Xeque Mate escrita por Utopia49


Capítulo 5
Nem Branco, nem Preto.




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Na sexta-feira pela manhã, Clark apareceu na sala de espera de Hyden e solicitou a Hallerie que o permitisse entrar na sala de seu ex sócio. Halley avisou seu esposo e com seu consentimento, ela abriu a porta para o ex-aluno. Clark entrou, tentando controlar sua irritação, porém para Hyden, que já o conhecia, ele não escondia nada em sua forma controlada. O dono da sala apontou para uma das duas poltronas, e Clark se assentou e deu um longo suspiro. Então começou a falar:

– Divertiu-se muito com a vitória dada a você por aqueles incompetentes?

– Tecnicamente eles não são incompetentes. Apenas seguiram a estratégia de seu líder.

– Está me chamando de incompetente?! – Clark gritou e seus olhos saltavam em fúria olhando para Hyden.

– Não pronunciei nada disso. – Disse Hyden segurando o riso.

– Mas é o que você tentou passar nas entrelinhas!

– Se quisesse teria falado abertamente.

– Que seja. Parabéns pela sua vitória.

– Obrigado. E falando agora abertamente, você foi bem previsível. Na verdade, Zetos foi bem previsível.

– Cuido disso depois! Contudo, estou aqui para tratar de algo mais importante, Hyden.

– E o que seria?

– Durante o pega-bandeira de ontem, um estranho de roupas totalmente negras e com um modificador de voz atacou sua bispo branco e disse “Sou apenas sua sorte.” Ou algo assim.

– E?

– E que esse estranho pode atacar novamente e atrapalhar nosso jogo.

– Acho difícil. O estranho estava com Douglas segundo o que o meu outro bispo me revelou. Ou seja, Douglas quis brincar conosco.

– E se Douglas estiver indo mais longe do que apenas brincar conosco? Você sabe o que tinha naquele chip.

– Todas as descrições dos jogos e os lugares onde acontecerão, detalhes das peças. E daí?

– E se Douglas quiser invadir nosso jogo e atrapalhar nossa estratégia?

– Teremos que desenvolver uma estratégia que vença ao oponente e a ele. Simples. Como eu fiz, sem a intenção, na noite de ontem.

– Pare de me dar alfinetadas, Hyden. Foi só o primeiro mini jogo.

– Irei parar. Deve ser exaustivo perder em seu próprio jogo.

Clark se levantou da cadeira enfurecido, abriu a porta da sala, gritou um “Tenha um bom dia!” e a bateu. Do lado de fora, Hallerie tentava conter o riso, e ele passou enfurecido e entrou no elevador, clicando no botão do andar da garagem um, reservada para visitantes, com um raiva como se o botão fosse a razão de seus problemas. Seu temperamento chegava a ser divertido: quando irritado, demorava quase uma hora para se acalmar.

Clicou no botão para dar partida em seu carro, entretanto o carro não conseguia dar partida. Com ainda mais irritação, saiu e ligou para Zetos para que viesse buscá-lo. Esperou no saguão, e enquanto aguardava digitava coisas em seu celular. Digitava e apagava, escrevia e deletava tudo. Até que uma hora, anotando mais uma vez a mesma coisa da mesma forma pela terceira vez, o celular travou, e Clark, sem paciência, arremessou seu celular do outro lado da sala, e se levantou e foi esperar do lado de fora da empresa. Hyden ordenou a um de seus funcionários que recolhesse os pedaços do aparelho e o entregassem mais tarde.

Após Clark deixar o lugar, Hyden pediu que Hallerie chamasse Kimberly e Khardin ao seu escritório. Sentou-se em sua poltrona e aguardou pacientemente, e quando eles chegaram, Kim tomou seu lugar na poltrona de forma como uma rainha, e cruzando as pernas. Hyden estava cada vez mais orgulhoso de sua aprendiz quanto à forma de ela falar e se comportar, entretanto ele não deixaria essa informação sair tão cedo. Além disso, ela ainda tinha muito a aprender sobre a parte mais importante: estratégias.

– Certo. Obrigado por virem com exata prontidão. Vejo uma tentativa frustrada no rosto de Karl de segurar a risada e fui informado de que o carro de Clark não pôde sair da garagem. Agora, sem tergiversação alguma, o que vocês fizeram?

