Depois de corar quando Chris me chama de Pink me sinto um pouco patética. Eu deveria estar me sentindo ótima, me sentindo bonita quando notei seu olhar percorrer o meu corpo, mas não me senti nada mais, nada menos do que um pedaço de carne da pior qualidade. Me senti uma qualquer. Cheguei na casa da tia Margô que estava de mãos dadas a pequena Diana de apenas sete anos de idade. Diana tem seus cabelos castanhos claros lisos com uma franjinha que a deixava extremamente fofa e seus olhos azuis claros eram o que mais chamavam atenção. Abraço minha tia e abaixo-me em seguida para cumprimentar a pequena Diana.

— Oi, Didi, quanto tempo... — ela brinca com a ponta de seus cabelos.

Diana nunca foi de falar muito e sempre foi extremamente tímida, não comigo, acho que é mais o fato de eu estar acompanhada por Noah, que a vê muito raramente, não que ele não goste dela, mas porque minha mãe nunca permitiu a proximidade deles, somente quando ela estava muito feliz e com a cabeça nas nuvens, como hoje.

— Você fica muito bonita de rosa. — digo sorrindo e ela me acompanha em seguida — Noah, venha falar com ela.

Noah se abaixa e ela se esconde atrás das pernas da mãe.

— E aí, Didi?

Ela mexe na ponta dos cabelos o ignorando.

— Olha o que eu te trouxe. — ele tira do bolso... Um batom?

— Noah, onde você...

—... consegui isso? — ele me interrompe completando a minha frase — Peguei da mamãe hoje. — o olho com dúvida — Peguei para brincar com a Diana não para usar! — ele se faz de ofendido.

— Acho melhor não...

— Deixe-os, Pietra, vá para sua festa que eu assumo a partir daqui.

Ela sorri e tudo que posso fazer é retribuir o sorriso.

— Comporte-se Noah, e vê se controla essa sua vontade de passar esse batom, é para a Diana. — zombo.

— Ha ha ha... E você controla essa sua vontade de... — Noah é interrompido pela tia Margô que coloca sua mão na boca dele e dizendo:

— Nada de brigas, vai Pietra, eu cuido deles... Ah! Antes de ir, você esqueceu isso aqui da última vez que você veio... — ele me estende um medalhão de bronze.

O medalhão era arredondado e tinha uma pequena abertura para que, com a chave que era presa juntamente no medalhão, ele pudesse ser aberto e revelar uma época onde a minha família ainda era completa, eu, minha mãe, meu pai e Noah juntos em uma foto, pouco antes de ele nos trocar. Na foto ele tinha a barba feita e os cabelos bem curtinhos. Tinha sentido saudade do meu medalhão e mergulhar nesse onda de nostalgia que olhar para ele me causa...

...

Chego na casa de Heather que é bem grande só para constar. Branca de janelas quadradas e largas. Mas fazer o que? A família dela tem grana...

— Pink! — exclama Jessie acenando para mim ao lado de Sam e Arthur.

Jessie estava linda em um vestido tomara-que-caia azul com seus cabelos presos em um rabo-de-cavalo enquanto Sam usava um vestido de renda vinho e tinha seus cabelo presos em uma trança de lado. Já Arthur usava um jeans rasgado e uma regata preta com a estampa do System of a Down.

— Está muito linda, Pitty. — diz ele com o seu sorriso esplêndido e inocente - que de inocente não tem nada - , sua marca registrada e que lhe garante muitas garotas aos seus pés.

— Obrigada, meu bombomzinho de chocolate. — brinco.

Eles riem e eu os acompanho. A porta principal estava aberta e nos demonstrava um pedaço da loucura que se encontrava lá dentro.

— Vamos dar as mãos para a gente não se perder lá dentro. — diz Sam estendendo a mão para mim.

Acabou por Sam nos guiar para o lado de dentro enquanto eu segurava a mão dela e de Arthur e o mesmo segurava a mão de Jessie. Atravessamos pela multidão indo em direção a escada.

— Ui que loucura! — exclama Sam.

Concordo, mas sinto que algo está faltando. Passo a mão pelo pescoço e sinto que não estou mais com o meu medalhão. Droga!, penso. Devo ter o perdido no meio dessa gente toda...

— Como vou achar... — murmuro alto.

— ... Achar o que? — pergunta Jessie.

