Xeque Mate escrita por Utopia49


Capítulo 4
Capture a bandeira.




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O ambiente estava praticamente vazio. De um momento para outro, além da equipe de limpeza surgem sete novos indivíduos no salão. Hyden e seus seis acompanhantes se deparam com Clark e suas seis “peças” escolhidas. Clark e seus homens ficaram frente a frente aos que lá estavam antes, em silêncio, até que Hyden estendeu o braço direito para cumprimentar seu ex-aluno, careca, de óculos, e com um terno branco. Excentricidade poderia muito bem ser o sobrenome de Clark. Ele por sua vez, esticou seu braço e após o aperto de mão, puxou seu antigo mestre e agora oponente para um abraço.

– Quanto tempo, Hyden! Vejo que conseguiu mais algumas de suas rugas, nobre rival.

– As hostilidades já começarão tão cedo? – Comentou Hyden com um sorriso.

– Elas já começaram, caso não tenha notado. Desde quando você não rejeitou o jogo, você já é parte do processo.

– Então que seja, excelentíssimo adversário. O que o traz aqui, de fato?

– Queria apenas vir apresentar minha equipe para a sua. Mas já que estamos em um território seu, deixo que apresente os seus primeiro.

– Como quiser. Khardin e Kimberly, meus bispos, Jack e Jackie, cavalos, e Johnny e Simon, torres. Sua vez.

– Haha. Recém-contratados como bispos, irmão? Acho que está um pouco relapso em sua habilidade de demorar a confiar em alguém.

– Estaria me acusando de ter uma confiança cega, Clark? Não se esqueça de que ainda sou o mestre.

– E pretendo fazer com que não continue assim, sabe disso. Porém, tentarei mostrar mais respeito.

– Agradeço. Agora apresente seu time. Quero ver quem são suas escolhas.

– Bem, a morena à minha esquerda chama-se Charlotte. E o caucasiano à minha direita é o Zetos. Eles são os meus bispos. Os outros dois que estão à minha direita são os torres, Hurley e Herbert. À minha esquerda, os cavalos, as duas moças chamadas Tiffany e Hillary. Apresentados.

Charlotte era morena, escultural e de olhos verdes. Uma combinação genética altamente rara e que a deixava como um pessoa de alta influência sobre Clark. Ao contrário de Hyden que procurava a todo momento ser fiel a Hallerie, Clark deliberadamente traía sua esposa com toda mulher com a qual conseguisse uma chance. E às vezes, um corpo atraente é uma ótima escada para o sucesso em uma empresa, e essa era a principal razão de Charlotte ser uma presidente em uma das empresas de Clark.

Zetos era um grego de cabelos castanho-escuros cuja habilidade que Clark mais admirou era sua habilidade com armas brancas e luta corporal. Ele era especialista em atirar facas, e era o guarda costas número 1 de Clark. Seu pai o havia treinado em todas essas artes, e sem sucesso tentou fazê-lo aprender a usar armas de fogo. Contudo, Zetos nunca se interessou por elas. A única arma à distância que gostava de utilizar era seu arco siciliano.

Hurley era um homem largo, e com uma força tremenda. Tinha sido um mercenário, e seu hobby eram os explosivos. Sua mira com armas de fogo era impecável, e possuía uma cicatriz no rosto por cima do olho direito e uma cicatriz de bala no ombro esquerdo.

Herbert era um homem com mesmas proporções de Hurley, entretanto não tinha treinamento militar ou paramilitar algum. Era apenas um homem truculento, e outro guarda costas de Clark. Apesar do porte de Zetos ser menor e apenas atlético, sua falta de técnica e seus movimentos obtusos causavam sua derrota em todas as vezes em que tentou treinar com Hurley e Zetos.

Tiffany era uma descendente de japoneses, e proveniente de uma família que assim como a de Zetos, valorizava muito saber utilizar as armas e técnicas de luta milenares de sua região. Assim, além de técnicas e armas japonesas, sua família, em especial seu irmão mais velho, a ensinou as artes de ataque chinesas também. Uma kunai ou katana em suas mãos eram extremamente mortíferas.

