É Megan! escrita por HuannaSmith


Capítulo 51
Ele não é quem você pensa


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora meus queridos leitores, mas minha vida anda bem agitada ultimamente, espero que continuem acompanhando e não desistam, porque eu não desisti, espero também que gostem desse capítulo cheio de reviravoltas.



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Se tentarem matar os teus sonhos,

Sufocando o teu coração.

Se lançaram voce numa cova

E ferido perdeu a visão

Não desista não pare de crer

Os Sonhos jamais vão morrer.

Ludmila Ferber.

– Eu quero que você mande esses documentos pra ele, entendeu? Não pode demorar mais que uma hora

– Uma hora? Mas isso é tecnicamente impossível boss - disse o indiano já tremendo sobre os próprios sapatos

– Então faça o impossível, Murphy

– Mas...

– Não me encha de "mas" e vá fazer o que eu man...

Batidas indiferentes na enorme porta de vidro interromperam as palavras de Jonas, batidas de uma educação por clima, Manuela era vista através do vidro, foi entrando, Murphy aproveitou a deixa para ir realizar o impossível para o seu precioso "Boss", com letra maiúscula, enquanto a engenheira foi se chegando para falar, como se cravasse as garras.

– Fez muito bem quando eu estava fora, já está pronta - Jonas disse com um sorriso no final

– Pra mim é como querer estar e não ao mesmo tempo, quer dizer, isso aqui é seu, por mais que me dê autonomia pra seguir em frente com isso, nunca vai ser tão bom quantos é com você, entende?

– Megan disse a mesma coisa pra mim quando viemos de São Francisco pra cá, as mesmas palavras, por mais que possa parecer mais uma chantagem dela pra ficar... não sei, senti que ela falava a verdade

– Por falar nela, não vai vir mais pra cá? Não estou supercticiando a inteligência dela mas... ela também já está pronta, Davi diz que ela é incrível na Plugar - a engenheira disse com um desgosto disfarçado na voz

– Megan ama isso aqui Manuela, parece loucura levando em conta as atitudes dela, mas ela ama, acho que amou tanto que o amor se transformou em receio, medo até, pela Marra de alguma forma... me tirar dela

– Como a Marra poderia tirar o senhor dela?

Jonas estava perdido, mergulhado em lembranças, nem sequer prestou atenção na pergunta curiosa da sua sucessora, quando se restabelizou, respondeu apenas com um sorriso de lado, olhando para um papel sobre a mesa, foi o suficiente.

– Eu vou indo

Manuela não era boba, havia compreendido muito bem a indireta pra lá de direta, apesar de não querer ter o feito, se recompôs e foi embora, para suas preciosas duas horas de almoço, maiores do que muitos por alí, era do que ela mais gostava.

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As paredes com cor de neve murtua, pareciam falar comigo, "este agora é teu lugar", sabia que era verdade, como os pássaros constroem o ninho, aquele agora era nosso "ninho", meu e de Davi, o mais lindo de todos.

– Aqui é nosso quarto, só paredes de novo - ele brincou - mas tem banheiro, tem outro no corredor e um quarto pequeno do lado, a gente pode usar de despensa e tem a...

– Não, gosto que seja um quarto, a gente vai precisar

– Pode ser um quarto se você quiser - ele disse com um meio sorriso - mas esse aqui vai ser o nosso porque precisaríamos de outro, você não quer que a gente durma junto? Porque...

– Não é isso Davi, nem por longe, eu só ainda não te contei

– Não contou o que, Megan?

– Olha, preciso que você confie em mim - ele fez que sim com a cabeça, mas meio assustado - você lembra do Samuel?

– O menino do orfanato? Que foi adotado? Lembro

– Ele mesmo, eu... pensei muito nisso e... eu quero adotar ele Davi

– Que?! Megan você ficou doida?! Como vai adotar uma criança, isso é inconsequente, é...

– Olha Davi, Samuel tá voltando amanhã, o novo casal também o rejeitou, eu pensei sobre isso, Samuel tá sendo jogado de um lado pro outro, como se fosse um pacote, uma coisa sem importância, ele gosta de mim e você sabe disso

Davi respirou fundo, passou a mão na testa, tentando procurar a calma, ele não havia gostado nada da ideia, eu só não sei o porque, não sei o que de tão ruim tem em adotar uma criança.

