Mon Amour Inconnu Meu Amor Desconhecido escrita por minsantana


Capítulo 2
Capítulo 2 - J'ai faim


Notas iniciais do capítulo

Segundo e último cap por hoje. O próximo só quando alguém comentar...



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Capítulo 2 - J\'ai faim

Mais três paradas e o trem parou em uma nova estação. Foi então que eu tive que tomar uma louca decisão.
- essa é a minha parada. Eu tenho que ir. – ele disse vestindo o casaco.
Eu fiquei triste. Minha parada ainda estava longe e ficaria muito distante para descer ali.
- então... boa sorte em sua viagem. – eu disse sem graça.
- Celine...
- que foi?
- você acredita mesmo que a vida seja feita de momentos? Momentos felizes e inesquecíveis?
- acredito. Por quê?
- vem comigo?
- pra onde??
- ainda tenho um dia antes de minha viagem e eu adoraria passar ao lado de uma pessoa tão encantadora como você. – minhas bochechas coraram de novo – além do mais, você seria uma ótima guia turística para este pobre americano perdido em Paris.
- mas... mas Gerard...
- o que custa você vir comigo e passar um dia inteiro livre dos problemas, das dívidas, das decepções? Vamos aproveitar a vida enquanto há tempo, vamos viver o presente sem medo do futuro. O que me diz?
O sinal anunciava que o trem iria partir. Era minha última chance de decidir meu presente, minha vida naquele instante. Tomada por uma vontade louca de desafiar o destino e sair por aí com aquele belo desconhecido de olhos verdes, eu aceitei.
- tá bom, eu aceito. – ele sorriu novamente e eu quase derreti feito chocolate em banho-maria.
Peguei minha mala e pulei pra fora do trem junto com ele. Ao ar livre, me vi no centro de Paris, de frente para aquela cidade maravilhosa, a Cidade das Luzes e dos Apaixonados.

- onde o senhor gostaria de ir primeiro, senhor Way? – perguntei com ar sério e sotaque inglês, fazendo-o dar altas gargalhadas.
- você não consegue imitar um lorde inglês, cara amiga. Seu sotaque é fajuto demais. – ele dizia com a mão na barriga, se controlando para não cair no chão de tanto rir.
- où vous aiment aller d\'abord, monsieur Way? – dessa vez perguntei em francês e ele imediatamente parou de rir de mim e ficou com uma cara séria.
- isso não vale, você pode estar me xingando e eu não irei saber o que significa. – ele tinha parado de rir, mas seu rosto ainda permanecia vermelho.
- eu só perguntei a mesma coisa, só que em francês. – comecei a rir e por um instante pensei que ele fosse me deixar ali sozinha, de tão sem graça que ele estava.

Ele deu alguns passos à minha frente até perceber que estava perdido e sem minha ajuda não chegaria a lugar algum.
- Celine...
- ah, resolveu sofrer um pouquinho e me pedir ajuda né? – eu sorri mas ele não gostou da piada e continuou sério. – to brincando, pode falar.
- eu to com fome.
- j\'ai faim. – eu disse e ele me olhou em dúvida – repete.
- hã?? O que você disse?
- o mesmo que você. J\'ai faim significa ‘eu estou com fome’. Repete pra você aprender como se fala.
- j\'ai feiiiiiim. j\'uiii feim. j\'ai faem. Ai desisto!
- nunca desista. Você consegue. Tem que fazer biquinho ó. – eu repeti a frase novamente bem devagar fazer biquinho e ele me olhava tentando não rir. – não ria, isso é sério. Pode ser muito útil quando você estiver sozinho e perdido na França. – dessa vez eu que ri. A cara que ele fazia não era nada animadora.
Depois de tentar umas quinhentas vezes e ficar com os lábios doendo de tanto fazer biquinho, finalmente ele conseguiu.
- j\'ai faim. J\'ai faim. J\'ai faim. J\'ai faim. – e não parou de repetir um só minuto até alcançarmos uma lanchonete.
- ai, que fome! A noite toda viajando naquele trem e nada suculento pra comer. – ele reclamava enquanto chamava a garçonete fazendo sinais com as mãos.
- esse lugar é magnífico. Tem um capuccino delicioso.
- capuccino??? Huuuummm..... que interessante! – o rosto dele mudou até de cor.
Quando a garçonete apareceu, eu tive que recitar nossos pedidos e eu percebi que ele olhava admirado com minha facilidade de comunicação.
- pronto. Vai demorar no máximo 5 minutos. – eu me virei pra ele e percebi que ele ainda me olhava.
- você pode até não ser francesa, mas se passaria por uma sem problemas. – ele disse rindo.
- é, eu falo francês desde os meus 5 anos. Além do inglês, minha mãe me ensinava como falar francês em tudo o que eu fazia. Sempre que eu pedia alguma coisa a ela tinha que ser em francês, por isso sei falar tão bem.
Pronto, era só falar neles que a tristeza vinha à tona novamente. Meu coração apertava em lembrar de 3 anos atrás, aquele acidente terrível que não saía de minha mente um só instante. Por pouco eu não tinha morrido também, era um milagre eu estar viva.
- não fique triste, por favor. Não precisa lembrar de nada agora. – ele tinha percebido o porquê da minha face triste.
- eu quero te contar, Gerard. Eu vivi esse tempo todo calada, acho que chegou a hora de desabafar sobre o que aconteceu. – ele concordou com a cabeça e eu tomei coragem para continuar – Há 3 anos, eu tinha ido visitar meus pais em Manhattan. Eles moravam lá e eu tinha me mudado pra França quando tinha 12 anos para morar com uma tia em Bordeaux. Meus pais sempre brigaram muito quando eram vivos, eles se casaram por pressão do meu avô que naquela época não aceitava ter uma filha grávida e solteira. Não sei ao certo se eles se amavam de verdade ou apenas se aturavam pelas conseqüências que um divórcio poderia causar na família. Por isso que, quando fiz 12 anos, resolvi que iria morar de vez bem longe deles e só voltaria quando estivesse adulta. Quando fiz 21 anos, eu voltei pra Manhattan e fui visitá-los. Eles continuavam os mesmos brigões de antes, mas pareciam que tinham aprendido a amar um ao outro apesar das diferenças. Estavam mais amorosos, apesar de tudo. Quando completaram 22 anos de casados, eles saíram pra jantar no carro do papai. Eu não quis ir com eles, naquela noite preferi ficar em casa e arrumar minhas coisas para uma nova vida em New York. Mas foi naquele dia que tudo aconteceu. O carro do papai derrapou numa pista escorregadia e bateu de frente com um caminhão. Nenhum dos dois sobreviveu à batida, eles morreram na hora. Me deixaram sozinha no mundo. – meus olhos estavam cheios de lágrimas e Gerard me olhava cabisbaixo – Eu decidi que voltaria pra França e ficaria aqui pra sempre, até onde estou hoje, aqui com você. É isso, essa é a minha vida resumida em 10 minutos. – eu tentei dar um sorriso pra descontrair mas as lágrimas teimavam em cair no meu capuccino que havia chegado e eu nem tinha percebido.
- nossa, Celine... eu... eu nem sei o que te dizer.
- é realmente triste não é? Mas foi bom assim, eu precisava desabafar.
- se sente melhor agora? – ele pegou na minha mão e eu gelei. As mãos dele eram tão quentes e macias...
- sim, bem melhor. – eu sorri, dessa vez sem deixar mais lágrimas caírem.
- então tudo bem. Beba seu capuccino. Está ótimo, como você me disse que estaria.

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