E finalmente, Hillary era uma moça branca, de cabelos castanhos. Não tinha habilidade alguma especial, mas era alguém de confiança de Clark, e principalmente, era alguém que conseguia acalmar os ânimos de Tiffany. Muitas vezes, a asiática se tornava tão impaciente para com Clark que poderia fazer alguma besteira, mas Hillary conseguia mantê-la nos eixos. Como dizia Clark, é pra isso que namorados servem.

Apresentadas ambas as equipes, sem nenhuma palavra ser pronunciada após o “Apresentados”, de Clark, a equipe do ex-aluno se retirou. Hyden e sua equipe se retiraram em silêncio pouco depois, e durante o caminho para casa, Khardin comentou com Kimberly:

– Kimberly, acha que temos chance contra eles se tivermos que realmente atacá-los?

– Se eu puder usar meu canivete, estamos seguros. – Respondeu Kim, gabando-se de sua habilidade com seu canivete. Ela já tinha até feito pequenos furtos e assaltos usando apenas seu canivete, sua única relíquia de seu falecido pai.

– Qual você acha que vai ser o primeiro desafio e com que peças vai ser?

– Creio que isso vai depender dos dois estrategistas. Não compete a nós pensar nisso.

– Entendi... você me disse que iria me contar o que tinha acontecido, mas você não foi muito específica sobre isso na festa. Disse que era apenas um plano seu e do Hyden. Pode explicar melhor?

– Eu pedi a ajuda do Hyden para que eu conseguisse fazer você se interessar mais por mim... sabe, eu não queria que o que nós tivemos e temos fosse algo de uma noite só, entende? Eu queria que durasse... Então pedi a ajuda dele, e ele me aconselhou a te tratar como se não fosse nada pra mim e depois como se fosse tudo pra mim. Ia te deixar confuso, e ao mesmo tempo te fazer ficar interessado novamente, segundo o Hyden. E ele acertou mais uma vez, certo?

– A técnica de vocês funcionou muito bem, posso dizer que ele acertou de novo. Mas também posso dizer que ele errou dessa vez... porque você não precisava disso pra me fazer ficar interessado em mim novamente. Eu já estava, e eu não queria que fosse algo de apenas uma noite também...

– Quanto a errar sobre isso... o Hyden tinha previsto que havia uma chance de você ter gostado mesmo de mim... então tecnicamente ele não errou. – Respondeu Kimberly com um sorriso.

– Ele sempre acerta, né?

– Sempre. Eu sei que os dois estavam falando que um dos pontos de ser estrategista seria não ter uma confiança cega, no entanto no Presidente eu confiaria de olhos fechados.

– É... falando em olhos fechados... nada, esquece.

– Fala? Fiquei curiosa agora.

– Nada, só pensei em algo bobo aqui.

– Mas diga! Eu quero saber já que a gente tá junto, Karl – Disse ela com um sorriso.

– Hora que você estacionar na sua garagem eu falo.

– Para que manter o mistério e o silêncio?

– Talvez porque seja legal, enquanto várias ideias do que pode ser rodam na sua cabeça – Respondeu Karl com um sorriso.

Ambos trocaram olhares, e não fosse a buzina de outro carro um acidente teria acontecido. Ao retomar o controle do carro, Kim começou a rir, e logo em seguida Khardin também, e assim ambos ficaram rindo todo o pequeno espaço de tempo que se seguiu até chegarem na garagem do edifício de Kimberly. Chegando lá, ambos controlaram o riso, olharam um para o outro e ela perguntou.

– Então, o que pensou? Agora tem que me contar.

– Sério mesmo?

– Sim. Eu quero saber, caso contrário não estaria perguntando, certo?

–Certo... é só que... deixa pra lá, boa noite. – Disse ele apressadamente abrindo a porta e saindo.

Teria escapado, caso Kimberly não tivesse reagido rápido saindo e o interceptado com um pulo, fazendo com que ambos caíssem no chão. E na queda, Karl caiu e bateu a cabeça, e ambos começaram a rir novamente. Kim o deixou deitado e se sentou no chão ao lado dele, requisitando a pergunta que faria.

– Eu ia te perguntar se você queria dormir lá em casa hoje.

