Xeque Mate escrita por Utopia49


Capítulo 3
Como dançar com o Caos.




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– Amor, com quem você tanto está trocando mensagens essa semana? – Perguntou a senhorita Hallerie sábado à noite.

– Nada, mensagens ocasionais com as pessoas. Por exemplo, agora o Khardin acabou de me mandar uma mensagem dizendo que conseguiu chamar a Kimberly para um encontro e que foi um sucesso, eles ficaram, essas coisas.

– Ai que fofinho! Você os juntou sem querer!

– Hallerie, eu não faço nada sem querer.

– Então você se acha um casamenteiro agora?

– Não. Mas não haveria nada mais previsível do que o Khardin chamá-la para sair. Já fazem alguns dias que estão trabalhando juntos, eles são do mesmo estilo, moram perto um do outro, é algo previsível.

– Ah entendi... mais um dos seus planejamentos... e como está indo o seu plano de mergulhar a empresa no caos?

– Está indo bem, eu suponho. Eles estão de fato engajados na tarefa de causar a discórdia e a desunião. E em breve, a desunião levará exatamente ao que eu já planejei, que levará a outra coisa muito óbvia e previsível.

– E o que seriam essas coisas? Desculpa, eu não penso como você – Comentou Hallerie rindo.

– Em um mês exatamente, se eles continuarem no ritmo de cizânia que estão criando no nosso ambiente de trabalho, os funcionários estarão mergulhados em um clima de raiva, não ainda ódio, mas raiva, e o trabalho em equipe será cada vez mais difícil de se realizar. As reuniões estarão terminando em discussões cada vez piores, e talvez um ou outro mais esquentadinho pedirão demissão. Pena deles. E em um mês exatamente, eu vou dar uma festa para todos os funcionários, com um bônus equivalente ao salário de um ano inteiro para aqueles que comparecerem. Mas até lá, a discórdia os seguirá, e enfim, um de meus agentes do caos iniciará uma guerra de comida por ordem minha, e como se fossem marionetes, eu conduzirei toda a noite depois desse acontecimento à uma grande reconciliação.

– Você é um sociopata, Hyden, sabe disso né? – Disse Hallerie rindo, e em seguida dando um beijo no rosto dele. – Mesmo assim ainda te amo. Mas se no fim de tudo você vai reconciliar a empresa em um mês, para que você queria causar o caos?

– Duas coisas: primeiro, deixa a vida um teco mais emocionante, faz com que a empresa não seja tão parada, entende? E em segundo lugar, eu gosto de sentir que estou no controle das coisas que acontecem nos meus domínios.

– Você tem que ser tão manipulador assim? Se eu não te conhecesse, eu teria medo de você – Disse ela rindo.

– Você teve medo de mim quando soube que eu era um mestre estrategista que controlava a vida de tudo que se colocava sob o meu comando?

– Não... belo argumento.

– Desculpe, eu sei que sou o melhor em argumentações. Eu já esperava que você tentasse levar a conversa para esse lado e já tinha programado um contra-ataque.

– Por quê você não vira um profeta logo? – Retrucou Hallerie.

– As pessoas precisam de esperança, não de alguém que lhes diga exatamente o que vão acabar fazendo. Eu não lhes daria esperança, lhes daria fatos.

– Mas talvez algum dos fatos trouxesse esperança. Quem sabe se algo previsível não é o que as pessoas precisam ouvir hoje em dia?

– As pessoas não precisam ouvir o que é óbvio, previsível. Além da esperança, as pessoas querem ser enganadas. Elas não querem realmente saber o que ocorre. Querem ser lideradas cegamente por uma ideologia ou um líder que saiba convencer as massas. Isso sempre acontece de tempo em tempo. Só não tenho a pretensão de me tornar um.

– Ai ai... às vezes eu acho que você se preocupa demais em ter tudo sob controle. Por quê não deixa o destino guiar um pouco a sua vida? Tem medo do que pode te trazer? Às vezes coisas boas também vêm de um improviso, e acho que sou prova viva de que o inesperado em sua vida pode ser bom.

– Não há destino escrito, Halley. Nós criamos e escrevemos a nossa própria história. Só é destino inalterável aquilo que já está no pretérito.

– E por isso você se acha no direito de controlar todos os passos de seu futuro?

– Acho e sei que posso. Eu seguro a caneta da minha vida. Se ponho um ponto final, ele pode ser o ponto final ou pode ser apenas o fim de uma sentença. Sempre há algo, mesmo que não escrito, após o ponto final.