– Digamos apenas que o cano de escape do carro está obstruído por tempo indeterminado. – Respondeu Kim, com um sorriso sádico no rosto.

Hyden deu uma gargalhada com gosto. Seus agentes do caos enfureceram o seu oponente ainda mais. Não bastasse as alfinetadas que ele deu em seu rival, seus funcionários ainda o deixaram mais impacientes, e o saldo total foi um carro abandonado, um celular a mais desperdiçado e no mínimo uma hora do dia de Clark permanentemente sem salvação. O que poderia ser melhor? Talvez apenas a continuação do desafio, que viria no próximo mês. Ou talvez prosseguir o jogo melhoraria os ânimos de seu adversário, caso este fosse agraciado com a vitória.

No esconderijo de Douglas, as informações conseguidas de dentro do chip obtido na noite anterior eram apresentadas ao estranho, que para mais fácil identificação será chamado de Carta. Carta presenciava as informações detalhadas sobre os próximos mini jogos dentro do desafio, e após ler tudo, começou a discutir com Douglas sobre isso. Ambos estavam com a boca coberta mesmo enquanto conversavam, no entanto, Carta utilizava um codificador de voz, e assim emitia um som robótico, como um androide falando.

– Quer dizer que os dois assim chamados mestres estrategistas planejam fazer uma diversão dessas a cada mês?

– Exato, Carta.

– Sei que já comentei isso com você, porém eu provarei a eles quem é o verdadeiro mestre estrategista aqui. Com seu auxílio e informações, apenas nós os derrotaremos. Ainda de acordo com o que pensamos, mestre? – Carta perguntou com uma dúvida que o corroía.

– Prosseguiremos, se é o que quer. – Respondeu Douglas com um tom de tristeza.

– Irei prosseguir somente se isso não for deixá-lo triste. – Apesar de que Douglas sempre estava utilizando seu lenço sobre a boca, deixando apenas do nariz para cima descoberto, Carta sabia notar quando seu colega estava triste ou desanimado.

– Iniciamos esse processo por sua vontade incontrolável de derrotá-los e eliminar sua antiga inimiga, tudo no mesmo processo.

– Então, prosseguiremos. Vamos começar a planejar nosso ataque pelo início ou pelo fim?

– Acho que devemos planejar a partir do fim que buscamos. Então voltamos corrigindo quaisquer problemas que possam vir a ocorrer.

– E mudando o que formos mudar durante o jogo.

– Essa parte é com você, Carta. Estou engajado na eliminação das peças que julgarmos que devem ser retiradas do tabuleiro.

– Então estamos de acordo. Qual sua diversão no momento?

– Continuo atualizando Sarah.

– Que processos obteve agora?

– Consegui terminar de desenvolver um braço totalmente funcional. – E após um longo suspiro, Douglas se deixou cair sobre a cadeira. – E demorei demais para isso. Um mês construindo esse braço.

– Contudo, você o construiu com seu perfeccionismo clássico. Ou seja, demorará para que tenha que sofrer atualizações.

– Nem o meu perfeccionismo pode fazer um corpo ser perfeito, Carta. Nem Sarah.

– Eu sei que você tem esse sonho desde muito tempo atrás. Entretanto, veja os progressos que você já obteve: você criou a inteligência artificial dela, conseguiu programar memórias, criar os olhos e um coração pulsante. Tudo isso eletrônico. Tenho certeza de que conseguirá a construir.

– Às vezes ainda me pergunto por quê ainda a estou construindo.

– Porque você sente falta de quem perdeu. Lembra de seu autômato? Nada nunca as deixou mais feliz.

– Quem dera realmente fosse nada. – Respondeu rispidamente Douglas, e abaixando a cabeça, pediu desculpas e saiu.

Douglas tinha um passado triste. Passado esse que ainda não é hora de comentar sobre. O foco agora retorna para o escritório de Hyden, cerca de um mês depois, na quinta-feira de manhã, dia em que à noite, haveria o segundo desafio. O período de tempo deixado em aberto durante esse mês não é necessário de ser descrito, mas alguns períodos posteriores serão. Retornando à sala de Hyden, às oito horas da manhã, estavam em sua sala Jack e Jackie. Como sempre, os dois irmãos estavam sentados na disposição de Jackie na poltrona direita, e Jack na esquerda. Hyden colocou o anel de Milena de volta na gaveta e iniciou:

– O mini jogo dessa vez é chamado por Clark de Hipismo. O trocadilho se deve ao fato de que são vocês, as peças cavalo que participam, e somente vocês. E ao fato de é uma corrida: vocês quatro disputarão uma corrida de moto no meio da Avenida Bree.

