Contando Estrelas 2 escrita por Letícia Matias
Meus olhos se abriram devagar e sonolentos e vi que Johnny estava do meu lado me olhando.
Coloquei a mão na boca para bocejar e fiquei olhando para ele.
A dor na costela havia piorado. Percebi que eu estava coberta com um cobertor marrom de pelinhos. Eu me sentia confortável e aquecida, tirando aquela dor insuportável.
– Oi. – eu sussurrei.
– Oi. – ele sussurrou com aquela voz rouca e grossa. – Você está bem¿
Ri baixinho e parei colocando a mão na costela.
Olhei para ele. Ele olhava para minha mão na costela e para mim.
– É engraçado que mesmo eu lhe aborrecendo, você sempre está preocupado comigo.
Sua expressão se suavizou e ele sorriu balançando a cabeça.
– É que sua teimosia faz parte do pacote. – ele disse olhando em meus olhos. – E seu ciúme, seu orgulho, sua birra, seu sorriso, seu jeitinho sem igual, Srta. Anne. Você é uma pessoa difícil.
Ri e parei fazendo cara de dor.
– Está com dor nas costelas¿
– Quer um Dorflex¿
Assenti novamente.
Ele levantou-se e foi até o balcão. Colocou uma maleta pequena no balcão e tirou um comprimido Dorflex da cartela. Veio até mim e me entregou junto de um copo grande de água.
Engoli o comprimido e a água e lhe entreguei o copo. Ele colocou o copo no balcão e tornou-se a se sentar.
– Estamos quase chegando. – ele disse.
– Que horas são¿
– Quase três da tarde. Dormiu quase oito horas, Srta. Anne.
Sorri e encostei minha cabeça em seu peito.
– Sinto que posso dormir mais. Estou muito cansada.
Ele beijou meu cabelo e começou a mexer suavemente no meu cabelo.
– Se não quer que eu volte a dormir, então pare. – eu disse.
Ouvi-o rir baixinho.
– Durma Mary, não quero você cansada. Hoje não.
– Quais são seus planos¿ - perguntei olhando para ele.
Ele olhou para mim.
– Isso você não vai conseguir tirar de mim. Espere e verá Srta. Impaciência Em Pessoa.
– E você é o Sr. Chato em Pessoa. – retruquei.
Ele riu baixinho e continuou a mexer no meu cabelo. E como previsto, voltei a dormir.
– Mary.
– Mary, acorde. Chegamos.
– Hum.
– Mary, vamos! Terá tempo de dormir. Chegamos!
Abri meus olhos lentamente.
Ele já estava em pé curvado sobre mim.
Ele riu.
– Como uma pessoa pode sentir tanto sono igual você¿
Dei de ombros e tirei o cinto de segurança. Ele ajudou-me a levantar e então entrelaçou seus dedos nos meus.
Apoiei minha cabeça em seu ombro.
Marcus nos esperava na porta do avião.
– Fizeram uma boa viajem¿ - ele perguntou.
– Sim, obrigada Marcus. – Johnny disse.
– Obrigada Marcus. Você é um ótimo piloto. – disse e sorri.
Marcus ficou vermelho e sorriu rapidamente assentindo.
Olhei de relance para Johnny que fez cara feia ao ver a reação de Marcus quando falei isso.
Ri baixinho.
– Obrigada Srta. Anne. Aproveite Nova York.
– Obrigada, com certeza irei.
Ele assentiu e nos deu licença para passar.
Desci as escadas e Johnny veio atrás de mim. A Srta. Oxigenada estava do lado de fora do avião.
– Bem-vindos a Nova York. – ela disse sorrindo.
– Obrigada. – eu disse antes que Johnny pudesse responder e começasse de gracinha.
Vi um sorriso de satisfação brotar em seus lábios.
Revirei os olhos para ele.
Ele agradeceu a Bridgit e pegou sua mala e a minha.
– Eu levo a minha. – eu disse.
Ele arqueou as sobrancelhas.
Um homem com um carrinho colocou as malas dentro e sorriu para nós andando na nossa frente.
Ri baixinho.
Passamos pelo portão de embarque e por várias pessoas. O aeroporto estava cheio. Uma porta de vidro se abriu e então vi que chovia. Não nevava, mas chovia e lufadas de ar gelado batiam contra nós.
