Os dias atrasados serão cobrados... escrita por Beca


Capítulo 4
Quando os problemas começam e a luz deixa o futuro incerto


Notas iniciais do capítulo

Bem, primeiro gostaria de esclarecer algumas coisas.
Enquanto escrever essa fic não passou de um hobby para mim, passei momentos muito interessantes especulando sobre possíveis desenrolares para ela. Concluo portanto que está sendo uma experiência benéfica que eu ainda não abandonei. Eu sei, não posto nenhum capítulo tem meses e isso realmente é verdade. Mas nunca deixei de escrever: tenho dezenas de folhas e mais folhas de estória prontinha que clama para ser passada a limpo. Coisa que pretendo fazer agora.
Mas primeiro devo dizer que, ao reler minha própria obra, fiquei muitíssimo decepcionada com muitas coisas, principalmente com a escrita, mais precisamente os erros de digitação, concordância e acentuação. Peço do fundo de meu coração que o leitor deixe seus olhos deslizarem por tais erros e que não me julgue por tais, pois eles já foram tomados em consideração e as devidas providências serão tomadas: tentarei não os cometer de novo.
Agora gostaria de pontuar algumas coisas que podem ter passado despercebidas ao leitor.
Repare como no começo desta fic, mais precisamente no capítulo primeiro, eu me referia a Inukashi como um indivíduo do sexo feminino e, portanto, usava os termos adequados a tal sexo. No entanto mais tarde, ao checar algumas partes da light novel, lembrei-me do fato que, na obra original, a personagem é tratada como um indivíduo do sexo masculino. É por isso que, no decorrer da fic, passei a me referir ao Inukashi como um homem e afirmo que isto continuará.
É preciso lembrar, no entanto, que o fato de ele ser tratado como homem não é prova de seu gênero, afinal nem mesmo na light novel isto fica claro. Mas farei questão de abordar o tópico durante a fic.
Outra coisa que é diferente do anime na obra original é que Shion e Nezumi dividiam a mesma cama durante o tempo que passaram juntos, o que eu acho um fato importante, já abordado na estória.
Bem, é só isso...Talvez eu mude a rating da estória, mas preciso colocar as ideias no papel primeiro. Aproveitem.



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Os problemas começaram apenas alguns dias mais tarde junto com o fim do receoso inverno, que dava seus últimos sopros gelados antes de ceder seu lugar à acolhedora primavera.

Shion nem havia acordado direito, afinal ainda era 7:30 da manhã, e Inukashi já batia em sua porta desesperadamente:

– SHION! – Ele gritava enquantos seus punhos esmurravam furiosamente a madeira . Sua voz era assustada e tremia levemente. Shion sentiu um aperto no estômago.

Mal abriu a porta – ainda estava de pijamas – e Inukashi segurou seu braço em um aperto firme, arrastando-o para longe do batente, rua acima. O aperto lhe machucava um pouco, mas Shion ficou calado.

– Inukashi, mas que droga está acontecendo? – Ele perguntou, por fim, quando Inukashi finalmente o soltou, uma marca vermelha manchando a pele branca logo acima de seu cotovelo.

Ao invés de respondê-lo, Inukashi ofegava profusamente, gostas de suor deslizavam por sua tez morena e brilhante. Ele levantou a mão, igualmente morena, como que pedindo tempo para recuperar o fôlego. Poderia ele ter vindo correndo até aqui?

– Um ultimato – Ele disse simplesmente quando sua respiração normalizou.

Shion ficou confuso, nada do que estava acontecendo aparentava o mínimo de sentido. Olhou para as mãos pois lera que tal hábito era uma ótima maneira de perceber que se está sonhando. Geralmente nos sonhos as nossas mãos ficam deformadas de diversas maneiras diferentes. No entanto suas mãos estavam aparentemente normais. Brancas e com cinco dedos em cada, exatamente como sempre foram.

– Ok – Shion confessou – Não entendi.