– Isso é sério?

– Viu? É uma pergunta idiota! – Ele comentou rindo, e ficando vermelho pela primeira vez.

– Na verdade, o que foi mais idiota aqui foi você achar que alguém que é inconsequente e imprudente por natureza e que tá afim de você ia recusar sua oferta.

– Então essa é a sua forma de dizer sim?

– É. Ainda tenho sua oferta?

– Claro que sim. – Respondeu Kharin com um sorriso.

– Mas como a gente já tá aqui no meu edifício vamos permanecer por aqui?

– Vamos... mas você vai ter que parar de se chamar de inconsequente se continuar falando tão difícil assim.

– Acho que não tem relação direta as duas coisas, contudo vou aceitar o conselho. Entretanto, isso não muda a resposta dessa noite.

E assim, sorrindo, ambos tomaram o elevador e se dirigiram ao apartamento dela.

Enquanto isso, na mansão de Clark, uma figura tocava o interfone.

– Quem está aí fora?

– Quem atendeu o interfone?

– Zetos. – E uma voz do outro lado também disse lentamente – E Charlotte.

– Seu chefe sabe que você fica com a amante preferida dele, Zetos?

– Maldição, Milena, cale a boca.

– E principalmente, eu não sou mais a número um, não é, olhos azuis? – Replicou Charlotte.

– Ah, é uma pena, não é Lott?

O portão se abriu, e quando Milena chegou à porta da mansão, Zetos abriu para ela.

– Lembra de arrumar a gravata, Zet. Você nem sabe disfarçar o que estava fazendo com essa gravata e esse cabelo assim. – Comentou Milena, arrumando a gravata do grego.

– Você pode parar? A qualquer momento ele pode ouvir e – o caucasiano foi interrompido pelo próprio Clark.

– Ele pode ouvir o quê, Zetos?

– Que seu guarda costas não está sabendo arrumar uma gravata. E isso é uma falta de estilo para alguém tão importante como você, Clark.

– Bem, se esse era o assunto, posso consertar isso mais tarde. Millie, venha comigo.

Milena e Clark subiram por uma escada que havia à direita, branca e que subia fazendo um ângulo de noventa graus. No andar de cima da mansão, Clark a levou a um salão imenso, onde se sentaram em sofá lado a lado, e então Charlotte trouxe uma garrafa de um vinho antiquíssimo. Abriram e Clark começou a contar:

– Será simples, milady, derrotar nosso antigo amigo Hyden. Ele chamou como suas peças pessoas apenas conhecidas, ninguém com um treinamento realmente útil. Nos jogos em que tivermos duelos, as peças dele serão destroçadas.

– Sim, mas tome cuidado para deixar bem claro antes do desafio se as mortes estarão liberadas ou não. Na verdade, para incentivá-lo a continuar, acho que nesse primeiro jogo você deveria não permitir que mortes ocorressem. Com toda a certeza você vencerá o primeiro desafio, e se ele começar perdendo pode não perpetuar sua presença nesse esquema, certo?

– Concordo. É um bom argumento. Como primeiro mini jogo dentro do desafio maior, estou pensando em um pega bandeira entre os bispos, dividido em uma parte na qual os bispos devem obter um chip em um lugar previamente conhecido pelos dois, e na segunda parte, devem entregar o chip a uma pessoa que estará esperando nos Delusion Gardens. O que acha?

– Parece interessante. Já pensou o que será a punição para o derrotado, além de não ser o mestre?

– O derrotado deverá entregar setenta ou oitenta por cento de sua fortuna ao vencedor, cinquenta por cento de suas empresas, e se ajoelhar perante o vencedor.

– Parece uma humilhação válida para ele. Vai atingir o orgulho dele de mestre estrategista e levá-lo ao desespero. Talvez chegue até a se sentir sem sentido na vida.

– Então, está feito. – Dito isso, Clark encheu novamente as taças dos dois, que bebiam enquanto pensavam. E assim que a garrafa terminou, Clark e Milena se beijaram no salão, e foram interrompidos apenas pela esposa de Clark, Clarisse, que entrou na sala, e ficara constrangida.

