A Herança de Espinhos escrita por Hime Illana


Capítulo 4
Capítulo 4




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Pisquei os olhos algumas vezes, não acreditando no tinha acabado de ouvir.

— Acho que aquela senhora mexeu demais com a minha cabeça, acho que estou delirando! – disse eu rindo nervosamente

— Não, você não está delirando, eu sou o capitão desse setor. – disse Edric com o tom metido que eu detesto, mas com um fundo de seriedade na voz. Ele estava falando a verdade.

— Só pode estar de brincadeira comigo né? – Eu fiquei de pé e comecei a andar na direção de Edric, irritada. - Por que você não me disse nada? Por que ninguém me disse nada? Por que você, sendo um capitão deixou aquela velha entrar na minha cabeça e me fazer sofrer sem nem me avisar nada? POR QUÊ?

Antes que pudesse dar outro passo o mundo começou a girar a minha volta, minha visão começou a ficar embaçada e minhas pernas ficaram fracas, não sentia mais o chão, eu estava a ponto de desmaiar quando Edric me segurou pela cintura e me puxou para perto de seu corpo.

— Você disse que nada ia me acontecer... Você... Prometeu... – eu estava tão fraca que mal conseguia falar.

— Shhh, eu sei, me desculpa. – Edric me puxou para mais perto de si, agora estávamos praticamente abraçados. Ele sussurrava tristemente em meu ouvido. - Foi tudo minha culpa, eu sinto muito, se eu tivesse chegado a tempo... Desculpe Elena.

Antes que pudesse falar algo, apaguei em seus braços, quando acordei eu estava numa cama de hospital com um acesso de soro em meu braço esquerdo, o quarto estava colorido de um tom laranja meio avermelhado, olhei pela janela aberta do meu lado direito, o sol já estava quase se pondo, fiquei desacordada o dia todo.

Juntei forças para me sentar, ainda estava fraca e agora estava morrendo de fome, nesse momento a porta se abre e entra o médico bonitão de hoje cedo, David, com Benny atrás dele.

— Ah, vejo que finalmente acordou, que bom, já estávamos preocupados. – disse David com sua voz suave e gentil.

— O... que aconteceu? – perguntei com dor de cabeça e um pouco zonza.

— Você teve uma queda brusca de pressão e hipoglicemia, mas já te mediquei e você deve ficar melhor logo.

— Hmmm. – murmurei.

— E-eu trouxe isso... Pra você. – disse Benny me mostrando uma sacola de plástico que ele trazia nas mãos.

Eu peguei a sacola e abri, dentro dela tinha alguns salgados, um grande brigadeiro e uma caixinha de suco. Devorei tudo em poucos minutos.

— Bom você já está de alta, pode ir para casa quando quiser. – disse David gentilmente.

— Obrigada por cuidar de mim.

— Sem problemas! – David sorriu e logo depois foi embora me deixando sozinha com Benny, que parecia muito desconfortável, olhando o tempo todo para o chão.

— Benny? Tudo bem?

— E-eu... E-eu sinto muito! – a voz de Benny tremia, parecia que ele estava a ponto de chorar. – Foi tudo minha culpa, se eu tivesse te avisado sobre a iniciação, você não teria se machucado, eu sinto muito!

Respirei fundo antes de falar.

— Benny, olhe para mim. – Ele não olhou. – Quero que você olhe bem para mim quando eu estiver falando, Benny. – Ele levantou a cabeça devagar e me olhou nos olhos. – Está tudo bem agora, eu estou bem, não foi sua culpa, eu sei que você tentou o melhor para me proteger. – Ele soluçou. – Eu não estou zangada com você, ok? Não precisa chorar.

— Sério? - perguntou ele com o rosto vermelho, ele estava fazendo força para não chorar.

— Claro! – respondi com um sorriso.

Ele parecia mais calmo agora, aliviado.

— Onde estão o Henry e... Edric? – perguntei

— O senhor Henry está no laboratório fazendo alguma coisa e o capitão... Teve que resolver alguns problemas.

— E algum desses problemas tem a ver comigo?