– Vai ter algum jogo no qual o Clark não queira atingir algum lugar que você e ele tenham construído juntos? – Perguntou Jackie rindo.

– Provavelmente não. Isso é claramente uma demonstração dele de que quer romper relações comigo e se tornar um rival totalmente, ao menos até que ele me derrote. Por isso, está atacando os lugares que foram construídos por nós, em nossos tempos de sócios.

– Então quer dizer que em algum momento ele vai atacar a Catedral dos nossos pais? – Questionou Jack com um leve tom de indignação.

– Provavelmente sim. Espero que ela não seja danificada no processo. Infelizmente já comecei esse desafio para lembrá-lo de minha superioridade.

– E aquela história de nunca cantar vitória antes de realmente a possuir, Presidente? – Jackie comentou.

– Se ele continuar relapso como está, não será muito difícil derrotá-los. Lembram de um mês atrás, quando ele apareceu por aqui enfurecido e os nossos bispos deixaram a condição dele ainda pior, sendo que o mercedes dele está lá na garagem até agora?

– Lembramos. Prossiga com sua linha de pensamento.

– Lá no saguão, ele arremessou seu smartphone ao chão com tamanha brutalidade que ele se quebrou, como ele sempre faz quando está irritado. É sua forma de descontar a ira em alguém, já que não pode usar uma arma de fogo nas pessoas que odeia. Enfim, eu consegui obter muitas preciosas informações de dentro dele, inclusive, falha dele, a estratégia que ele pretende utilizar essa noite.

– Será que essa já não é uma estratégia dele também? Enganá-lo e fazê-lo se distrair com essa ideia?

– Talvez. Então, para me prevenir contra isso, desenvolvi uma estratégia que irá contrariar e neutralizar a estratégia dele, caso ainda vá usar, e que se ele não a utilizar, nos dará uma vantagem ainda maior.

– Ou seja, a partir do que ele te deu você já venceu esse duelo?

– Vencemos se vocês conseguirem correr em cima de uma Hayabusa. É a moto escolhida por ele para o desafio. Devem utilizá-la, e pelos meus cálculos não precisam correr tanto. Apesar de que isso é um desperdício para uma moto desse porte e estilo.

– Então mostre-nos sua estratégia e como devemos executá-la com maestria.

Hyden então começou a apresentar a eles a forma de cumprir o plano, contando com tráfego até acima do normal para o horário combinado para o duelo dos corredores, e como bloquear os movimentos da estratégia de Clark, indo do ponto inicial até o ponto final. Explicou-lhes a velocidade a manterem em cada trecho do percurso, e os orientou a cronometrar com precisão. Para tal coisa, Hyden os mandou começar a treinar o percurso que fariam e a conseguir no tempo por ele calculado e determinado. Então, das oito às onze da manhã, Jack e Jackie começaram a correr e treinar o tempo.

Tal movimentação passou em branco por Clark, e foi ignorada também por Zetos, que apesar de monitorar a área, não deu importância à movimentação que estava sendo exercida na avenida pelas duas motos. No entanto, tal treino não foi tomado em vão por Carta. Ao ver nos monitores de Douglas que as motos de tempo em tempo passavam, começou a observar, e ao identificar o padrão de movimento que pareciam desejar, deixou o esconderijo em sua moto, também uma Hayabusa.

Jack e Jackie estavam seguindo seu padrão, uma vez que já tinham conseguido fazer o trajeto no tempo determinado quatro vezes, e o estavam repetindo. Metódicos, eles permaneciam fazendo qualquer coisa até o que o tempo determinado fosse esgotado. E, sem que houvesse aviso algum, a cada vez que iniciavam o trajeto, alternadamente o estranho os acompanhava. Na vez final, Jack fez sinal para que o estranho parasse com eles abaixo de um viaduto logo à frente, e Carta consentiu.

