É Megan! escrita por HuannaSmith


Capítulo 50
Nossa Casa


Notas iniciais do capítulo

Espero que não desistam dessa história maravilhosa e continuem acompanhado, boa leitura!



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"Morar sozinho! Para muitos um modo difícil de vida. Para os fortes uma via de aprendizado e amadurecimento pessoal!"
João Vitor Rocha

O vapor que saia do café sobre a mesa, indicava que havia sido preparado a poucos minutos, mas o gosto também mostrou que este havia saído de uma cafeteira velha ou das mãos de uma cozinheira muito amarga, Pamela voltou a xícara ao pires, quase que instantaneamente.

– Não está bom?

– Prove e saberá - ela ordenou

Herval obedeceu, depois de alguns rápidos e inúteis assopros, levou a bebida escura á boca, sua expressão não foi das melhores e em segundos, a xícara estava de volta ao pires, Pamela deu um leve sorriso, tentando conter o riso entre os dentes.

– Você tem razão - ele admitiu enquanto limpava a boca com um guardanapo - acho que todo mundo tem razão

– Sobre? - ela ficou confusa com a última parte

– Comida de hospital é horrível, bebidas estão no pacote também

Pamela sorriu com o comentário, ela não podia negar, havia sido engraçado, mas a imagem de um sorriso não foi extamente o que Herval viu, não foi algo forçado, mas não tão longe disso, foi uma coisa fraca, nitidamente triste, se é que é possível em algum quântico... mas tem que ser, pois Pamela deu um sorriso de tristeza.

– Você não tá bem, né? - Herval perguntou enquanto rasgava o pequeno pacote de açúcar e jogava sobre seu café, tentando melhorar o gosto

– Está tão claro assim?

– É... tá sim

– Como poderia estar bem? Com Jonas nessa situação?

– Eu pensei que vocês tivessem se separado, bem, ao menos foi isso que você me contou

– Um diálogo entre gritos não apaga vinte anos de sentimentos, Herval

Herval engoliu a seco, girou a xícara em círculos, dissolvendo o açúcar, e tomou um gole para disfarçar, aquele era o encontro mais estranho que poderia acontecer, na cantina de um hospital onde o ex de uma das partes estava internado em estado grave, bela forma de começar um relacionamento, mas Herval não parecia ligar muito pra isso.

– Sei que você ainda está mexida, mas quero lhe dizer que tem a mim, a qualquer hora que precisar, sabe que pode contar comigo, não sabe?

– Sei disso, e agradeço muito Herval, você está sendo um grande amigo

– Amigo? Não, por favor - ele fez Pamela rir - conselheiro soa melhor pra mim, e fique sabendo que Jonas é um completo idiota por deixar uma mulher tão linda e inteligente como você

Pamela ficou levemente vermelha com o comentário de Herval, mas ela havia gostado, não é culpa dela pois é humana e acima de tudo mulher, que mulher no mundo não gosta de receber elogios?

Mas Herval não ficou contente com um par de bochechas levemente avermelhadas, ele queria mais e não se importou em olhar em volta, procurar por conhecidos, colocou o torso do corpo para mais perto de Pamela, tocou seu queixo com a ponta dos dedos e levantou o rosto abaixado.

Eles ficaram frente a frente, olho no olho, a respirações se encontrando, Pamela sabia o que estava por vir, ele iria tentar beija-la, mas a mesma ainda não havia conseguido decidir se era isso mesmo que queria, beijar pela primeira vez um cara com o qual pode ter um relacionamento, na cantina do hospital onde o ex-marido está internado, ela estava em outro país e não em outro quântico.

– Herval... - Pamela disse interrompendo o quase beijo

– Que? - ele continuou, uma tentativa inútil pois ela recuou

– Aqui não

Herval voltou o corpo para onde estava, tomou uns cinco segundos olhando para o nada até respirar fundo, Pamela também ficou desconcertada, os segundos pareciam horas, até que o dono da Plugar pareceu entender o recado.

