Oliver ficou boquiaberto. O carvalho havia acabado de falar.

— O que está esperando? Aproxime-se — Repetiu o carvalho.

Oliver colocou os pés no lago e a água ia até um pouco acima dos seus joelhos. Os peixes começaram a brincar em volta de suas pernas até que ele começou a andar em direção ao Velho Carvalho. Ao aproximar-se, Oliver sentou-se e a água foi até quase seus ombros. Os peixinhos brincavam com a cauda dele enquanto ele olhava atentamente para o carvalho.

— Então, deve ter um bom motivo para estar aqui. Não é qualquer criatura que pode atravessar a minha barreira e entrar neste lago.

— Do que está falando? Eu não atravessei nenhuma barreira, só ouvi falar que aqueles que podem encontrar você tem um motivo ou alguma dúvida.

— Você atravessou, apenas não percebeu — Disse o carvalho — apenas criaturas de bom coração e alma pura podem ultrapassar a barreira e entrar neste lago. Para criaturas perversas, a água deste lago é um veneno, pois é feito do sangue de Odgin.

— Quem é esse Odgin? — perguntou Oliver.

— Tudo a seu tempo, criança. — Respondeu o carvalho — Sei que está aqui porque tem muitas perguntas, mas começarei pelo passado. Não somente o seu passado, mas o passado de tudo.

Oliver assentiu.

— A milhões de anos, existia a raça da qual você é descendente: os seres humanos. Eles estavam destruindo a terra pouco a pouco e todas as criaturas mágicas já não tinham mais onde se esconder. Então Odgin, com sua grande bondade, criou o Incidente da Primeira Noite do Mês, pois ele sabia que algo de ruim aconteceria com a humanidade em breve. Entã-

— Não queria interromper, mas o que é o Incidente da Primeira Noite do Mês? — perguntou Oliver.

— O líder de sua alcateia nunca te contou, criança?

— Não. Na verdade, os lobos quase não contam coisas. — Respondeu Oliver.

— Estranho. Os lobos de sua própria alcateia deveriam cuidar dos ensinamentos de seus membros. — Falou o carvalho — Mas, continuando, o Incidente da Primeira Noite do Mês é quando todos os animais se transformam em meio humanos. Foi assim que sua mãe teve você e foi assim que se iniciou não somente a raça dos meio-lobos, mas todas as criaturas meio-animais.

— Sei. Continue. — Falou Oliver.

— Quando o Incidente aconteceu pela primeira vez, os animais podiam circular normalmente entre os humanos, desde que escondessem suas orelhas e suas caudas, se tivessem. Foi nessa noite que várias fêmeas engravidaram de humanos e várias humanas engravidaram de animais. Logo depois do sexto mês do incidente e depois que todos os animais haviam pegado seus filhotes no mundo humano, uma doença assolou a humanidade. Os curandeiros deles não acharam uma cura, então mais e mais humanos morriam em grande massa. A doença era contagiosa, então se espalhou rapidamente por todo o planeta.

O carvalho fez uma pausa e Oliver ficou encarando.

— Depois disso, Odgin caminhou por todo o planeta. Trouxe todas as plantas de volta pouco a pouco. Odgin é uma criatura divina que permite que você faça uma escolha quando chega aos 20 anos.

— Que escolha? — Perguntou Oliver.

— Isso você descobrirá em breve. — Respondeu o carvalho.

Oliver pareceu ficar curioso, porém o carvalho não podia contar-lhes a verdade. Ele teria que descobrir sozinho.

— Como os humanos eram? — Voltou a perguntar Oliver.

— Eles eram bem parecidos com você, mas isso é evidente, já que você é descendente deles. Ao invés de orelhas de animal e uma cauda, eles tinham orelhas diferentes e não possuíam uma cauda.

— Que estranho. Mas e a Grande Guerra, como foi?

— A Grande Guerra aconteceu quando as raças lutaram para decidir qual a raça que dominaria o planeta. Os lobos gigantes ganharam claro, são grandes predadores, mas quando eles venceram, as quatro grandes alcateias começaram a lutar para decidir qual delas era a mais forte. Depois de vários meses de guerra, os líderes decidiram entrar em um acordo. Cada alcateia teria seu lugar, porém nenhum lobo de uma alcateia diferente poderia entrar em um território diferente. Mas posso sentir em minhas raízes que outra guerra está por vir e a causa será uma amizade pura.

— Uma amizade? — Perguntou Oliver.

— Sim. Além disso, alguns em que você confia vão se mostrar traiçoeiros e aqueles que você pensava que não podia confiar vão se mostrar os mais leais. Fique de olhos abertos, Oliver.

De repente, o carvalho sumiu e Oliver estava sentado em cima de uma pedra. O lago, os peixes, tudo sumira. Ele ficou confuso, pois ainda tinha várias perguntas e o mais importante: como aquele carvalho sabia seu nome?

Oliver tentou procurar a clareira novamente, mas sem sucesso. Ele tentou caçar para esquecer sua conversa com o carvalho e mesmo conseguindo pegar três grandes alces, não conseguiu esquecer o carvalho. Decidiu ir visitar Melody, sua única amiga. Ela era uma sereia e, por isso, quase nunca a via. Quando chegou à praia, ela estava deitada em cima de uma pedra e um sorriso surgiu em seu rosto quando viu Oliver. Melody tinha uma cauda cor de rosa e sua pele era levemente esverdeada.

— Oliver. O que o traz aqui? — Falou ela.

— Só vim fazer uma visita, já que saí para minha primeira caça hoje.

— Vejo que teve sucesso. — Disse ela, olhando para os três alces que Oliver carregava presos por um cipó.

— Sim. Bom, estou com pressa. Blake vai ficar bravo se eu não voltar logo. Até mais.

— Até logo, Oliver. — Disse ela acenando.

Oliver decidiu passar no Vale das Pedras novamente, mas chegando lá não encontrou sua mãe. Ele presumiu que ela devia ter saído para caçar. Ele ia virar as costas, mas então viu uma pedra se mover, então largou os alces e decidiu ir olhar mais de perto. Quando se aproximou, a pedra se moveu rapidamente e alguma coisa saiu de dentro do buraco que havia se aberto. A coisa foi em direção a Oliver e o derrubou, mas ele o arranhou e a coisa se afastou, mas em seguida Oliver tentou pular nele, mas a coisa era muito rápida e chutou ele para longe, então Oliver apoiou seu pé em uma pedra e chutou a coisa, finalmente o imobilizando. O que ele viu foi um garoto de cabelos loiros e olhos verdes e com um corpo magro. Ele usava uma calça, sapatos e um casaco e tinha um capacete com uma lanterna em sua cabeça.

— Você é...um humano? — foi tudo que Oliver conseguiu falar.