Depois de tanto tempo batendo papo com Kiara sobre coisas fúteis que demonstravam o quão superficial ela podia ser, finalmente, — e quando eu digo finalmente é finalmente mesmo! Estava ficando realmente preocupado com como ela podia ser extremamente irritante falando sobre assuntos que pouco me interessam e que não vão fazer a mínima diferença quando eu sair daqui — finalmente partiu para a ação. Selou lentamente os nossos lábios enquanto me provocava ao passar a mão em meus cabelos. Sem pestanejar, puxo-a pela cintura trazendo a para mais perto de mim.

Estávamos sentados debaixo de uma árvore e não demorou muito para que logo ela estivesse deitada por baixo de mim.

Tudo corria bem e eu me deliciava com a forma que nossas línguas se entrelaçavam tão perfeitamente. Não posso negar, ela me deixou em chamas. E quando vou aprofundar o beijo, um pigarreio de alguém a nossa frente interrompe e nos separamos abruptamente.

— Craig? O que você está fazendo aqui...?

Kiara tinha seus olhos arregalados e a boca meio-aberta.

— Está dando uma de piranha, maninha? Ficando com alguém que você mal conhece do primeiro dia?

Como assim "maninha"? Eles são irmãos? Sério isso produção? Eles nem são parecidos! Craig olhava seriamente para Kiara de uma forma tão... assustadora... Não que eu tenha medo dele, porque EU não tenho medo de absolutamente nada. Exceto de aranhas. Mas, vamos concordar, aranhas são realmente assustadoras. Eita bicho asqueroso!

Levanto-me do chão e ofereço minha mão para ajudar Kiara a levantar-se também, mas ela recusa e levanta-se para logo em seguida aproximar-se do irmão que a olhava com desdém.

— Craig, para, você não entende...

— Não entendo o que? Que a minha irmãzinha que eu cuidei e protegi sempre agora está virando uma piranha que se oferece para o primeiro que aparece? — diz ele furioso — O que ele disse para que você caísse tão fácil na lábia dele? Ele por acaso disse "Oi, como vai?" ? Como resistir, não é mesmo? É realmente super original... — diz ele sarcasticamente.

— Craig, por favor, me escute...

Craig se cala enquanto cruza os braços esperando-a falar.

— Olha, eu já o conheço faz três anos...

Craig fica estático, como se algo de repente começasse a fazer sentido.

— Espera aí. Esse é o famoso Christopher de três anos atrás?

Kiara se aproxima dele enquanto lhe aponta o dedo e flexiona levemente os joelhos.

— Chega, Craig. As coisas mudaram. Eu mudei. Por favor, vá embora.

Ela aponta-lhe o dedo para a trilha por onde viemos enquanto olha para o lado, sem coragem de olhar para o irmão ou até mesmo para mim.

— Tudo bem. Eu vou. Saiba que essa sua atitude me enoja e mais tarde falaremos sobre isso. Até logo, Christopher. — sinto o seu ódio ao falar o meu nome.

Craig vai embora em passos longos e pesados, em poucos instantes não se vê mais ele. Kiara olha fixamente para onde o irmão acabara de seguir enquanto massageia as têmporas para logo em seguida passar a mão pelos cabelos e soltar um longo suspira. Aos poucos Kiara se vira para mim e me encara de cima a baixo. Em seu olhar pude notar a decepção consigo mesma e a depressividade que a conversa com seu irmão lhe causou.

Depois de um tempo só me analisando ela finalmente pergunta:

— Sabe voltar?

Sua voz era baixa e fria. Assinto lentamente.

— Ótimo.

E isso é tudo o que ela diz antes de sumir pela trilha me deixando sozinho e estático debaixo da árvore onde estávamos tendo um lance.

Fico olhando para a trilha enquanto minha mente repassava tudo o que acabara de acontecer a minha frente. Mas que porra foi essa? Eu não entendo... Em um minuto eu estava ficando com ela em outro chega o garoto que eu nunca suspeitaria que fosse o irmão dela e logo em seguida ela se vai e me deixa totalmente sozinho aqui sem saber se eu realmente fui sincero ao dizer que sabia voltar.

Mas por que eu não a segui?

Começo a fazer o caminho de volta pela trilha. Não sei por que mas senti uma imensa vontade de cantar a música da Chapeuzinho Vermelho. Delete isso, que coisa mais gay! Sim, as vezes eu tenho uns pensamentos bem bizarros, mas fazer o que? É a vida...

Sigo pela trilha até conseguir ver o colégio novamente. Logo vejo pessoas vagabundeando por aí. Alguns estão a conversar, outros a se beijar, outros a dormir... Mas em um cantinho qualquer uma menina de cabelos azuis, mantinha seus olhos fixos a um livro cujo o título era O mistério do trem azul. Ela parece gostar mesmo de azul assim como gostava mesmo de rosa a alguns anos atrás. Talvez tudo que ela ame, ela ame intensamente. Se entregue de corpo e alma. Espera um minutinho aí! No que raios eu estou pensando? Essa é só a estranha da minha stalker, lembra? Maníaca. Maníaca.

Saio daí e sigo o meu caminho de volta para casa, não quero mais me misturar a eles. A ninguém. Hoje meu dia deu pra ser péssimo.

Por que eu?

Por que não outro?

Mistérios intermináveis da vida. As vezes as pessoa podiam vir com um manual de instruções, não é? Seria mil vezes mais fácil e todos nos entenderíamos sem muita enrolação. Evitaria muitos problemas atuais.

No meio do caminho vejo Kiara conversar fervorosamente com Craig, ao me ver, os dois me olha sem demonstrar expressão alguma. Gelo. Tenho de começar a me preocupar? Para que a pergunta, eu já estou começando a temê-los mais do que eu temo as aranhas. Mentira, é impossível odiar algo mais do que aranhas. E eu não os temo, eu só estou um pouco receoso com a intenção deles em relação a minha pessoa. Mas fala sério, um garoto assustador — que só para lembrar, não me causa medo algum — falando com a ex-nerd, minha atual ficante de modo tão... caloroso? é um pouco estranho. Sinto que ele tem vontade de acabar comigo, então, para minha segurança, acho melhor manter distância.