XX-23 continuava sem possuir sono algum, e durante a noite não teria escapatória, voltaria a ficar sozinha com seus próprios pensamentos. Ela não queria sentir dor e chorar ao remoer as “lembranças” ruins de um passado tão distante, então resolveu focar em outros pensamentos. Pensamentos sobre o Capitão Steven Rogers.

Ah! Steve... XX-23 o havia conhecido a menos de uma semana e já se sentia tão próxima a ele, mil vezes mais do que com os outros. Ela tinha certeza que aquilo não era só por causa do soro do DNA dele que havia sido em quantidade maior. Pelo menos, ela não queria acreditar nisso.

Ele era tão bonito, XX-23 não se importava muito com isso, mas era difícil olhar para ele e não sentir uma tremedeira nas pernas, e ao mesmo tempo, Steve era tão doce, atencioso e tímido, que era impossível não achá-lo fofo.

A garota se sentia arrebatadoramente surpresa, ele destruía o preconceito interno que ela tinha de que homens bonitos demais não prestavam. Era impossível imaginar Steve partindo o coração de alguém ou sendo cruel.

XX-23 estava sentindo uma coisa crescer dentro dela com bastante velocidade, e era estranho porque era uma novidade. Ela nunca tinha ficado ansiosa daquela forma para encontrar alguém, era como se ela necessitasse da próxima aula com Steve, e ainda assim precisasse de prévias como encontros pelos corredores.

Até agora ela conseguia se controlar e não demonstrar nada dessa sua confusão que não entendia para ele, mas tudo piorava quando este agia de forma esquisita. Steve falava mínimas coisas, realizava pequenos gestos, trocava alguns olhares diferentes, e tudo isso só deixava XX-23 mais confusa ainda.

Ela estava muito habituada a se esconder dentro de uma armadura de simpatia e carisma, mas aquela ligação com Steve estava abalando demais essa sua capacidade, cedo ou tarde ela acabaria transparecendo o quão interessada estava ficando por ele.

Os sinais que Rogers dava voluntariamente ou involuntariamente, dava a entender que ele estava ficando interessado nela também, mas XX-23 nunca conseguiria acreditar nisso, pois ninguém, nenhum homem, em toda a sua vida, nunca havia se interessado por ela.

Por que agora seria diferente? Banhada em sua baixa autoestima, XX-23 acreditava que os “sinais” que estava notando sobre a reciprocidade dos sentimentos de Steve eram apenas imaginação de sua cabeça pirada vendo o que queria ver. Ela estava se apaixonando?... Não podia ser... Não tão rápido, pelo menos...

Ela não acreditava em amor a primeira vista, ela nem sequer acreditava muito que o amor existisse, mas desde que ela abriu os olhos e viu Steve pela primeira vez, muita coisa começou a mudar.

XX-23 não viu o tempo passar, e quando deu por si já estava na hora de sua primeira “aula/treinamento” com o Doutor Bruce Banner.

[...]

A hora do almoço havia chegado e quase todos os vingadores, que estavam habitando o prédio da SHIELD temporariamente, já estavam no refeitório principal iniciando sua alimentação, juntos em uma mesa enquanto outros agentes almoçavam em mesas adjacentes.

Steve, Natasha e Clint estavam sentados em uma mesa de oito cadeiras. Barton e Rogers estavam sentados um do lado do outro, enquanto Natasha estava do outro lado da mesa, em frente aos dois, só que mais precisamente frente a frente com Clint.

Os três conversavam, mas Barton e Romanoff não conseguiram evitar notar a ansiedade que Rogers transparecia sem perceber, ele olhava com bastante frequência para a porta que vinha da ala dos laboratórios.

Todos os dias desde que XX-23 havia sido descongelada, ela, Barton, Romanoff, Banner e Rogers faziam todas as refeições juntos ali, assim como outros agentes que trabalhavam no prédio. Naquele dia do cronograma, as atividades com a garota estavam reservadas a Bruce, e diferente de todos os outros dias, ela estava atrasada para o almoço, e Banner também não tinha chegado.

Uns minutos depois, XX-23 e Banner adentraram o refeitório entre conversas e risadinhas. Steve inconscientemente manteve seu olhar fixo neles, o que fez Romanoff e Barton se entreolharem.

