Eu achei a Rin. Na verdade, o Shippou a achou primeiro. Mas ele não se revelou, então, curioso, fiquei quieto atrás dele. Ele estava parado observando um ensaio. Um ensaio da minha irmã com o que pareciam ser suas colegas de turma. Estávamos dentro de uma sala, de frente para um vidro que conseguíamos ver através, mas que deveria ser um espelho por dentro, porque Rin nem se abalou quando eu entrei na sala. Era como um estúdio de áudio: tinha o vidro e outra porta na mesma parede, como se da parede para lá fosse outra sala, destinada somente aos artistas.

– Meninas, vamos passar só mais uma vez, ok? Só mais uma vez e então corremos para o espetáculo das professoras. Ainda temos dez minutos e estamos perto do anfiteatro. – disse minha irmã, pegando um controle.

– Rin, você se preocupa demais. É só uma coreografia de apresentação. Os professores só querem saber o estilo que escolhemos como próprio, só isso. – disse uma das meninas, parecendo exausta.

– “Só isso” vai definir todo o nosso curso. Eles irão anotar em nossas fichas quais aulas devemos tomar e quais pesarão mais em nosso boletim. Se apresentarmos de um jeito que eles não gostem, é capaz de mandar com que façamos todas as matérias. – ela disse, com o semblante de uma pessoa séria.

Nossa. Eu nunca tinha visto minha irmã tão séria ou tão interessada em alguma coisa. Todos nós, irmãos Taisho, somos bons em finanças e administração. É nosso emprego. Mas a Rin sempre foi muito inquieta para ser uma executiva. Agora eu entendi por que. Ela nunca tinha tido coragem de falar, já que é adotada, mas... Esse era o seu sonho. E não assumir a companhia do papai. Ela nem sequer queria o nosso dinheiro. Sorri, orgulhoso da minha irmã mais nova.

– Tudo bem. – suspirou a garota cansada – Só mais uma vez.

Rin sorriu e apertou o botão do controle, o guardando com pressa em sua própria legging, que parecia ter um bolso. Quando ela começou a sua coreografia, cantando ao mesmo tempo, tenho que admitir que fiquei admirado. Não tinha ideia de quanto jeito ela levava para essa história de dança. Agora entendi porque ela não acompanhava as garotas: enquanto Kagome dançava com ousadia e era uma revolucionária, Rin preferia se manter no básico, seguindo as tradições e tendo movimentos leves. Quando ela acabou, esqueci que estava numa sala com o Shippou e que minha irmã não podia me ver. Bati palmas, todo orgulhoso.

– Taisho? – Shippou parecia surpreso – O que está fazendo aqui?

– Vendo minha irmã dançar. O que está fazendo aqui? – usei minha voz calma.

– Só estava... – ele corou, coçando a nuca e dando mais uma espiada no vidro.

– Não se preocupe. Não vou te dedurar para ela. Nem para o meu irmão. Nem para o meu pai. Nem para a Kagome. Nem para os pretendentes dela. Nem... – comecei a lista, querendo pirraçá-lo.

– É muita gente. – Shippou pareceu surpreso.

– É o que você ganha por correr atrás de uma garota bonita. – dei de ombros – E ainda mais de uma garota bonita e rica.

– Eu não ligo para quanto dinheiro ela tem. Nem para a aparência dela. – ele corou ainda mais, parecendo incomodado.

– Sesshoumaru? – perguntou Rin, abrindo a porta que separava as duas salas.

– Yo, irmãzinha. – assenti com um sorriso travesso.

– Você está aprontando de novo, não é? – ela revirou os olhos e sorriu para Shippou – Ele gosta de pirraçar as pessoas. Não deixe que o amedronte, tá?

Shippou assentiu e nós seguimos a Rin enquanto ela ia à frente, guardando algumas coisas na bolsa. Quando ela estava longe o suficiente, inclinei-me para sussurrar na orelha de Shippou.

– Sobre a lista de pessoas, eu não estava brincando. – avisei.

Ele ficou meio pálido depois disso, mas não pude deixar de me divertir. É legal implicar com as pessoas às vezes. Tinha esquecido como era bom fazer isso, não pirraçava ninguém faz algum tempo já. Quando entramos no anfiteatro, mais uma vez me deixei surpreender com a qualidade do lugar que era mantido pelo Estado. Uma vez surpreso, acompanhei minha irmã para um lugar mais ou menos no meio da platéia, sentando entre ela e Shippou. Não pude conter essa pequena pirraça.

