Um mundo sem você escrita por Silent Leaf


Capítulo 3
O inimigo lá fora


Notas iniciais do capítulo

Tentei escrever esse capítulo o quanto antes para não deixar vocês chateados com o cliffhanger do último, haha!
Espero que gostem!
Boa leitura :)



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A noite havia passado devagar e calma até esse momento. Minha única preocupação verdadeira tinha sido manter a chama da lareira viva. Em todo o resto do tempo, meus pensamentos giravam entre as memórias dos últimos anos com aqueles que fazem meus dias melhores. Tudo estava tão bem. Era de se imaginar que não continuaria assim. No começo achei que era minha imaginação, meu cérebro pregando peças em mim. O vento noturno, frio e agressivo, do lado de fora, já tinha me dado um susto ou outro durante a noite. Só que aquilo não era o vento, não era um vizinho batendo calmamente. Era como se alguém estivesse se jogando contra a porta. Não estavam me pedindo para abrir, estavam querendo arrombar ela! A cada pequeno intervalo de tempo, que eu imaginei que seria para tomar distância, aquele barulho voltava e a porta tremia um pouco, parecendo ceder meio centímetro a cada tentativa. Eu estive sozinho no mundo desde o meio da tarde, mas agora eu não estava mais. Imaginei que estaria feliz quando esse momento acontecesse, mas não, estou com o coração na boca!

Durante o primeiro par de batidas, eu fechei os olhos, como uma criança. Desejei que o que quer que fosse, desistisse e me deixasse em paz. Infelizmente, com o passar do tempo, eu percebi que não podia ignorar o que estava ali. Olhei para os lados em busca de qualquer coisa que pudesse me defender. Estava escuro e difícil de distinguir os objetos mais distantes da lareira, a minha única fonte de luz. Para a minha sorte, uma boa opção estava bem visível: Era aquele pedaço de ferro que usamos para ajeitar a lareira, mexer nos pedaços de madeira queimando com segurança. Aquilo, com certeza, seria intimidador o suficiente. Respirei fundo enquanto minha mão direita agarrava no ferro com firmeza. As batidas tinham diminuído de frequência, mas continuavam lá. Talvez quem estivesse do lado de fora estava ficando cansado. Isso era bom para mim, não? Segui em passos lentos, não sabia se meu corpo tremia por frio ou por medo. Provavelmente os dois. Com muita incerteza, meu braço esquerdo se esticou e tocou a maçaneta gelada. Projetei o meu corpo da forma que ficasse o mais distante da porta humanamente possível. Aquele par de segundos que demorei para virar a maçaneta e puxar a porta foram os mais longos da minha vida. Corri a minha mão esquerda para o ferro também e o levantei, deixando a física e o vento cuidarem de abrir o resto da porta. Confesso que por um breve momento, inconscientemente, fechei os olhos e virei o rosto. Nada sábio, eu sei.

Abri os olhos e encarei o lado de fora. O vento congelante não era um problema mais, diante daquela situação. Perdi a firmeza nas mãos e o ferro quase caiu. Fiquei nervoso, aflito. Não havia ninguém ali! O que estava acontecendo? Claramente devia estar ficando louco. Aproximei-me mais da saída, olhei para um lado e para o outro, tentando distinguir qualquer coisa na distância. O bairro continuava a mesma cidade fantasma de antes, talvez ainda mais inóspita e cada vez menos convidativa. Nada. Realmente ninguém. Por pior que fosse a sensação de estar realmente sozinho no mundo, eu respirei aliviado. Senti o peito relaxar e o ar entrar mais facilmente. Fechei a porta e deixei o ferro cair no chão ao meu lado. Apoiei as duas mãos na porta e abaixei a cabeça, fechando os olhos. Foi então que meu coração parou. Tinha alguém atrás de mim. Não era imaginação, não era pegadinha da minha mente. Realmente tinha alguém atrás de mim! Meu corpo estava paralisado. Aquela coisa se aproximava cada vez mais e eu não conseguia sequer virar para encará-la. Me odiei por ter deixado minha guarda baixar, por ter soltado aquele pedaço de ferro. De que adiantaria, de qualquer jeito? Eu não conseguia me mover de tanto medo que estava. Eu conseguia ouvir os passos, leves e cuidadosos na minha direção. Cada vez mais perto e mais perto, até que o senti expirando o ar nas costas da minha perna. Uma eletricidade correu pelo meu corpo inteiro, quase pulei. Em um movimento rápido virei para me afastar. Sem cuidado, pisei no ferro e senti meu equilíbrio sumir. O ferro voou na parede e minhas costas no chão. Senti uma forte dor na nuca ao encontrar o chão, mas aquela era minha menor preocupação. O sofá da sala impedia que muita iluminação chegasse aonde eu cai, mas eu conseguia discernir os traços daquele animal que continuava se aproximando de mim, sua presa. Era um lobo, com toda a certeza! Seu corpo levemente abaixado enquanto chegava mais perto, seus olhos hipnotizantes conectados aos meus, seus passos cautelosos como se esperasse pelo meu primeiro movimento brusco. Me arrastei um pouco para trás, mas isso só acelerou o movimento dele. Antes que pudesse pensar melhor sobre o que fazer, o animal estava em cima de mim. O ar que saia de seu focinho encontrava o meu rosto, quente. Meu corpo congelou por dentro. Aquele era claramente meu fim. Todo mundo tinha ido embora, agora era a minha vez. Em um movimento rápido, aquela criatura feroz se aproximou ainda mais de mim. E me lambeu.

Não foi coisa da minha mente. Eu realmente tinha sido lambido. Não só uma vez, mas duas, três. Aquilo não parava. Eu não consegui me conter e ri. Não era um lobo, mas sim um cachorro. Ou melhor, uma cadela. Ela só parecia muito com um lobo. Uma Husky de pêlo escuro, talvez uma mistura de raças. Ela não parava de me lamber, estava tão feliz de me ver quanto eu ficava agora ao descobrir ela. Ficamos brincando e rindo ali no chão por alguns minutos, até que o frio se tornou insuportável e percebemos que era necessário voltar para perto da lareira. Me levantei e alimentei o fogo mais uma vez, agora com um sorriso gigantesco. Como ela estava encharcada, deixei-a próxima ao fogo e sai para buscar uma toalha. Uma vez seca, nos cobri com o edredom, próximos ao fogo e voltei a fazer carinho nela. Eu não podia pedir por uma companhia melhor naquele momento. Olhei para o seu pescoço em busca de uma identificação, mas não tinha coleira. Olhei em seus olhos castanhos e me lembrei da quinta série. Naquele dia, durante a aula, no qual a Thaís achou um filhote de cachorro e queria porque queria levar para casa mas seu pai não deixou. Foi um dos poucos dias que vi a Thaís ficar para baixo. Decidi, por causa da memória desse tempo, chamar ela de Tsuki. Ela gostou. Tsuki era uma variação menor e mais carinhosa do sobrenome Tsukino, da família da Thaís. Mais uma vez, naquele momento, ela me lambeu. Quase como se agradecesse por eu estar ali com ela. Mal sabendo que quem realmente estava muito agradecido ali era eu. O resto da noite passou de forma rápida e divertida. Entre uma brincadeira e outra, descansávamos olhando o fogo. Até que o sono nos pegou e dormimos juntos, próximos as chamas, buscando ficar aquecidos. Dormi especialmente bem naquela noite, sabendo que não estava só.


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Notas finais do capítulo

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Desejo um ótimo dia para vocês!



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