Inukashi arregalou os olhos, bastante nervoso. Seus dedos apertavam com firmeza a bainha da sua camiseta e por um momento ele pareceu receoso, como se ponderasse se realmente queria explicar o que quer que viera dizer a Shion. Mas a verdade é que ele não tinha opções:

– O conselho. Ele nos deu um ultimato.

Shion não compreendeu, a princípio, ou simplesmente se recusou a entender. Na verdade, tal estatação era não apenas improvável como absolutamente impossível. Não havia uma noite onde Shion não revisava os acontecimentos recentes e questionava se poderia haver ou não algum defeito em seu estrategema.

A criação de uma sociedade auto-sustentável nos subúrbios aos moldes do antigo distrito oeste era uma maneira efetiva e pacífica de protesto contra o centro. Após quase cinco anos das quedas dos muros e a junção do novo grupo populacional (proveniente do então recém destruído Distrito Oeste ) a cidade, os antigos moradores de NO.6 se tornaram um conjunto de pessoas assentadas que abandonaram, em suma maioria, suas antigas vidas e trabalhos para ocupar apenas cargos ligados ao setor de prestação de serviços. Aos suburbanos foram incumbidas as tarefas relacionadas a agropecuária e e as indústrias, assim como os trabalhos pesados e baratos.

Dessa forma, quando os suburbanos, indignados com as condições que eram tratados, finalmente se afastaram e cortaram as relações com o centro, este último perdeu a coluna que susentava a vida fácil que levavam, deixando-os em uma situação precária.

É claro que o conselho tentou tomar medidas que contornassem a situação, Shion sabia disso. A partir de um programa que buscava a reestabilização, foi ordenado que todos os moradores do centro retornassem à suas antigas funções; um plano que, se seguido a risca e de maneira organizada, teria resolvido os problemas do centro em pouco tempo.

Porém, o programa foi um caos. Os moradores, acostumados com a nova vida, se recusavam a retornar para seus antigos trabalhos e reações violentas aconteceram por um tempo dentro da cerca até o momento que foram contidas. Algumas poucas pessoas até mesmo optaram por abandonar a vida que tinham de uma vez por todas e se juntaram aos subúrbios. Mas era esclarecido a todos que, caso o fizessem, não poderiam voltar atrás.

Observando campos e mais campos de cultivos e muitos pastos abandonados, a FLNN6 não hesitou em usá-los. Por mais que não ocupassem nem um terço das terras disponíveis devido a pouca disposição de pessoas adequadas, o uso de tais terras garantiram ao subúrbio uma generosa disponibilidade de alimentos que não era comum nem mesmo aos tempos do distrito oeste.

Para os suburbanos a rotina mudou muito pouco: continuaram a realizar os mesmos trabalhos de sempre (a não ser as indústrias, que foram completamente abandonadas), mas sabiam que dessa vez trabalhavam para benefício próprio e que não estavam sendo explorados. Aqueles que não haviam sido beneficiados pelo boicote, como trabalhadores de indústrias e prestadores de serviços domésticos, recebiam auxílio suficiente da FLNN6 para que ao menos conseguissem se sustentar até os conflitos acabarem. Em suma, a população do subúrbio se encontrava modestamente satisfeita com o rumo que as coisas tomavam.

Mas a vitória não seria rápida, Shion também sabia disso. Enquanto a maioria das pessoas do centro se recusaram a retomar o cultivo de terras em grande escala, alguns poucos voluntários cederam seu tempo para se dedicar a uma outra tentativa: a criação de grandes hortas dentro do jardim botânico, portador das condições ideais para o cultivo de plantas, e, além disso, o tratamento de água e esgoto. Portanto, enquanto a quantidade de comida estava longe de ser a necessária, ela existia e água não iria faltar. No que se dizia respeito a energia, esta não era e nunca fora fornecida pela própria NO.6 em si, mas sim por uma grande usina hidrelétrica central que alimentava todas as cidades de maneira uniforme e padronizada. Desta modo se economizava recursos naturais e a produção era otimizada. Shion sabia que energia jamais faltaria.

