Katekyo Gangue Reborn escrita por yumesangai, GalStyx


Capítulo 10
Contra-Ataque parte 2: Tsuna Vs. Mukuro


Notas iniciais do capítulo

As cenas de luta são responsabilidade do GalStyx.

Boa leitura!



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   Um helicóptero sobrevoava as águas profundas do Oceano Pacífico. Não havia ilhas habitadas, nem bases militares por perto, portanto era estranho que um veículo desse porte estivesse sobrevoando o meio do nada.

 

   O hitman, Reborn vinha ao lado do piloto observando o oceano abaixo. Como ele conseguiu aquele helicóptero e um piloto profissional era algo que somente aqueles com grande conhecimento do funcionamento de coisas ocultas do mundo, coisas que qualquer pessoa sensata evitaria perguntar, iria entender.

 

   Mas basta dizer que ele tinha conexões. Muitas delas. E elas avançavam fundo nas hierarquias dos grupos mais estranhos que se pode, ou não, imaginar.

 

   Portanto, se Reborn quisesse um helicóptero para sobrevoar o meio do nada, ele iria conseguir, não importa de quem ou aonde.

 

“Pode parar por aqui. Eu vou descer.” Diz Reborn se levantando do assento.

 

“Mas senhor, aqui é o meio do nada.”

 

“Não tem problema. É aqui mesmo.”

 

   Sem dar ouvidos ao piloto, Reborn atira uma corda pra fora do veículo e desliza nela. Ele chega a uma pequenina ilhota.

 

   Não, chamar aquilo de ilhota seria exagerar demais, não poderia ser chamada de ilha, pois se supõe que uma ilha deveria ter espaço para habitação, ou no mínimo alguma vida animal. Aquilo era tão ridiculamente pequeno que não existe palavra adequada para descrevê-la. Era apenas um pedaço de terra que por sorte estava acima de linha do oceano.

 

   Um pedaço de terra diminuto com um único coqueiro. Algo extremamente clichê, do tipo que se vê em desenhos. Algo tão discreto que ninguém iria prestar atenção, e no entanto extremamente chamativo se você soubesse o que estava procurando.

 

   E Reborn nunca estava errado.

 

   O hitman da três batidas no coqueiro. Logo uma voz eletrônica é ouvida.

 

ENTRADA NÃO AUTORIZADA. ELIMINAR INTRUSO.

 

   Uma metralhadora surge do chão, Reborn da um chute na arma que é arrancada da base de metal e voa, caindo no meio do oceano.

 

   Reborn faz um som nasal, gira o corpo e acerta um chute violento no coqueiro. A planta balança e logo o chão desaba.

 

   Um elevador oculto desce rapidamente por um túnel de metal. Depois de muitos metros, o elevador pára e a porta se abre. Um longo corredor com fraca iluminação. Reborn sabia bem o que viria agora.

 

   Ao botar o primeiro pé no chão, metralhadoras surgem das paredes e disparam todas ao mesmo tempo. O hitman corre pelo corredor se desviando das rajadas. Mesmo quando ele passa das armas, elas apenas se viram, sem perde-lo.

 

   Reborn atira exatamente no centro da porta do outro lado. Ao chegar nela, a porta se abre. Ele vira uma esquina fugindo das armas. Mas as armadilhas não haviam acabado.

 

   O caminho que ele faz é difícil, ainda havia coisas como lança-chamas, raios laser, um poço cheio de espinhos e até uma pedra redonda gigante estilo Indiana Jones. Reborn passa por todas as armadilhas sem se preocupar e sem ser tocado uma única vez.

 

   Afinal, ele alcança um gigantesco portão duplo de aço, cuja espessura, provavelmente o tornaria indestrutível contra qualquer arma conhecida pela humanidade.

 

   Reborn para perto de um terminal vermelho próximo ao portão.

 

“Você vai abrir essa porta ou eu vou ter que botar ela abaixo junto com o resto do seu complexo?”

 

   Um som mecânico é ouvido e o portão abre de forma lateral. Reborn entra em uma larga sala cheia de maquinário de ponta. Havia computadores de diversos tipos, uma grande mesa de madeira com muito papel espalhado de forma desordenada. Telas gigantescas monitoravam a base e mostravam uma centena de coisas estranhas. Uma cafeteira estava discretamente em sobre um pequeno fogão de uma boca.