– Tudo bem, aqui não é o melhor lugar, não é mesmo? Mas sinta-se convida para um jantar em minha casa

– Na sua casa? - Pamela perguntou surpresa

– Exatamente, e não aceito um "não" como resposta

Pamela sorriu e tratou logo de responder.

– Eu estarei lá

Os sorrisos por parte de ambos vieram em conjunto, aos olhares de estranhos eles eram como um casal apaixonado, pouco esses sabiam sobre a verdadeira história, mas uma enfermeira logo se tratou de "esfriar" o momento, trazendo a notícia de que Jonas havia acordado e já estava sendo submetido a exames, Herval pareceu tenso.

– Eu vou indo Pam

– Why?

– É melhor, Jonas não vai gostar de saber que eu estive aqui, ele deve estar fragilizado, não vamos provocar outro incidente como esse, a gente se fala mais tarde

– Ok...

Herval abraçou Pamela fortemente, como se a tivesse deixando em meio a um terremoto, ela estranhou, é claro, mas estava tentando se acostumar, eram rotineiros esses "picos de energia" que Herval apresentava, estranhamente vindos do nada, ele foi embora pelo corredor principal, sem dizer mas nenhuma palavra.

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As crianças comiam fervorosamente os sanduíches e bebiam os pequenos copos de suco, seria refrigerante, mas eu acabei convencendo Rita a mudar por um suco natural, é bem mais saudável e assim, ninguém engorda e nem fica doente, right?

Estava sendo um momento divertido, todo mundo junto, risos e sorrisos... não era para menos, logo vamos ter dinheiro suficiente para produzir Júnior, que eu tenho absoluta certeza que será um sucesso, e mesmo sem termos conseguido ainda, já está valendo a pena, Davi não para um minuto de sorrir, um sorriso sincero, verdadeiro, ele está feliz.

Por um tempo foi até um pouco difícil para mim, admitir que estava feliz com Júnior, mas é a mais pura verdade, a felicidade de Davi acaba me contagiando, mas não é só isso, a sensação de pela primeira vez, uma coisa da qual eu faço parte está virando realidade, é incrível.

Sentei em uma cadeira a parte, apenas observando a cena á não muito longe, o suco que Rita fez estava realmente maravilhoso, uma forte concorrente para o Caolho! Davi percebeu meu afastamento e, todo atencioso, veio até mim.

– Tá feliz? - perguntou enquanto segurava meu rosto e me dava um beijo

– Yeah, como não estaria, né?

– "Né"? Onde está o "right", Megan Lily? - ele percebeu

– Eu não sei, talvez você tenha razão, estou ficando mais like... brasileira

Davi segurou o copo de suco com a outra mão e colocou o torso da vazia em minha testa, afim de checar minha temperatura.

– Falando português direito, concordando comigo... você tá doente? - ele fez graça

– Para! - disse tirando a mão dele e rindo

– Megan, Davi - Rita veio até nós - vou levar as crianças pras outras atividades agora, tá? Dar a vocês um tempo pra trabalharem

– Tudo bem tia

Davi concordou e eu apenas sorri, Ernesto já estava no computador digitando coisas, idéias futuras que simplesmente brotavam da mente dele, nem todas são muito comuns, mas em geral são boas idéias, como essa de colocar Júnior no site de crowfunding, foi uma ideia incrível.

Davi disse que precisava pegar uma coisa que estava em sua sala, o campinho lá fora exalava natureza, um ambiente aberto é excelente, acalma e deixa fluir as ideias, estava praticamente me chamando, fui até lá "tomar um ar", como dizem.

O campinho estava milagrosamente vazio, as crianças estavam em atividades dentro das salas, sendo preenchidas de conhecimento, para no futuro serem boas pessoas, Caolho limpava cuidadosamente o balcão do seu trailer, o vento passava erguendo algumas folhas soltas pela grama, respirei fundo, deixando o ar entrar nos pulmões.