– Bem-vinda a Nova York. – Johnny sussurrou em meu ouvido.
Sorri e lhe dei um beijo apaixonado.
Ouvi uns assovios ao redor e eu sabia que éramos o centro das atenções ali na saída do aeroporto, mas eu não ligava.
Olhei para ele.
– Eu te amo.
Ele sorriu.
– Eu te amo mais, Srta. Anne.
Sorrimos um para o outro.
Nós pegamos um táxi mais do que depressa. Johnny não contou para que hotel estávamos indo. Isto é, eu pensava que nós íamos para um hotel.
O táxi parou perto da 5ª Avenida em frente a um prédio enorme.
Olhei para Johnny e ele sorriu para mim. Eu mal podia conter minha animação em estar em Nova York e tudo aquilo era tão... Esperado!
Saí do táxi e Johnny saiu atrás de mim. Um homem magro e alto com um uniforme preto saiu de dentro do prédio e veio até nossa direção.
– Johnny, que bom vê-lo! Há quanto tempo! – o homem disse batendo nas costas de Johnny e sorrindo.
– Sim, Adam! Faz muito tempo não é¿ - Johnny olhou para mim e viu que eu esperava ele dizer algo para mim. – Ah Adam, essa é a minha namorada: Mary.
O rapaz de cabelos pretos e expressão juvenil olhou para mim, como se não tivesse notado minha presença ali e sorriu.
– É um prazer conhecê-la Mary. – ele disse e pegou minha mão para beijá-la.
Franzi a testa e ri.
– O prazer é todo meu, Adam!
– Posso ajudá-los com as malas¿ - ele perguntou dirigindo-se a Johnny.
Eu não me importei de ele se dirigir a Johnny, pois ele não era uma loira oxigenada de sorriso forçado com um batom extremamente vermelho e vulgar.
Eu não parava de olhar para todos os lados. Táxis e carros passeavam em duas faixas na rua. E tinha tantos prédios e arranha-céus nos rondando. Eles eram tão... Altos! Eu mal podia esperar para ver aquilo tudo de novo.
–Mary¿
Virei-me para Johnny e ele sorria.
– O que foi¿ - perguntei sorrindo.
Ele arqueou levemente as sobrancelhas.
– Apreciando a vista¿
Sorri o maior sorriso de todos e fui lhe abraçar.
– Sim. É... Maravilhoso!
Ele passou o braço por volta da minha cintura.
– Que bom que está feliz. Vamos subir.
Assenti olhando para ele. E então trocamos um olhar intenso. Seus olhos esverdeados poderiam ser confundidos com um tom acinzentado. Eram tons muito próximos, era uma cor diferente e você podia se perder neles em um segundo. Ele sorriu e mostrou seus dentes lindos e branquinhos e alinhados.
Sorri de volta e então ele me deu um beijo rápido. Pegou minha mão e me guiou para dentro do enorme prédio.
Logo quando entramos vi que tinha um balcão de recepção e Adam estava pegando umas chaves.
Olhei em volta, tudo era de vidro e madeira naquele andar. Tinham uns sofás e poltrona cor de cinza espalhados pelo ambiente para espera e um elevador uns metros atrás do balcão.
Johnny apertou minha mão e olhei para ele. Percebi que estava boquiaberta olhando para aquele lugar. Estava parecendo uma criança.
Ele riu baixinho vendo toda aquela reação infantil minha e me puxou para mais perto.
Adam apertou o botão do elevador e logo ele se abriu. Entramos no elevador de mãos dadas e o pobre Adam estava carregando um carrinho de ferro com as malas em cima. Mas, presumi que ele estava fazendo de bom grado e afinal, parecia ser seu trabalho.
Ele não deu um pio, Johnny e eu também não.
Enquanto o elevador subia lentamente Johnny brincava com meus dedos. Olhei para o lado e vi nosso reflexo no espelho que havia ali dentro.
Sorri e ele acompanhou meu olhar, assim, olhando para o espelho. Nossos olhos se encontraram no espelho e meu sorriso se tornou ainda maior.
Eu sentia que poderia agarrá-lo ali e dar muitos beijos nele e abraçá-lo com força e nunca mais soltar.
Ele era meu. Só meu e de mais ninguém. Nenhuma loira com batom vermelho provocante iria roubar ele de mim.
A porta do elevador se abriu e demos de cara com uma porta de madeira.