Benny não respondeu, provavelmente todos os problemas tem a ver comigo. Respirei fundo outra vez e decidi me levantar.

— Bom, acho que já causei confusão demais por um dia, vou pra casa.

— Tem certeza? Você me parece meio pálida.

— Estou bem, tenho que ir logo, minha mãe deve estar furiosa comigo.

Benny voltou com a expressão desconfortável de antes.

— O que foi?... Ah, está preocupado de eu não voltar aqui? Hahaha, não se preocupe, amanhã cedo eu volto! – disse eu, descontraidamente.

— Sério?

— Claro, afinal eu sou um membro da Ordem agora, né? Até amanhã!

— Até!

Fui embora do prédio, que estava quase vazio, decidida a voltar. Não vou parar até saber o que está acontecendo, não importa quantas vezes eu me machucar ou quantas dificuldades eu enfrentar pelo caminho, não vou parar até resolver esse mistério, e se a Ordem tiver as respostas que procuro, é lá que eu tenho que ficar.

Deitei-me em minha cama pronta para dormir, depois do que passei hoje e do sermão que eu levei da minha mãe por ter ficado várias horas sem telefonar, tudo o que eu queria era dormir, mas assim que fechei os olhos fui transportada para o vale novamente.

— Oh, minha pobre criança, o quão preocupada eu estive contigo! – disse Josephine.

— Josephine, o que aconteceu naquela hora? Por que você disse para não deixar eles saberem? O que eu não posso deixar eles saberem?

Josephine não respondeu minhas perguntas e ficou em silencio por um tempo, como se estivesse pensando cuidadosamente sobre o que falar.

— Criança, você tem um grande destino, você terá o poder de fazer grandes coisas, mas também sofrerá grandes dificuldades. O seu fardo será pesado e só você poderá carregá-lo, mas lembre-se, a esperança é mais forte do que o medo, enquanto você tiver esperança poderá achar luz dentro das trevas mais profundas. Até logo, minha querida, conversaremos mais em breve.

— Espera você ainda não me respondeu nada! Josephine!

Acordei com o despertador tocando. Todo esse mistério está me deixando nervosa, parece que quanto mais eu procuro, mais perdida fico. Pensei no que Josephine falou, sobre um fardo que só eu posso carregar e sobre luz dentro da escuridão, mas isso só me fez ficar mais confusa, decidi me arrumar e ir para a Ordem.

Cheguei na recepção do prédio da Ordem e falei com a recepcionista, ela me deu um cartão eletrônico para registrar minha chegada e uma sacola de papel igual as de loja, com algo que parecia ser uma roupa dentro. Fui até o banheiro mais próximo e me troquei. O uniforme da Ordem que eu ganhara era uma saia de pregas preta, uma camisa social branca de manga comprida e um paletó igual ao de todos os membros, mas a rosa bordada no peito bem no meio do brasão e os detalhes da roupa eram vermelhos, provando que eu era do setor do Edric e que ele era o meu chefe a partir de hoje. Meu chefe, aquele cara... pensei nervosa. Me olhei no espelho e vi que o uniforme caía perfeitamente em minhas curvas e que combinando com a meia preta até a coxa, e o coturno feminino marrom escuro que eu usava me deixava parecendo uma colegial ou uma personagem de anime.

Que gracinha! Ficou lindo em mim, mas não me lembro de ter tirado nenhuma medida ontem, como será que acertaram o meu tamanho?— pensei em voz alta.

Saí do banheiro e fui para a sala que provavelmente é o escritório do Edric, percebi que as pessoas me olhavam e cochichavam quando eu passava pelo corredor, provavelmente o ocorrido de ontem já se espalhou e eu devo ser a atração do momento. Corada, andei o mais depressa que pude até a sala.

— Ah, bom dia, como você está Elena? – perguntou Edric assim que entrei na sala, sentado em sua grande e confortável cadeira de couro preto, atrás de sua mesa cheia de papéis e documentos, ele realmente me parecia um chefe.