– Clark.... eu tinha vindo dar boa noite. Mas vejo que já está tendo uma.

Milena se levantou com um sorriso sádico, e saiu rapidamente de cabeça baixa. Clark fez um olhar de reprovação e ameaça para Clarisse, e saiu atrás de Milena. Não conseguiu alcançá-la: Milena desceu as escadas rapidamente, e não parou em nenhuma das vezes em que ele pronunciou seu nome. Zetos, de dentro da sala de segurança, abriu as portas e o portão externo antes que seu chefe pensasse em interceptá-la fechando a saída.

Na manhã seguinte, Hyden recebeu as informações sobre o mini jogo que começava o desafio. O confronto inicial entre os bispos não teria derramamento de sangue, e o fato de ser dividido em duas partes significava que para quem perdesse a primeira parte do jogo, ainda havia a chance de recuperar o jogo no segundo tempo. Hyden chamou Khardim e Kimberly à sua sala, e começou a explicar:

– No primeiro jogo não haverá exclusão de peças. Ou seja, não executem-nos. E eles não poderão matá-los também. Esse desafio é dividido em duas partes, sendo que a primeira é definitivamente apenas um capture a bandeira, sendo que a segunda parte é o ato de entregar. A bandeira em questão é um chip que será entregue a um homem que estará de roupas cinzentas e com um boné preto. Se for quem estou pensando, estará também com uma faixa de tecido cobrindo a boca. Dúvidas?

– Onde teremos que ir buscar o chip? – Kimberly iniciou as perguntas.

– Ele estará em uma caixa de madeira quebrada, em um beco. Recomendo que não cheguem no beco pelo chão, normalmente. Se conheço Clark, ele colocará seus bispos com armas de tranquilizantes no telhado dos prédios. Ou seja, posicionem-se também nos telhados, com o mesmo tipo de armamento. Caso ele vá diretamente pelo chão, simplesmente os ponha para dormir e desça e pegue o objeto calmamente.

– O que fazemos caso um de nós seja atingido pelo dardo e seja silenciado? – Khardin perguntou em seguida.

– Pensei nisso. O que vocês deverão fazer é levar um composto químico que tenho que irá fazer com que o efeito do calmante aja por uma duração menor. Se um de vocês for aplicado e o outro completar a missão, volte e aplique o composto. Caso os dois sejam atingidos, tentaremos recuperar no segundo tempo.

– A que horas devemos coletar o chip e a que horas devemos devolvê-lo ao homem cinzento?

– Vocês poderão tomar posição e tentar obter o aparato eletrônico às quinze horas. Às vinte horas vocês poderão se dirigir para Delusion Gardens. Minha estratégia para o segundo tempo ainda não revelarei. Dependerá dos resultados do primeiro. Caso tenham alguma dúvida podem falar, caso contrário, poderão se retirar caso queiram.

Karl se levantou e saiu da sala. Kimberly permaneceu, e ainda em sua pose real, fechou os olhos e ficou ali, sentada na poltrona. Hyden não entendeu o motivo daquilo, contudo, permitiu que ela continuasse ali. Começou a mexer em algumas coisas e acabou abrindo a gaveta. Ficou parado por um tempo e então pegou o celular, se retirou da sala e foi para o telhado. Ligou para Milena. Passou novamente pela recepção e avisou Hallerie que Kimberly ainda estava na sala e que sairia por um tempo indeterminado, todavia não muito longo.

Delusion Gardens. Era um jardim suntuoso, que fora um presente à cidade feito tanto por Hyden quanto por Clark. Haviam colunas caídas no lugar, o que dava um tom antigo e épico ao lugar, além das árvores frondosas e flores em canteiros largos. Era um lugar para onde Hyden se dirigia para relaxar. E, ironicamente, Clark tentava destruir seu ambiente de calma logo em seu primeiro jogo. Nosso protagonista se dirigiu a um banco abaixo de uma árvore, em frente a uma pequena loja de café dentro da praça. Milena apareceu pouco tempo depois, tão linda e atordoante como sempre.

– Bom dia Hydy. – Disse ela com um sorriso.

– Bom dia Milena.

– Qual é a sua dificuldade em usar apelidos fofinhos?