Portanto, tudo se resumia a uma questão de tempo. A resistência do centro duraria até as pessoas começarem a cair de fome.

Alguém que não está ciente das políticas entre as cidades poderia pensar que todo esses esquemas são bastante infundados e falhos. Afinal tudo poderia ser resolvido se a direção de NO.6 pedisse auxílio às suas relativas e, então, subjugasse o subúrbio de uma vez por todas.

Mas Shion sabia que isso não aconteceria.

Foram guerras que levaram a detruição à tudo aquilo que existia antes da criação dos tempos atuais. Todos sabiam disso e todos eram suficientemente ponderados para saber que não deviam mais tomar partidos em batalhas alheias. Enquanto a guerra civil de NO.6 não desrespeitasse nenhum direito humano, nenhuma outra cidade tomaria partido e as relações que tinham com NO.6 permaneceriam estagnadas até que os conflitos fossem resolvidos.

Era uma vitória garantida. Shion não via falhas. Precisavam apenas esperar.De que maneira então poderia o conselho lhes dar um ultimato?

Mesmo assim, Shion não conseguia deixar de se sentir desconfortável...e se...?

– Como? – Ele perguntou depois de muito tempo – Como eles vão fazer isso?

Inukashi hesitou por um momento, mas respondeu:

– Nos matando de fome – No instante que as palavras terminaram de sair de seus lábios, Shion fez menção de iterromper, mas Inukashi foi firme – Eles queimaram nossas plantações Shion. Todas elas. Os pastos também.

– O que?! - Ele exclamou. Impossível. Isso era impossível.

– Alastor apareceu no hotel hoje mais cedo – Alastor era um experiente agropecuarista em seus cinquenta anos. Simples, mas confiável. Era ele quem estava incumbido de organizar as terras usadas pelos suburbanos, cuidar da saúde das plantações e dos animais, resolver os problemas e as necessidades ligados a eles, coisas assim – Você sabe como ele é sempre o primeiro a aparecer por lá, fazendo as tarefas da manhã. Ele disse que hoje, no entanto, tudo estava queimado. Cada centímetro de terra cultívavel e pasto, até mesmo o que não usamos e – Shion o interrompeu, não aguentando mais.

– Não! Nada do que você está falando faz sentido, Inukashi – ele disse exasperado, a voz um tom acima e suas mãos gesticulando a esmo como se ele conseguisse demostrar seu ponto dessa maneira.

Inukashi fechou a cara.

– O que, exatamente, não faz sentido para voce?

Tudo. Shion pensou. Tudo não faz sentido.

No entanto, não era característico dele ser incoerente. Organizou seus pensamentos e tentou expressá-los de maneira plausível.

– Por exemplo – Shion respirou fundo enquanto pensava – Como eles poderia ter queimado tudo tão depressa e de maneira tão precisa? Afinal, um incêndio tão grande a ponto de queimar hectares e mais hectares de terra em uma noite não poderia ser contido tão depressa assim. Pelo contrário, ele se alastraria até a floresta e estaria bem vivo agora mesmo. E, a não ser que eu esteja cego – Inukashi rolou os olhos – Não estou enxergando nada de alarmante

Inukashi o encarou, as palavras em sua língua pedindo para serem exclamadas, mas ele sabia o que viria caso as dissese.

Ele se arrependeria disso, mas falou assim mesmo:

– Lança-chamas.

Shion ficou espantando.

– Não me olhe desse jeito Shion, você sabe que é a única explicação possível.

Shion balançava a cabeça repetidamente, transtornado.

– Lança-chamas? Isso é ridículo Inukashi, sério, pare com isso – Todos sabiam que lança-chamas eram uma das coisas mais primitivas do universo – Se isso for uma brincadeira, eu juro que eu mato vocês.

Inukashi pareceu ofendido.

– Uma brincadeira? Eu nunca brincaria com algo tão sério a esse ponto, Shion. É verdade, e eu realmente acredito que foram lança-chamas. Se você parasse para pensar veria como é a única resposta possivel – Sua voz saiu aguda e descontrolada e seus olhos marejaram, Shion percebeu o quão assustado ele estava.

