Ocd escrita por FChastel


Capítulo 2
O dia em que tudo se foi


Notas iniciais do capítulo

Segundo! No mesmo dia!
Eu me sinto incrível. Melhor sem parar do que sem terminar. Aproveitem!



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OCD

Os períodos de quietude aumentavam gradativamente desde que eu e Rukia começamos a nos conhecer melhor. Não era uma cura, óbvio, mas ajudava muito. Eu ainda sofria com o distúrbio, ainda arrumava as coisas de modo perfeccionista, por exemplo, se a almofada não ficasse inclinada no ângulo correto eu me mataria pra fazer com que ela ficasse perfeita, eu ainda colocava as compras separadas por cor no carrinho de mercado e ainda guardava tudo na dispensa com a mesma separação.

Rukia percebera que eu não agia de modo normal comparado a outras pessoas, afinal eu tinha ideias exageradas de organização e manias que não conseguia controlar. Eu tinha medo de perdê-la, como já havia acontecido antes, e por isso não dizia nada, mas uma hora foi inevitável. Lembro-me de suas palavras logo depois de eu contar tudo a ela:

— Juro que pelo seu nervosismo você ia me dizer que era um lagarto mutante que toma forma humana para sugar almas. – Ela sorriu. – Distúrbio Obsessivo-Compulsivo é bem tranquilo comparado a isso, não acha?

E foi aí que eu me apaixonei. Ela me incentivou a ir mais fundo no tratamento, e por ela eu o fiz. Eu arrastaria meu corpo em um tapete de cacos de vidro em brasa só pra vê-la dar aquele sorriso de satisfação. Aquele sorriso que ela abria toda vez que eu ignorava os botões totalmente tortos da minha camisa em seu corpo. E o tempo passou, mas ainda assim era difícil me livrar daqueles malditos rituais e tiques que me perseguiam. Às vezes queria desistir e me trancar no quarto com uma caixa com quinhentos lápis de cor e não sair de lá até eles estarem organizados em cores e tons numa gradiente magnífica, porém não o fazia, porque ela estava lá, minha luz.

Se não fosse por ela eu estaria tentando achar um jeito de alinhar o padrão propositalmente torto do lençol que cobria nossos corpos naquele momento.

— Você devia dormir. – Falou percebendo que eu estava inquieto.

Alisei as costas expostas com minha mão, ela se arrepiou. Olhou-me nos olhos e num sussurro disse tudo que eu queria ouvir:

— Eu te amo. – Meu mundo se iluminou.

— Eu também.

Quando fomos morar juntos organizamos a casa de acordo com os critérios dela, e não os meus critérios de cara com problema que prefere que todos os móveis respeitem as linhas do piso de madeira. Mesmo assim eu concordei, porque ela achava bonito do jeito que estava.

Lembro-me da primeira noite que passamos lá e como ela me disse que se sentia segura porque eu tinha, literalmente falando, trancado a porta 18 vezes.

— Eu tenho certeza que não vamos ser roubados depois dessa. – Ela riu debochada e eu desentortei os óculos de leitura preguiçosamente pousados em seu rosto.

Ela os entortou propositalmente e fez o mesmo com um retrato de minhas irmãs e meu pai na parede. Minhas mãos coçaram. Ainda assim eu não arrumei, não naquele momento.

A vida com ela era simples, não me preocupava com tanto e minha cabeça não doía mais como antes. Nada podia ser mais perfeitos, sonhávamos em nos casar, mesmo com a oposição da família rica e esnobe dela, exceto pela irmã e o cunhado. Esses dois eram incríveis assim como Rukia. Ela queria ter filhos, e eu adoraria realizar esse sonho dela.

Quanto mais o tempo passava mais eu me apaixonava, mais eu melhorava. O tratamento tinha um resultado que eu nunca vira antes, assim como meus familiares, e nada podia ser melhor do que aquela vida que eu vivia, e nada podia acabar com aquilo.

Era o que eu pensava.

Rukia entrara em discussão com toda a família para que pudéssemos nos casar, para eles era inadmissível. Ela deveria se casar com um empresário inglês e idiota, já estava tudo certo. Não para mim. Não me deixaram vê-la e não deixavam que ela saísse, era errado, por Deus, ela morava comigo! Não podiam deixa-la de castigo no quarto como se fosse uma menina de dez anos.

Entrei em desespero, e mesmo assim fui para casa. A noite foi inquieta, não preguei os olhos, tranquei a porta e fechei as janelas tantas vezes que não me lembro quantas, arrumei todo o guarda roupa por cores e todos os livros seguindo o mesmo padrão. Dois dias tentando contato e nada parecia adiantar. No terceiro dia ela saiu da casa com os olhos inchados de chorar, ela me abraçou. Malas a acompanhavam, e um carro preto estava estacionado ali. Temi por tudo o que tínhamos construído e pelo que ainda construiríamos.

Com a irmã e o sobrinho sob ameaça não pode fazer nada. Ela estava me deixando. Eu não a culpava, eu também optaria por salvar minha família, por mais doloroso que fosse. Depois de um último beijo ela se foi.

Eu quero que ela volte.

Quero tanto que eu deixo a porta destrancada. Sempre.


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Notas finais do capítulo

Chorei nesse fim. Sem brincadeira.
Ficou mais triste que o depoimento haha
Espero que tenham gostado, e o próximo capítulo pode ser o último.