– Que tal a que eu só os uso para com quem estou realmente comprometido?

– Certo. Hallerie sabe quem sou eu ou quem eu fui em sua vida?

– Não.

– É uma informação que você considera desnecessária contar a ela. Entretanto, se estivesse realmente comprometido com ela, Hallerie saberia quem eu fui para você e que você está aqui, sozinho comigo, no jardim que você construiu para relaxar, exatamente no lugar que você adora e fica mais vulnerável.

– De fato. Sua habilidade de percepção continua impecável, Milena. – Hyden comentou. – Porém não venho aqui baixar a guarda para você. Venho aqui lhe contar sobre um desafio no qual estou engajado contra Clark. Há uma alta estratégia envolvida, e acho que você gostaria de ouvir.

– Um jogo de sociopatas? Adoro te ouvir e ficar escutando sua voz e olhando para seu rosto, Hydy, não obstante meu distúrbio é a perseguição e obsessão, então perdoe meu desinteresse por esse assunto.

– Nenhum problema. Quer café?

– Adoraria. Cada um paga pelo seu ou você demonstrará um pouco do seu antigo, clássico e fofinho cavalheirismo pelo qual você sabe que eu tenho uma queda profunda? – Perguntou Milena olhando com seu rosto como que fascinada por Hyden olhando diretamente no fundo de seus olhos.

Dizem as lendas que quando você se enxerga dentro do olho de alguém, é porque a pessoa gosta de você ou acha você importante. Caso as lendas fossem verdade, quem sabe os sentimentos de anos atrás não tivessem acabado em Hyden? Milena conseguia se ver tão claramente como se estivesse diante de um espelho. E seu sorriso de fascínio era como o de uma criança quando admira muito alguém fazendo o que faz de melhor relacionado a algo que chame sua atenção.

Hyden se levantou do banco, estendeu sua mão na direção de Milena, como se a quisesse levantar do banco. Ela pôs sua mão sobre a dele, e suavemente foi levantada. Então, tomando-a pela mão como nos velhos tempos, Hyden a levou para a loja, e juntos aguardaram conversando na fila. O cavalheirismo ainda existia, ou será que aquilo era apenas uma forma inconsciente dele de baixar a guarda para ela?

Após pegarem o café, Milena e Hyden voltaram a seu banco e sentaram-se lado a lado novamente. Ela pediu que ele contasse como havia sido sua vida nos últimos anos, e permaneceu com seu rosto de veneração durante todo o tempo no qual ele a contava seus acontecimentos desde quando se separaram. Mesmo em momentos que ele falava de Hallerie, nos quais ela sentia como se uma adaga estivesse sendo cravada em seu coração, ela continuava admirando-o e observando-o como se estivesse perante um anjo, um deus. “Hyden... uma queda que nunca poderei curar.” Pensava consigo mesma. Doía-lhe ter que aceitar a realidade de que ele não era mais dela.

Por volta das nove e meia da manhã, ou seja, cerca de uma hora e meia desde que haviam se encontrado na praça, Milena se despediu dele com um beijo no rosto, já que ele desviara o rosto de um beijo nos lábios. Levantando-se, ela saiu, com um andar de uma rainha, ainda que derrotada.

Finalmente, três horas da tarde. Quinze horas, se preferir. O sino da catedral tocava, e ao mesmo tempo, Khardin e Kimberly subiam uma escada de um edifício antigo, o quanto mais silenciosos possível, e com uma maleta, uma mochila com alguns dispositivos e o composto neutralizante do calmante nos bolsos, em seringas fechadas e sem a agulha posta. Ao chegarem em frente da porta que, assim que aberta, daria acesso ao telhado aberto, abriram as maletas e montaram suas armas e carregaram a munição tranquilizante. Khardin abriu a porta e saiu primeiro, em pé, e assim que se virou para a esquerda, foi atingido por dois dardos. Kimberly passou abaixada enquanto ele tremia e caía.

