Os dias atrasados serão cobrados... escrita por Beca


Capítulo 3
Sobre Lili, a garçonete e Meera


Notas iniciais do capítulo

Demorei mais para postar esse capítulo, me desculpem. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530234/chapter/3

Era uma manhã de sábado bastante agradável, não muito quente, nem muito fria. Lili encarou Shion discretamente sobre sua caneca. Notando-a, Shion sorriu, fazendo com que a menina virasse o rosto apressadamente, evergonhada.

Recentemente Lili havia olhado bastante para Shion. Ela costumava ir bastante à sua casa, geralmente a convite de Karan, acompanhada da mãe, Renka. Sua mãe e a mãe de Shion conversavam por horas e horas a fio enquanto Renka ajudava Karan com a padaria. Lili tinha se tornado uma mocinha bonita e delicada, bastante pequena, como uma boneca. Frequentava o último ano do ensino elementar* em uma boa escola no centro e tinha muitas amigas que a tratavam bem. No entanto, seus momentos de maior felicidade eram aqueles que podia estar ao lado de Shion. Ela adorava olhá-lo, ele era diferente dos outros meninos que ela conhecia da escola.

Os meninos de sua sala eram todos bobos e feios, ficavam fazendo gracinha e importunando ela e suas amigas. Shion era diferente, ele era gentil, sorridente e educado, um verdadeiro príncipe. Seus olhos violetas e seu cabelo branquinho como algodão pareciam ter saído de um dos contos de fada que sua mamãe costumava ler para ela quando a menina não conseguia dormir devido aos pesadelos que tinha com frequência.

O chocolate quente que Karan havia preparado estava uma delícia. Naquela momento, sentada sob a pequena mesa redonda da cozinha da casa de Shion, a menina se sentia completa.

“E então Lili, como vai a escola?” A garotinha quase se engasgou com o chocolate, olhando nervosa para Shion.

“Va – vai bem.” Silêncio.

“Tem bastantes amigos?” Shion estava se esforçando para manter uma conversa.

“Uhum.” Silêncio.

...

Tudo aconteceu bastante rápido . Incomodado com a aparente falta de interesse de Lili em manter uma conversa amigável com ele, Shion pensou em ir chamar as outras crianças do subúrbio para fazer companhia a ela. Decidido, quebrou o longo silêncio com o rangido que sua cadeira fez ao se levantar de súbito.

“Lili, vou - ” A menina, que estava tensa desde o momento que se sentou a mesa com Shion, acabou colapsando com o susto, tombando sua caneca no seu colo. O chocolate marrom e viscoso trilhou um caminho pelo vestidinho branco da menina, escorrendo pela sua perna e por fim alcançando o chão.

Lili olhou horrorizada. Shion teve a delicadeza de se manter sério, por mais que não soubesse muito bem o que devia fazer a seguir. Com as mãos tremendo, a menina pegou a caneca do colo e a voltou na mesa, então, não conseguindo mais conter as lágrimas que desciam dos seus olhos, levantou-se e correu para fora.

“Lili!” Shion tentou chamar por ela, mas a pequena já havia sumido.

////////

Lili correu a esmo pelas ruas do subúrbio. Sentia-se humilhada e desajeitada. Seu vestido todo manchado a fazia parecer mais estúpida ainda. Por que tinha que estragar tudo? Aquele era seu momento perfeito ao lado dele... e então isso.

Quando não pode mais aguentar correr, diminui o passo, só então se deu conta de que não sabia onde estava. Se encontrava numa rua larga e muito movimentada, pra onde quer que olhasse via várias e várias barraquinhas que vendiam o mais variado tipo de coisas: frutas, legumes, roupas, bijuterias, carne. O zumbido da multidão era constante.

Zun zun zun zun Zun ZUNzun –

As pessoas a atropelavam, empurravam e ralhavam com ela, a menina respondia com olhares assustados.

“Sai da frente.” “O que tá fazendo aí parada?” “Dá o fora daqui.” “O que uma menina do centro como você tá fazendo aqui?” E olhares, muitos olhares, olhares desconfiados, raivosos e gélidos. Lili sentiu seus olhos marejarem mais uma vez. Esse não é o momento para chorar, sua idiota. Levante a cabeça e saia andando como se nada tivesse acontecido. Suas pernas não saíram do lugar.

ZunZUNzUnZUnzuN. “Que menininha mais problemática.” “Coitadinha, deve estar perdida.” Empurra. Atropela. Encara.

