Eu passei o resto do dia dormindo quando cheguei em casa. Kylie — que mesmo tendo saído de casa várias vezes mesmo minha mãe ameaçando não permitir seu retorno, coisa que acontece a anos, ainda está aqui a me perturbar — entra em meu quarto quando estou dormindo e me atinge com uma almofada na cabeça.

— Acorda, lerdão.

Levanto ainda sonolento enquanto espero suas explicações por ter me acordado mesmo quando a mamãe cisma em dizer que sono é sagrado, mas ela também nunca foi lá uma menina muito obediente as regras de nossa família. Ao notar que ela não vai se explicar, eu mesmo pergunto.

— O que a traz aqui para me retirar de meu sono sagrado de beleza? — brinco.

— O idiota, advinha quem é que passou aqui em casa agora pouco!

— Quem?

Ela revira os olhos.

— Deixa de ser estúpido, eu falei para advinhar, lerdão.

Paro para pensar, e minha mente voa para Kiara.

— Kiara?

Ela revira os olhos de novo, nunca vi pessoa tão sem paciência quanto essa minha irmã.

— Não, nem conheço essa. Foi a sua namorada, Pietra.

Dessa vez eu que reviro os olhos.

— Sabe muito bem que ela não é minha namorada.

— Mas ela queria ser. Minto, ainda quer. — reviro novamente os olhos o que a rende uma boa risada com a minha reação — Enfim, ela passou para lhe avisar amistosamente de uma festa que vai acontecer na casa de alguém as oito. Ela falou que era de boas-vindas e que todos, principalmente você, estão convidados a ir.

— Tá, e aonde é esta festa?

— E sou eu que tenho que saber?

— É você que pegou o recado!

Ela revira os olhos e eu também. Nunca vi menina tão implicante.

— Vai em direção ao colégio e segue o barulho da música que você chega lá.

Olho para ela desconfiado, e a mesma cruza os braços.

— Como posso saber que você está falando a verdade?

Ela me olha fingindo estar ofendida mas logo substitui por um sorriso maligno.

— Não pode. Meu trabalho aqui está feito. Boa sorte, lerdão.

Ela sai do quarto com um sorriso vitorioso enquanto eu afundo minha cabeça no travesseiro.

...

Estou com uma calça jeans escura, uma camisa do System of a Down por baixo de uma jaqueta escura. Calço meu all-star preto e pego o meu celular para ver as horas. O celular acusa 20h23 e então eu saio de casa. Ao passar pela porta eu a vejo. Os cabelos azuis lisos chegavam agora um pouco abaixo do ombro. Usava um preto e um salto igualmente preto. Ela sai de casa de mãos dadas com Noah que usa uma camiseta azul marinho, uma bermuda e um tênis qualquer.

Quando aqueles brilhantes olhos azuis encontram os meus, um sorriso se ilumina em seu rosto. Por mais que eu queira devolver o sorriso, sei que não posso lhe dar falsas esperanças.

— Oi. — ela diz com uma voz suave.

Aceno em reposta.

— E aí, Chris. Ainda joga Devil May Cry?

— Fala aí, Noah. Um pouco menos mais ainda jogo, por que a pergunta?

Pietra ri.

— Advinha. Eu estou com o DMC 6 ! Se quiser eu te empresto, mas vai ter que pagar.

Reviro os olhos enquanto rio.

— Nossa, mas você cobra até para mim?

— É a vida... — diz ele rindo, bagunço o seu cabelo.

Andamos em silêncio o resto do trajeto até que percebo que ela se desvia do caminho original pegando a rua ao lado da rua do colégio. Kylie...

— É só seguir pela rua do colégio e seguir a música que dali em diante já deve se tornar audível. — diz ela ao notar que eu estava para a seguir.

— Ah, obrigado. Até mais, Pink. — finjo não notar, mas vejo-a enrubescer.

...

Estava lotado. Músicas pop desconhecidas por mim tocavam em uma altura que quase me deixa surdo. Nos cantos alguns casais se agarravam e em outros alguns apenas sentavam e fumavam ou bebiam alguma coisa. A casa era realmente grande e bela. Provavelmente de família rica.

Kiara estava extremamente gata naquele vestido vermelho justo que deixava bem a mostra as suas belíssimas curvas e que só ia até um pouco acima da metade da coxa e um salto agulha nos pés que a deixava ainda um pouco mais baixa que eu. Ao me ver ela mexe nos cabelos e morde os lábios enquanto tentava me provocar. E conseguiu. Sinto alguém me dar um tapa nas costas de leve e logo vejo que foi Craig. Como...? Ele abre a boca como se procura-se as palavras certas antes de dizer.

— Er... Eu vim me desculpar... — olho para Kiara que me lança um sorriso incentivador. Parece que a conversa deles surtiu efeito — Eu não tenho que me intrometer no que a minha irmã faz. Mas abre o teu olho, se fizer algo a ela eu juro que eu quebro a tua cara.

Ele estende a mão para me cumprimentar e assim eu a aperto.

Ele sai e então logo ando em direção a Kiara e vejo um sorriso malicioso brotar de seus lábios e tenho certeza de que o mesmo sorriso sujo está estampado em minha face.

— Oi... — minha voz sai levemente rouca e tenho que quase que gritar para ser escutado — Adorei a roupa.

— Por que será? — pergunta sarcasticamente no mesmo tom enquanto dá uma voltinha — Agora sem blá blá blá, por que não vamos dar uma voltinha lá em cima?

Ela sobe as escadas na minha frente enquanto ela me guia. Ela me leva até um quarto. O quarto era bem legal, cama de casal, uma cômoda com abajur e algumas fotos. Me aproximo e vejo um homem de cabelos grisalhos sorrir enquanto abraça uma mulher de cabelos escuros e sorriso deslumbrante.

— Então, você vem ou não vem? — pergunta Kiara.

Continuo olhando as fotos e as coloco no lugar. Kiara bufa e se levanta vindo até mim. Ela me puxa para um beijo, como resistir? Opa! A pergunta é, por que resistir?

Deito-a na cama sem desencostar seus lábios dos meus enquanto passo minha mão tentando sentir cada centímetro de seu corpo. Então a porta se abre e o interruptor do meu momento com Kiara se vai antes mesmo que eu visse seu rosto.