POV John

Olho para America. Ela está olhando para mim com cara de poucos amigos, mas logo sua expressão furiosa se desfaz quando ela me vê sangrando.

– O que aconteceu? - America diz, caminhando até mim, tocando meu braço com os dedos, delicadamente.

– Encostei em um pecadinho de vidro. - digo apenas. Ela olha em meu rosto e levanta uma sobrancelha desafiadora.

– Encostou? Em um pedacinho de vidro? - America revira os olhos. - Você se rasgou com uma serra elétrica. Olha isso!

– Eu falei estava feio. - Craig diz atrás de mim. Os olhos azuis de America vão imediatamente para ele e ela simplesmente joga seus braços no pescoço de um Craig surpreso. Franzo a testa.

– Oh meu deus! Você está vivo Craig! - ela diz se afastando dele.

– O suficiente para sentir seus seios fartos em mim enquanto você me abraçou. - ele sorri daquele jeito que ele sempre faz quando quer seduzir alguém. America ri.

Viro meu rosto e reviro os olhos. Vejo George segurando uma risada, me encarando.

– O que é que foi? - pergunto rudemente. - Perdeu alguma coisa na minha cara?

– Não. Graças a Deus que não. - George levanta as mãos para cima, em sinal de rendição.

Passo reto por ele e me sento em uma das cadeiras de uma mesa. America vem até mim e se senta ao meu lado.

– Posso dar uma olhada? - ela pergunta docemente.

Me seguro para não revirar os olhos de novo. Faço que sim com a cabeça, mal humorado. Ela mais uma vez toca meu braço, mas então logo se levanta, indo até uma das mesinhas e pegando algo de dentro de uma das varias sacolas de mercado que estão ali. Ela volta a se sentar ao meu lado com uma caixa de primeiros socorros na mão. Pega uma gaze, derrama um liquido nela e passa com cuidado no braço. Me afasto um pouco.

– Ah para! - America começa. - John Maddox, o Sr. Militar, o macho alfa, tá fazendo cu doce por causa de um pouquinho de água oxigenada?

– Ah vai se foder America! Essa porra arde!

– Não estou nem aí se arde ou não. - ela diz passando a gaze no meu corte novamente. Trinco meu maxilar. - Não mandei você rasgar o braço.

Bufo irritado e ela dá uma risada.

– Você adora me ver sofrer né? - digo.

– Ah você nem imagina o quanto John.

POV America

Continuo limpando o ferimento de John. Seria péssimo se o braço direito dele infeccionasse em pleno apocalipse. Pelo menos, ele parou de reclamar. Pego uma pinça que peguei o mercado mais cedo e tiro o único pedacinho de vidro que encontrei no corte dele. John continua quieto.

– Pronto. Acho que deu. - digo jogando o caco de vidro no chão.

– Vai precisar costurar, não vai? - George pergunta franzindo a testa.

– Ah com certeza. Precisa dar ponto. - completa Craig.

Levanto uma sobrancelha. John olha para o próprio braço agora limpo e quase sem vestígios de sangue.

– Puta que pariu, vai que dar ponto! - ele diz batendo a mão esquerda na mesa.

– Nunca costurei ninguém! - digo me levantando da cadeira e colocando minhas mãos a cintura. - Definitivamente, não sei fazer isso.

– Aprende! - John diz mexendo dentro da caixinha de primeiros socorros. - Tudo se tem uma primeira vez na vida. Além do mais, não vou deixar esses dois merdas aí - ele aponta para Craig e George - costurarem o meu braço.

Ele se levanta, me puxa pela mão de volta para a minha cadeira e me entrega uma agulha e carretel de linha preta. John tira sua regata branca com uma facilidade fora do comum para quem está com um braço todo machucado. E então, eu encaro o teu perfeito tanquinho. Porque ele tirou a camisa?? John se senta novamente na cadeira e se vira pra mim.

– Pode fazer? - ele me pergunta. Faço que sim com a cabeça e começo a tentar passar a linha pelo minusculo buraquinho da agulha.

– Por que diabos você tirou a regata cara? Não atrapalhava em nada o trabalho dela. - George pergunta divertido.

– Porque estou com calor. - John responde, seco.

– Tá na menopausa já Maddox? - George solta. Craig começa a rir retardadamente e George o acompanha, é claro. Sorrio para John que revira os olhos para não perder o costume.

– Calem a boca agora rapazes. Preciso me concentrar. - digo franzindo meus lábios. Não sei se isso vai dar certo, eu realmente nunca costumei ninguém.