Shion suspirou.

–Certo, me desculpe. Mas ainda não consigo acreditar que eles realmente possam ter usado lança-chamas.

Os lança-chamas eram uma tipo de arma que havia deixado de ser usado havia muito tempo. Com o avançar da tecnologia foram sendo encontrados meios cada vez mais eficientes e amigáveis ao meio-ambiente para realizar as coisas onde o uso de um lança-chamas era necessário. Como arma de guerra fora considerado deveras brutal e primitivo. A própria existência de um lança-chamas era algo que Shion considerava inusitado. Agora o uso massivo de um? Impossível.

Mas...e se...?

Não, era impossível.

– Mesmo que o conselho realmente esteja com a posse de um lança-chamas, eles nunca conseguiriam fazê-lo funcionar. Essas coisas precisam de combustível, óleos inflamáveis como gasolina ou algum tipo de gás, como o gás natural. Você entende que conseguir esses recursos nesse momento é impossível, certo?

Inukashi mordeu os lábios. Era um bom argumento, sem dúvida.

Recursos naturais como petróleo ou gás natural eram coisas bastante raras nos tempo que viviam. Eram extremamente caros e seu uso era meticulosamente controlado pela assembléia, o maior poder entre todas as cidades. Enquanto a assembléia interferia muito pouco na direção de cada cidade, já que cada uma delas tinha a autonomia para lidar com as coisas que lhe concerniam como quisessem, um poder geral era necessário para controlar algumas coisas peculiares e poderosas e para momentos críticos. O controle de recursos não-renováveis era exatamente uma dessas coisas. E, por estar dentro de uma guerra civil, a assembléia nunca cederia qualquer tipo de recurso à NO.6.

– E há ainda mais Inukashi. Qual seria o objetivo do conselho em queimar nossas plantações? Não é como se fossemos desprecavidos. Eles sabem que possuímos um grande estoque de alimento. Se isso for uma batalha para ver que morre de fome primeiro, tenho certeza de que não seremos nós.

– Não é como se eu entendesse – Inukashi disse baixinho, Shion podia ver a confusão em seus olhos. Então subitamente, seus olhos se arregalaram e ele disse:

– Quase me esqueci, tome, leia você mesmo – E entregou a shion um envelope que tirou do bolso da calça.

Onze de Dezembro de 109.

À Direção do grupo intitulado FLNN6.

Nós, do Consilium Novi , como estão cientes, não desejamos de forma alguma o atual conflito presente entre as duas partes de nossa cidade. Acreditamos que tal conflito infundado perjura nossa imagem e enfraquece nossa unidade neste momento de profunda desolação, quando deveríamos estar mais unidos que nunca.

Tendo isso em vista, decidimos acabar com esta problemática infantil de uma vez por todas.

Requisitamos que todos aqueles chamados de suburbanos retornem a seus antigos trabalhos que ocuparam pelos últimos cinco anos. Quando o fizerem, será garantido a cada um deles um cartão de identificação que os identificará como um devido cidadão de nossa preciosa cidade.

No entanto, pedimos que continuem instalados nos chamados subúrbios e que transitem somente quando necessário.

Afirmamos, portanto, que, como cidadãos, será do direito deles participar das decisões de cunho político da cidade, como afirma nossa declaração de direitos e deveres e qualquer outra atividade semelhante, mas deixamos claro que, sem prévia aprovação do conselho, estes não poderão se candidatar a nenhum tipo de cargo público ou político.

Além disso pedimos que, dentro de um prazo de três dias, os “líderes” a quem nos dirigimos se entreguem de maneira pacífica à direção de nossa cidade, para que possam ser julgados de maneira justa pelos atos cometidos. Caso contrário, revogamos nossa oferta de paz e declaramos que não reagiremos de forma pacífica.

Deixamos claro que, se por alguma razão algum suburbano não se interessar por nossos termos, ele será livre para deixar a cidade, mas deverá fazê-lo consciente de que jamais poderá voltar, sobre nenhuma hipótese.