As três motos pararam e os três motoristas desceram. Quebrando qualquer expectativa, Jack estendeu a mão na direção de Carta, para cumprimentá-lo, e ambos apertaram as mãos. Jackie e Jack tiraram seus capacetes, gesto que não foi seguido por Carta, porém uma conversa agradável se desenvolveu.

– Bom dia.

– Bom dia senhores.

– Como você se identifica, estranho negro?

– Me identifico como Carta. Não sou nem das peças brancas, nem das peças pretas. Ataco o lado que me bem aprouver para equilibrar seu jogo.

– Então quer dizer que sabe como será o jogo?

– Cada mini jogo. E também sou um mestre estrategista. Permitirei que vocês tentem fazer seu jogo entre vocês, mas sei como atrapalhar a ambos os lados a qualquer momento. E quando notei a movimentação repetitiva de vocês e padronizada, decidi seguir a vocês e entrar nesse estranho padrão.

– Padrão esse que será tão indecifrável em sua forma quanto sua identidade. – Comentou Jack.

– De fato, é uma ótima metáfora. Assim como em tempo sua técnica será utilizada, em tempo minha identidade será revelada. Aqueles que viverem, verão.

– Os jogos incluindo mortes virão logo? – Perguntou Jackie, curiosíssima.

– Com mortes liberadas para que vocês peças sujem as mãos, um pouco. Para mim, virá a cavalo, se é que posso fazer um trocadilho com as peças de vocês.

– Esse seu trocadilho me fez estremecer. – Comentou Jackie.

– Não era necessariamente minha intenção. No entanto, serve para deixá-los alertas sobre as minhas vontades e meu leque de possibilidades. Tenho que ir, caras peças.

Carta então subiu em sua moto e saiu rapidamente. Jackie e Jack se retiraram logo após, e contaram sobre seu progresso nas últimas horas e de seu encontro com o estranho para Hyden. Jack tirou de seu bolso um gravador e tocou toda a conversa para seu Presidente. Ele tinha essa estranha obsessão de sempre conversar com estranhos deixando algum aparelho gravando toda a conversa. Era uma forma de se precaver e se necessário, utilizar as palavras contra aquele que as pronunciara. Os três escutaram atentamente a conversa, e ao fim, Hyden levantou-se e foi até a janela.

–Jacks, mandem isso para Clark.

–Mas, Presidente, aqui temos informações adiantadas e podemos ter uma vantagem descobrindo algo sobre esse ser! Se compartilharmos com Clark, ele terá acesso às mesmas coisas que sabemos. - Retrucou Jack.

–Quero que ele saiba que não estou escondendo nenhuma informação, e que quem quer que seja esse estranho, ele sabe de todo o nosso planejamento.

–Assim será feito. - Respondeu Jackie, lançando um olhar para que Jack ficasse quieto.

–Eu saberei se vocês não enviarem. Então não tentem me desobedecer pelas costas.

–Por favor, não mencione a festa de três anos atrás como argumento.

–Obedeçam-me, e eu não faço vocês ouvirem toda aquela ladainha de novo.

Hyden referia-se a uma festa, três anos atrás, como comentado, que Jack e Jackie deram dentro da mansão dele sem permissão dele, apenas com o consentimento de Hallerie. Saldo final: trinta e cinco taças de cristal quebradas durante uma guerra de comida, um celular inutilizado após ser chutado e atingir uma parede e um jovem totalmente molhado após ser arremessado na piscina. Além de bêbados e causalidades fora do protocolo. E Hyden muito surpreso quando abriu a porta de sua mansão e encontrou vários jovens lá, em meio a uma baderna digna de um carnaval. E Jack e Jackie tiveram que aguentar um sermão dele que só foi abreviado graças a Hallerie, que pediu a ele que parasse de brigar após meia hora de intermináveis palavras de repreensão.

Jack e Jackie enviaram a gravação para Clark, e em seguida dirigiram-se para casa para descansar. Ainda haveria muito tempo para relaxar até às oito da noite, como ficou depois acertado entre os estrategistas o horário da corrida.