“Eeei, você, qual é o seu nome.” A menina parada em sua frente parecia ter a sua idade, se não um pouco mais velha, era mais alta que ela por uns bons centímetros.

“Lili.” Balbuciou baixinho. O zumbido enconbriu suas palavras.

“O que?”

“Lili!” Dessa vez falou mais alto.

“O que você tá fazendo aqui, você tá perdida?”

Lili assentiu com a cabeça. A estranha agarrou prontamente a sua mão, a arrastando para um beco lateral.

“Aonde você mora?” A estranha lhe perguntou gentilmente, o som ensurdecedor agora distante.

“No c – centro.” Lili respondeu, com o rosto abaixado.

“Mas... você está com alguém, não está?”

A menina acenou com a cabeça. “Com a minha mãe?”

“Você se perdeu da sua mamãe? Foi isso?” A menina deu a Lili um sorriso tranquilo. “Vamos achá-la, eu prometo. Onde foi que você a viu pela última vez?”

“Estávamos na padaria, mas eu não quero voltar para lá.” Confessou.

A menina a olhou confusa, mas não questinou. Continuou segurando as pequenas mãos de Lili nas suas. “Por que não nos sentamos, aí você me conta tudo, quem sabe eu posso ajudar? A propósito, meu nome é Karan.”

“K-karan?” Lili ficou surpresa.

“é um belo nome não acha?” Karan disse sorrindo abertamente enquanto se sentava no chão.

“Sim.” E realmente era. Lili sentou-se ao seu lado.

E assim, em um canto escuro de um beco qualquer no meio do subúrbio, Lili fez uma amiga. Falou sobre Shion, de como gostava de estar em sua companhia, de como ele era gentil, educado e se parecia com um personagem de um conto de fadas. Falou do chocolate quente, de como era desajeitada e da maneira que derrubou a caneca no colo. Mostrou-lhe o vestido manchado e por fim acabou chorando de novo.

Karan foi gentil, ouviu com atenção cada palavra e, quando Lili colapsou em lágrimas, envolveu seus braços morenos em volta da pequena menina, consolando-a com palavras suaves e sorrisos. O sol brilhava alto no céu, o inverno estava acabando.

Quando Lili finalmente se acalmou, Karan se levantou trazendo –a junto consigo. “Vamos, sua mãe deve estar preocupada.”

As duas voltaram para a rua larga e movimentada, Karan fez com que elas achassem a saída bem rápido. Andaram mais dois ou três quarteirões, viraram algumas vezes aqui e ali e, por fim, chegaram à porta da Padaria. Lili olhou para Karan, confusa. “Nunca falei que essa era a padaria, como você sabia?”

“Ora –” Karan respondeu com um sorriso brincalhão nos lábios. “Falando tanto sobre o Shion, só pensei que pudesse ser aqui.” Lili estava embasbacada, seu rosto enrubrescendo violentamente, o que fez Karan sorrir mais ainda.

“Po – p – por favor, não conte para ele. ”

Karan riu deliciosamente. “Relaxa, não vou falar nada.”

“LILI!” Renka e Karan vinham subindo a rua, ofegantes. Ao ver a filha, Renka correu até ela, estava soluçante.

“Mamãe.” A menina também sentiu vontade de chorar.

“Onde você se meteu, Lili? Não tem noção de como me deixou preocupada? Nunca mais faça isso de novo.” Com suas capacidades anormais de mãe, Renka conseguiu ficar perfeitamente séria e brava ao ralhar com a menina. “Quando chegarmos em casa, teremos uma conversa mais do que séria.”

Lili olhou para os pés, envergonhada.

“Ahh, muito obrigada por ajudar minha filha, espero que ela não tenha te incomodado.” Renka disse, finalmente percebendo a menina ao lado da filha. “Qual é seu nome?”

Antes que pudesse responder, a mãe de Shion interveio:

“Seu nome também é Karan, ela e seu irmão costumam visitar Shion com frequência. Por que você não entra e come alguma coisa minha querida? Shion está lá dentro cuidando da loja, tenho certeza de que ele adorarioa te ver.”

A pequena Karan sorriu, agradecida pelo convite, mas ela sabia que teria que recusar:

“Muito obrigada tia, mas combinei de encontrar com meu irmão pro almoço. Cumprimente o Shion por mim.”