 

   E no centro desse laboratório típico de um cientista maluco estava um homem usando um jaleco branco sentado em uma confortável cadeira giratória.

 

“Como sempre, batendo antes de perguntar. Você não tem modos mesmo, Reborn.” Diz o homem se virando na direção do hitman.

 

“Eu que deveria dizer isso. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa você estava apontando suas armas para mim, Verde.”

 

“Isso é óbvio. Eu disse que você não era bem vindo aqui.”

 

“Eu vim cobrar um velho favor.”

 

   Verde encara Reborn com uma expressão zangada. Reborn também não estava contente. O hitman não tinha problema em fazer as pessoas ficarem devendo a ele, mas odiava cobrar esses favores. A existência de algo assim é sempre melhor do que realmente fazer uso deles, e permitia a ele manipular as pessoas conforme a necessidade.

 

   Especialmente Verde, que era um homem difícil de se lidar, mesmo para o melhor hitman do mundo.

 

“Eu sou um homem ocupado. Não tenho tempo para essas coisas inúteis.” Verde vira sua cadeira novamente e se volta ao console a sua frente.

 

“Tem certeza disso? Vai apenas me deixar aqui no seu complexo, se virar e me ignorar? Eu posso s-”

 

   Reborn não consegue terminar sua frase. Verde gira novamente a cadeira com uma arma na mão. O hitman rapidamente acerta um tiro na cabeça de Verde.

 

   A cabeça do cientista tomba para trás, sua arma caída no chão. Reborn apenas guarda a arma dentro do terno.

 

“Eu sei que você ainda pode me ouvir, Verde.”

 

“Você é um teimoso mesmo...” Verde se endireita na cadeira. Não havia sangue em sua cabeça, mas o buraco criado pela bala mostrava peças de metal. Aquilo a frente de Reborn era apenas um robô criado a imagem de Verde.

 

“E você continua com esse mal gosto. É tão difícil assim ver pessoalmente um velho amigo?”

 

“Nós nunca fomos amigos, e não é minha culpa se você bateu na porta errada.”

 

   Verdade. Verde tinha muitas bases espalhadas pelo mundo. Reborn apenas escolheu a mais próxima. Ou a mais próxima que ele conhecia, o cientista estava sempre criando novas.

 

“Vamos ser objetivos. Você me quer fora daqui e eu vim buscar uma coisa. Colabore e nós dois saímos satisfeitos.” Diz Reborn. O melhor jeito de lidar com o cientista, ou pelo menos o que dava mais resultados era esse. Ser simples e objetivo.

 

   Verde suspira e tira um controle de um bolso. Apertando um botão, uma porta oculta se abre no laboratório.

 

“Ali tem alguns experimentos completos, mas que não tem mais nenhuma utilidade para mim. Pegue um de o fora.”

 

   Ele gira a cadeira e volta sua atenção ao console, ignorando o hitman de vez. Reborn sabia que ele não ouviria mais nenhuma palavra sua e segue para a sala. Lá havia todo o tipo de parafernália mecânica. Uma série de coisas estranhas de todos os tipos e tamanhos. Com luzes piscando, alguns disfarçados de objetos comuns, outros pareciam saídos de um filme de ficção cientifica.

 

   Reborn pára a frente de um experimento em especial. Ele sorri, satisfeito.

 

   Ele nunca estava errado.

 

 

   Quando Tsuna alcançou o Centro, ele fora obrigado a parar e se apoiar no muro, buscando por ar e o mínimo de concentração. Para onde ele tinha que ir? Onde Mukuro estava? Não queria perder tempo com um de seus capangas.

 

   A quem ele estava tentando enganar? Ainda que Reborn tivesse dito que o poder provavelmente só pertencia a Mukuro, ele não estava disposto a cair por causa de um deles.

 

   E bem mais importante do que isso, onde todos estavam?

 

   Não demorou muito para um grupo chegasse à entrada e avistasse Tsuna.

 

“Chefe, até que enfim encontramos o senhor.”

 

“O-onde estão todos? Vocês estão bem?” Tsuna perguntou enquanto tentava acelerar o processo de recuperação.

 

“Obrigado por sua preocupação senhor, nós estamos bem. Estão todos esperando pelo senhor. O Capitão Gokudera estava quase dando a ordem de invadir o prédio do inimigo.”

