Os dias em Hogwarts foram se passando. Os Novos Dez se mantinham longe dos Antigos Dez o quanto lhes era possível e, até então, nunca falaram com eles.

Porém, em um desses dias na Escola de Magia e Bruxaria, Elizabeth acordara tarde e estava completamente atrasada para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Correndo pelos corredores onde havia apenas poucos estudantes igualmente apressados, ela acabara por esbarrar em alguém, caindo no chão com a força do impacto.

– Desculpe. Você se machucou? – Uma voz que lhe era bastante conhecida se fez ouvir, fazendo-a levantar o rosto para fitar a dona dela, atônita.

Como imaginara, era ninguém menos que Elena Gryffindor, sua mãe. A morena, agora de onze anos, estendia a mão para ela e sorria sem graça. Estava vestida com as vestes de Hogwarts da Grifinória e uma mochila aparentemente pesada tinha lugar em suas costas, sendo sustentada apenas por uma das alças no ombro esquerdo, que estava levemente inclinado para cima para sustentar o peso.

Sem sequer pensar muito, mas ainda assim nervosa, Elizabeth segurou a mão que ela lhe estendia, levantando-se com a ajuda da mãe que ainda não sabia ser sua mãe.

– D-desculpe, eu estou atrasada. – Elizabeth se desculpou nervosa e sem graça. Ellen e Helena haviam dito estritamente para eles se manterem longe dos pais para evitar mudar alguma coisa importante e lá estava ela conversando com Elena.

– Tudo bem. – Elena assentiu e sorriu. Um sorriso tão sincero e gentil que fez Elizabeth se perguntar o que havia mudado tanto sua mãe. – Também estamos atrasadas. – Gesticulou para alguém atrás de si e só então a menina percebeu que Elsa também estava lá com ela. – Enfim, você é da Sonserina, então vamos para a mesma aula. – Declarou. – Vamos então? – Arqueou uma sobrancelha.

Sem conseguir formular uma mentira que fosse suficientemente convincente, Elizabeth seguiu com as Gêmeas Gryffindor para a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, percebendo que Jafar ainda não havia chegado.

Assim que entrou com as duas, recebeu olhares zangados de Helena e olhares confusos de James, Jason, Leonidas e Miranda. Logo, despediu-se da mãe e da tia e seguiu para onde os amigos estavam.

– Você ficou maluca? – Helena sussurrou com certa irritação.

– Eu esbarrei na mamãe. Foi um acidente. – A mais nova se apressou em se justificar, defendendo-se.

– Isso pode acontecer, Hels. – Miranda interveio, ajudando Elizabeth.

– Tudo bem. – Helena suspirou com cansaço, massageando as têmporas com a ponta dos dedos, hábito adquirido de Elena, por debaixo dos óculos que insistiam em escorregar pelo nariz fino.

Todos ficaram calados por um bom tempo e Jafar ainda não havia chegado. O professor já estava tremendamente atrasado, mas ninguém parecia se importar, afinal ninguém gostava da aula dele.

– Foi bom. – Elizabeth finalmente cortou o silêncio que havia entre os seis, falando num tom que só eles poderiam ouvir.

– O que? – Jason arqueou uma sobrancelha, confuso com a fala repentina.

– Falar com a mamãe de novo. – Elizabeth explicou, olhando discretamente para onde Elena estava com Elsa, Jack, Jacky, Merida, Alice e Anna. – Ela está tão diferente, mas parece melhor assim. Combina mais com ela. – Prosseguiu. – Senti falta dela. – Disse por fim.

Helena suspirou e colocou uma mão no ombro da irmã.

– Eu também, Elsa. Eu também. – A mais velha garantiu.

Neste momento, Jafar finalmente adentrou na sala, iniciando a aula sem mais nem menos. Sem mais tempo, os seis se calaram e prestaram atenção na aula.

–

Depois das aulas, finalmente chegara o horário do almoço. Saindo da sala onde houvera a aula de Feitiços com Grifinória e Sonserina, Elizabeth mais uma vez acabou por esbarrar com Elena.

– É a segunda vez hoje. – Elena disse de bom humor, rindo um pouco.

– Acho que sim. – Elizabeth passou as mãos nervosamente pelos cabelos castanho-escuros lisos.

– Enfim, quer ir almoçar? – Elena arqueou uma sobrancelha.

Elizabeth, atônita, abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu. Como ela não conseguiu responder nada, Elena a segurou pelo braço e sorriu, guiando-a para o Grande Salão. Elizabeth, por sua vez, segurara Helena, que segurara James, que segurara Miranda, que segurara Jason, que segurara Leonidas. No caminho, Leonidas puxou Alicia, que puxou Ellen, que puxou Christian, que puxou Diego.

