POV Eric

O Beco Diagonal. Falaram-me tanto desse lugar, mas nada me preparou para o que vi. Parecia um mundo completamente diferente, era... lindo.

Mesmo depois de semanas vindo aqui todos os dias eu não me acostumara. Todos esses bruxos e bruxas correndo de uma loja para outra, abraçando-se quando reconheciam alguém, com seus animais de estimação (aquilo dentro da gaiola era realmente um SAPO?) e sempre com uma varinha na mão. Nunca havia visto nada parecido. Na verdade nunca havia visto qualquer outro bruxo até o dia em que aquele velhinho com uma roupa laranja fluorescente, chamado Dumbledore, visitara-me no orfanato.

Achei bem estranho, porque, em 15 anos, ninguém nunca me visitara antes.

Demorou um pouco para aquele senhor conseguir finalmente me explicar: eu sou um bruxo. Tudo naquele momento fez sentido, todos os inexplicáveis incidentes que aconteciam comigo desde os meus 11 anos (alguns inclusive envolvendo tesouras e outros objetos pontudos, mas só deixando claro que eu não tinha controle sobre o que acontecia)

Controle. Era isso o que Dumbledore estava me oferecendo. Uma vaga em Hogwarts, uma escola de bruxaria onde me ensinariam a controlar o meu poder. Um lugar onde eu não me sentiria deslocado, uma aberração. Um lugar que eu poderia chamar de lar.

Naquela mesma noite, ele tirara-me do orfanato e hospedara-me em um hotel no Beco Diagonal, com todas as instruções e informações que eu precisaria, como a minha lista de materiais e algum dinheiro. Quando tentei recusar ele apenas sorriu.

– Não estou dando isso pra você, meu jovem. Nós, em Hogwarts, temos um sistema para podermos ajudar crianças como você – abri a boca para dizer que não sou mais uma criança, mas Dumbledore levantou um dedo, calando-me – Orfãos trabalham em Hogwarts alem de estudar, ajudando em coisas simples como na cozinha, ou na biblioteca. Aceite isso apenas como um pagamento adiantado... Alias, assim que chegar na escola procure pela Professora Minerva McGonagall, ela o levará até a mim para o meu escritório, o Chapéu seletor irá indicar a qual casa você pertence...

Ele já havia me explicado tudo sobre Hogwarts, e me avisado sobre as aulas extras que eu teria para repor meus quatro anos perdidos. Mas eu não me importava, eu faria qualquer coisa que mandassem, faria qualquer coisa para ter esse novo começo.

E hoje, finalmente chegara o dia. Eu já estava na King’s Cross com todos os meus pertences (que não eram muitos) e minha passagem em mãos. Dumbledore havia me ensinado o que eu deveria fazer para chegar a plataforma 9 ¾ e apenas para ter certeza que eu não iria me atrasar, cheguei a estação duas horas antes do horário.

Mas no momento em que atravessei a parede entre os números 9 e 10 ali estava o trem, bem na minha frente. Era o trem mais lindo que já vira em toda minha vida, o Hogwarts Express.

Obviamente fui o primeiro a entrar, então pude escolher qualquer cabine que eu quisesse. Sentei-me bem na do centro, os lugares do fundo são sempre os mais disputados e eu não queria entrar em uma briga antes mesmo de chegar a escola.

Não me lembro de ter dormido, apenas me lembro de ter acordado com o trem já em movimento, com uma menina de cabelos castanhos cacheados batendo na porta. Dois meninos estavam atrás.

– Com licença, o resto do trem está cheio, se importa de nos sentarmos aqui? – a menina sorriu

Sorri de volta para ela

– Claro, entrem!

– Obrigada – respondeu ela e os outros dois garotos, após entrarem – Oi, eu sou Hermione Granger, esse aqui – disse ela apontando para o ruivo de cara emburrado – é o Ron, e esse é o Harry. Harry Potter. – olhei para o moreno de óculos que acenou sorrindo para mim. Notei uma cicatriz em sua testa, mas aquilo provavelmente não era nada.

– Prazer em conhecê-los. Eu sou Eric Moyer.