 

“Gokudera-kun? Ele já saiu do hospital?” Tsuna fez uma careta, daquelas quando tinha um mau pressentimento sobre algo.

 

“Sim. Ele está logo adiante.”

 

“EEEH!?!?”

 

   Eles guiam Tsuna até a entrada do grande prédio onde Gokudera podia ser visto sobre um caixote dando ordens e gesticulando.

 

“Gokudera-kun!” Tsuna queria cair duro.

 

“10º!” Gokudera pula do caixote, mas imediatamente leva uma mão ao peito, seu rosto assume uma careta. Um rapaz próximo tenta ajudá-lo, mas ele o afasta. “Agora sim está tudo perfeito.” Ele diz com certa dificuldade.

 

“V-você acabou de sair do hospital, não está nada bem!” Ele não queria começar a se desesperar, mas sentia que tudo estava fugindo do controle.

 

“Eu não posso deixar que o 10º faça todo o trabalho. Afinal eu ainda sou responsável por ter agido sem pensar.” Apesar de sua expressão complicada, seus olhos estavam firmes.

 

“Você está agindo sem pensar novamente!” Tsuna olha para os demais membros. “Onde o Yamamoto e o Oniisan estão?”

 

“Eles chegaram primeiro então já devem estar lá dentro.” Diz se virando para o prédio.

 

“Lá dentro?” Tsuna olha para um dos prédios como se visse algo assombrado vindo de lá. “E o Mukuro?” Pergunta sem perceber que estava com as mãos tremendo.

 

“Ainda lá dentro. Ninguém tentou falar com a gente ainda, então...”

 

   Tsuna começa a seguir para o prédio como se estivesse com as pernas machucadas, seguia de uma forma meio arrastada, mas era apenas medo.

 

   Ele pára antes de alcançar metade do caminho e se vira.

 

“Em que prédio!? Pra onde nós temos que ir? Temos que falar com o Oniisan e o Yamamoto, e o Lambo! Aaah!” Tsuna se agacha e começa a bagunçar os cabelos. “Eu tenho um mau pressentimento. O que eu faço? Rebo..” Ele se cala assim que se lembra que o Hitman não estava por perto.

 

   Assim como ele não estava mais treinando.

 

“10º!” Gokudera corre ao seu lado. “O senhor está se sentindo bem? Se não estiver eu posso comandar o ataque.”

 

“Ache todos que entraram no prédio e tire-os de lá com segurança”. Ele se levanta. “Eu vou atrás do Mukuro”. Diz com firmeza.

 

“S-sim senhor! Vocês ouviram as ordens do 10º!”

 

   Os rapazes da Vongola assentem e entram no prédio. Não demora muito para que apareçam com os membros das equipes de Ryohei e Yamamoto. Alem dos aliados, eles também trouxeram os capangas de Mukuro, Ken, Chikusa e MM.

 

“Foram todos que achamos dentro do prédio. Mas nem sinal dos Capitães Yamamoto, Sasagawa ou de Lambo.” Diz um dos rapazes.

 

   Tsuna continua a expressão séria enquanto encarava uma vidraça no alto. Novamente, aquela sensação que ele não sabia explicar.

 

“Eu estou indo”. Diz começando a marchar para dentro do prédio.

 

“Eu vou com você, 10º” Diz Gokudera já se prontificando.

 

“Não, você vai ficar e tomar conta de todos”. Tsuna diz olhando de esguelha para os membros que estavam ali no pátio.

 

“Mas... entendido. Como o 10º quiser.” Diz Gokudera assentindo.

 

“Obrigado, Gokudera-kun”. Ele da um sorriso e segue para dentro do prédio.

 

   Até antes de pisar dentro do prédio estava tudo normal, nada parecia ser capaz de abalar sua convicção e força de vontade, mas ao colocar o primeiro pé lá dentro ele sente como se algo muito grande tivesse sido jogado por cima de seus ombros.

 

   Ele olha para os corredores sujos, empoeirados e com pedaços da parede ou do teto meio despedaçados caídos pelo caminho. Com um sorriso meio afetado ele segue tentando não dar muita bola pra aparência do lugar.

 

   Normalmente ele ficaria com medo de entrar num lugar daqueles, fosse manhã ou estivesse acompanhado, ele ficaria morrendo de medo. Mais ele tinha mais medo do que poderia ter acontecido com os amigos.