E foi desse modo que os Novos Dez acabaram na mesa da Lufa-Lufa com os Antigos Dez. Os mais novos ficaram apenas calados nervosos enquanto os outros conversavam animadamente.

– Vão ficar aí calados? – Anna arqueou uma sobrancelha, decidida a incluir os outros Dez na conversa.

– É... É... É... É... – Christian gaguejava violentamente, olhando diretamente para a figura sorridente e confusa de sua mãe.

– Ele é sempre assim? – Jacky questionou, rindo baixo do jeito nervoso e atrapalhado de Chris.

– Q-quase sempre. – Jason respondeu sem graça. Não era do feitio dele agir daquele jeito, mas ele estava falando com sua mãe e ela havia morrido em seu tempo.

– Vocês são estranhos. – Jack declarou, jogando uma batata frita para cima, logo a pegando com a boca.

– Deixe de ser insensível, Jack. – Mirana bateu levemente no braço do albino, que apenas riu do gesto.

– O que? – Ele, descaradamente, se fez de desentendido.

Com isso, Alice, Anna, Rapunzel, Merida, Soluço, Elsa, Elena e Anna tiveram que rir e até mesmo Christian, James, Alicia e Ellen riram também, embora os outros permanecessem calados e nervosos.

– Já entendi. São calados. – Soluço disse por fim assim que parou de rir, olhando para Helena, Leonidas, Elizabeth, Miranda, Diego e Jason. – Vão se dar bem com a Elsa. – Riu, apontando para a loira. – Mas, quais os nomes de vocês?

– M-Miranda. – A ruiva se apresentou nervosamente, gaguejando.

– Leonidas. – O loiro se apresentou rapidamente, desviando o olhar para qualquer coisa que não fossem o pai ou os tios. – Eles me chamam de Leon. – Gesticulou para os amigos.

– Helena. – A morena respondeu, lutando para manter a voz firme. – Ou Hels. – Sorriu sem graça.

– Jason. – O menino de cabelos pretos como a noite respondeu atropelando as letras, mantendo o olhar em Jacky. – Ou apenas Jay. – Forçou um sorriso.

– James. – O albino se apresentou, tentando se mostrar mais animado que os demais, embora estivesse igualmente nervoso. – Mas me chamam de Jamie. – Sorriu.

– Alicia. – A albina respondeu com a elegância com que Mirana a criara, não mostrando o quanto estava nervosa. – Mas apenas Ally é melhor.

– Sou Diego. – O moreno falou sem graça, esfregando freneticamente os cabelos castanhos.

– Ellen. – A garota de cabelos pretos se apresentou formalmente, começando a se sentir mais a vontade ali apesar de continuar nervosa com a presença da mãe e dos tios.

– Chris. – O ruivo se apresentou envergonhado e atrapalhado.

– É diminutivo de que? – Anna perguntou com os olhos azul-água brilhando de curiosidade. A ruiva adorava conhecer novas pessoas. – Christopher? – Chutou.

– Na verdade de Christian. – O garoto respondeu sorrindo, feliz por ver a mãe contente mais uma vez, afinal, desde que perdera a mobilidade das pernas, Elena morrera e Elsa entrara em coma, Anna andava meio cabisbaixa e infeliz.

– E você? – Elsa finalmente se pronunciou, tendo ficado calada até então, olhando diretamente para a única entre os Dez mais novos que não havia se apresentado.

– Elizabeth. – A garota respondeu com dificuldade. – Mas... – Engoliu em seco. – Me chamam de Elsa. – Disse por fim.

– Considerando que já temos uma Elsa – Rapunzel disse, gesticulando para a loira. – Acho melhor te chamarmos de Elizabeth, tudo bem? – Propôs.

– Claro. – A menina respondeu com simplicidade, feliz com a possibilidade de poder passar mais tempo com a mãe e os tios.

Na verdade, nenhum deles poderia pedir nada melhor, afinal aqueles eram seus pais sem qualquer das feridas do passados, as lembranças dolorosas ou as responsabilidades exaustivas. Eram apenas estudantes de Hogwarts, como eles eram, e talvez fossem se dar melhor com aqueles estudantes do que com os Chefes de Departamento, a Ministra da Magia, a Diretora e a Vice-Diretora de Hogwarts.

Sem dúvidas, aquele período deles no passado ainda guardava muitas surpresas.