Uma luz pareceu embarcar tudo em seus braços, como se essa os tivesse, levando todos para um tranquilo sono, girando como o balaço de uma mãe a ninar seu filho, cantarolando músicas em busca de um sonho.

As ondas saldavam as pedras protetoras sorriso se formavam com o movimento a Flora parecia espiar atrás de nós encantada e ainda e cantando a todos os olhos curiosos e os olhos que um dia já foram.

O céu era como uma espuma branca, apertando os olhos podia se ver as nuvens, lá onde os anjos moram, como uma pintura, a flora atrás de nôs parecia espiar por cima de nossos brancos, encantada e ainda assim encantando, com sua explosão de cores e cheiros.

Os barcos caminhavam sobre isso tudo, os marinheiros não se tocavam da beleza que estavam presenciando, ou até se tocavam, mas de tão longe... parecem brinquedos, impossíveis de haver gente lá dentro, mas havia, olhos encantados e apaixonados pelas aventuras que a natureza pode proporcionar.

Os carros parados um ao lado do outro em fileiras, todos queriam presenciar a maravilhosa pintura viva, o estreito de Golden, que parecia estar de bom humor, alguns dentro de seus carros, outros corajosos se arriscavam a sair, mas perigo nenhum havia alí, os bancos posicionadas no chão confirmavam isso, foram feitos por alguma razão.

Golden Gate estava como sempre, firme sobre as águas, ligando pessoas, felicidades e tristezas, ligando histórias de vida, de um ponto arquitetônico a ponte permite que os carros viagem de São Francisco para Salsalito, na região metropolitana, e vice-versa, pessoas em busca de respostas e até de perguntas.

Meus olhos alcançavam pouco mais da estrutura de proteção agora, estávamos mais próximos, eu e o conhecido homem que segurava minha mão, podia sentir os respingos das ondas batendo nas pedras, mas queria ver além, precisava de alguém que me levasse até lá, até uma altura para que pudesse presenciar tudo, um prédio de 50 andares viria a calhar.

A luz peregrinava ao longe, onde eu acreditava ser uma nascente, cabeça inocente que só queria descobrir onde viviam os elfos carentes, o homem me pôs no colo, o térreo de um prédio de cinquenta andares, apontou as rochosas pedras próximas do nada, alí era onde os elfos "mandavam na parada".

– Ali na frente é onde mora os elfos preguiçosos - o homem apontou para a espuma que ele chamava de céu

– E o que eles comem, papai?

Eu era... pequena, não conseguia controlar minha voz, não era isso o que queria perguntar, mas a menina continuou a falar, minha vontade de pouco importou, foi aí que percebi o que era tudo aquilo, era uma pintura, na qual eu não podia tocar, e aquele homem... era meu pai.

– Ah eles comem de tudo, mas o prato preferido deles é peixe cru, pescam no próprio rio - ele explicou para a menina curiosa

– Como os chineses?

– É meu amor, como os chineses

Ele estava feliz, sorria com o momento, a menina em seu colo nem se fala, os dentinhos exalavam alegria, aquele lugar fazia isso, não só com eles mas com todos em volta, como um botão de reiniciar, todos saem de lá revigorados, prontos para encarar novamente os problemas da vida,e no caso da menina, os problemas de seus brinquedos.

Sorrisos bonitos de se admirar, mas tudo começou a rodar sem parar, um redemoinho se formara, eu sabia que ainda estavam lá, o homem de cabelo escuro e a menina no topo do prédio acima do seu calcanhar, mas eles resolveram me deixar, a escuridão tomou o lugar e fez uma outra cena... começar.

– Dad?

Os longos fios de cabelo que encostavam na cintura, eram dourados como o sol, suaves como as nuvens, a dona deles segurava o telefone junto ao ouvido, mordia o lábio inferior, estava visivelmente ansiosa, entre o fazer e o não fazer a ligação, mas seguiu firme em sua decisão.

– Megan? Porque você ligou? Aconteceu alguma coisa? - a voz madura do outro lado da linha perguntou com preocupação no tom

– No dad, não aconteceu nada - a menina levou o telefone para a outra orelha e pôs-se a andar - eu estou bem, mas eu pensei que...