– Humm... belas filosofias de vida. Boa noite Hyden. – Disse Hallerie, e então deu um beijo rápido e se levantou do sofá onde estava conversando com Hyden.

Hyden se levantou do sofá onde estava e se assentou em sua poltrona como se fosse um trono. Sentado em sua posição, como um rei, ele estava pensativo. Várias coisas haviam vindo à tona após aquela conversa. Estava realmente ele no controle de tudo o que acontecia? Aquela semana havia provado que ele ainda escrevia sua história, mas também havia provado o ponto de Hallerie que às vezes, segundo como pensou, “o destino pode adicionar suas notas de rodapé.” Milena foi um exemplo dessas notas de rodapé. Como ela apareceu assim do nada e ainda teve todo o seu efeito arrebatador que teve na época em que se amavam?

De fato, por um momento, mesmo sentado em sua poltrona como um imperador, ele não se sentiu mais como o ventríloquo, e sim como um marionete que tinha a pretensão de comandar outros marionetes. Lembrou-se de quando seu primo lhe ensinou a ser um mestre estrategista. Antes de tudo aquilo, Hyden era um mestre do improviso. Deixava que as coisas viessem e acontecessem, e ele procurava alguma forma de transformar aquilo em algo útil. E então seu primo o ensinou a dirigir o ônibus de sua vida e guiar para onde queria ir. Com o auxílio de antigos professores, conseguiu deixar de ser milionário e se tornar bilionário.

O mês passou de acordo com o prognóstico de Hyden, e ao fim dele, de fato, a situação estava caótica dentro da empresa. Em cada olhar, comentário, havia a cizânia que Hyden esperava haver. Tudo estava em seu perfeito lugar para que ele continuasse seu plano, mas a conversa que teve com Hallerie o assombrava em todo esse período. Quem sabe devesse passar a controlar apenas os seus próprios passos e parar de perseguir e controlar os passos alheios? Resolveu procurar uma segunda opinião, e chamou Khardin e Kimberly à sua sala.

Eles chegaram e se assentaram nas poltronas logo à frente de Hyden. Kimberly sentou-se como se fosse um trono, exatamente como Hyden. Ele estranhou, mas prosseguiu:

– Khardin, Kimberly, obrigado por poderem deixar o ambiente feliz de discórdia de vocês e virem até aqui na minha sala. Kimberly, adorei a posição. – Comentou Hyden.

– Obrigada, chefe. Adorei me sentar assim, me sinto uma diva – Respondeu Kimberly rindo.

– Enfim, chefe, o que precisa de nós? – Perguntou Khardin.

– Uma segunda e terceira opiniões.

– Você não era o mestre estrategista, que calculava e planejava todos os seus passos? – Disse Kimberly

– Kim, eu sou o mestre estrategista e observador-mor, mas isso não significa que eu não possa pedir uma opinião a meus súditos. Além disso, uma opinião não é uma ordem.

– Mas pode se tornar uma.

– Sagaz, minha aprendiz, mas não nesse caso. Eu vim questioná-los sobre algo que me perturba.

– O que seria?

– Recentemente, no sábado à noite, dois dias atrás, eu fiquei em dúvida se eu devo continuar escrevendo e controlando a história das outras pessoas ou se eu deveria planejar apenas meus passos. Chamei vocês para perguntar o que acham sobre isso, e talvez assim me ajudar a tomar uma decisão sobre o que devo fazer.

– Presidente, ter poder sobre a vida das pessoas é realmente uma grande responsabilidade. Desculpe não ser de muita ajuda nesse aspecto, mas eu acho que essa é uma decisão que você tem que tomar sozinho, com base em tudo o que você já fez. Acho que nossas opiniões deveriam ser irrelevantes nesse aspecto. – Respondeu Kimberly, com convicção do que dizia.

– Chefe, se eu ainda puder falar algo depois do que ela disse agradeço. Se bem que não vou falar tão bem quanto ela falou. – Khardin comentou levantando a mão direita.

– Sua ideia pode não parecer eloquente, mas pode ser de grande auxílio, Khardin. Prossiga.