– Não quero ficar aqui para ver isso. - Craig diz, se levantando da cadeira onde estava sentado. - Acho que vou dar uma olhada em uma loja de arma que eu vi a três quadras daqui. Passei em frente antes e deve ter alguma coisa que nos seja útil.
John assente pra ele e olha para George.

– Leve o Rhode Island com você. - ele diz, se referindo a George. Então, observo os dois se encararem como quem estão prestes a cometer um assassinato.

– Já falei que Rhode Island é sacanagem. - George diz, semicerrando os olhos.

– Foda-se. - John retruca, sarcástico.

Oops! Essa implicância já está ficando chata. Reviro os olhos. Craig olha pra mim com cara de quem não está entendendo, e eu apenas dou de ombros. Nem eu entendo essa merda toda.

– Então... - Craig começa. - A gente vai ou não?

– Tanto faz. - George diz simplesmente. - Seria legal ficar e ver o John sofrendo enquanto a America costura ele e tal, mas vamos nessa.

George pega uma mochila vazia e a coloca nas costas. Ele e Craig vão em direção a porta, mas antes o baixinho se vira e me dá uma piscadela. Pisco de volta. Sorrio enquanto eles saem pela porta. John começa a bater o pé no chão. AH que ótimo! Ele tem mais um tique.

– Você vai me costurar ou não?

– Só se você prometer não chorar.

– De certo, sou marica... - dou de ombro diante da fala dele. John continua falando.

– Não tem segredo nenhum, só não enfie demais a agulha ok?

Faço que sim e respiro fundo. Lentamente afundo a agulha na pele de John e em seguida, puxo de volta pelo outro lado. Repito mais uma vez.

– Então, o que você fazia antes? - John pergunta de repente. Penso um pouco sobre isso. Decido ser sincera.

– Eu era advogada.

– Sério? - ele me diz surpreso.

– Sim, eu estava começando a montar meu escritório sabe? - continuo dando mais um ponto no braço de John, mas ao invés de grunhir de dor, ele apenas me observa falar. - Meu pai estava me dando uma força, afinal era isso o que ele queria. Ver a unica filha se formando na faculdade e se instabilizando na vida. Bem, deu certo por um tempo, mas aí tudo aconteceu e...

– Não te imagino como uma advogada. Qual área você atuava?

– Eu era advogada criminalista.

– Ah agora faz mais sentido. - John diz rindo. Não entendo muito bem o porque, mas eu o acompanho. Dou mais um ponto em seu braço.

– E você? O que você fazia antes do mundo ir a merda? - pergunto. John levanta uma sobrancelha e me olha.

– Minha farda não lhe é auto explicativa?

– Ai! - digo rindo. John ri também. - Pergunta estupida, eu sei, mas você poderia fingir que é educado e responder. - John dá de ombros. - Próxima.

Ele para de rir e então fica sério.

– Você tinha namorado?

Engulo em seco, enquanto enfio a agulha mais uma vez no braço dele. Eu ia ser sincera, não ia? Mesmo que as lembranças doessem? Então. Vamos abrir as janelas das memórias.

– É, eu tinha. O nome dele era Bruce.

– Quer falar sobre isso? - John pergunta.

– Não há muito que falar. Ele morreu. - digo, mais uma vez costurando o corte. - Ele era legal sabe? Nos conhecemos na faculdade. O Bruce era um bom namorado. E eu gostava muito dele, muito mesmo. Mas então, o fim do mundo chegou e de todos que eu conhecia, acabaram sobrando só ele e o meu pai, até que não sobrou ninguém.

John fica em silêncio por um tempo após eu terminar de falar. Não sei se ele procurava alguma coisa legal para dizer, ou simplesmente estava digerindo a história.

– Deve ter sido ruim. - ele diz por fim.

– Sim, foi. Sempre né? Não é como se fosse fácil perder pessoas. - digo pegando a tesoura e cortando a linha, depois de ter dado um nó. Devolvo os utensílios para a caixinha de primeiros socorros. - Terminei!

Sorrio observando minha obra prima, enquanto John inspeciona seu braço recém costurado.

–Para alguém que nunca tinha feito isso antes, você até que fez um bom trabalho. Obrigado. - John sorri pra mim. Sorrio de volta.

– De nada. - digo. Ficamos um pouco e silencio, até que eu decido fazer uma pergunta para ele. - Mas então... E você? Tinha namorada?

John olha em meus olhos e como sempre acontece quando ele faz isso, os segundos duram séculos.

– Não. Eu não tinha. - responde ainda me olhando, mas seu olhar verde escuro tinha ido parar na minha boca. - Quer saber? Não quero mais falar sobre isso.

E então John me beija.