– Megan eu já lhe disse - a voz a cortou - quando eu tiver trabalhando, só me ligue se for uma emergência

A dona dos cabelos dourados deixou o ar entrar, arejar o lugar, a lágrima queria cair, traçar uma estrada por seu nariz, mas ela aguentou firmemente, não queria obras nem em sua mente, nenhuma lágrima cairia naquele dia.

– Só que você sempre está trabalhando, não é mesmo?

As palavras saíram, mas o peso sobre os ombros permaneceu, deixando a menina tensa enquanto segurava o telefone no ouvido e mordia o lábio inferior, isso porque as palavras não haviam sido ditas, pelo menos não de verdade, pois a ligação já havia sido encerrada.

===========

Estava lá, bem onde a deixei, talvez não seja a hora certa de dizer isso pra ela, por conta de todo esse acontecimento com o Jonas, mas por outro lado, acho a hora perfeita, vai alegrar ela, espantar um pouco a tristeza, porque a Megan se faz de forte, diz que não liga se o pai está nessas condições e tudo mais, mas a verdade é que ela está muito triste por dentro, só não quer que os outros saibam.

Deixei de pensar tanto em coisas que eu não posso ter certeza das consequências, peguei a chave e fechei a gaveta, quase atropelei minha cadeira quando fui sair, de tão animado para mostrar a ela, respirei fundo e, ainda na saída, encontrei Herval.

– Onde você tava? - perguntei

– Fui resolver uma coisas, besteira sem importância... - ele disse - o que foi buscar na sua sala?

– É a chave - observei a mesma em minha mão e ele sorriu - você acha que eu realmente devo dar pra ela?

– Bem, se não fizer isso agora vai ter que fazer depois e, sinceramente, não vejo nenhum motivo pra você não entregar hoje, afinal, não era pra ela?

– E é, mas sei lá, essa história toda do Jonas, é uma barra pra ela, outra que eu havia planejado dar no aniversário...

– Davi, - ele me interrompeu - o aniversário da Megan ainda vai demorar, se ela tá em um momento ruim, não vejo um dia melhor pra você fazer isso, vai em frente

– É... acho que você tem razão

Herval sempre me deu os melhores conselhos, confesso que ultimamente ele anda muito misterioso, saindo para resolver "besteiras sem importância", mas ele continua sendo como um pai pra mim, e se ele disse que essa é a hora perfeita, então é porque é verdade.

Respirei fundo e tomei coragem de ir, isso vai fazer com que tenhamos o melhor momento de nossas vidas, não tem razão pra esperar, não é bem um presente de aniversário, no dia eu dou outro, esse presente é pra nós dois, pra nossa vida.

Ela tava sentada no banco de cimento, o vento calmo levantava o cabelo dela, de costas pra mim, observava o vazio, a interessante cerca de madeira, devia estar pensando, recalculando as rotas, respirei fundo e caminhei cautelosamente até ela, não queria assusta-la, a minha intenção é outra.

– Megan? - ela não me respondeu, continuou a observar a cerca de madeira, hesitei em chama-la novamente, mas o fiz - Megan?

– What... Davi? Encontrou o que queria? - ela respondeu meio embolado, literalmente saindo do "mundo da lua", parecia se restabelecer nos trilhos

– Encontrei mas... tá tudo bem? - me sentei ao lado dela - quer dizer, você parece distante

– Estou ótima, tava só pensando - ela disse com um sorriso - encontrou o que procurava?

– Encontrei sim e, é pra você

Ela procurou com os olhos algum gesto de minha parte, esperava receber algo depois do que eu disse, mas a verdade é que não vai receber agora, este não é o lugar certo.

– So... onde tá?