“É claro.” A Karan mais velha abraçou a pequena e beijou-lhe a face. “Cumprimente seu irmãozinho por mim também.” E assim, Lili, Renka e a mãe de Shion observaram a pequena figurinha cintilante que era a menina Karan até esta sumir de vista, voltando pela direção que percorrera com Lili mais cedo.

Quando finalmente voltaram à padaria, Shion se mostrou aliviado, o que deixou Lili bastante evergonhada. No entanto, após todo esse evento, Lili se sentiu um tanto diferente, percebeu que sua atitude foi muito boba e meio sem sentido. Mas, acima de tudo, havia se dado conta de uma coisa: Também teve um momento muito especial ao lado da nova amiga, tão especial quanto os que tinha junto a Shion. Karan foi gentil e atenciosa como ele, Lili iria adorar encontrá-la de novo. Quando isso finalmente acontecesse ela faria questão de sorrir, assim como Karan havia sorrido para ela.

////////

Naquela mesma noite, Shion, Inukashi e Rikiga se encontraram mais uma vez para “discutir os assunsos que conscerniam a FLNN6”. Dessa vez, no entanto, o local da reunião foi no modesto apartamento de Rikiga, já que Karan havia vetado qualquer tipo de bagunça em sua casa. A verdade é que por ser sábado, os três estavam bebêndo. Karan também estava atenta a esse fato.

“Ei, Shiooon. Me diga Shion, você também acha aquela galinha fedida uma maldita não é? Aquela lambe-gatos. Não é Shioon?” Inukashi, estava provavelmente se referindo a Marian, tinha uma caneca de vodka atada à mão.

“Cala boca seu fedelho, o Shion tá ocupado, não tá vendo?” Quem o respondeu foi Rikiga. Shion estava vomitando na pia da cozinha. As doses de tequila não lhe cairam muito bem. “Não se esqueça de limpar tudo depois, Shion.”

O jovem voltou para a sala lívido, jogando-se no sofá desocupado. O apartamento de Rikiga, por mais que pequeno, era bastante confortável. Tinha apenas quatro cômodos, uma cozinha adepta a uma sala, um quarto e um banheiro. Cada comôdo era mobiliado de maneira bastante simples, mas com o máximo de comodidade possível. “Não seu preocupe com a sua pia, eu já limpei a sujeira”.

“É bom mesmo, garoto. Foi muito cara, aquela pia.”

Inukashi explodiu em riso.

“Como se isso fosse verdade seu velhote pão-duro, aposto como comprou uma usada, não é mesmo?”

“Aaah, repete seu fedelho imprestável, repete na minha cara!” Rikiga levantou-se e se dirigiu até Inukashi, dando um tapa na caneca em sua mão. A vodka transparente depravou o chão.

“NÃÃÃÃO!” Inukashi debulhou-se em lágrimas. “Como ousa seu velho desgraçado, minha preciosa bebida.” E assim, pela quinta vez na noite, os dois estavam discutindo mais uma vez. Shion, acostumado como estava, não deu mais atenção. Na verdade, sentiu-se um tanto quanto preso, sua cabeça doía e a gritaria dos dois não ajudava em nada. “Vou sair para tomar um ar, ok?” Percebeu que estava falando com as paredes. Dane-se.

A noite estava fria como se era esperado. Shion cruzou os braços firmemente em torno do peito enquanto vagava pelas ruelas escuras do subúrbio. O vento cortante doía-lhe o nariz e as bochechas. Parou na frente de um bar, uma ilha de luz no meio do oceano que era a escuridão, decidiu entrar.

O lugar era pequeno e bastante sujo, contava com apenas cinco mesinhas redonhas e engorduradas e algumas cadeiras. Atrás do balcão havia um bartender esguio e de rosto macilento. Em uma das mesinhas se encontrava uma jovem bem bonita, mas que chorava desconsoladamente, um copo de bebida ao lado da cabeça que estava apoiada na superfície dura da mesa.

Shion sentou-se no balcão, o bartender o olhou desconfiado, como que questionando a sua idade, afinal Shion ainda parecia o mesmo menino de dezesseis anos. Por fim, o homem não disse nada.

“O que vai querer, garoto?” Uma garçonete que veio de só Deus sabe onde surgiu ao lado de Shion, tinha a pele branca e sardenta, seu cabelo era comprido e ondulado, tão vermelho quanto fogo. Ela usava um uniforme apertado e decotado que deixava a mostra a maior parte dos seus grandes seios. Seus olhos eram de um verde claro que caía perfeitamente com suas mechas vermelhas. Ela era pouco mais velha que Shion e bastante bonita, não, muito bonita. O tipo de beleza que deixaria qualquer cara louco de desejo, .