Adam entregou as chaves para Johnny e ele as pegou. Saindo do elevador ainda segurando minha mão, ele colocou a chave na porta, a destrancou e girou a maçaneta escancarando a porta.
Abri a boca com certeza e senti meus joelhos bambos.
Era um apartamento enorme. De entrada tinha a sala com um sofá cinza, uma televisão em cima de uma raque preta e branca. E quando olhei para o lado direito, não vi mais nada, apenas uma enorme janela de vidro que dava a vista para a 5ª Avenida e dava para ver absolutamente infinitos prédios e arranha-céus.
Soltei da mão de Johnny e fui correndo para a janela. Arfei quando vi que estávamos quase no penúltimo andar. Era lindo como um sonho.
Meu sorriso era tão bobo como o de uma criança que vê um Milk-shake de chocolate em sua frente. Aquilo era a coisa mais linda que eu já vira. E eu sei que parecia ser dramático. Mas... Eu estava em Nova York. Onde os sonhos são feitos.
Senti os braços de Johnny em minha cintura.
– O que achou¿ - ele perguntou com o queixo apoiado em meu ombro direito.
– Estou... Sem. Palavras! Johnny isso é... Meu Deus!
Ouvi-o rir baixinho.
– Bem-vinda ao seu apartamento.
Franzi a testa e virei-me para olhar para ele. Ele estava com as mãos nos bolsos e seu cabelo estava um pouco molhado por causa da garoa.
– Como é que é¿ - perguntei cuidadosamente.
– Esse apartamento é seu.
Abri a boca umas três vezes e a fechei antes de começar a falar novamente.
– Esse apartamento é o apartamento que minha mãe e...
–Não. – ele disse e ficou em silêncio por um minuto. – Eu... Esse apartamento era meu e eu estou... Lhe dando ele.
Fiquei sem ar de repente e só conseguia ouvir meus batimentos cardíacos acelerados em meus tímpanos.
Fechei os olhos. Sentia-me tonta. Abri-os novamente e olhei para Johnny.
– O que está dizendo¿
Ele suspirou e não disse nada. Apenas esperou que eu processasse a informação.
Ele estava me... Dando seu apartamento em Nova York. Aquilo era... Loucura, era lindo e insano.
– Johnny... O que está fazendo¿ Está me dando o seu apartamento¿
Ele deu de ombros e depois arregalou os olhos.
– Você não gostou¿
Bufei e ri.
– Não gostei¿ Está me perguntando se eu não gostei¿ Olhe isso! – eu disse apontando para a janela de vidro onde podíamos ver quase a 5ª Avenida inteira. – Acha mesmo que eu não gostei¿ Só... Não entendendo o porquê está fazendo isso!
Ele riu e veio até mim. Passou os braços por minha cintura me puxando para perto dele. Apoiei minhas mãos em seus ombros e olhei para seus olhos profundos acinzentados.
Esperei ele falar.
– Estou fazendo isso por que... Pensei que você não ia mais querer aquele apartamento que seu... Pai. – ele disse a palavra pai com a voz falhando. – Lhe deu.
– Se você não quiser ficar com esse apartamento... Tudo bem. Só...
– Não. – eu disse baixinho. – Aqui é perfeito e eu... Amei. Estou sem palavras e você acertou. Eu realmente não quero ficar com o apartamento que ele me deu. – não queria usar a palavra Pai. Eu não sentia que meu pai... Era meu pai. – Mas... E quanto a você¿
Ele sorriu.
– Tenho meu apartamento em LA.
Mordi o lábio. Eu estaria em Nova York em breve e ele continuaria em LA.
– Olhe, temos tempo para falar sobre isso, tudo bem¿ - ele disse olhando-me bem nos olhos.
Sorri e assenti.
Ele foi me levando para a janela de costas e depois me virou para que eu pudesse apreciar aquela vista.
– Parece que estamos no topo do mundo. – sussurrei.
– Estaremos sentados no topo do mundo. – ele disse em meu ouvido me provocando arrepios ao ouvir essas palavras. – Espere anoitecer.
– Outra surpresa, Sr. Donahue¿
Ele virou-me bruscamente e me beijou me surpreendendo.
Olhei para ele surpresa.
– Gosto de te surpreender.
Revirei os olhos e sorri.
– Já percebi isso.
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