– Sabia que iria fazer essa pergunta, mas tem que vir comigo pra saber, hoje é minha prisioneira

– Quanto mistério, eu gosto de mistérios

Ela brincou e eu segurei sua mão, dando um sinal de que eu a guiaria, ela pareceu entender e nós fomos até o carro, era perto mas não tanto, teríamos que nos distanciar uma rua ou duas da Gambiarra, não lembro com certeza, mas não da pra ir a pé.

Como um GPS, eu fui dando as coordenadas á ela, coisas como "vire aqui" e "entre na segunda a direita", a cada rua ela ia ficando mais impaciente, chegou até a parar o carro e ameaçar continuar apenas quando soubesse o motivo, muito birrenta, mas eu continuei firme, dando minhas coordenadas.

Não demorou muito para o ponto exato entre altitude e latitude ser encontrado, sinalizei o local com o dedo, ela aproximou o carro bufando; iluminado com um sol agradável, o prédio permanecia parado, como todos.

– É aqui, é aqui que fica o que eu tenho que mostrar

– Olha Davi, isso tá ficando misterioso demais, o que tem aqui nesse prédio? Conhece alguém que aqui more?

– Deixa de perguntas e vamos logo

Ela estacionou em baixo de uma árvore lindamente podada, sempre com um olhar de desconfiança para mim, quando chegar onde temos que chegar, esse olhar vai sumir, tenho certeza de que se transformará em um olhar cheio de felicidade, pelos menos, é o que eu espero.

– Sexto andar, apartamento cento e um... - Megan repetiu a informação enquanto estávamos no elevador

– Exatamente - brinquei

– Quem que mora aqui, Davi? Tem que me contar agora - exigiu indignada

– Nossa como você é mandona - observei que faltava apenas um andar para chegarmos - juro que ainda não me acostumei

A porta abriu e segui pelo corredor a esquerda, ela teve que me acompanhar ou ficaria sozinha.

– Davi!

Megan apressou os passos e me alcançou, de mãos dadas caminhamos até encontrar a porta cento e um, com a outra mão, ela passava delicadamente as unhas no meu braço, uma forma de carinho de dar arrepios, eu gosto.

– Chegamos, porta cento e um Davi, vai apertar a campainha ou me dizer antes quem mora aí?

– Nenhuma das opções, agora estamos no local certo para entregar seu presente

Coloquei a mão no bolço e procurei a chave, de cor escura e comprida, eu havia amarrado um laço azul na ponta, estava visivelmente mais nervoso do que ela, que tanto tagarelava sua trágica injustiça.

– Davi você tá muito estranho, como que me trás em um prédio desconhecido, na porta de alguém eu nem sei quem é, só pra me dar um presente? Como pode que...

– Isso é pra você Megan - estiquei minha mão com a chave, a interrompendo

– Uma chave? A chave dessa porta?

– A chave da nossa casa Megan

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As paredes de concreto sólido escondiam os corredores de dar arrepio, cada quarto abrigava uma pessoa, uma história, uma vida, centenas de gotas lentas de soro pingavam diretamente para veias doentes, um processo que parecia durar para sempre, algumas enfermeiras corriam para socorrer pacientes em estado crítico, outras para medicar os mais doentes, trabalho duro e desvalorizado de cada dia.

O relógio de ponteiros preso no alto da parede da sala de emergências, indicava minuciosamente cada minuto que se passava lá fora, pois o tempo dentro daquelas paredes brancas, nunca jamais passava, e a cada segundo, marcado pelo trêmulo ponteiro, várias mãos se uniam, várias lágrimas caiam, vários pedidos eram feitos e várias orações iniciadas, outras terminas e recomeçadas no mesmo instante, mas quase todas tinham algo em comum, clamavam um por um milagre.

Crianças choravam com agulhas rasgando sua pele, parentes riam trazendo flores, mães rezavam na capela que abrigava todas as religiões, enfermeiras abriam mais e mais sacos de soro, a dor aumentava mais e mais na cabeça das atendentes e, em um quarto particular, o maior de todos os quartos, uma conversa entre mais de 20 anos era feita.