– Olha chefe, eu tenho completa certeza de que você nos contratar, duas pessoas problema, sem ofensa, Kim, mas duas pessoas problemáticas que moram perto uma da outra no mesmo andar lado a lado e com habilidades caóticas não foi por acaso ou coincidência. Você tem algo em mente para nós. Seu plano já começou e está em andamento, seja qual ele for, e por enquanto ele se mostrou muito bom. Olha o que você fez com minha vida: você me deu um carro, um emprego, um carro, diversão no trabalho, um carro – e então Kimberly o cortou dizendo:

– Você já disse “um carro” três vezes.

– Eu sei, é que adorei o carro. – Respondeu Khardin.

– Entendi... Então está decidido. Não mudarei minha forma de ser. Continuarei sendo o mestre estrategista e observador, controlando a cada um como se fosse um grande ventríloquo. Obrigado por me ajudarem a decidir. E agora, vou contar-lhes o que vamos fazer senhores. Eu mandei que vocês causassem o caos porque queria uma razão para causar uma festa de união. Quero fortalecer as relações entre todos os membros da empresa, e vocês foram essenciais para isso. Faremos uma festa na qual todos que comparecerem irão receber o salário de um ano inteiro como um bônus. Incluindo vocês. E quarta-feira a noite, daqui a dois dias, eu lhes darei todos os detalhes do que iremos fazer.

– Ok senhor Presidente, como resolver fazer. – Respondeu Kimberly.

– Estão dispensados. Obrigado a ambos.

Kimberly e Khardin saíram da sala e entraram no elevador. Khardin então comentou:

– Desculpe ter anulado o seu discurso. Mas foi um belo discurso, bem apropriado para... sei lá, alguém realmente importante.

– Para de me bajular. Não servi de nada lá dentro. – Retrucou Kim chateada.

– Kim, não fica assim, você também vai ser ouvida alguma vez. – Tentou consertar Karl.

– Fica quieto Khardin. Cala a boca antes que piore a situação.

– Kimberly, não fica assim...

A porta do elevador se abriu e Kimberly saiu rápido pisando forte no chão, sem nem querer ouvir ou dar atenção para Khardin. Quando ele a segurou pelo braço, ela se virou e deu um olhar mortal a ele, como um ultimato de que se não soltasse seu braço ela o faria em pedaços. Khardin soltou o braço dela e ela saiu andando sozinha na frente e pediu um táxi. Não quis nem voltar para sua sala pra trabalhar e foi direto para casa. Do topo de sua sala, Hyden viu toda a cena e se jogou em sua poltrona, ajeitando-se como se fosse um trono, mas com uma evidente expressão de que tinha falhado em algo.

No restante do dia, Kimberly não falou mais com Khardin e na terça-feira quis ir para o trabalho em seu próprio carro sozinha. Expôs sua ira sobre os funcionários e esteve trancada em sua sala o dia todo. Khardin se estava triste em sua sala, e resolveu subir e passar a terça conversando com Hyden. Nem durante à noite Kimberly lhe dirigiu uma única palavra.

Quarta-feira de manhã. Os dois foram à sala de Hyden assim que chegaram. Kimberly se sentou em seu poltrona com sua pose de imperatriz e não dirigiu palavra alguma a Khardin. Apenas um rápido bom dia a Hyden e permaneceu em silêncio. Khardin já estava esperando na sala de Hyden, e mesmo sem ela ter lhe falado disse um rápido “bom dia Kim.” Hyden então se assentou e quebrou o silêncio que havia na sala.

– Hoje é o dia. Ou melhor, será a noite. Conto com vocês para o meu plano. Nesses papéis estão algo como se fossem roteiros de como serão a noite e do que vocês deverão fazer em cada horário. Não se atrasem e estejam com relógios. Tudo deve ser cronometrado para que possa dar certo.

– Obrigado chefe. – Khardin disse, e tomando as folhas de cima da mesa, se retirou rapidamente.

– Ele já foi? – Perguntou Kimberly após a porta do escritório se fechar.

– Sim, ele já foi, Kim.

– Acha que o plano está funcionando?

– Com toda a certeza. De fato, ele deve estar bem chateado e se sentindo com culpa. Viu como ele ainda tenta manter contato com você?

– Sim... Hyden, como você consegue prever tudo isso? Eu sei que você é um mestre estrategista, mas às vezes as estratégias saem do esperado!

– As coisas só saem do esperado se você não planejar já contando com o inesperado. Se você já fizer seus planos contando com o inesperado, o inesperado pode ser esperado. E então você saberá o que fazer se ele acontecer.