– Todas as crianças que vão a Plugar acabam gostando de você Megan, isso não quer dizer que você tem que virar mãe de todas elas, ele foi rejeitado duas vezes, duas! Não acha que tem alguma coisa de errado com essa criança? Eu só... - ele respirou fundo novamente - esse era pra ser nosso momento, sabe? Eu não contava com isso, só queria que a gente ficasse aqui, junto, curtisse o apartamento, eu não queria brigar

– Você tem razão, tem razão, você queria que a gente ficasse junto e eu vim trazer problema onde não existia nada, está certo, vamos... vamos só esquecer e retomar, ok? Me desculpe

– Eu já retomei

Davi me beijou, tentando apagar da minha memória a conversa que acabávamos de ter, vai precisar de muito mais do que um beijo pra tirar isso de mim, isso transcende a minha vontade, eu sinto que é isso que devo fazer, ele querendo ou não.

Sua mão alcançou minha cintura, subindo lentamente, arrastando minha blusa junto, eu já estava em suas costas, estávamos transcendendo a matéria, por mais chateada que estivesse, não podia evitar, precisávamos inaugurar o apartamento.

Nós sentimos um ao outro, os cabelos se entrelaçaram, a rosa branca, plantada delicadamente em um vaso na varanda, finalmente abriu, passei meus dedos entre os deles, apertei sua não, ele fez minhas pernas balançarem, era como se estivéssemos escutando uma música, dando a devida importância a cada nota.

Minha perna estava entre as suas, a criança que tira a sandália e sente a terra entre os dedos, o cheiro da grama molhada e das flores brotando, eu pude senti-lo, cada parte da sua perfeita terra.

Segurei suas costas, o pobre pescador que finalmente consegue o peixe que vai alimentar sua família, ele se entregou a mim, me puxou para ele, pressionando, o homem que encontrou a paixão de infância, não a deixa ir embora, ele se entregou a mim, eu o sentia, éramos um do outro naquele momento.

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As paredes eram critas de um ferro enganoso, pintado de preto e detalhes em dourado, "Petes Est. 1864" estava no vidro, poucas pessoas, o lugar era mais movimentado a noite, bebidas era o ponto alto de vendas, despedidas de solteiro, competições de "virar o copo", já havia acontecido de tudo alí.

Manuela entrou no estabelecimento, escolheu uma mesa após as portas de vidro, onde o ar condicionado agraciava os clientes, e onde as mesmas bebidas eram mais caras, ela não pareceu ligar, apenas queria a mesa.

Ao chegar na porta, um outro garçom a reconheceu, estendeu a mão e tirou sua jaqueta de couro fino, jogou palavras em seu ouvido, num tom que só ela fosse capaz de ouvir e compreender.

– O senhor Domingues está lhe esperando, permita-me levar a especialidade da casa

A engenharia fez que sim com a cabeça e foi até a mesa no fundo da pequena sala, sobre uma pequena penumbra, lá se sentou e escorregou um envelope sobre a mesa, Herval o pegou com um sorriso.

– Está tudo aí, não vai demorar muito pro Jonas me descobrir, não tive tempo de apagar as gravações feitas pelas câmeras de segurança, o idiota do assistente dele foi mais rápido, não me importei, não mais voltar pra lá, só quero o que é meu, já que tens o que é teu

– Não pense que eu vou te enganar Manuela, fez o que eu pedi, demorou mas fez, aqui tá o que eu prometi, pode contar se quiser

Um envelope estufado, forçadamente fechado, foi entregue a Manuela, ela sorriu enquanto o recebia.

– Não há necessidade, confio em você

– Não deveria - Herval disse com viscosidade na voz, depois riu - uma rodada já está paga, fique e aprecie, já ia me esquecendo, Davi comprou uma casa pra Megan, os dois vão morar juntos, achei que iria gostar de saber

Manuela ferveu de raiva, era possível ver em seu olhar que aquilo a afetava, mas ela mantel a pose diante do "senhor Domingues".

– Espero que voltemos a nos encontrar um dia

Herval já levantado, parou apenas para escutar o último comentário por parte da engenheira, respondeu amargamente a este, olhando no fundo de seus olhos.

– Eu não

*****

O café caiu lentamente da garrafa para a pequena xícara, não havia sido feito recentemente com certeza, mas Manuela não se interessou, tomou um gole, como se toma uma dose.

A conversa que a mesma travava com o seu parceiro parecia mais estressante do que o terrível gosto de café antigo em sua boca.

– Sabe que não precisa voltar lá, a gente tem a grana, a gente já comprou as passagens

– Eu sei disso Zac, e a gente vai viajar eu... eu só quero ver ele uma última vez entendeu?

– Pra que isso? Você ainda gosta dele Manuela? Me responde, ainda gosta do Davi?