– O que eu quero dizer com todo esse vocabulário de hospital Jonas, é que, no momento, você tá bem, pode ir pra casa e ficar com sua família - o médico, sem saber dos fatos, tocou em um ponto ainda delicado para Pamela, a "família" não estava mais unida - agora você precisa tomar cuidado, mais uma dessas e talvez você não aguente, tem certeza que não lembra de nada?

– Nada

– Nem o que foi fazer na Gambiara? Conhece alguém lá?

– Realmente não sei o que eu fui fazer ali, mas minha filha, Megan Lily, frequenta o lugar, de repente foi algo ligado a ela

– Quase de madrugada? - Pamela interrompeu Jonas - Quando Megan estava dormindo na casa de Davi? Eu ainda não me conformo com isso

– Pamela, é normal Jonas não lembrar, faz parte do quadro, o que ele não pode esquecer são acontecimentos antes disso, tá? Como a data do aniversário de casamento de vocês, o dia que a Megan nasceu, heranças da memória, se isso acontecer, deve vir imediatamente pra cá - o médico explicou e direcionou o olhar para Jonas no final - deixando de lado todas essas observações, você está de alta Jonas, passar bem

O médico alto e de cabelos escuros se despediu do seu paciente e de Pamela, que permaneceu sem pronunciar uma palavra, Jonas havia lhe dado um susto, não é por conta do divórcio decidido em meras palavras, que tudo o que Pamela sente desapareceu, ela ainda ama Jonas, só está magoada, profundamente magoada.

– Desculpa por ter feito você vir até aqui Pamela, não precisava - Jonas disse enquanto dobrava a roupa de hospital sobre a cama

– Eles precisavam de algum parente seu Jonas, eu sou a única pessoa que você tem - Jonas engoliu a seco

– Alguém veio aqui além de você?

Pamela pensou em falar "Herval", mas hesitou, é melhor que Jonas não saiba que ele veio.

– A Megan... trouxe o Davi junto

– A Megan veio me ver? - Jonas perguntou surpreso

– Veio, por incrível que pareça ela ainda se importa com você, ficou muito preocupada

– E onde ela tá?

– Foi embora antes de você acordar, ela achou melhor assim

Jonas sabia que não tinha o direito de reclamar, Mega ter vindo vê-lo já foi mais do que ele realmente merecia, o tempo passou mas ela ainda está magoada, as palavras ferem mais do que qualquer coisa, e a dor provocada por essas palavras, é quase impossível de ser esquecida.

– Agora que está bem - Pamela disse enquanto respirou fundo - eu vou indo, agora vai poder falar com meu advogado

– Pamela - Jonas a chamou, fazendo-a parar na porta - por favor...

– Não adianta me pedir desculpas agora Jonas, porque não vai adiantar

Pamela esperou poucos segundos e foi embora, deixando Jonas sozinho no quarto extremamente frio, o vazio consumiu o lugar, consumiu Jonas.

============

Coloquei a chave na fechadura, uma volta foi o bastante, a porta estava aberta, o apartamento era pequeno, bem pequeno, e não havia nada, nenhum móvel, duvido até que tenha poeira, as paredes todas pintadas de branco, sem exceção, como a neve.

– Seu aniversário é só daqui a dois meses, não aguentei esperar, preferi te dar logo

– Davi, você comprou esse apartamento? Pra mim?

– Pra gente, e não foi só quem pagou por ele, você também pagou

– Que? Eu não te dei nenhum dinheiro Davi

– Quando você começou a trabalha na Puglar - ele começou a explicar - não podíamos te pagar, isso é verdade, mas a situação melhorou depois, e Herval não queria você trabalhando de graça, mesmo sabendo que você não precisa do dinheiro ele queria te pagar, foi aí que fiz um trato com ele, todo esse tempo, eu depositei o dinheiro em uma conta e, todo mês eu ia colocando um pouco de minha parte também, até que consegui comprar esse apartamento, eu sei que é pequeno, mas espero que você tenha gostado

– Eu amei Davi, mas porquê?