— Já volto. — grito para ser ouvida, já que Titanium do David Guetta com a maravilhosa voz da Sia.

Corro para o meio da multidão tentando refazer os meus passos enquanto olho para o chão e sigo assim até chegar ao lado de fora, onde eu pouco acredito que possa estar.

Droga! Droga! Droga!

Calma, respira, e tranquiliza que uma hora você acha...

Volto para dentro com um vazio dentro de mim. Aquela é a lembrança de um dos melhores dias da minha vida. Naquela manhã, meu pai me acordou dizendo que iriamos sair para um parque de diversões com a mamãe e Noah, e chegando lá eu vi nos olhos deles um amor que eu nunca tinha visto antes, eu vi o amor que sentiam um pelo outro... Brincamos, tomamos sorvete e no fim do dia, papai comprou o medalhão e mamãe pediu para tirarmos a foto de todos juntos com o lindo pôr-do-sol no fundo. Estávamos todos imensamente felizes, totalmente completos e realizados e na hora de dormir, mamãe me leu uma história e ambos me deram um beijo da testa de boa noite, e foi o beijo de boa noite mais doce e carinhoso que eu já recebi.

Foi o melhor dia da minha vida.

E também foi o último dia feliz que tivemos ao lado de meu pai.

Passando pela multidão novamente, algo me chama atenção. Em um canto qualquer, Chris conversa com Kiara que se encontra com um vestido imensamente curto — contraditório, eu sei — e terrivelmente justo, mas o olhar que ele lançava para ela era o que me doía na alma.

Estava andando tão concentrada neles dois que mal percebi quando esbarro em alguém, e a bendita gravidade decide me puxar para o chão, me fazendo cair de bunda.

— Me desculpe... — digo.

Olho para cima e vejo o bendito garoto que furtou minha folha está a sorrir com escárnio. Ótimo!, penso ironicamente. Ele me estende a mão para levantar, mas eu a recuso e tento me levantar sozinha, mas a quantidade de pessoas envolta que estavam quase me pisoteando era assustadora. Coloco a mão para me levantar, quando de repente um salto agulha atinge em cheio a minha mão.

Dou um gritinho que é abafado ao som de Riot do Three Days Grace. O menino que furta folhas decide me levantar contra a minha vontade enquanto eu reclamo até da cor da manga.

Ele me segura pela cintura enquanto me guia para fora da multidão, mas estou admirada demais com a cor do meu sangue que mal noto. Assim como me impressiono com a cor do sangue, me assusto com o machucado, tenho aversão a feridas e olhar para a minha mão me causa náuseas. Meu machucado está feio e o sangue escorre enquanto a dor praticamente não me deixa prestar atenção em mais nada. Me obrigo a olhar o canto onde Chris estava e não está mais...

— Vamos, anda. — diz ele me guiando escada acima.

— Para onde você está me levando? Aaiii! — choramingo a última parte quando sinto uma pontada aonde o sangue escorria.

Subimos as escadas e ele me acompanha até o banheiro onde eu vou lavar a mão. O banheiro era realmente e impressionantemente grande.

— Pode parar de ficar analisando o banheiro e lavar esse machucado.

Eu olho para o meu machucado e faço uma careta. Abro a torneira e coloco minha mão debaixo da água. A água gelada me faz tirar a mão com o susto e ele revira os olhos.

— Que fraca, é só água.

— Pode parar de me criticar, por favor?

Ele se aproxima e pega minha mão rapidamente.

— Para..!

— Calma, fica quieta...

Ele pega a minha mão e coloca debaixo da água gelada e começa a limpar enquanto eu choramingo fazendo-o revirar os olhos e rir.

— Ah! Fala sério, está reclamando por causa de um cortezinho desses?

Olho para minha mão e se estendia um corte feio no meu dedo médio e outros pequenos cortes ao longo da mão.

Depois de tudo ele colocou um band-aid somente no meu dedo médio.

— Fracote. — ele zomba e eu lhe mostro meu curativo na mão esquerda bem localizado no meu dedo do meio.

...

Heather me pedira para pegar sua jaqueta no quarto de seus pais e eu como havia dito, vou lá buscar, quando vejo Chris em cima de Kiara. Não aguento ver e corro dali.

Desço as escadas correndo, era obvio que não tinha nenhuma jaqueta.

Corro enquanto sinto as lágrimas quentes descerem pelo me rosto, e os soluços começarem.