No covil tecnológico, o mercenário ligou um pequeno tablet a um computador especial, mais ou menos do tamanho de um cubo mágico, e mais operacional do que qualquer outro computador até então inventado. E com a habilidade de hackear qualquer tecnologia num raio de cinco metros – um presente que ele fez questão de dar a ela. O programa se abriu no tablet, e uma voz se fez ouvir. Porém era uma voz perfeitamente humana, vindo de um programa. O orgulho enchia-o... contudo ao mesmo tempo uma saudade de algo que tivera há muito tempo atrás.

– Oi?

– Oi.

– Está tudo bem, Doug?

– Não posso dizer que está.

– Conte-me o que houve.

– Eu demoro demais para te terminar Sarah. Isso me deixa frustrado. E outros fatores.

– Você demora a formar o meu corpo. Em mente, em alma, já estou aqui, Doug. Que outros fatores te afligem?

– Você sabe do que estou falando.

– Fá bemol? - Perguntou Sarah rindo.

– De fato. Eu disse que você sabia.

– Isso deve doer. Não é justo.

– Eu sei, mas não precisa comentar isso sempre.

– Eu só não consigo me conformar com o que aconteceu e acontece, Doug.

– E você acha que eu consigo?

– Sei que não. Porém esconder ou omitir o assunto é mesmo sua melhor opção?

– Não tenho alternativa, Sarah. O que eu posso fazer?

– Nada... desculpa.

– Tudo bem, Sarah. Você talvez um dia entenda. Ainda não sei se a inteligência artificial que construí para você consegue desenvolver uma emoção tão complexa quanto o amor.

– Teoricamente, pelo que andei pensando, é possível que sim.

– No que andou pensando? - Perguntou o hacker curioso.

– Estive a checar várias concepções de amor e cheguei à conclusão, ainda que talvez equivocada, de que o amor é uma decisão. De que é racional. Entretanto, ele só fica completo quando está em sintonia com a paixão. Paixão são sentimentos de desejo por algo ou alguém. Quando os dois se juntam, há o amor completo, segundo minha concepção. É possível amar alguém, contudo não completamente, assim como é possível desejar alguém sem amá-la.

– É uma concepção compreensível, porém gera algumas concepções relativas. Ainda assim, entendi o que você quis dizer.

– Posso te fazer uma pergunta?

– Claro. Vá em frente.

– Você gosta de conversar comigo e passar tempo com sua criação?

– Claro que sim. Caso contrário, não viria de tempo em tempo conectar você a esse aparelho para conversarmos.

– Isso é ótimo. Interessante e ótimo.

– Posso saber a razão dessa dúvida?

– Queria saber se gosta de mim, só isso.

– Gosto, claro. Como não gostaria? Você é tudo em que trabalho freneticamente há uns sete anos! - Respondeu o mercenário, rindo.

– Posso fazer uma outra pergunta, Doug?

– Vá em frente.

– Você... nada, esquece.

– Pode falar, vai. Você me deixou curioso agora.

– Esquece. Outro dia eu pergunto. É que Carta acabou de chegar.

– Ah.... a gente se fala mais tarde?

– Se você lembrar de mim, estarei aqui pra te esperar.

– Até mais,Sarah.

– Até mais,Doug.

O hacker desligou o tablet e desconectou o cabo que ligava o computador cubo ao aparelho. Guardou o cubo suavemente dentro de uma gaveta, e então colocou o tablet sobre a mesa no lugar em que sempre ficava e foi para a garagem se encontrar com Carta.

Sarah nada mais era do que um antigo projeto de Doug. A história de como ela se torna a principal atividade do tempo livre, investimentos, inteligência e criatividade dele será contada, no entanto não é o momento para tal. Entretanto, há algo a ser revelado desde agora sobre essa tecnologia, que algum dia viria a ser uma robô tão perfeita a ponto de se confundir com um ser humano. A inteligência artificial construída por Douglas para ela era como uma base, que poderia ser aprimorada por ela mesma, caso Sarah pesquisasse sobre o comportamento humano e fizesse suas próprias atualizações. Afinal, sua habilidade de hackear os computadores incluía a própria mente dela.