 

   Se eles tivessem precisando de uma ambulância com urgência. Se eles estivessem com algum osso quebrado.

 

   Rokudo Mukuro o fazia se sentir mal. Pensar que não chegaria a tempo pra salvar os amigos o fazia se sentir muito pior.

 

   Quando ele percebeu já estava correndo. Como se as pernas tivessem vontade própria, como se todo o cansaço de ter corrido meia cidade tivesse desaparecido.

 

   Ele pára antes de subir o último lance de escadas. Não era hesitação, ele só precisava de algo...

 

“Onde? Onde?” Ele olha nervosamente para os lados até que tira do meio de uma pilha de entulhos um pedaço enferrujado de um cano.

 

   Ele gostaria de não ter que usar aquilo, mas não poderia chegar lá de mãos abanando e cair no chão no primeiro golpe. Sem pensar em mais desculpas, ele segue com a mesma energia de quando decidira entrar no prédio.

 

“Rokudo Mukuro!” Tsuna empurra a porta dupla.

 

   Mukuro estava do outro lado do amplo salão. Sentado em o que parecia ser um sofá improvisado com o tridente em mãos.

 

   Próximos a entrada estavam Yamamoto, Ryohei e Lambo. Os três caídos, inconscientes. Tsuna olha lentamente para cada um.

 

“É impossível... Completamente impossível...” Murmura atônito.

 

   Mukuro sorri.

 

“Enfim o último ator sobe ao palco.” Diz se levantando. “Meus parabéns, Sawada Tsunayoshi.” Diz batendo palmas.

 

  Tsuna aperta o cano nas mãos. Ele continua olhando para os amigos, sem realmente ter ouvido uma única palavra de Mukuro.

 

“É impossível que eles tenham sido derrotados...” Diz para ninguém.

 

“Hm? Ah sim. Bom, eles tentaram o melhor sem dúvida. Mas no final não conseguiram nada. Um esforço em vão.”

 

   Tsuna ajeita a mão no cano, como se segurasse um taco de beisebol, e corre partindo pra cima de Mukuro.

 

   Com um movimento ágil, Mukuro golpeia o cano com o tridente, fazendo-o voar para longe.

 

“Eu imaginei que você traria algo um pouco mais digno do que um cano enferrujado. Acho que é o que se pode esperar de um membro de gangue.”

 

  Tsuna engole em seco. Reborn provavelmente estaria o chutando e o enchendo de balas. Ryohei sempre dizia pra analisar o inimigo e tudo que ele havia feito era sair correndo pra cima dele sem observar nada.

 

“A Vongola, você queria que a Vongola fosse desfeita”. Ele disse se lembrando do pedido absurdo que Mukuro fizera. “Por quê?”

 

“Por quê? Essa é uma pergunta muito simples, não acha? Ninguém quer ter gangues por perto.”

 

“Namimori está cheia delas e mesmo assim você só atacou as que tinham os líderes mais influentes. E também, as gangues existem há muito tempo, por que agora?”

 

“Você está tentando justificar a existência das gangues?”

 

“Não, eu estou tentando entender os seus métodos”.

 

Kufufu você continua uma pessoa interessante. Respondendo sua pergunta, não é óbvio começar por cima? Se a cabeça cai o corpo não pode mais se mover. Se as gangues maiores forem apagadas as menores entrarão em caos. Vão começar a brigar entre si e eventualmente se destruirão por completo.”

 

“Ou destruirão Namimori primeiro”. Disse num tom mais intransigente.

 

“Nesse caso eu só preciso agir como sempre. Cortar cabeças menores servirá como passatempo.”

 

“O que você está fazendo é criar confusão em Namimori e não acabar com ela! Os dias estavam bem mais tranqüilos... A Kyoko-chan poderia ir pra casa sem se preocupar... Nós estávamos cuidando de tudo”. Diz ao se lembrar da escolta que tinha pra casa e de como as ruas pareciam mais seguras.

 

“ ‘Nós estávamos cuidado de tudo’? Tem certeza do que está dizendo?”

 

“T-tenho”. Respondeu não mais tão certo.

 

“Então me diga o que aconteceu com todo o território daquele sujeito que você venceu na primeira noite.”

 

Era como se fosse no colégio. Quando o professor fazia uma pergunta na frente de toda a classe e Tsuna não sabia a resposta.