“Um café estará bom, obrigada” Curiosamente, Shion não sentiu nem um pouco de loucura, nem mesmo de desejo. Sem se dar conta, roçou seus lábios mais uma vez.

Mais tarde Shion descobriu que talvez fosse mais bonito do que pensava.

“Meu horário acabou, o que acha de agente ir para algum lugar, garoto?” A garçonete debruçou-se sugestivamente sobre ele, dando-lhe uma perfeita visão do que o esperaria caso aceitasse seu convite. Por que deveria recusar? Ela é bonita, está disposta e eu estou bêbado. O que poderia sair de ruim disso? Suspirou.

“Não posso, já sou compromissado.” Ela ficou desapontada.

“É mesmo, é? E quem seria a garota de sorte?”

Shion pensou por alguns segundos. “Ela se chama Eve. Encena peças de teatro.”

“E onde está sua Eve agora?” A garçonete tinha uma acidez incomum na voz.

“Sinceramente, não sei. Não sei nem se ela vai voltar para mim algum dia.” Ele estava sendo sincero, por algum motivo isso não o deixava abalado como antes, pensar nele já não era mais doloroso. Provavelmente estou conformado. Conformado de que não posso fazer nada sobre isso, a não ser esperar, como prometi. Mas que merda de promessa foi essa, Shion?

“Bem, já vou indo. Passar bem.”Com um último olhar de indignação e descrença, a garçonete saiu. Onde já se viu mulher como ela sendo rejeitada por uma tal de Eve, isso por que o moço nem sabia se ela ia mesmo voltar, mas que piada.

Shion acenou para o barman pedindo a conta, já era bem tarde da madrugada e ele provavelmente queria fechar. A jovem bonitinha que mais cedo estava chorando ressonava tranquilamente.

“Você é daqui, garoto?” Perguntou o barman, supreendendo Shion.

“Sou.”

“Pode levar ela para casa?Ela terminou com o namorado, bebeu muito e já está bem tarde.”

Shion pensou se deveria mencionar que também estava um pouco bêbado, mas deixou isso de lado. Pagou a conta e foi até a moça, chacoalhou-a gentilmente pelos ombros.

“Ei, acorde.” Ela abriu os olhos, confusa. Seu olhos eram castanhos bem escuros, assim como seu cabelo e sua pele. “Eu vou te acompanhar até a sua casa.” Disse Shion, pacientemente.

Ela o olhou desconfiada, considerando recusar, mas se deu conta da hora e achou melhor não arriscar. “Se você tentar alguma coisa comigo garoto, eu juro que te arrebento.” Ela era alta e parecia ser bem forte, Shion não duvidou de que ela realmente faria isso, caso necessário.

Quando finalmente saíram do bar, Shion deixou-a tomar a liderança. Ela se manteve bastante quieta e reservada, tudo que se podia ouvir era o barulho de seus passos e o som da escuridão.

“Então.” Shion tentou puxar conversa. “Qual o seu nome?”

Ela revirou os olhos, o incidente com o namorada a deixara sem paciência.

“Eu me chamo Shion.” Ele estava se sentindo bastante bobo. “Não fique triste, sabe. Digo, pelo seu namorado, outras pessoas virão.”

“E o que você sabe sobre isso?” Ela perguntou quando finalmnete perdeu a paciência.

“Realmente não sei muito.” Realmente não sei nada, nunca tiva uma namorada... nem um namorado. E a única pessoa com quem cheguei ao mais próximo disso está completamente desaparecida.

“Você por um acaso sabe o que é perder alguém que ama?” A iniciativa ter partido dela o pegou de surpresa.

Agora, sobre a pergunta... isso era tão complicado.

“Não sei muito bem, digo, não sei se já cheguei a amar alguém, também não sei se realmente perdi esse alguém ou não.” Ele tentou explicar, ela o olhou, curiosa.

“Como assim? Então você teve alguém?”

“Talvez tenha tido, não sei.”

“Ora, não existe talvez. Ou você teve alguém ou não. Você gostava dessa pessoa?”