Esperamos que a paz possa finalmente ser atingida e que possamos nos sintonizar mais uma vez, em amor a nosso mais precioso bem, NO.6.

Sinceramente,

O conselho.

PS.: Como já deve ser da ciência de vocês, o último plebiscito realizado em nossa cidade aprovou mais uma lei, que pode ser conferida a seguir:

Artigo 11 do código civil de NO.6

É considerado cidadão qualquer indivíduo portador do cartão de identificação (ID) da cidade. O indivíduo em posse do tal goza de todos os direitos, assim como os deveres, de um verdadeiro cidadão, como constatado na declaração de direitos e deveres da cidade.

Para adquirir posse do cartão de identidade e, consequentemente, a cidadania, é necessário ter nascimento em solo desta cidade ou ter aprovação prévia do conselho.

A cada linha que lia, Shion se enchia de repugnância pelas palavras mesquinhas que lia, e o desconforto em seu estômago crescia cada vez mais. E então, subitamente, o entendimento o atropelou como um tanque de guerra antes mesmo de terminar a leitura. Tinha sido um idiota, pois acreditava na justiça e achava que as pessoas fariam o que era certo e que não passariam por cima de ninguém para alcançar seu objetivos.

Isso foi sua ruína.

Um vento frio bagunçou seus cabelos arrepiou os pelos do seu braço.

– Isso é tão injusto – Ele murmurou – Depois de tudo que fizemos...pisados...tanto descaso.

Inukashi o observou, mortificado.

– O que foi Shion, para de agir desse jeito, você está me assustando – Ele disse enquanto agarrava o braço de Shion, um apelo desesperado.

Shion não disse nada e apenas olhou para o céu azul manchado de nuvens. Por mais que o sol estivesse presente e afagasse delicadamente sua fronte, a única lágrima solitária que escorregou pelo seu rosto deixou um rastro gelado que pareceu congelar sua a alma.

////

Os próximos dias foram os mais caóticos da sua vida e também os piores. Mas Shion deveria manter sua compostura até o final. Se apresentariam ao conselho no dia seguinte, mas antes disso deveria se pronunciar aos suburbanos. Não seria tão ruim, Rikiga e Inukashi estariam do seu lado lhe emprestando suas forças.

– Suburbanos – Ele tentou soar forte e decidido de cima do palanque instalado na rua da feira, mas os diversos olhares o deixavam nervoso, era a primeira vez que se dirigia a eles dessa maneira. Geralmente era Inukashi quem costumava fazer discursos assim – É com grande pesar que devo lhes informar sobre o fim de nossa luta. Sei que todos aqui deram muito de si para que nossos ideias de igualdade e justiça fossem realizados. Mas não foi isso que c-conseguimos... – Sua voz tremeu na última frase e Shion se amaldiçoou mentalmente.

“devido a uma decisão superior que visou a vantagem dos maiores e a resolução dos conflitos da maneira fácil e adequada para eles, mesmo que injusta. Por meio da desculpa dos cartões de identidade e da nova lei(cuja a aprovação nos passou despercebida) que distingue cidadães pela posse de um cartão, como vocês já foram informados, a assembléia se pronunciou considerando a nossa luta como uma causa exterior a cidade e, portanto, uma ameaça a integridade de NO.6. Uma situação onde um partido deveria ser tomado. Dessa forma anunciamos que, devido a ajuda de outras cidades, nós perdemos. ”

As pessoas, que até então ouviam em um silêncio sepulcral, urraram em indignação com as últimas palavras. Mas Shion sabia que não podia fazer nada. Se sentia inútil.

“Vocês vão desistir?”, ”Depois de tudo que fizemos...”, ”Vocês mentiram para nós...”, “Acreditamos em vocês...”. As vozes diziam. Mas as três pequenas pessoas no palanque apenas encaravam o chão, feridos e desolados, sem poder conter a onda de frustrações que se alastrava pelas pessoas.