– Mas como você pensa em tanta coisa ao mesmo tempo, senhor Presidente?

– Apenas pegue o plano como você quer que seja. E então em toda intersecção que for importante, cause uma distorção ou um problema. E tente resolvê-lo. E depois pegue a intersecção já com uma falha e cause outro erro logo em seguida. E faça isso até que não haja situação na qual você não saiba como agir.

– Apenas? Detalhes, detalhes. – Comentou Kimberly sorrindo.

– Por quê de repente esse interesse todo? Já deveria ter se acostumado, a menos é claro que – Hyden foi interrompido.

– Que eu queira ser sua aprendiz. Eu não te daria o gosto de – Kimberly foi interrompida.

– Que eu pronunciasse. Eu sei, Kimberly.

– É, você sabe. Você sempre sabe, não é?

– Antes quero saber por quê quer se tornar uma mestra estrategista.

– Porque quero saber o que fazer. Eu já tenho uma atitude de fazer o que quero na hora que quero, sem me importar com o que os outros vão pensar. Mas pense como seria se além de eu poder fazer o que quero no momento que quero, as pessoas ainda agissem da exata forma que eu quero e espero? Eu teria controle sobre tudo e todos, seria mais que perfeito. Conseguiria o que eu precisasse.

– Você fala como uma sociopata, Kim. Acha mesmo que eu deveria te ensinar isso?

– Claro! Por quê não?

– Pense racionalmente. Acha mesmo que eu deveria te ensinar algo que vai te incentivar ainda mais a ser assim? Olhe o que já estamos fazendo com Khardin. É claro que está divertido, mas pense acabar como eu, observando, perseguindo e controlando todos ao meu redor. Tem certeza do que está pedindo? Uma vez que você aprender isso, vai acabar se tornando uma parte de você. Mais que um hábito, vai ser como um membro. Algo que você nunca mais vai conseguir deixar para trás.

– Quem não é sociopata, Hyden?

– 75% das pessoas. Só um chute, não é uma estatística. Eu acho.

– Eu esqueço que não existe argumento contra você.

– Sabendo disso, só me responda: ainda quer o que pediu?

– Sim, claro.

– Ótimo. Enfim, se comparar as páginas suas e do Karl, verá que são diferentes, totalmente diferentes. Não mostre as suas à ele. Há coisas muito diferentes e discrepantes e comandos e dicas para você.

– Para quê as dicas e comandos diferentes?

– Eu presumi que você iria querer ser minha aprendiz, não importa o que eu dissesse. Logo, aí estão algumas dicas. Todas as quintas-feiras à noite teremos uma vídeo conferência. Já pode sair ou fazer alguma pergunta.

– Quando você terminar de me ensinar eu vou ser como você?

– Possivelmente. Provavelmente. E espero que até mais do que eu.

– Embora eu ache impossível, mas se você diz...

– Kimberly, eu não sou Deus. Às vezes erro um ou outro cálculo.

– Essa é sua única diferença? – Perguntou Kimberly rindo.

– Eu também nunca criei uma árvore, morri por alguém ou nunca permiti que alguém conhecido tivesse pleno livre-arbítrio. E várias outras diferenças nesse âmbito, com a principal sendo que eu sou mortal.

– Tá né... será que se a Morte fosse um ser como desenham, visível e tal, você poderia enganá-la?

– Acho meio difícil criar um estratagema para escapar de algo que atravessa paredes e tem uma velocidade tão rápida quanto a própria luz. Casos como esse são os únicos que eu perco.

– Depois dessa vou até pra a minha sala me sentindo a maior perdedora do mundo.

– Um aprendiz é até se tornar o mestre. Até eu já fui, Kim.

– Quem te ensinou a ser um mestre estrategista?

– Meu primo... – Respondeu Hyden, nostálgico.

– Sabe onde ele está?

– Não faço a mínima ideia. Ele sempre foi livre. Nunca teve uma casa fixa e morava como um nômade nos hotéis mais caros do mundo, sem nunca se casar...

– Interessante. Até mais tarde, Presidente.

– Quando estivermos à sós, chame-me de mestre. Sou detalhista.

– Como quiser, mestre. – Respondeu Kimberly abrindo a porta.

– Você aprende rápido. – Respondeu Hyden enquanto ela saía.