– Bem-vindos, alunos e visitantes. – começou Erin em um traje esquisito, no palco, com um microfone preso à sua orelha – Nós somos o novo corpo docente da Academia. Peço sua atenção para que identifique seus professores e escolham, quando já estiverem em idade, sua ou seu sensei que será sua influência e crítica. Aquela que for escolhida irá redigir uma carta de recomendação, ou não, para uma companhia de dança de sua escolha. Eu sou Erin, e sou professora de Ballet Clássico e de Ballet Fitness.

– Eu sou Ayame. – disse uma ruiva – E serei sua professora de Dança de Salão e de Dança do Ventre.

– Eu sou Misaki. – disse uma morena de cabelos curtos – Ensinarei Dança Flamenca, Jazz e Pilates, para aqueles que necessitarem.

– Eu sou Kagome. – disse a minha namorada, linda como sempre, com seus cabelos longos e soltos – Ensinarei Dança Contemporânea e Canto.

Ah, então é isso que ela ensina. Não me parece muito complicado.

– Eu sou Houjo. – ele se anunciou.

Ele piscou, fazendo as meninas se abanarem ou gritarem ou ainda soltarem ruídos de engasgo. Para o meu orgulho, Rin não pareceu interessada nele no geral. Ela se manteve impassível.

– Ensinarei Sapateado, Street Dance e Técnicas Teatrais. Estou ansioso para recebê-los em minhas aulas! – ele sorriu e acenou.

– Ele é um saco. – murmurou Rin – E isso é uma merda, considerando que ele ensina Técnicas Teatrais. – eu a encarei, confuso – É matéria obrigatória, assim como Dança Contemporânea e Pilates. Não importa qual o estilo que escolhemos, temos que saber esses três, porque são os fundamentos de todos os tipos de dança.

Assenti e então me virei para observar. Pelo que parecia, estavam todos indo aos seus lugares para começar o espetáculo. Não fiquei muito feliz ao ver Kagome junto com Houjo, e muito mais incomodado quando eles começaram a fazer a coreografia. Tudo bem que minha namorada estava dançando e cantando, linda como sempre, mas a droga da coreografia exigir que Houjo ficasse perto dela. Perto demais por tempo demais. Quase arranquei o braço da cadeira em que estava sentado quando ele se atreveu a sorrir ao passar a mão pelo corpo da minha namorada.

– Realmente, é isso que se consegue por querer uma garota bonita. – murmurou Shippou para mim.

– Não fale comigo. Estou com tanta raiva que te deixaria aleijado. – rosnei em resposta.

Ele se manteve calado pelo resto do espetáculo. Quando tudo acabou, aplaudimos, Erin deu o horário geral, que seria posteriormente mudado, sendo ajustado para cada aluno, e o auditório foi se esvaziando. Eu continuei no meu lugar até que Rin se levantou e me puxou.

– Vamos. Kagome deve estar no camarim atrás do palco. – ela sorriu.

Eu suspirei, indo atrás da minha irmã. Ela tomou seu caminho e eu a seguia enquanto respirava fundo e tentava me acalmar. Mas é cada uma, por que ela tinha que fazer a coreografia com ele? Por que com ele? Poderia ser qualquer outro dos idiotas que se acham gostosos. Mas não, tinha que ser com ele. Meu sangue estava fervendo e eu tinha que me acalmar. Se Kagome me visse nesse estado, eu levaria uma bronca daquelas e perderia pontos que eu tenho me esforçado para conseguir. Quando finalmente chegamos ao tal camarim, Rin bateu na porta, parecendo entusiasmada. Houjo então saiu, ainda com seu figurino, exibindo um sorriso ensaiado.

– Menina Rin. – ele a cumprimentou.

– Houjo-sensei. – ela fez uma pequena reverência – Onde está Kagome-sensei?

– Ah, ela está se trocando. – ele disse, parecendo um tanto decepcionado com a reação de Rin e ao ver eu e Shippou.

– Avise a ela, por favor, que estaremos a esperando aqui fora. – disse Rin.

– Claro, ovelhinha. – ele sorriu, piscou para ela e fechou a porta.

– Professor tarado e idiota. – sussurrou Rin enquanto se afastava da porta.

– Cuide-se perto desse homem. – falei, cruzando os braços, já no limite da paciência.

– Não se preocupe. – ela me lançou um sorriso maléfico – Sou uma Taisho, afinal de contas.

Eu retribuí o sorriso e assenti como quem dizia “Boa garota”. Ela então riu e se recostou na parede. Ficamos alguns minutos assim até que Shippou suspirou e foi ficar ao lado dela. Eles encaravam a porta do camarim. Será possível que Kagome esteja demorando tanto? Já se passaram mais ou menos meia hora. Então, a porta se abriu e Erin saiu. Ela nos viu ali e voltou, gritando Kagome. Em segundos, minha namorada apareceu, já completamente vestida e arrumada.

– Vocês demoraram. – ela comentou com um sorriso.

Eu mato aquele verme.