Kim esperou, e deitada ao chão, se levantou rapidamente e disparou na direção de onde raciocinou que veio um dos tiros. Charlotte foi atingida com sucesso no ombro direito, e um dardo disparado por Zetos quase atingiu a bispo branco. A distância não era muito longe, e escondida atrás de uma pilha de tijolos para onde havia rolado quando passou abaixada por Karl, ela arremessou um deles na direção de Zetos. Não o atingiu, no entanto, foi uma distração suficiente para que ela rolasse para a direita e o atingisse na clavícula, no lado direito, antes que ele pudesse puxar o gatilho na direção dela. O bispo preto caiu, e Kimberly simplesmente se deixou ficar deitada no chão, com uma batida de coração aceleradíssima.

Ela aplicou o composto em Khardin e lhe deu um beijo. Desceu rapidamente, foi até a caixa e pegou o chip. Mandou uma mensagem para Hyden dizendo: “O chip é nosso. Inicie a estratégia do segundo tempo, mestre.” O Presidente sorriu, e mandou uma mensagem avisando o mesmo para Clark. Em seguida, aguardou que Kim o entregasse o chip, e que Karl mais tarde chegasse.

Às sete horas, as duas equipes estavam prontas para a segunda parte. Hyden dividiu os bispos de acordo com as principais formas de se chegar ao Delusion Gardens. Indo pelas ruas, nas calçadas, Khardin estava com uma mochila nas costas. Indo pelo subterrâneo, seguindo pelo metrô, Kimberly ia, também com uma mochila nas costas. Ambos deveriam sair de uma distância de dois quilômetros para chegar ao centro da praça e então encontrar o homem de roupa cinzenta e faixa sobre a boca.

Zetos e Charlotte os monitoravam à distância, e Charlotte seguia Kim, e Zetos seguia Khardin. Quando Karl começou a correr em direção à praça, Zetos avisou para Lotte através de uma escuta que estava em perseguição e que apenas monitorasse a bispo branco. Zetos começou a correr também, e sem muita dificuldade graças ao seu porte atlético, alcançou Khardin e com um salto levou ambos ao chão. Começou a acertá-lo com seu punho, e após três ou quatro socos, o segurou pela camisa e gritou:

– Onde está o chip? Me dê agora e talvez você ainda sai daqui consciente!

– Você tem um punho fraco, achei que sabia bater! – Provocou Khardin.

Imediatamente recebeu uma quantia igual de golpes, e Zetos o ameaçou novamente:

– Fale agora onde está o maldito chip!

– Não... está... comigo! – E dito isso, Karl fingiu um desmaio.

– Lotte! Apresse-se! O chip está com ela!

Quando Kimberly percebeu que Charlotte estava correndo em sua direção, começou a correr, empurrando e passando pelo meio das pessoas que estavam passando no metrô. Os velhos tempos de pequenos furtos e assaltos corriam nas veias de Kim novamente. Corria como o vento, e Charlotte, não acostumada a correr tanto, não teve fôlego para ir tão longe. Logo, Kimberly se viu sendo perseguida também por Zetos, que apesar de cansado, ainda corria muito. Ela se esforçou ao seu máximo para escapar, todavia, foi atingida de repente, por uma barra de ferro na testa.

Zetos parou a uma distância e começou a encarar aquela pessoa que apareceu. Uma pessoa com roupas totalmente pretas e uma máscara no rosto, que não permitia ver os olhos graças à lentes escuras, segurava uma barra de ferro que usou para atingir a bispo branco. Zetos se aproximou e perguntou:

– O que é você?

– Eu sou apenas sua sorte. – Dito isso, a figura em preto saiu correndo, e escapou pelas escadas por onde Zetos desceu alguns metros atrás. Enquanto a pessoa misteriosa escapou, Zetos encontrou uma carta de baralho no chão: um ás. E então segurou Kim pelo pescoço e repetiu a pergunta feita instantes antes:

– Onde está o chip? Dê-me agora.

Charlotte se aproximou, e se agachou ao lado de Zetos e de Kim. E ela com um sorriso no rosto, respondeu:

– Você deixou ele escapar, Zetos. Lá em cima.