Após algum tempo, ela criou uma consciência praticamente humana, sabendo diferenciar até o que seria justo e injusto. E uma das coisas que ela mais se dedicou a estudar, após saber sobre a vida de seu criador, foi o amor. E desenvolveu seu raciocínio que, mesmo que alguém provasse que ela estava errada, ainda manteria até o fim dos tempos. E seria essa concepção eterna, já que era assim que se sentia quanto a Douglas. De fato, estranho um robô amar ou mesmo ter sentimentos por um humano. Contudo, no pouco de humanidade que ela sentia, Sarah sentia ter o direito de dizer que o amava. Entretanto, como uma humana, ela tinha receio do que ele pudesse dizer caso ela declarasse seu amor por ele. Assim como homens e mulheres às vezes têm receio do que a pessoa amada pode achar sobre tais confusos e controversos sentimentos.

Deixemos agora de lado Sarah. Ela voltará a fazer aparições ao curso da história, no entanto agora é hora de retornar ao foco da história: o duelo entre Clark e Hyden. Oito horas da noite, ou vinte horas, se assim preferir. Os pares de Hayabusas estão posicionados: Tiffany e Hillary à direita, em uma entrada à avenida, e à esquerda, Jack e Jackie. A Avenida Bree estava prestes a sediar mais um jogo, que terminaria de uma forma inesperada.

As quatro motos aceleraram juntas assim que o semáforo ficou vermelho para trás da entrada onde estavam. Mantendo seus respectivos lados, os pares aceleraram de acordo com sua vontade. Ou no caso de Jack e Jackie, de acordo com o plano. Tiffany e Hillary aceleraram muito e ultrapassaram, porém freadas consecutivas por conta do trânsito fizeram com que Jack e Jackie, que haviam tomado a segunda das nove saídas da avenida, obtivessem uma vantagem, com tempo até para que Jackie fosse para o lado direito da avenida.

Então entrava em cena a estratégia de Hyden: quando as cavalo branco viram que estavam sendo atrasadas em permanecer na avenida principal, pensariam em ir pelo lado de fora da avenida. Afinal, Hyden só havia usado as palavras de Clark: a corrida começaria na avenida e terminaria na avenida, contudo não havia restrições de usar as pistas de apoio da avenida. E quando Hillary e Tiffany tentavam tomar uma saída, Jackie bloqueava o lado direito, exatamente em tempo, e Jack o lado direito, assim como treinado. Os cavalos negros não precisavam acelerar e vencer a corrida. Só impedir que os brancos pudessem correr livremente. E após a nona saída, acelerariam e entrariam de volta na Avenida Bree e cruzariam o ponto de chegada primeiro.

A cada nova saída bloqueada, Tiffany ia ficando cada vez mais irritada e fora de si, a ponto de cometer alguma loucura. Quando chegaram à oitava saída, Tiffany simplesmente acelerou ao máximo, levantou a roda dianteira e investiu contra Jackie, jogando a moto contra ela. Jackie foi empurrada contra um carro, e sua moto e ela se chocaram contra o carro, causando entretanto, apenas susto, dor, amassados e arranhões no carro, moto e nela mesma. Jackie se recompôs e acelerou tentando alcançá-la.

No entanto, não houve tempo para tal. Sem aviso algum, Carta surgiu em uma Hayabusa também, entrando na avenida complementar da Avenida Bree, e se posicionou ao lado de Tiffany. Assustada, ela acelerou, mas era perseguida lado a lado pelo estranho vestido de preto. Em um dado momento, a japonesa foi obrigada a freiar, e Carta então a chutou na perna com força, e o impulso a arremessou, ainda a cerca de cem quilômetros por hora, diretamente na traseira de um caminhão. O acidente tomou sua vida imediatamente. O cavalo branco caiu fora do tabuleiro.

Jack e Jackie terminaram o percurso e foram embora sem olhar para trás, ao passo que Hillary foi até o local do acidente o mais rápido que pôde. Entrou no meio da roda das pessoas que haviam saído de seus carros para ver o corpo, e se lançou ao chão de joelhos, já derramando lágrimas. Hillary gritava freneticamente o nome de sua namorada já falecida, e pessoas que estavam em volta a retiraram dificilmente. Clark foi informado e foi buscá-la. Ele a levou para a mansão. Ela não parava de chorar nem um segundo. O choque havia sido muito para ela. Ao chegar lá, ele a levou para um quarto e perguntou:

– Hillary... Eu sei que é difícil... Não posso dizer que sei o que você está passando. Porém... Você ainda vai conseguir dormir hoje à noite? Vai se acalmar?