— Estou bem, obrigada. – respondi meio seca. Eu não sabia como reagir a ele, afinal, mesmo ele tendo me escondido coisas e ter me deixado quando precisei, ele ainda era o meu superior, então tentei ser o mais formal possível.

— Vejo que recebeu o uniforme, ficou muito bom em você, melhor do que imaginei. – disse ele sorrindo enquanto me olhava de cima a baixo.

Então foi ele que mandou confeccionar esse uniforme, imagino se ele fez de propósito para tentar me irritar ou se tem algum fetiche por colegiais.

— É, ficou bem... Tentador. – disse uma voz masculina atrás de mim, quando me virei tomei um susto, o homem atrás de mim era gigante, devia ter quase dois metros de altura e era forte, muito forte, parecia um desses caras que participam de concursos de fisiculturismo. Ele tinha o cabelo preto casualmente penteado para trás com gel, sobrancelhas espessas e a pele bem morena, parecia que ele tinha acabado de voltar da praia. Ele me olhava de cima a baixo com certa malícia, como se estivesse me paquerando.

— Poxa, finalmente apareceu Rick, já estava começando a me preocupar. – disse Edric rindo.

— Ah cara você sabe que quando eu começo a malhar eu não consigo parar, ainda mais se tiver alguma gatinha por perto, aliás, você não vai me apresentar a essa bela senhorita aqui? – disse Rick vindo na minha direção, ele galantemente pegou minha mão e a beijou.

— Essa é a Elena, nossa nova companheira, Elena esse é o Maverick, outro membro do nosso time e um grande amigo meu. – respondeu Edric.

— Então você é a famosa Elena, muito prazer, pode me chamar de Rick. – disse Rick piscando o olho direito para mim.

— O-oi. – disse eu meio sem jeito. – Famosa? – perguntei, mas com medo da resposta.

— Toda a Ordem só fala de você, a garota com o poder misterioso que quase matou a velha Sophia!

— Ah... sei.

Sabia que seria isso, mas não esperava que estivessem dizendo por aí que tentei matar aquela senhora. Imagino que tipo de outras coisas estejam dizendo pelas minhas costas.

— Eu só não esperava que o Edric fosse brigar por você, agora eu sei o porquê. Com um poder desse seria uma grande vantagem para nosso time. - disse Rick com um largo e branco sorriso.

— Como assim brigar por mim?

— Ele não te contou? Ele...

— Tá bom, já chega, melhor você se preparar, logo teremos missão em campo. – interrompeu Edric antes que eu soubesse sobre o que se tratava a briga.

— Ok, ok, até logo, gatinha. – disse Rick piscando outra vez antes de sair pela porta.

Sabendo que Edric não ia responder se eu perguntasse sobre a briga, resolvi mudar de assunto:

— Vocês vão sair em missão? O que vocês fazem quando saem em missão?

— Correção: Nós vamos sair em missão. – respondeu Edric olhando uma pasta com documentos dentro.

—... Oi?

Nós vamos sair em missão: Você, eu, Rick e Henry.

— Que? Até eu? Por quê?!

— Porque nós somos um time, o único time desse setor... E porque eu estou mandando.

Edric olhou para mim e deu um largo sorriso debochado, ele estava me provocando. Eu já não gostava muito dele antes, agora estou detestando. Já vi que aceitar esse “emprego” foi uma péssima decisão.

— Você sabe que eu acabei de chegar, não conheço nada do que rola na Ordem e não sei nada sobre esse poder misterioso que só me traz confusão, né?

— Sim, eu sei de tudo isso, por isso quis que você entrasse pro meu time, para descobrir mais sobre esse seu poder e o jeito mais rápido é na prática, por isso sua primeira missão para a Rosa Vermelha começa hoje.

— Então foi pra isso que você brigou com alguém? Pra descobrir sobre meu poder? - perguntei tentando provoca-lo.

— Na realidade não foi uma briga, foi uma discussão normal e totalmente civilizada. - respondeu ele calmamente.