Lembre-se de quem você é, querido.. Não se esqueça do motivo de você estar indo para essa escola, não se esqueça da sua missão..

A familiar voz entrou em sua mente e rapidamente apagou o sorriso de seu rosto.

Ele não se esqueceria.

Pelo menos tentaria não esquecer.

–-----------------------------

POV Hermione

Eric calara-se de repente. Tentei puxar assunto, perguntando de onde ele fora transferido, mas aparentemente o garoto havia dormido. E como Ron e Harry estavam comentando Quadribol nem tentei entrar na conversa.

Olhando para a paisagem passando rapidamente pela janela meus pensamentos voltaram-se a ele..

Tudo parecia um sonho. Os beijos, seus braços me segurando pela cintura, meus dedos enroscados em seus cabelos ruivos... Mas todo sonho chega ao fim, e o meu chegou logo na manhã seguinte.

Antes de descer para ouvir o sermão de sua mãe, Fred e eu conversamos enquanto nos vestimos.

– Olha Hermione, sinto muito por tudo, serio mesmo... Eu estava mal e você também estava e foi bom – ele olhou para baixo enquanto colocava a calça e deu seu sorriso torto – muito bom... Mas você entende não é? Foi só isso, só uma noite...

– Claro Fred, só uma noite – dei um sorriso também, não me importando.

E naquele momento eu realmente não me importei. Estava zangada e chateada com Ron, e Fred conseguira me confortar, pelo menos por uma noite.

Mas o resto da semana passou e eu não conseguira parar de pensar nele. No seu sorriso, na piscada que ele me deu discretamente quando Ron começara a vomitar repentinamente dois dias depois da festa. E, principalmente, na coragem que ele teve em enfrentar a Molly sozinho, assumindo toda a culpa pelo bolo e tudo mais.

Mas agora eu estava indo para Hogwarts. Não o veria durante todo o ano, com certeza esses sentimentos iriam passar...

– Hermione? – Harry me cutucou com o polegar, rindo – Você ta bem?

Olhei em volta e Ron havia sumido, o garoto Eric realmente estava dormindo (até babando) e Harry estava do meu lado com um olhar divertido no rosto.

– Te chamei tipo umas dez mil vezes já, que que ta acontecendo?

– Como assim? Não ta acontecendo nada Harry...

– Ah Mione, me poupe. Eu te conheço, sei que você não ta bem. E sei também que envolve o Ron..

– Quê?? Por que você acha isso? Merlim, você ta louco Harry!

– Hmm, boa tentativa, mas comigo isso não vai colar. Da pra sentir a tensão entre vocês dois há quilômetros de distancia! – dei um pequeno risinho quando ele disse isso – Vamos, me conte. Juro que não conto pra ninguém, nem pra Edwiges, muito menos pro Ron! –olhei nervosa para a porta, com medo do ruivo entrar a qualquer momento. Harry percebeu, pois rapidamente acrescentou – Ele foi na cabine de Neville e os outros garotos, Mione, não vai voltar pra cá..

– Ué, e por que você não foi com ele? – perguntei, surpresa.

– Porque minha amiga aqui precisava de mim – ele disse dando um soquinho em meu ombro, rindo.

Sorri para ele, que ficou me olhando, esperando.

Eu podia confiar nele. Era meu melhor amigo no mundo inteiro, se tivesse uma pessoa em quem eu poderia contar o que acontecera, essa pessoa era Harry.

Respirei fundo e comecei a falar, tudo de uma vez (inclusive o que eu estava pensando há pouco tempo).

Quando acabei Harry não disse nada. Não gritou comigo nem me bateu e me xingou, ele apenas me abraçou e limpou as minhas lagrimas que eu nem percebera que deixara cair.

Harry deu um beijo na minha cabeça e sussurrou – Tudo vai ficar bem, Mione – bem baixinho no meu ouvido.

Nesse momento percebi o que eu estava precisando desde aquela noite: um amigo. Apenas um amigo para desabafar.

Pensei ter ouvido Eric falando algo, mas Harry não se mexeu, continuou me abraçando, então ignorei.

Era, provavelmente, só mais uma coisa da minha cabeça.