 

“A área comercial... nós... nós...” Tsuna tentava a todo custo lembrar, depois que ele aceitara entrar pra Vongola, o que havia acontecido com aquela área? Sem dúvida ele se lembrava de ter ido lá fazer compras e também de ter deixado que Kyoko seguisse pra lá... Por que não havia perigo algum, certo?

 

“Você achou mesmo que aquela luta valeu tão pouco?”

 

“O que?” Não tinha como ele saber, depois daquilo muita coisa havia acontecido...

 

“Não foi você que venceu e desmanchou uma das gangues mais sólidas de Namimori e depois largou todo o território? O que você acha que aconteceu nessa área?”

 

“Eu... não sei”. Respondeu como uma criança que acaba de levar um grande esporro.

 

“Eu te digo. Pelo menos outras cinco gangues estão na briga por todo aquele território. Você fez um belo trabalho em atormentar os moradores da região, Sawada Tsunayoshi.”

 

“Eu não...” Tsuna tenta vasculhar em todas as lembranças algo que indicasse que Mukuro estava mentindo.

 

“‘Nós estamos cuidando de tudo’? É isso o que acontece quando uma gangue se mete. Apenas desordem e caos.”

 

“Você está errado! Nós realmente temos tentado...” Ele vai dizendo cada vez mais baixo. E passa a olhar para outro ponto do salão que não fosse para Mukuro e vê os amigos ali caídos. Não importava se eles tivessem errado até ali, ainda dava tempo de consertar, os métodos de Mukuro que estavam errados.

 

“Tentar não é o suficiente. Esse não é um mundo gentil onde todo esforço é devidamente recompensado. Apenas com resultados pode-se fazer julgamentos. Falar de certo e errado antes do fim é apenas uma ilusão.”

 

“E os seus resultados são bons o bastante para julgar a Vongola?” Perguntou recuperando-se.

 

“Seus resultados já dizem o bastante. Vocês são apenas mais uma fonte de caos nesta cidade.”

 

“A única pessoa que está perturbando a paz de Namimori é você”. Ele se lembra de Haru no hospital. “Por isso, eu disse que a Vongola não seria desfeita e por eles que eu estou aqui”.

 

Kufufu Nesse caso conversar é inútil. Eu irei purgá-lo desse mundo, Sawada Tsunayoshi.” Diz Mukuro girando o tridente e dando uma estocada.

 

   Para fugir do ataque, Tsuna anda para trás, tropeça nos próprios pés e cai sentado no chão. Mukuro muda a posição do tridente e ataca novamente. Tsuna gira de qualquer jeito no chão e se afasta antes mesmo de se levantar por completo, se afastando de Mukuro o mais rápido o possível.

 

   Ele olha para os lados a procura da arma improvisada que trouxera. Era pouco, mas melhor do que nada. Ao avistar o pedaço de metal entre o entulho no canto do salão ele corre até lá.

 

   Ou era o que pretendia. Mukuro usa a parte de trás do tridente como obstáculo. Tsuna tropeça no tridente e cai no chão, por pouco não machucando o queixo. Mukuro arma outro ataque mirado na cabeça de Tsuna que rola para longe, novamente se levantando de qualquer jeito.

 

“Você é bem insistente.” Diz Mukuro com um sorriso divertido.

 

“Esse cara é completamente maluco”. Pensa ao olhar para o tridente, não querendo nem imaginar o que aconteceria se aquilo o acertasse.

 

   Agora era a vez de Mukuro de arremeter. Os golpes, antes lentos feitos unicamente para se divertir, vinham rápidos, em seqüencia.

 

   Sem tempo para correr, Tsuna pode apenas desviar dos ataques um por um. Seus instintos entram em funcionamento e ele escapa dos golpes, ainda que por pouco. Cada estocada do tridente passava perto demais para seu conforto.

 

“Vamos acelerar essa dança.”

 

   O kanji “quatro” aparece no olho direito de Mukuro. Seu tridente é enterrado entre as pernas de Tsuna, cujos olhos caem na arma. Erro. Mukuro gira o corpo e desfere um chute alto contra a cabeça de Tsuna.

 

   Seu treinamento com Ryohei vem bem a tona. Ele se defende do ataque, mas suas pernas não estavam firmes o bastante. Tsuna cai no chão de lado. Mukuro recupera sua arma e se prepara para perfurar o estomago de Tsuna.