— Aham, claro, totalmente civilizada! Você estava aos gritos com o Major Carlos porque ele não queria deixar a Elena entrar pra Ordem sem ser examinada pela equipe que casos especiais da Rosa Azul. Isso sem contar que 3 pessoas tiveram que te segurar com medo de você quebrar a cara do Viktor, e ainda quase fez o Marcus chorar, se bem que o idiota mereceu aquele sermão. – disse Henry atrás de mim com o tom entediado de sempre, eu nem tinha percebido quando ele entrou na sala.

— Ai meu Deus! Você fez tudo isso? Por minha causa? Por que não me disse nada? – perguntei nervosa.

Edric olhou para Henry com raiva, parecia que ele queria mata-lo só com o olhar e eu podia jurar que tinha uma névoa escura voando ao redor dele. Me deu um pouco de medo.

— Te contar não ia adiantar de nada, pelo menos consegui que você entrasse para Rosa Vermelha. – disse Edric com frieza.

— Claro, depois de tudo aquilo, se ela não entrasse alguém com certeza morreria, do jeito que você estava furioso... – disse Henry calmamente, Edic olhou para ele com ainda mais raiva. Acho que o Henry não deve dar muito valor a própria vida, ou simplesmente gosta de perigo. Rapidamente tentei mudar de assunto.

— O-o que eu vou fazer nessa missão? Sobre o que é essa missão afinal?

Edric me ofereceu a pasta que ele estava lendo antes. Ela estava cheia de fotos e um arquivo de uma velha mansão abandonada, aparentemente ela é mal assombrada. Senti um arrepio, primeiro um bicho papão que joga caminhões em pessoas, agora fantasmas. Realmente foi uma péssima ideia vir para a Ordem.

— Quando nós vamos? – perguntei receosa enquanto devolvia a pasta a ele.

Edric deu outro sorriso debochado, dessa vez seus olhos brilharam com malícia.

— Vamos imediatamente.

Gemi.

— Elena, eu fiz isso para você. – disse Henry me entregando o que parecia ser um relógio inteligente.

— Obrigada! – disse eu colocando o relógio no pulso.

— Isso é um comunicador de pulso, assim se algo der errado você pode pedir por ajuda, além de outras coisas.

— Entendi.

— Vamos, Rick já deve estar nos esperando na sala de transporte. – disse Edric.

Subimos até o 13º andar e entramos numa sala com a placa “Sala de Transporte Dimensional.” pregada na porta. Ela era uma sala toda moderna, com várias telas de computador sobre várias mesas e pessoas de jaleco andando de um lado para o outro apressadas, parecia que eu estava num filme de astronauta e essa era a sala de comando da base. No centro tinha um grande círculo iluminado e Rick estava de pé no meio dele, de braços cruzados.

— Até que enfim chegaram, eu estava ficando cansado de esperar aqui. – disse ele.

— Para de reclamar Rick, todo mundo sabe que você acabou de chegar também. – disse Edric, algumas pessoas na sala riram, incluindo Rick.

Nós três nos juntamos a Rick no centro do círculo, vi Benny do outro lado da sala, ele estava ajudando um garoto com algo no computador, quando ele me viu sorriu e acenou alegremente, eu acenei de volta. De repente uma voz masculina começou a falar:

— Status de transporte all green, iniciando contagem regressiva: 5... 4... 3...

Fiquei nervosa, o círculo começou a brilhar muito forte e fechei os olhos por causa da luz.

— 2... 1... Start!

Quando a luz enfraqueceu e abri os olhos de novo, não estávamos mais na Ordem, mas na mansão que tinha visto nas fotos na pasta que Edric me deu. Fiquei paralisada, a um segundo atrás eu estava num lugar e agora estava em outro completamente diferente.

Elena? – chamou Rick me tirando do transe. – Vamos logo, vai ser divertido!

— Claro... divertido. – disse eu meio receosa, sabia que entrar numa mansão caindo aos pedaços e cheia de fantasmas não seria nada divertido, mas como eu não tinha outra escolha resolvi entrar logo atrás de Rick. – Só espero que acabe logo.

Assim que coloquei os dois pés na entrada da mansão, a porta misteriosamente fechou atrás de mim, como se uma força invisível a tivesse fechado. Agora não tinha mais volta.


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