– Vocês se atrasaram. – Natasha resolveu fazer o comentário por Rogers, quando eles chegaram à mesa, ela sabia que ele o faria.

– Perdemos a noção do tempo. – XX-23 disse sentando-se ao lado da ruiva ficando em frente a Steve. Ela deu um sorriso tímido só com os lábios para ele.

– A culpa foi toda minha, começamos a falar de uns projetos antigos meus... – Banner sentou-se ao lado de Steve.

– Vocês não vão pegar a comida? – Clint comentou.

XX-23 e Banner se entreolharam e começaram a gargalhar, eles tinham esquecido. Os dois levantaram e foram juntos para o balcão dos alimentos “montar” seus pratos. Steve continuou seguindo-os com os olhos.

– Ciúmes... Mas já? – Romanoff comentou apenas para eles três ouvirem.

– Quem? Eu? – Steve foi pego de surpresa pelo olhar inquisidor da Viúva Negra.

Natasha respondeu apenas levantando uma de suas sobrancelhas.

– Não sei do que você está falando. – Steve sem graça voltou a olhar para o seu prato.

Não demorou muito e XX-23 e Banner estavam de volta, sentaram-se nos mesmos lugares de antes.

Bruce começou a falar para os outros com a mesma empolgação que estava falando sozinho com a garota:

– O que Fury nos falou sobre ela foi o eufemismo do ano! – Bruce disse dando uma garfada em sua comida.

– Como assim? – Clint ficou curioso. XX-23 tentava ignorar o comentário de Banner, ao passo que estava confusa por Steve não ter sorrido de volta para ela; ele sempre sorria de volta antes.

– Sobre ela ser inteligente... Ela não é inteligente... – Ele deu outra garfada e continuou falando. -... Ela é genial!

– Isso é uma consequência dos soros que injetaram nela também? - Natasha se interessou.

– Aí é que tá... Não é!... Isso é autenticamente dela... – Bruce estava mesmo muito empolgado com isso. -... Conte a eles, ou eu contarei.

XX-23 deu uma risadinha sem graça e revelou:

– Eu entrei na faculdade com doze anos.

Barton quase engasgou.

– Nossa! Isso é incrível! – Disse ele após beber um gole de água.

– É mesmo. – Steve se pronunciou dando agora um sorriso bem breve para ela. Mas na verdade ele não tinha gostado muito, de certa forma isso aproximaria mais ela e Banner, e de alguma forma que ele não sabia explicar, isso o incomodava.

– Você se formou em quê? – Barton perguntou recuperado.

– Na verdade, em nada... Eu sempre gostei muito de aprender, acumular conhecimento era meio que o meu hobby, então fiz o máximo de matérias de todos os cursos que consegui até ser congelada... Não fazia um curso, fazia as matérias...

– Você passou dez anos na faculdade aprendendo o quê em especial? – Natasha perguntou.

– Todas as artes da biologia, química, física, matemática, linguagens... – Ela explicava.

– Tudo! Basicamente... – Natasha brincou.

– É... – A garota concordou.

– Você aprendeu a falar várias línguas também? – Barton interrogou.

– Sim! Além de inglês, sei falar espanhol, português, francês, italiano, alemão, búlgaro, latim, dinamarquês, irlandês, mandarim, entre outras... – Ela listava um pouco sem graça com as caras espantadas, nem Romanoff sabia tantas línguas. -... Mas nunca aprendi a falar russo, você pode me ensinar, Natasha? – XX-23 perguntou para a ruiva.

– Cla... Claro!... Posso tentar. – Disse ela.

– Então... – Bruce voltou a falar. -... Ela me convenceu de que cometeram um erro no Projeto Manhattan...

– Einstein foi um dos cérebros desse projeto... – Natasha disse incrédula de que possa ter havido um erro.

– O que é incrível!... Ela acredita que se tivessem usado para o enriquecimento de urânio na fase eletromagnética o isótopo de urânio-238, que é o mais comum, ao invés do isótopo de urânio-235, o isótopo de plutônio gerado seria o plutônio-239 muito mais estável que traria muito menos problemas cancerígenos e... – Bruce explicava empolgado.

– Banner, você tem noção de que ninguém além de você e ela estão entendendo o que você está falando, né?! – Barton relembrava Banner de que não estava entre cientistas.

Os outros riram e eles mudaram de assunto.