OCD

Minhas pernas chacoalhavam o tempo todo, a mulher ao meu lado estranhava. Baguncei o cabelo de novo e alinhei novamente as mangas da camiseta de manga comprida que usava. Aquele lugar era horrível.

Olhei o relógio. Seis e dois. Seis e dois é um horário horrível, não tem simetria. Parei de olhar antes que ficasse louco, no caso, mais louco. Por que tinha que demorar tanto? Arrumei o tapete sob meus pés, alinhando-o perfeitamente com as linhas do piso, que por sinal ficavam tortas próximo a parede. Será que eu tranquei a porta quando saí?

Arrumei levemente as almofadas em meu lado. Olhei o relógio que acabava de mudar os dígitos. Seis e seis. Isso me satisfez por sessenta segundos. Baguncei os cabelos novamente. Esperar minhas irmãs saírem daquele maldito lugar era estressante, sem contar que não me lembrava de ter trancado a porta.

Sou Kurosaki Ichigo, tenho dezenove anos, minhas irmãs têm oito a mais velha, Karin, e sete Yuzu e nesse momento eu espero nessa maldita salinha até elas saírem da maldita escolinha. Baguncei novamente os cabelos alaranjados. Olhei o relógio e apertei as chaves no bolso, será que eu tranquei a porta? Arrumei o tapete novamente. A mulher que antes estava do meu lado já havia saído e eu ainda estava ali. Seis e dez. Foi então que eu a vi.

No momento que meus olhos castanhos encontraram a figura feminina, que caminhava até o lugar ao lado do meu, tudo na minha cabeça ficou em silêncio, todos os tiques que martelavam em minha mente ficaram quietos. Quando se tem Distúrbio Obsessivo-Compulsivo você realmente não tem momentos de silêncio. Por um momento eu deixei de analisar se os cabelos de um lado do rosto estavam perfeitamente espelhados com o do outro lado ou se os cadarços de suas botas estavam perfeitamente passados. Não estavam, e o cabelo era curto e bagunçado de mais para ter simetria perfeita, mas pela primeira vez na minha vida eu não me importei.

Ela abriu um sorriso ao se sentar ao meu lado.

— Boa tarde. – Disse com a voz perfeita.

— Boa tarde. – Respondi ainda espantado com o silêncio na minha cabeça.

— É bem jovem para buscar filhos na escola. – Ela riu baixinho e eu me encantei com o som. Eu tinha ou não trancado a maldita porta?

— Vim buscar minhas irmãs. – Olhei o relógio, seis e treze não parecia tão horrível agora.

— Oh! Desculpe-me. Sou Kuchiki Rukia, vim buscar meu sobrinho. É um prazer.

— Kurosaki Ichigo, o prazer é todo meu. – Eu não estava apenas sendo gentil, era a realidade. Eu nunca parava de arrumar tudo compulsivamente, mas a partir do momento em que ela passou por aquela porta eu simplesmente não fiquei tão incomodado com as coisas tortas e assimétricas do local. Ou a organização errada das cores de vasinhos em cima de uma mesa. Ou o horário errado do relógio de parede. Nada. Nada parecia tão preocupante.

Um menininho de cabelos pretos saiu acompanhado de uma das professoras, ele correu até a mulher do meu lado.

— Kurosaki-san, as meninas já estão saindo. – A professora informou, eu apenas assenti.

— Parece que nos separamos agora. – Rukia soltou sorrindo, “Por favor, não!”.

— Quer sair comigo? – Soltei sem nenhuma hesitação.

— Adoraria. – Ela pegou o garotinho no colo enquanto falava.

Eu anotei seu número em meu celular e apenas a observei sair. Os pequenos ruídos na minha mente voltaram, olhei o relógio e arrumei os vasinhos na mesa. Minhas irmãs saíram e me abraçaram. Após arrumar seus cabelos bagunçados eu segui para fora. Eu tranquei a porta?