Uma mensagem apareceu no celular dos quatro bispos: “O chip foi entregue.” Após Zetos sair correndo e descer as escadas, Khardin rapidamente se levantou e terminou de correr para o centro da praça. Lá encontrou o homem com uma blusa cinzenta, calça preta, um boné preto e uma faixa sobre a boca de cor cinza. Karl então pegou um pequeno canivete e fez um corte na alça de sua mochila. De lá, retirou o chip, e entregou ao estranho. O estranho comentou:

– Sinceramente eu achava que eles seriam mais espertos. Da próxima vez acho que eles irão te acorrentar a algum lugar antes de deixá-lo solto por aí.

– Seria mais inteligente. – Comentou o bispo branco.

– Minha carona chegou. – E dito isso, o estranho saiu correndo em direção à calçada e subiu em uma moto, que estava sendo dirigida pelo mesmo ser que atingiu Kimberly na cabeça. O primeiro mini jogo havia sido vencido, e cada bispo retornou à mansão de seu mestre.

Clark aguardava ansiosamente, quando pouco tempo depois, ele recebeu uma mensagem que dizia: “Você foi derrotado em seu primeiro jogo. Até mais.” Clark se enfureceu sobremaneira, e arremessou seu celular na parede, fazendo-o em pedaços. Era apenas mais um aparelho, poderia comprar outros vários se quisesse. Os bispos pretos chegaram, e foram severamente punidos verbalmente por ele.

Hyden recebeu uma mensagem que dizia: “Você foi, contra todas as expectativas minhas, vitorioso nesse primeiro jogo. Parabéns.” Ele então parabenizou seus bispos quando chegaram e providenciou gelo para Kim assim que os bispos brancos chegaram à sua mansão. Hallerie se juntou aos três e comemorou a vitória de seu esposo em algo que ela nem sabia o que era.

– Chefe, você sabia como eram as roupas de quem receberia o chip. Como? Alguma das suas previsões estrategistas?

– De forma alguma. Foi apenas um chute. Pensei em cores que poderiam ser usadas para uma evasão rápida e não-identificável em uma noite no Delusion Gardens. Afinal, eu o projetei.

– Contudo, ao invés de cinza, a cor deveria então ser um verde muito escuro, não?

– Não. Durante uma fuga com perseguição, o verde seria mais fácil de ser encontrado, pois é difícil misturar o verde em uma paisagem de cidades. Entretanto, o cinza é uma ótima cor para evasões.

Após terminarem com a garrafa de vinho que haviam aberto, Kim e Karl deixaram a mansão de seu Presidente e foram para o apartamento dela. Karl a levou até seu apartamento e a ajudou com outra compressa de gelo por lá, e então resolveu voltar para casa. Ao que foi interceptado pelo pedido dela:

– Karl, fica aqui de novo? – Sua voz suave e com uma pequena amostra de dor o imobilizou e o fez retornar.

Antes de dormir, Hyden atirou-se em sua poltrona, já com seu pijama. Começou a lembrar de quando conheceu o estranho cinzento. Ele e Clark precisavam da ajuda de alguém que fosse capaz de pacificar o Delusion Gardens, e de alguma forma, eles acabaram sendo levados a esse mercenário. Porém ele era mais do que um simples mercenário. Era um hacker profissional, e andava sempre com um pequeno aparelho capaz de invadir e controlar todo e qualquer aparato eletrônico num raio de 5 quilômetros, um presente dado por Clark e Hyden a ele em pagamento por ter limpado a área da praça. Douglas, o hacker mercenário havia executado todos os bandidos que tinham uma pretensão por aquela área. E como a ambição não conhece limites, a polícia teve que ser surpreendida por dias em que seus computadores simplesmente eram tomados por uma tela negra com um endereço, onde os policiais encontravam os corpos de uma gangue inteira a cada vez. Diretamente, apesar de não ser seu objetivo, o hacker eliminou todas as gangues da cidade.

Em seu esconderijo, abaixo da terra e com múltiplas saídas para diversos pontos da cidade, o mercenário e a figura de preto testaram o chip em seu computador mestre. A informação desejada estava ali, perfeitamente. O trabalho fora completo, e seu objetivo alcançado mais uma vez. Douglas se jogou na cadeira quase como que deitado, e colocou as mãos atrás da cabeça, admirando a tela que veio a surgir, contendo tudo o que precisava no momento.


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