“Leve uma vida normal”, “leve o tempo que precisar para se adaptar novamente”, “tente se divertir”, “tente esquecer tudo” eram as coisas que eu estava me acostumando de ouvir de minha mãe e minha psicóloga. No entanto, também ouvia com uma frequência maior ainda “essa vadia deveria ter morrido também”, “tente se lembrar do que houve”, “tente remontar aquele dia” vindo de diversas pessoas, como o time de investigação da policia, a família das vitimas e claro, os calouros da minha escola que eu acabava encontrando na rua. Isso não me incomoda, Dário.

O que me incomoda de verdade, é que eu sinto que não quero ir ao hospital ver os outros dois “sobreviventes” – este é o termo que usam quando se referem a algum de nós -, talvez seja porque eu não era amiga deles, mas a pressão que minha psicóloga está me fazendo vai me deixar louca. Ao que parece, Dário, se eu ficar com eles, minha memória pode voltar aos poucos. Sabe, aquela coisa de “reviver” as lembranças, o que pra mim me parece pura bobagem.

Você não conhece eles, me desculpe. Vamos falar da Hanna, primeiro, até porque o garoto que esta em coma ainda, mas é aquele tipo de coma induzido, porque ao que me parece, ele teve que fazer uma operação de transfusão de órgãos e bom, é isso. Não entendo completamente como isso funciona. Enfim, mas a Hanna, ela acordou já, só não saiu do hospital ainda. Não acho que a família dela deixou os policias a interrogarem. Aposto!

Hanna fazia parte de um grupo de garotas da minha sala do qual eu não me dava bem. Digamos que competíamos por influencia. Nossos pais são concorrentes de partido e consequentemente somos concorrentes de popularidade. Além, de ser uma loira oxigenada, que se sentia onde quer que passasse e que ainda teve a ousadia de sair com o Lay, que era meu namorado.

Desculpe, Dário, o dia passou rápido e não pude terminar de escrever. Mas isso não tem importância por agora. Até porque, foi “decidido” – fui obrigada pela minha mãe – a ver Hanna amanhã. Acho que posso esperar grandes coisas sobre isso, até porque, tenho a impressão que ela tem algo a ver com o fato de Emily ter matado (eu acho) seu professor/amante. Sinto falta da Emily, e nem sei o que houve exatamente com ela.