– Não é por ele Zac, é por ela

– Aquela coisinha que cheira a perfume francês? Esquece ela Manu, com a bomba que vai cair sobre a Marra, ela não vai ter onde cair morta, o bolço do papai vai finalmente chegar ao fim

– Ela tem mais duas heranças Zac, não seja idiota, e ainda assim ela tem muito mais do que a gente pode conseguir na vida

– A gente tem nosso dinheiro agora gata, não precisa mais roubar ninguém

– E não vou Zac, mas essa garota se meteu comigo, vai ter o que merece ter

Manuela disse, com uma verdade nos olhos, que é quase impossível ela não realizar o que diz, algo de ruim acontecerá a Megan Lily, a bonequinha que cheira a perfume francês vai finalmente pagar, pagar por ter destruído o que Manuela sempre indagou ser dela, a menina está realmente em uma zona altamente propícia ao perigo.

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As mãozinhas entravam na tinta, tudo que era branco, sem cor, ganhava vida, em uma pintura abstrata, mas ao mesmo tempo cheia de significados, Megan é tudo o que aquelas crianças tem, no meio dessa explosão de cores, se sujando, dando cor aos pequenos sorrisos, é o motivo, motivo de tanto amor, ela se entrega inteiramente a eles, e eles se entregam a ela.

O chão recoberto de cartolina, cores voando de uma pra outra, risadas e roupas sujas, sujas de vida, não podia existir mais felicidade alí, Megan tira eles da realidade, tira da vida que tem fora daqui, ela mostra que nem tudo é guerra, mostra que os policiais até que são legais e as escolas podem levá-los a muito mais.

A Megan faz adulto virar criança, mostra que sorrir por motivos simples, é muito mais do que bobagem, traz felicidade ao coração, e é isso que ela quer que as crianças sintam a cada segundo que estão com ela, felicidade, e consegue isso a cada milésimo, a cada milésimo é um sorriso, é um trauma esquecido.

A Megan trás paz ao coração dessas crianças, que vivem sobre uma tempestade de medo e sofrimento, que são marcadas todos os dias pela violência, pelas drogas e pela tristeza, ela mostra que a dor que sentem ao ver os pais sendo presos, a família morta, a mãe se drogando no banheiro da própria casa, mostra que tudo isso pode mudar com um desenho, um desenho que transcende a matéria e mostra o futuro.

Um médico, um advogado, uma astronauta, uma princesa, pra Megan eles podem ser o que quiserem ser, não precisam ter o mesmo destino que os pais, e eu juro que daria tudo para ver o mundo inteiro pensar assim, pensar que com um simples desenho, podemos mudar o mundo.

– E aí Davi? Como foi lá no apartamento? Muitos amassos? - Ernesto bricou

– O pequeno avião, do tamanho do meu polegar, voou na direção dele.

– Idiota - nós rimos, "nada de violência", ele disse

– E a Megan?

– Tá brincando com as crianças lá embaixo

– Pensei que ela cuidasse dos que tem de quatro a seis anos, mas não vi uma criança correndo por aqui desde que vocês chegaram

– Todas adoram ela, tão pintando com a mão lá na sala dela

– Espera, tá me dizendo que a Megan tá com todas crianças na sala dela? E eu não tô ouvindo nada além de risadas?! Ela é mesmo a melhor

– Pois é, ela é sim, mas não é pra isso que eu vim aqui, quero conversar contigo

– Desempenho do Júnior? - ele sentou e começou a mexer no computador, falta menos de 20% para concluírmos, e dependendo dos "Meganhad's", conseguimos isso ainda essa semana

– Não é do Júnior que eu tô falando, é... é da Megan, ela quer adotar o Samuel, um menino aqui da Plugar, você tem noção do que é isso?

Ernesto parou de mexer no computador e olhou pra mim, dando total atenção a conversa, apurando os fatos.

– Eu acho um gesto lindo Davi, o que a Meg faz aqui dentro, ninguém nunca fez

– É mas ela tá indo além, você sabe o tanto de responsabilidade que uma criança trás? A Megan é praticamente uma criança

– Escuta aqui Davi, não deixa a Megan escutar isso, talvez a que eu conheci pelos corredores do concurso Geração Brasil era realmente uma criança, mas não venha me dizer que a mulher que tá lá em baixo, trazendo um pouco de felicidade pra essas crianças, é uma também, porque eu descordo

Respirei fundo, dei total atenção a todas as palavras dele, ele estava certo.