– Vocês estão loucos, todos vocês! – Uma voz se sobressaiu da multidão, Alastor – Não percebe que eles estão fazendo isso por vocês? Por nós? – Ele gritava e olhava ao redor, apenas sua voz podia ser ouvida, até mesmo Shion, Inukashi e Rikiga prestavam atenção em sua palavras.

“Vocês não prestaram atenção em nada do que eles falaram?” Ele perguntava enraivecido e somente um silêncio constrangido o respondia “Preste bem atenção em como nós mal seremos afetados. Pode ser verdade que eles não deixarão nos misturarmos, e é verdade que não poderemos nos candidatar a cargos de poder. Mas pensem bem, seremos considerados cidadãos, poderemos votar e até teremos certa liberdade, com o tempo, quem sabe não conseguiremos ainda mais.” Ele olhava para todos e para ninguém em particular.

“Mas” Sua voz ribombava como um trovão “Isso só será possível com esse sacrifício. Eles serão prejudicados! Tudo para que possamos ter o mínimo de direitos”. Muitas pessoas pareceram concordar, acenando a cabeça e sussurrando com aqueles que estavam mais próximos.

– Não foi isso que nos disseram. Disseram que era uma questão de tempo até sermos iguais a eles – Uma voz gritou do meio da multidão.

Mais pessoas concordaram e o burburinho foi crescendo. Shion apenas ouvia e pensava desesperadamente em algo para dizer, mas não sabia o que.

Então Alastor retomou o controle mais uma vez:

– Eles disseram isso pois acreditaram na justiça e na boa intenção das pessoas. E se quisermos estar a altura de nossos ideais, devemos acreditar nisso também. Não iremos desistir, devemos continuar lutando pelo o que é certo.

E essa foi a palavra final, após isso a zoeira foi tão grande que seria impossível dizer mais uma letra e ser ouvido. Pessoas discutiam, gritavam e choravam desordenadamente, sem saber o que deveriam fazer a seguir. Todas aquelas pessoas estiveram contando com muitas coisas para seu futuro e provavelmente a maioria delas tiveram suas perspectivas destruídas.

Ao descerem do palanque, os três foram diretamente procurar Alastor para agradecê-lo pelas palavras de apoio e encorajamento. Junto dele encontraram outras diversas pessoas, rostos influentes que estiveram sempre presentes durante os intermináveis meses de luta contra o centro.

Homens, mulheres, velhos e jovens; todos eles com o mesmo objetivo: a igualdade.

– Não desistiremos de nossa causa Shion– Uma mulher loira disse, apertando delicadamente o ombro de Shion. Era Saya, uma ativista dedicada, responsável pela educação infantil dentro do subúrbio – Você estava errado ao dizer que perdemos. Esse é o primeiro passo de nossa vitória.

Shion sorriu para ela, agradecido. Eram essas pessoas, as que continuavam lutando mesmo quando até ele já havia desistido, que lhe davam forças para enfrentar seus medos.

Shion sabia que ninguém iria deixar a cidade, afinal cinco anos era tempo o suficiente para criar laços que não se deseja quebrar, Muito menos que isso é necessário, na verdade. Mas isso de forma nhnuma era ruim. Enquanto as pessoas acreditassem, não importa quanto tempo levasse, eles seriam vitoriosos no final e Shion cumpriria sua promessa. Nem que precisasse ficar preso metade de sua vida.

Mas só de pensar no dia seguinte, seu estômago revirava. E se eles nos...

Não. Não pensaria em coisas desnecessárias.

Quando fez menção de se retirar, uma enorme morena entrou em seu caminho.

– Hey Shion – Meera disse com a voz suave.

– Hey Meera – Shion respondeu, um sorriso fraco surgindo em seus lábios.

– Posso ter acompanhar até sua casa? – Meera perguntou gentilmente.

Shion lançou um olhar inquisitivo para Rikiga e Inukashi, que acenaram energicamente para ele, como que dizendo: Aproveite enquanto pode, meninão. Shion rolou os olhos.