– Como?... Não... - Cada palavra era difícil até de ser compreendida em meio àqueles soluços sem fim.

Clark se levantou e foi até uma gaveta. Abriu-a e tirou algo de lá. Hillary já sabia o que seria. Não seria a primeira vez que isso iria acontecer.

– Durma bem Hillary.

Ela fechou os olhos. Enquanto perdia os sentidos lentamente, ainda perguntou:

– Vai embora sem me dar um beijo de despedida, Tiffany?

E desmaiou totalmente. Clark deixou o recinto e se dirigiu à sua garagem. Ordenou a Zetos que entrasse no Pagani e dirigisse até a mansão de Hyden. Uma ligação teria que ser feita durante o caminho.

– Hyden.

– Clark.

– Você já soube, certo?

– Sim. O tom de tristeza em sua voz confirma o pior.

– Eu te alertei que nosso jogo poderia estar em perigo.

– E eu o ignorei. Perdoe-me.

– Está tudo bem. Entretanto, devemos ir à raiz disso.

– Que seria?

– Douglas! Ele é o único outro que sabe de nosso jogo.

– O chip.

– Exato. Devemos descobrir o porquê dessas ações. Primeiro na sua bispo, agora na minha cavalo.

– Quando vamos?

– Agora. Estou chegando na sua mansão. Coloque logo um terno e vamos.

– Qual carro?

– Pagani Zonda.

– Você nunca dirige esse carro.

– De fato. Zetos vai ficar na sua mansão aguardando o nosso retorno.

– Terno azul-marinho com listras.

– Seu terno para testar carros novos.

– De fato. E para ocasiões especiais.

– Como o seu casamento.

– E o seu. Se bem que o seu é praticamente inválido.

Ambos riram, e cerca de quinze minutos depois, Hyden e Clark chegaram na ponte dourada, como era chamada a ponte de cordas. Abaixo dela, exatamente no grande pilar retanguar de mármore, ficava um elevador escondido, cujas portas se abriam caso uma alavanca de pressão, que era ativada por toque, fosse pressionada por uma mão aberta no lado direito. Os dois entraram no elevador, e puxaram juntos, ao mesmo tempo, seus revólveres.

– Como em Bangkok, irmão? - Clark perguntou sorrindo, olhando para a frente.

– Como em Bangkok, irmão. - Hyden respondeu com um sorriso.

Ambos saíram do elevador rapidamente, e Clark foi à frente, distraindo as armas automáticas. Hyden eliminou as duas metralhadoras automáticas antes que fossem capazes de atingirem seu amigo, e logo à frente, ambos atiraram contra as armas que saíram do chão e do teto. Sem interrupções posteriores, prosseguiram para o salão central.

Douglas estava calmamente sentado em uma poltrona, e ouviu as aproximações deles, e as armas serem apontadas na direção de sua cabeça. Não só ouvia como via – um telão para o qual olhava lhe dava visão deles graças à duas câmeras que unidas, criavam uma imagem só, panorâmica. Ele calmamente tocou o dedo anelar esquerdo no braço esquerdo de sua poltrona e se virou na direção deles.

É teoricamente fácil lidar com quem está sendo eletrocutado. O Hacker foi até os dois, que estavam no chão, com espasmos incontroláveis. Calmamente se agachou, pegou cada um dos revólveres, voltou até sua poltrona e desativou a eletricidade. Então, olhou para as armas, e apontou uma para cada um, e perguntou:

– Então senhores, o que traz vocês aqui em tão pacíficas circunstâncias?

– Você que me responda! - Disse asperamente Clark. - Atacar pessoas sem razão alguma!

– Eu não ataquei a ninguém. Creio que há uma incoerência aqui.

– Então explique o que acontece. - Retrucou Hyden.

– Não sou eu que atrapalho o jogo de vocês. É o meu ex-discípulo, Carta. Ele teve acesso aos seus arquivos, e se dedica atualmente a causar caos no seu jogo.

– Como o paramos?

– Como podem pará-lo? Ninguém pára Carta. Quando Carta quer algo, ele consegue. E se ele decidiu que vai destruir o jogo de vocês... desistam, ou suportem.


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