Shion refletiu, o que havia dito a ele mesmo? Que meu mundo não fazia sentido sem ele, é, acho que foi isso. Acho que naquela época aquilo era verdade, mas tanto tempo se passou. Shion foi obrigado a tornar o que disse para Nezumi uma mentira. Se tivesse passado cinco anos em um mundo sem sentido, não teria sobrevivido. Ele teve que criar um sentido. Mas por que? Por que fiz isso? Sim, para cumprir minhas outras promessa, a promessa de que esperaria e a promessa à Safu.

“Acho que sim, queria ficar com ela.”

“E no fim, você a perdeu, certo?”

“Não sei, ela disse que a reunião viria. Fez um voto.”

“Um voto, que voto?”

“Um ardente beijo apaixonado.”

Ela riu pela primeira vez, uma risada melodiosa e feminina, lembrava a risada dele.

“Mas que pessoa idiota.”

“Nem me diga.” Shion disse, concordando.

Quando chegaram ao seu destino, a moça o cumprimentou com um aperto de mão.

“Você é um cara interessante, Shion. Aqui, pegue.” Disse passando uma folha a ele. “Esse é meu número, quem sabe se você me ligar agente possa sair junto. Me chamo Meera, a propósito.”

“Muito obrigada, Meera, mas acho que não vou poder ligar.” Meera sorriu para ele, um sorriso sincero.

“Eu achei que não. Bem, faça um bom retorno, sim? Nos vemos qualquer hora, Shion.” E assim ela entrou para dentro de sua casa. Shion encarou por mais alguns momentos a porta pela qual ela havia acabado de sumir, pensando sobre a conversa que tiveram. Talvez pudesse sim ligar para ela, conversar com Meera havia sido bom, mais amigos não iam lhe fazer mal.

Quando voltou para casa de Rikiga, ele e Inukashi já estavam dormindo. Os dois únicos sofás já estavam ocupados. Pensou e ir dormir no quarto de Rikiga, mas já não estava mais tão bêbado assim para se submeter a isso, então decidiu deixar um recado aos dois e voltar para casa.

Quando finalmente chegou, a noite já estava em seu limite, a aurora despontava no horizonte, preguiçosa. Mamãe não vai ficar satisfeita se eu entrar a essa hora, melhor eu enrolar até a hora de abrir a padaria.

Shion não estava com tanto sono assim, o café o tinha despertado consideravelmente assim como tirara bastante da sua embriaguez. Por algum motivo, decidiu matar o tempo passeando nas ruínas dos muros e do distrito oeste. Pensou em visitar sua antiga casa.

////////

Ele teve que andar por um bom bocado até chegar nas antigas ruínas do distrito oeste e ainda mais um pouco para chegar à sua antiga casa. Desde que Nezumi havia partido, Shion já havia visitado o lugar uma vez, uma semana depois do ocorrido, talvez esperando que o encontrasse por ali, mas, por fim, não teve coragem de entrar no quarto, com medo do vazio que talvez encontrasse lá dentro. Dessa vez Shion entrou sem problemas. Tudo se encontrava no exato lugar que ele se lembrava que estavam, nem um centímetro de diferença. Depois daquele voto, Nezumi não havia retornado. Shion se sentou na cama que costumavam dividir. Os lençois estavam bagunçados da maneira que eles o haviam bagunçado, cinco anos atrás, quando acordaram juntos pela última vez. Uma camada fina de pó cobria tudo, mas o cheiro não havia sumido, o cheiro de Nezumi.

E então, uma súbita onda de cansaço atingiu Shion, o formato daquela cama, seu cheiro e textura tão naturais a ele eram como um convite, um convite que ele aceitou prontamente. Antes de se deitar, bateu a roupa de cama para tirar um pouco do pó e a rearrumou sobre o colchão. Quando repousou a cabeça no travesseiro, quase se esqueceu dos anos que haviam passados. Talvez, quando abrisse os olhos, Nezumi fosse estar ao seu lado, como seu cheiro sugeria, talvez ele nunca nem tivesse partido. Mas quantos “Talvez”...

////////

Quando acordou já passava das dez. Levantou-se como um tiro e se dirigiu a saída. Mamãe ja deve ter perguntado aos dois sobre mim, droga.

Porém, quando estava na porta, prestes a ir embora, permitiu-se dar uma última olhada. Ia voltar para esse quarto bem cedo.






Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*: O que significa que ela tem, aproximadamente, de 11 a 12 anos, pelas MINHAS estimativas


Espero que tenham gostado e continuem lendo. Gostaria de agradecer a pessoa que está acompanhando, fiquei muito lisonjeada.
Opinem e critiquem, por favor.