– Passaremos na sua casa mais tarde – Rikiga disse.

– Certo, estarei esperando vocês – Shion acenou para eles enquanto se distanciava, Meera do seu lado.

////

Ficaram em silêncio por um bom tempo, não um silêncio constrangido, mas um que de certa forma era confortável. Um silêncio que dizia que, apesar de calados, eles estavam ali, juntos. Nenhum dos dois queria que aquele silêncio acabasse, portanto andavam em um passo vagaroso e ficavam dando voltas e mais voltas, sem realmente se direcionar para algum lugar.

Algum tempo, ou uma eternidade depois Meera finalmente se pronunciou, o que também não era ruim:

– Você foi muito corajoso – Ela disse.

Mais alguns passos depois.

– Obrigado – Respondeu Shion. Não achava que tinha sido tão corajoso assim.

– Ei – Ela disse.

– Huh?

– Você fez isso por ela?

Shion foi totalmente pego de surpresa.

– Também – Ele respondeu sincero. Talvez aquilo tudo realmente tenha começado com uma promessa a Safu e a Nezumi, mas agora... Shion percebeu que agora ele fazia isso por todos eles, pois acreditava que isso era o certo a se fazer. E apenas isso bastava.

– Ela é uma mulher de sorte.

– Espero que ela pense o mesmo.

E ele realmente pensava.

////

Por fim Meera acabou ficando e quando Rikiga e Inukashi chegaram, até mesmo Karan (que teve de se ausentar do encontro na rua da feira para cuidar das crianças da vizinhança) se juntou a eles.

Passaram a noite conversando na sala. Falaram sobre as maiores bobagens e banalidades, contaram estórias há muito esquecidas e se permitiram aproveitar o que poderia ser o último momento de paz que teriam em muito tempo.

Quando todos os outros haviam finalmente dormido, um a um, nos mesmo lugar que estavam sentados, Karan se permitiu levantar e ir até o filho, que ressonava suavemente em uma das poltronas. Ela passou as mãos em seus fios brancos e compridos e não segurou as lágrimas que já queriam sair tinha muito tempo.

Ela tivera um filho tão maravilhoso...Shion era doce, gentil, inteligente e esforçado. Ele era tudo que ela poderia pedir de um filho. Ele era seu maior tesouro.

E agora, Karan teria de vê-lo partir mais uma vez, tudo por que ele estivera lutando por um lugar mais justo. Típico...

Ela queria poder protegê-lo, queria poder se entregar no lugar dele, queria poder morrer por ele, mas ela sabia que, caso o fizesse, ele nunca a perdoaria. E era tudo culpa dessa maldita cidade, essa cidade que ela mesma havia ajudado a criar. Antes, ele teve que fugir por que sabia demais, agora, tinha que se entregar por ter lutado pelo que acreditava era certo.

Por que não podiam deixar seu menino em paz? Por que não podiam deixá-lo ser feliz?

Mas Karan sabia que Shion jamais ficaria contente com isso, sabia que enquanto ele não estivesse satisfeito com o mundo ao redor dele, ele jamais se deixaria acomodar.

Seu tesouro era assim, e nada ia mudá-lo.

Ela beijou sua face angelical, e chorou mais ainda.

– Eu te amo – Ela sussurrou baixinho, dentro da sala de uma casa qualquer, em um canto perdido do planeta, poeira do universo.

E foram as mais verdadeiras palavras um dia pronunciadas.

////

Se apresentaram na Moondrop as nove da manhã, exatamente três dias após receberem a carta. Estavam os três algemados e eram escoltados por um grupo de cinco guardas. Se Shion não estivesse ciente da situação, até pensaria que eles eram algum tipo de criminosos perigosos.

Diferente do que esperavam, os guardas não os levaram para o elevador, por onde se chegaria a sala do conselho, mas sim os dirigiu por uma porta lateral que dava para uma sala pequena e fortemente iluminada. No canto mais longe havia uma escada que descia para lugares somente imagináveis.