A porta se fechou, e Hyden ficou sorrindo em sua mesa, sentado em sua poltrona com sua pose real, e abriu a gaveta. Olhou para o anel ali dentro, seus papéis, e então fechou a gaveta. Sentiu uma mensagem em seu celular, e checou o relógio. 8:08. Exatamente como nos velhos tempos. “Tenho uma proposta para você, Hyden. Sei que hoje dará uma festa. Vou aparecer apenas no final. E então conto minha proposta. Já lhe dou uma colher de chá: espero que tenha a confiança de 6 funcionários a ponto de que se necessário eles dessem a vida por você. A diversão está prestes a se iniciar, e uma borrasca vai chegar. Aquele que sucumbir não é o mestre. O desafio será lançado.”

Hyden ficou atrás da mesa. O que Clark estaria planejando agora? Pelas suas palavras, um de seus antigos alunos o desafiava para um duelo, e ele deveria escalar 6 pessoas de sua total confiança e que confiassem cegamente nele. E aparentemente, eles duelariam entre si, expresso em “se necessário eles dessem a vida por você” e em “borrasca”, a palavra que o próprio Hyden utilizava para se referir à Guerra Fria. Ou seja, um duelo de mentes e marionetes estava para acontecer pelo título de mestre estrategista supremo. Ou talvez ele apenas estava esperando demais de seu antigo sócio e amigo?

Enquanto esses pensamentos se remexiam em sua mente, Kimberly pensava consigo mesma se haveria alguma razão real para a recusa de Hyden em ensiná-la. Talvez algo deu errado em um passado com algum de seus aprendizes? E como ele faria para controlar toda uma festa? Ela checou as páginas que seu Presidente a havia dado, e se dedicou melhor à elas em sua sala. Notou algumas coisas circuladas, como se tivessem maior importância, e outras partes com comentários como: “Outra pessoa fará isso. Não faça! Já está planejado.” Quem seria a outra pessoa? A conclusão mais lógica seria supor que seriam partes de Khardin, mas às vezes parecia que haveriam mais pessoas no plano de Hyden para aquela festa.

A festa se iniciaria às 20 horas, mas Hyden por alguma razão havia requisitado que Khardin e Kimberly chegassem às 18 horas. Às 17 Kimberly mandou uma mensagem para Khardin perguntando: “Tá pronto?” Ao que foi respondida com “Não vou.” Kimberly jogou o celular na cama, e se levantou dela. Alguns minutos depois, o interfone da casa de Karl estava tocando, mas ele não quis atender. Segundos depois a campainha começou a tocar. Khardin se arrastou até a porta e a abriu, e Kimberly entrou sem dizer nada, e empurrou a porta.

– Como assim você não vai? Vai se arrumar agora Khardin! – Disse ela com um tom sério, mas sorrindo.

– Eu não vou... Não estou com vontade de ir... Eu estou chateado, nada a realmente se importar.

– Se eu não me importasse não tinha tido o trabalho de vir até aqui. Vai logo, se arruma, já são 17 horas!

– Se você se importa, por quê ficou daquele jeito comigo? E agora de repente você tá toda diferente, vido aqui, se importando ou fingindo se importar... por quê?

– Eu não estou fingindo. Eu me importo. Agora vai logo, te conto no fim da festa, prometo. Vai, se arruma. – Respondeu rápido Kim, empurrando levemente Karl para trás, indo na direção do quarto dele.

– Kimberly... eu realmente não estou afim... – Ele começou a tentar dizer, mas foi interrompido por um beijo dela. Ela segurava seu pescoço e seu rosto, e saiu do beijo com uma leve mordida, deixando uma sensação de “quero mais” nele.

– Vou te esperar na sala. E vamos no meu carro. – Disse Kimberly com um sorriso, saindo do quarto e fechando a porta após si.

Khardin agora estava totalmente confuso. Antes de começar a trocar de roupa correu e checou suas páginas atrás de algo que o ajudasse a entender o que estava acontecendo, mas não encontrou nenhuma pista proveniente de Hyden. Se arrumou e saiu do quarto, e contrariando todas as expectativas das pessoas normais, o casal de agentes do caos chegou ao lugar onde ocorreria a festa exatamente às 18 horas.

Kim e Karl entraram no ambiente que era como uma grande mansão, o salão de eventos de Hyden, que ficava fora da cidade. Um garçom que arrumava os alimentos em uma mesa em um dos vários cômodos os avisou de que Hyden estava em um quarto no andar de cima, subindo a escada e virando à direita, e então seguindo o corredor até o fim. Ali, no último quarto, o Presidente estava com mais quatro convidados. Eles estranharam o fato de que seu chefe não estaria os observando, e sim recluso a uma sala com outras quatro pessoas.