– Deixa ela adotar - ele completou - se não conseguir ao menos tentou, fez alguma coisa, o que muita gente por aí não se dá ao trabalho

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– Eu quero que os maiores me ajudem a pendurar as cartolinas e os menores vão lavando a mão e guardando os aventais

– Depois a gente também pode lavar a mão, tia Megan? - Caio me perguntou

– Claro que pode amor, agora vem me ajudar com as cartolinas

Enquanto os pequenos tentavam lavar as próprias mãos, os maiores me ajudar a pendurar as pinturas, uma mais melecada e linda do que a outra, pedi para que eles assinassem como soubessem, alguns escreveram o nome em letra de forma e outras apenas colocaram a mão com tinta no papel para marcá-lo, os maiores já imitavam assinaturas.

– Megan querida - Rita me chamou - pode vir aqui um segundo?

– Eu tô ocupada agora Rita, é urgente?

– Eu fico com as crianças

Percebi a seriedade no rosto dela, precisava realmente de mim, já que se ofereceu pra ficar com as crianças não vi problema em ir ver o que era, fui até a porta.

– O que foi? - perguntei

– Tem uma pessoa que veio te ver, mas preciso que você tenha maturidade e não arme um escândalo

– E porque eu faria isso? - perguntei friamente

Foi aí que eu vi, nem sequer precisei da resposta de Rita, Manuela estava em pé próximo ao mapa mundi de placas mãe, com um olhar penetrante para mim, apenas deixei Rita com as crianças e fui até ela, saber o que queria.

– Você por aqui Megan? - ela perguntou assim que me aproximei - juro que pensei que não ia te encontrar, pelo menos não por aqui

– Venho aqui com mais frequência do que você pode imaginar

– Sério? Difícil de acreditar - engoli a seco, eu estava me segurando para não voar em cima dela

– O que veio fazer aqui Manuela?

Ela ficou olhando para as paredes coloridas, os vasos de teclados antigos, os brinquedos de computadores velhos e ocos, me fez ferver de raiva.

– Fala - disse em um tom um pouco alterado

– Nada... vim só deixar um recado pra você

– Que recado? De quem?

– Você não está com o homem que acha que está, Davi passa muito tempo entre livros e computadores, mas no fundo ele vai ser sempre o mesmo - Manuela chegou mais perto - um galanteador, eu tentei resistir

– Do que você tá falando?

Manuela tirou um envelope amarelado da bolça, estendeu a mão para que eu o pegasse, hesitei mas o fiz, ela completou o recado.

– Leia quando estiver sozinha

Manuela passou uns segundos me olhando e depois foi em direção a saída, mas parou na metade do caminho para completar algo.

– Diga ao Davi que eu mandei um beijo - ela disse com um sorriso amargo e depois se foi

Do que a Manuela tá falando? Como Davi não é quem eu penso que é?! Então, quem é Davi? E que história é essa de galanteador? O que ela sabe sobre ele?! Todas as respostas paras as minhas perguntas deviam estar dentro do envelope, uma pena que a coragem para abri-lo não está.

Observei as crianças ao longe, Rita brincava com elas, entrei na sala de Davi, não tinha ninguém, sentei na cadeira e posicionei o envelope no centro da mesa, vindo da Manuela pode ter qualquer coisa dentro, até um vírus altamente contagioso, radiação...

Mas a curiosidade falou mais alto, tem haver com Davi, só pode ser, foi o que ela falou não foi? Que ele não é o que eu penso? Abri de uma vez, as perguntas estavam me consumindo eu precisava de respostas.

De lá dentro caíram quatro fotos, mas eu preferia a radiação, nas fotos haviam as datas, todas do mesmo mês, o mês em que estamos agora, pude sentir uma lágrima queimar o lado direito do meu rosto enquanto descia, senti meu coração se quebrar, a dor era tanta que eu podia gritar, uma pressão no peito.

Nas quatro fotos estavam Davi e Manuela, sorridentes, em duas delas estavam se beijando, uma foi na cantina da Marra Brasil, quando ainda trabalhávamos lá, foi literalmente nas minhas costas, como ele fez isso? Que tipo de ser humano desprezível e estupido é capaz de uma coisa dessas?! Manuela tem razão, Davi não é quem eu pensava.

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Murphy acompanhava o homem finamente vestido até o escritório de Jonas, abriu a porta para ele e o anunciou para o seu poderoso "Boss", o qual pediu para que ele se retirasse imediatamente, o indiano saiu quase correndo de lá.

– Os exames ficaram prontos? - Jonas perguntou com preocupação na voz

– Sim, e as notícias não são boas Jonas - o médico se sentou

– Como assim?

– A sua doença avançou em 10%


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e comentem suas opiniões, pois elas são cruciais para o desfecho da história, é com base em suas opiniões que irei fazer um fim para essa bela história. Beijos e até a próxima.