– Onde vocês estão nos levando – Inukashi foi quem não conseguiu segurar a língua. O medo era palpável em sua voz, ele nem tentava mais esconder. De todos os três, Inukashi era provavelmente o que tinha mais medo de morrer.

– Calado – O guarda respondeu rispidamente. Era uma homem grande e forte e provavelmente poderia cuidar dos três sozinhos – Continuem andando.

Eles desceram as escadas(pois como perceberam, havia mais de uma delas) e se encontraram em um corredor idêntico a salinha que estiveram mais cedo: estreito e com uma luz forte que machucava seus olhos.

Shion observou o espaço que os envolvia. As paredes e o piso eram inteiramente brancos, assim como o teto. Em um intervalo de aproximadamente cinco metros, ele calculou, havia uma lâmpada de luz fria responsável pelo branco leitoso que impregnava sua vista.

Quando olhou para os amigos, viu Inukashi com os olhos marejados de frustração, as mãos algemadas segurando firmemente a bainha de sua camiseta. Shion não o culpava, pois sabia que Inukashi era o que tinha mais pessoas para deixar para trás. Havia seus cachorros que precisavam dele e, mais importante que isso, seu filho: um menininho de cinco anos, vívido e esperto. Karan cuidaria deles, é claro, mas nada se comparava a dor dele neste momento.

Rikiga por outro lado, era a personificação da calma e da segurança. Apenas alguém que o conhecesse há muito tempo, como Shion, poderia perceber a verdadeira natureza de sua emoções. Rikiga havia perdido a si mesmo.

Durante sua vida, ele sempre fora um pilantra, agindo sempre da maneira que era mais benéfica para ele. Participava de esquemas baixos e ilegais desde que esses viessem acompanhados de uma boa quantidade de lucro e não pensava em ninguém além de si mesmo. Como Inukashi, Rikiga não acreditava que se podia confiar em outras pessoas além de si mesmo.

No entanto, nos últimos cinco anos, ele havia aprendido o valor de uma verdadeira amizade, e havia vivenciado todas as maravilhas que recebem aqueles que praticam coisas boas. Ele havia acreditado que tinha deixado sua antiga vida para trás, e não se arrependia disso.

Porém, ao caminhar algemado e escoltado por diversos guardas, a luz branca cegando sua visão do futuro, Rikiga percebeu que no fundo, ainda era o mesmo. Percebeu que se tivesse a oportunidade fugiria sem pensar duas vezes, sem se importar com nada além da própria proteção. E isso o deixava desolado. Pois ele realmente desejava ter mudado.

E quando parou para pensar sobre si mesmo e seus próprios sentimentos, Shion percebeu que seu único medo era pelas pessoas que ficavam. O que aconteceria com sua mãe? Com Alastor? Lili? A pequena Karan?

O que seria de Meera?

Andaram pelo o que podia ser anos ou segundos – intermináveis em ambos os casos – e quando estavam quase desistindo de um dia chegar em algum lugar, os guardas pararam. Pouco mais de um punhado de passos a frente havia uma porta, branca como tudo naquele mundo.

– Andem – O mesmo guarda que havia falado antes resmungou novamente.

Os três caminharam receosos até a porta, mas não fizeram menção de abri-la.

– O que estão esperando? – Ele perguntou impaciente. Os três amigos se olharam receosos e Shion, por fim, esticou a mão para a maçaneta de metal, gelada contra a sua pele. A virou.

E com um clic, a porta se abriu para o intenso sol do meio-dia.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu sei que eu demorei e eu sei que depois de tudo isso eu ainda posto um cap bosta que nem esse. Mas me perdoem, por favor. Enquanto eu não deixasse a situação política amarrada, eu não poderia continuar a estória.
Eu sei que provavelmente não é sobre isso que vocês querem ler, e que tudo deve estar bem confuso e repetitivo. Mas eu peço que vocês acreditem em mim e continuem lendo a estória.
Obrigada pelas views, pelos comentários, pelos acompanhamentos e pelos favoritos. Vocês são minha única motivação.



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