Kim foi na frente e quando tocou na maçaneta, Karl segurou levemente seu braço, ao que ela virou o rosto em sua direção e ele comentou com ela:

– Kim, o chefe sempre está observando ou quieto. Será que não é melhor nós não entrarmos nessa sala?

– Karl, somos inconsequentes e imprudentes, os agentes do caos. Se ele não nos quiser na sala, ele manda a gente sair, mas nada vai me impedir de entrar nessa sala.

Quem sabe os ventos do destino não teriam sido diferentes se Kimberly e Khardin não tivessem adentrado aquela sala. Mas entraram, e é isso que faz a história como é. E a história como aconteceu deve ser contada, não várias suposições de “E se..?” Kimberly e Khardin entraram na sala, e estavam lá Hyden, e outras quatro pessoas, como o garçom havia dito, sentadas. Todos eles estavam em poltronas negras, e Hyden era o único assentado com uma pose imperial, como de seu costume. Os dois novos integrantes da sala tomaram suas posições na rodinha feita com as poltronas, ocupando as duas últimas poltronas livres, e os quatro estranhos até então olharam com admiração e interesse para Kim, após ela sentar como se fosse uma rainha, prerrogativa na mente deles, digna apenas de seu Presidente. Hyden então tomou a palavra, quebrando o silêncio:

– Enfim senhores, chamei a vocês todos aqui para que me ajudassem a controlar e manipular os rumos da festa. Porém, como sabem, a festa se iniciará mais tarde, e tenho um tempo para conversar com vocês sobre um outro assunto que veio a tomar meu tempo e raciocínio.

– E o que seria esse assunto, Presidente geral? – Uma moça loira, de cabelos de tamanho médio e com olhos azuis escuros perguntou.

– Pela urgência de nossa convocação deve ser algo que o deixou preocupado, mestre. – Comentou um rapaz loiro, com cabelo que ia até pouco abaixo da linha do queixo, e também com olhos azuis escuros.

– Obrigado pela preocupação no assunto, Jack e Jackie. Sim, o assunto exige a urgência com a qual os chamei, se bem que não necessita de que vocês concordem cegamente. Envolve riscos, altos riscos, e por essa razão não sei se deveria de fato envolvê-los nisso. Portanto, após eu terminar de explicar, aquele que tiver vontade de se retirar poderá fazê-lo sem constrangimento algum, entendido?

– Entendido, mestre. Prossiga. – Respondeu Kim.

– Todos vocês aqui: Khardin e Kimberly, Jack e Jackie, Johnny, e Simon, são as seis pessoas nas quais mais confio no momento. E é por essa razão que pedi a ajuda de vocês. Meu ex-sócio e ex-aluno de estratégia, Clark Arauder, me mandou uma mensagem de texto convocando-me para um desafio. Após checar sua mensagem três vezes, compreendi o que estava escrito e o que estava nas entrelinhas. Clark me desafiou para um jogo estratégico com provavelmente mais de um desafio, no qual precisaremos ambos de seis pessoas de confiança que serão como nossos avatares, ou peões se preferirem assim, no campo. Ele fez isso para determinar qual de nós é o mestre ao final. E aparentemente, em algum ponto de seu desafio vidas serão perdidas acidentalmente ou eventualmente, propositalmente. Por isso, aquele que não quiser arriscar sua vida pode se retirar imediatamente da sala. Aos que permanecerem, darei mais detalhes baseado na segunda mensagem de texto que ele me enviou.

– Eu tenho uma dívida de vida com você, Presidente geral. Estou no jogo. – Respondeu em alto e bom som, com um sorriso um tanto quanto fanfarrão Johnny, um homem largo de alta estatura e que estava bem vestido com um terno preto e camisa social de coloração vinho.

– Eu não recuarei diante do perigo. Você sempre comanda tudo com destreza e perfeição, então tenho certeza que podemos sair vencedores desse desafio ao qual estamos convocados. – Respondeu Simon, um sujeito de estatura mediana, mas forte, e com um porte físico invejável.

– Não tenho palavras inteligentes pra dizer isso, mas tô nessa também! – Gritou Khardin, com um sorriso, mas depois se encolhendo com um pouco de vergonha diante dos olhares risonhos dos outros, inclusive de Kim.

