eu nunca fiquei tão feliz em receber uma ligação de Jayden. Desbloqueei para aceitar no mesmo instante.

– Oi, Jay! – cantarolei feliz.

– Caralho, estava esperando que eu ligasse? Atendeu rápido – ele disse como se fosse a coisa mais esquisita que eu já fiz. Exagerado, não é como se eu deixasse ele esperando todos os dias, só alguma vezes...

– É, eu estava quase ligando para a Ann, você me salvou.

– Você não falou com ela ainda?

– Não... – admiti.

– Ainda bem, eu tenho a sua solução.

– Hãn? – eu falei, confusa – O que vai fazer? Me enfiar na sua mala para eu ir com você amanhã? Jay, sério, está tudo bem. Eu ligo para a Ann e...

– Eu tenho uma passagem para Paris amanhã às 12h, Cass. É pegar ou largar.

– Mas... – me interrompi, o que ele estava planejando? – Espera, está me dando sua passagem? Jay isso é lindo, mas...

– Não. A passagem não é, hm, exatamente minha. Quer dizer, eu que comprei e tal...

– Jayden! Pare de brincadeira, eu chequei os voos. Não tinha mais passagem para depois de amanhã. Você acha que eu nasci ontem?

– Não, eu comprei semana retrasada.

Espera, o quê? Não tinha como ele ter comprado uma passagem para mim semana passada, a não ser que ela seja vidente ou sei lá. Respirei fundo e realmente tentei entender, mas com o Jayden é sempre difícil.

– Certo, pare com isso e explica direito.

– Eu tinha comprado para mim e para a Emily...

Ele parou de falar, esperando que eu respondesse alguma coisa.

– Você vai deixar de levar sua namorada para eu ir? Eu não posso fazer isso! – exclamei, no que ele estava pensando?

– Olha... Eu e ela... A gente meio que terminou.

Houve alguns segundos de silêncio. Eu não sabia o que dizer, eles pareciam estar perfeitamente bem depois da última reconciliação.

– Quando? – perguntei, finalmente, para quebrar o silêncio.

– Hoje de tarde.

– Jay, vocês sempre fazem as pazes. Eu não vou pegar a passagem dela se daqui a pouco vocês vão estar juntos de novo.

– Acho que dessa vez não vamos voltar, Cassie.

– Mas porque não? O que aconteceu? Vocês brigaram feio ou algo assim?

Eu percebi que ele hesitou um pouco, bem pouco, mas hesitou com certeza.

– Esse é o problema, a gente não brigou feio. Acho que a gente meio que... Concordou.

– Ai meu Deus, Jayden. Eu gostava da Em! Foi sua única namorada decente – eu o lembrei. O Jayden vivia arranjando meninas bobas/desmioladas/vadias, mas a Emily era bem legal até, sem falar que eles ficaram bastante tempo juntos. Quase o mesmo tempo que eu passei com meu último namorado, o Richard. Revirei os olhos, meu amigo era mais idiota do que eu imaginava.

– Ei, teve a Kylee também, ela era legal. Só que ela teve que mudar de estado, lembra?

– Ela era louca. E ela nunca se mudou, ela só disse isso para vocês terminarem logo, ela ficou com aquele seu colega logo depois.

– Sério? – ele gritou ao telefone, eu tive que afastar o celular da orelha – E você só me conta isso agora?

– É, você amava tanto ela que eu e Ann ficamos com pena de te contar.

– Mas agora você conta, né? Eu preferia morrer sem saber disso, Cass.

– Você ainda a ama por acaso?

Ele pareceu pensar. Isso me deixou um pouco nervosa, quero dizer, eu realmente não queria que ele fosse procurar aquela surfista maluca para voltar com ela. Eu não suportava ela. Ela me chamava de “Callie” e chamava a Ann de “Annie”. Tinha vezes até que trocava “Jayden” por “Aiden”, vai entender.

– Não, mas isso não muda o fato que todo mundo mentiu para mim! Como assim ela ficou com aquele meu colega? O careca?

– Ah, deixa para lá, loiro. Isso é passado.

Jayden suspirou.

– É, vamos pensar no presente. Ou futuro, você vai comigo para Paris ou não, Cassie?

Suspirei, pensando no assunto por um ou dois instantes. A passagem era da Em, e eu me sentia quase traindo ela. Ela virou minha amiga depois que começou a sair com o Jay, sabe? Mas, por outro lado, a Ann não iria me matar! Eu ia ajuda-la com os últimos preparativos, ia ver o vestido, o bolo e ia arrumar a “despedida de solteira” com as outras madrinhas.

– Certo, eu vou – respondi.

– Ah, eu pensei que eu ia ter que devolver a passagem. Pegar aquela fila enorme só para me devolverem parte do dinheiro é foda, né?

Eu ri.

– Você podia ficar com duas poltronas só para você.

– É, aí a senhora que sentar do meu lado sozinha porque não tinha mais passagem para o marido, vai me olhar tão torto que eu vou ser arremessado do avião. Ótima ideia, Cassie.

Revirei os olhos, mesmo sabendo que ele não conseguia me ver.

– Muito, muito, muito, muito obrigada, Jay. Amanhã de manhã eu vou para a apresentação de Lily e depois... Ah, tem um problema.

– O quê? – Ele perguntou, já impaciente. Tive a impressão que ele iria gritar comigo por cada probleminha que eu arranjasse em seu plano infalível.

– A apresentação é oito, e temos que estar dez horas no aeroporto porque é voo internacional.

– Você vai direto desse negócio para o aeroporto, me dá o endereço que eu te busco lá. Você só complica, viu?

– Você é o melhor, Jay!

– Meh, eu sei – quase pude o imaginar dando de ombros com aquela cara de paisagem dele.

– Convencido.

Ele riu um pouco.

– Ligue para Ann logo e avise que a gente chega depois de amanhã.

– Dura tanto assim?

– 16 horas, o que você esperava? Voar de Los Angeles até Paris em o quê? 2 horas? Não é bem assim, princesa.

– Vou ter que ficar sentada com você durante mais que metade de um dia.

– Ei, cadê o “você é o melhor, Jay!”? – ele riu – Você me adora, o tempo vai passar rapidinho, prometo.

– Espero que sim. Vou ligar logo para Ann.

– Até amanhã – disse.

– Até, loiro – respondi. Então apertei em “encerrar”.