O segredo do diário. escrita por Mika


Capítulo 2
Cap. II.




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Olá, Dário, novamente Sansa (a psicóloga, lembra?) me mostrou várias fotos dos alunos que eram da minha sala. Alguns eu não conhecia, não sabia quem eram ou qual minha relação com eles. Outros eu já não podia dizer o mesmo, eu os conhecia desde o jardim de infância. Era difícil olhar para fotos deles e saber que não estavam mais aqui.

Na verdade, devo admitir algo. Eu me senti aliviada por alguns não estarem mais entre os vivos. Ouso dizer que mereciam o fim que tiveram, seja qual for o fim que tiveram.

Jessica Ellis.

Ela era o tópico de hoje com Sansa. Ao que tudo indica pela polícia, ela foi a primeira vítima.

Segundo os relatórios da polícia, “Jessica Ellis, sofreu estrupo e morreu logo depois com um corte feito na garganta por algum tipo de faca...”, não prestei tanta atenção no resto.

Depois de uma longa hora falando com Sansa, eu podia notar que ela já estava exausta de não conseguir respostas. Seus olhos cor de âmbar já demostravam cansaço, e ela ficava trocando sempre o braço de posição. Ela então decidiu que iria me mostrar um vídeo que a policia conseguiu sobre a morte de Jessica.

Sansa parecia contrariada por querer me mostrar o vídeo, acho que a polícia a estava pressionando. Ela apenas disse “se achar muito chocante, eu paro, não se preocupe, você não é obrigada a ver isso por inteiro, nem a família dela conseguiu...”, e assim suas palavras morreram e ela começava a remexer no cabelo ruivo enquanto me mostrava o vídeo em seu notebook.

Pude notar pela data que o vídeo era gravado de uma loja de eletrônicos que ficava em um beco e algumas semanas antes do massacre no colégio. Eu conhecia esse caminho, era um atalho para chegar mais rápido ao colégio, também já havia usado uma ou duas vezes no 2º colegial (entre outras coisas, haha).

Jessica estava com uma touca de pelos que cobria seus cabelos claros, ela havia parado bem em frente a loja, que já estava fechado com o horário. Eram 03:15 da manhã. Pelo visto ela não estava voltando do colégio, Sansa comentou isso logo depois. Acho que na verdade, Sansa estava testando meu senso, me mostrando algo que eu imagino que será forte para que eu me lembre das cenas que vi no dia do massacre. Fazia sentido.

Pouco depois de Jessica ficar parada, um homem chegou, disse algumas palavras à ela e entregou algo que não dava para ver direito e depois foi embora. Ela desembrulhou o pacote, sentou no chão, colocou seu caderno em seu colo e fez uma carreirinha com o conteúdo do pacote. Depois o cheirou e fitava o céu. Dava para ver seus olhos claros visando o nada. Visando o prazer que ela parecia sentir. Então, alguns minutos depois, ela já parecia alterada. Outro homem apareceu, mas não dava para ver quem era, ou que aparência tinha, apenas se via sua touca preta e suas roupas pretas. Ele disse algumas palavras a ela, enquanto ela o fitava sem nada dizer. Então, ela se levantou e começou a beija-lo. Beijava-o loucamente. Podia se ver suas mãos perambulando pelo corpo do rapaz, enquanto ele a empurrava para a parede mais e mais forte.

Sansa me fitava como quem estava dizendo “o pior ainda está por vir”.

O vídeo ainda estava passando, eu não tinha certeza se queria ver Jessica transando com um cara em um beco, nem era amiga dela (que eu me lembre). Mas o estranho era que haviam dito que ela havia sofrido estrupo, mas ela não parecia ligar do cara a levantar para cima e para baixo enquanto algo que parecia seu pênis penetrar por baixo de seu vestido bege. Foi então que eu notei que ela começava a empurrar o cara para traz, como se quisesse que ele parasse. “Não se para no meio do caminho, até eu sei disso, Jessica”, pensei. Ele a forçava a chupa-lo e depois ele a puxou pelos cabelos gritando com ela, eu só consegui distinguir ela falando: “...por favor, já fiz o que pedi, nosso acordo acabou!”. Não faço ideia que tipo de acordo era esse e acho que nem a polícia deve fazer. Sansa me olhava cuidadosamente enquanto eu analisava o vídeo. Jessica já estava no chão, gritando enquanto o homem ficava em cima dela, como um animal, com uma mão puxava seus cabelos e segurava uma faca, a outra mão, puxava a garota para se encaixar à ele. Parecia horrível, sentia náuseas, mas ao mesmo tempo, lá no fundo, eu estava sorrindo, não é estranho, Dário?

A tampa no notebook se abaixou, parecia que Sansa não queria que eu terminasse de ver, enquanto perguntava se isso não me lembrava de nada. Eu apenas negava com a cabeça e mantinha meus olhos fechados. Sabe, Dário, eu me lembro de ter brigado com Jessica, não lembro quando ou por quê, mas me lembro de discutir com ela, mas sei que isso era cruel demais.

Voltei para casa logo depois. Ficar no meu quarto me parece o único lugar onde posso me acalmar, onde minhas dores de cabeça não me abalavam. O problema era que meus pais não falavam comigo desde que acordei do coma. A única conversa que tive com minha mãe, ela havia me dito que por minha causa, eu havia criado problemas ao meu pai, que trabalha no governo. Ao que parece, enquanto estava em coma surgiam comentários sobre eu ter usado drogas no dia do massacre. Haviam drogas em meu sangue. Meu pai tentou fortemente dizer que haviam me drogado no dia, mas como havia sido um incidente de grande escala, ele não havia conseguido parar os boatos que “a filha de um membro do partido tal usava drogas” e blá.

Nunca estive tão sozinha em toda minha vida...só tenho você, Dário, quanta ironia, não?

Dário, são 5h da manhã. Tive um pesadelo novamente. Emily Parker estava nele. Minha melhor amiga. Ou era.

No sonho, ela estava falando comigo sobre a festa que teríamos na época, logo após as aulas. Seus cabelos lisos e pretos estavam voando com a leve brisa que passava. Ela sorria. Eu amava quando ela sorria. De repente, Emy estava em cima de um de nossos professores, Senhor Myers. Eu sempre soube que ela dormia com ele para passar de ano e ele lhe recomendar para uma boa universidade quando acabasse o ano, mas ela estava coberta de sangue. Gritando enquanto enfiava algo em sua boca. Havia sangue por todo o lado. Foi quando acordei chorando, Emy estava morta.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e comente...^^



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