– Como sua discípula, acho que isso pode me ajudar a aprender, certo Presidente? Estou de acordo. – Kimberly comentou.

– E vocês, Jack e Jackie? Vocês não se manifestaram ainda. Se quiserem podem renunciar e sair. Nada mudará.

– Senhor Presidente, - Jackie começou – Eu sei que você fala a todos que são família que não mencionemos nosso parentesco. Porém nesse caso, tenho que falar por mim e por Jack: Somos uma família. Pode contar conosco.

– Então, agora, já que todos vocês agora fazem parte do projeto, revelo-lhes o restante. Clark enviou-me uma segunda mensagem de texto, explicando que o jogo será contado como se fosse uma partida de xadrez. Ou seja, ele me disse que eu teria que nomeá-los como bispos, cavalos e torres, para que eu pudesse entender as metáforas do desafio. Eu nomeei previamente vocês, caso recusassem, a posição iria para quem aceitasse o desafio. Vocês estão por pares: Kim e Karl, Jack e Jacke, Johnny e Simon.

– O que somos, chefe? – Khardin interrompeu, curioso.

– Vocês são os bispos. Jacke e Jack, vocês são os cavalos. Johnny e Simon, vocês são torres. Dito isso, apenas temos que esperar o jogo se iniciar com as mensagens posteriores de Clark. Podem assumir desde já suas posições e treinar seu roteiro.

Os preparativos finais foram feitos, e tudo se desenvolveu na festa como Hyden desejava: os funcionários chegaram e o clima pesado de discórdia e ódio se instalou em poucos minutos, comentários soltos dos seis servos entre as rodinhas de funcionários causavam ainda mais discórdias e problemas, e haviam convidados que estavam tentando roubar comida antes do tempo liberado para que todos se servissem do buffet principal. Os petiscos haviam terminado – algo que parecia como se tivesse sido mal pensado, mas que era parte da estratégia. E então, sob a ordem de Hyden, que assistia a tudo sentado em uma cadeira no andar de cima, Jacke iniciou uma guerra de comida, pegando uma torta do buffet e deliberadamente atirando em uma mulher. A moça se sentiu profundamente insultada, e ao olhar para a direção de onde veio, Jacke apontou para um homem que estava ali perto. Enquanto todos riam dela, Jack jogou o vinho branco de sua taça em um homem que passava, e deixou rapidamente o copo na mão de uma convidada, distraindo a atenção de todos e criando mais risadas. Os atingidos pegaram os alimentos mais próximos e uma guerra se iniciou, com tamanho desperdício de alimentos que poderia ter alimentado as pessoas carentes da cidade por duas semanas, com alimentação farta para café-da-manhã, almoço e jantar durante todos os 14 dias. Hyden então desceu, e como estava no roteiro, Kimberly lhe acertou uma torta em seu rosto, o que acabou fazendo com que todos rissem. Entretanto, o olhar sério de reprovação feito por Hyden em seguida calou a todos. Então ele comentou:

– Senhores, tenho visto que nas últimas semanas tem havido um clima de cizânia em nossa empresa. Apesar disso, dei essa comemoração para tentar unir a todos vocês novamente e extrair o caos que estava se desenvolvendo em nossas empresas. E o que vejo aqui? Um bando de desperdiçadores atirando comida uns nos outros.

O silêncio tomava conta de todo o salão, enquanto apesar de estarem envergonhados, todos ainda mantinham o olhar em seu Presidente. Então, Hyden prosseguiu:

– Contudo, o que também vejo aqui? – Fez uma pausa e pegou uma taça de vinho tinto. – Vejo meus funcionários e gerentes divertindo-se juntos, exercitando seu sadismo em um clima de raiva, risos e, mesmo que superficialmente, uma união. – E então, erguendo a taça, Hyden disse em alto e bom som: - Um brinde a todos nós! À nossa união! E continuai vossa batalha! – E dito isso subiu as escadas apressadamente, porque seguindo o roteiro, Johnny, Simon e Jack atiravam comidas em sua direção.

A festa e a batalha duraram minutos intermináveis. E ao fim, restaram apenas os seis e Hyden, e a equipe de limpeza, constituída também por vários cães de rua que Hyden havia armazenado para que se alimentassem dos restos após essa festa. “Não foi de todo um desperdício”, pensava consigo mesmo. E eles já estavam por sair quando a porta se abriu e Clark e seis pessoas entraram.


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