– Não aguentava mais você reclamar de dor nas costas por dormir em colchão velho no chão

– Davi... eu sei que eu reclamo demais, mas eu gosto da sua casa

– Sei disso, mas eu também não gosto de dormir naquele colchão, é pequeno demais pra nós dois - ele respondeu com um sorriso

Eu não podia acreditar, o salário que Herval dá é muito pouco, demoraria bem mais pra comprar e manter um apartamento, mesmo que muito pequeno, Davi entrou com muito, sei que é muito pra ele, Davi não me deu flores ou um colar, Davi me deu uma casa, ou melhor, nos deu uma casa, a... nossa casa.

Não pude conter a felicidade de saber que alí, entre aquelas paredes cor de neve, naqueles cômodos vazios, iríamos morar juntos, parte da felicidade pelo conforto of course, mas quase toda ela pelo gesto de Davi, isso é lindo.

– A gente vai colocando os móveis aos poucos, até agora tem o banheiro - ele disse abrindo uma pequena porta - tem esse balcão que divide a cozinha da... bem, pode ser o que você quiser aqui, tem um microondas alí e podemos trazer minha cama pra...

Explodi de felicidade, corri pra abraçá-lo, interrompendo seus discurso de boas-vindas, o enchi de milhares de beijos e o abracei com toda força que meus braços podiam abarcar, olha pra isso, nós temos uma casa, nós compramos com nosso dinheiro, ninguém nos deu, é... é nossa casa!

– Eu te amo, eu te amo muito

– Então não tá com raiva? Por eu não ter usado seu dinheiro?

– Claro que não! Oh my God... olha pra isso Davi, a gente tem uma casa! Ai meu Deus...

– Não só a casa, só preciso de um pouco de tempo e teremos os móveis também - ele disse rindo, segurando minha cintura

– No, você já fez muito, dessa parte cuido eu

– Pensei que não queria nada do Jonas

– É exatamente por isso que eu tenha minha mãe, ela vai nos ajudar, tenho certeza

– Por mim tudo bem

Davi abriu um sorriso, o mesmo sorriso que eu vi quando estávamos comemorando a repercussão de Júnior, ele tava feliz, feliz de verdade, e eu também, alcancei sua boca, lhe dei mais um beijo.

Agora estávamos completos, é uma sensação completamente nova pra mim e sei que é pra ele também, sensação de independência, nada pode nos abalas porquê estamos juntos, tudo está perfeito.

Meu celular vibrou, Davi percebeu e me permitiu atendê-lo.

– É uma mensagem... da minha mãe - o informei

– E o que diz?

– "Preciso falar com você a sós, é urgente" - li pausadamente

Davi e eu nos entreolhamos, o que poderia ter acontecido?

=========

– Atende Herval, atende - Manuela clamava em um tom baixo ao telefone

Sentada em sua cadeira giratória, com os pés sobre a mesa, Manuela parecia estar em seu momento de glória, sua sala exalava um ar de superioridade, ela se achava mandante.

– Manuela? Já disse pra me ligar só quando tiver algo importante pra falar - Herval disse do outro lado da linha

– Se você deixar eu falar vai saber o quão importante é - Herval se calou, permitindo que ela falasse - eu consegui suas informações, não foi nada fácil, mas elas tão comigo, isso e outras coisas mais que acabei encontrando, você vai gostar

– Mas como você conseguiu?! - Herval não conseguiu conter a felicidade

– Jonas por algum motivo misterioso não veio pra Marra hoje, o idiota do assistente dele me deixou a par de tudo, hoje sou eu quem está mandando na Marra Brasil


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Notas finais do capítulo

Quanto mistério nesse diálogo entre Manuela e Herval não é mesmo? O que será que Herval vai fazer con essas informações? E o que "mais" Manuela encontrou a respeito? E Pamela? O que ela tem de tão urgente para falar com a filha? Dêem seus palpites! Me respondam nos comentários e medigam o que acharam nessa nova fase na vida da Megan e do Davi.

Espero que tenham gostado e taé a próxima, beijos!



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