 

   Tsuna percebe a pilha de entulho a poucos metros atrás de si. Ele se vira fugindo do ataque e corre na direção do pedaço de metal. Ele apanha o cano e se vira a tempo de ver Mukuro logo atrás de si desferindo um golpe contra seu rosto.

 

   Segurando o cano pelas pontas ele usa o cano para bloquear o tridente.

 

“Até que você consegue agir sob pressão.”

 

“É pra isso que eu venho treinando”. Diz com alguma confiança, embora não tivesse certeza se não era puro delírio.

 

   Mukuro salta para trás interrompendo seu ataque.

 

“Vamos tentar algo diferente.”

 

   O kanji em seu olho esquerdo muda para o “um”. Mukuro enterra sua arma no chão, que começa a rachar e um estranho brilho vermelho pode ser visto das fendas.

 

   Os olhos de Tsuna se arregalam e ele quase derruba a arma no chão.

 

“O-o que é isso?!”

 

Kufufu. Que tal um passeio no inferno?”

 

   Partes do chão começam a desabar e pilares de fogo se erguem. As rachaduras tomam conta de todo o salão. A temperatura sobe rapidamente. Os pilares ameaçam engolir Tsuna e seus companheiros caídos.

 

“Eu não quero morrer!” Tsuna cobre o rosto com os braços e grita em desespero. “Espera, eu já não disse isso antes? Eu já não senti isso antes? Espírito de luta, como o oniisan!” Tsuna se coloca de pé ainda que meio cambaleante. “I-isso é uma ilusão”.

 

   O salão retorna ao normal, ignorando tudo aquilo que foi mostrado diante de seus olhos.

 

“Eu vou admitir. Existe mais em você do que os olhos vêem.” Diz Mukuro com um sorriso divertido.

 

“V-você também”. Diz meio zonzo, ainda sem acreditar que quase havia experimentado o inferno.  “A Chrome sabe disso? Ela estava bem preocupada com você”.

 

   Por um breve instante o rosto de Mukuro se fecha em uma expressão de profundo desagrado. Porém ela logo retorna ao normal.

 

“É claro que não. Não há porque dela ficar sabendo.”

 

“Ela foi te procurar no colégio... Mukuro, ela está aprendendo a fazer onigiris pra você. E você... você está fazendo toda essa bagunça”. Se Chrome gostava tanto de Mukuro, então...

 

“Onigiris? Hahaha, isso realmente combina com ela. Eu mal posso esperar.” Mukuro diz com um tom divertido, como se estivesse conversando com um amigo. Não fosse a situação bizarra onde eles se encontravam a cena poderia ser facilmente confundida.

 

“Você a deixou sozinha!” Gritou na esperança de se fazer entendido.

 

“Sim, sim. Um mal necessário.”

 

“Você ao menos está escutando o que está dizendo?” Tsuna teve a tola esperança de que se ele soubesse como Chrome estava se sentindo ele iria parar.

 

“Por que está trazendo esse assunto agora? Minha relação com Chrome não te diz respeito, Tsunayoshi-kun.”

 

“É verdade, eu não tenho nada com isso, mas ela... Eu vi como ela estava, Mukuro, ela estava muito preocupada com você, eu não acho que o que você está fazendo vai deixá-la feliz”.

 

“‘Não vai deixá-la feliz’? Isso é algo muito arrogante de se dizer.” Embora sua expressão não houvesse mudado, havia algo perigoso nos olhos de Mukuro. Como se agora sim, ele quisesse matá-lo. “O que o faz pensar que entende Chrome?”

 

   Tsuna sabia que havia pisado numa mina. Ele já não se sentia bem quando Mukuro estava por perto, agora sentia-se muito pior.

 

“Eu pelo menos sei que ela está sofrendo”. E também sabia que estava assinando a sentença de morte. “Por culpa sua”.

 

   Mukuro começa a rir. A princípio sua risada típica, mas logo ela evolui para uma gargalhada insana.

 

“Muito bom. Muito bom, Tsunayoshi-kun. Eu estava satisfeito em devolver seu corpo inconsciente para seus seguidores lá embaixo, mas mudei de idéia. Isso não vai ficar barato nem com sua morte. Vou acabar com todos e cada um dos seus amiguinhos. Vou mandar todos para o inferno com muito prazer.”

 

   Novamente o kanji “quatro” surge em seu olho esquerdo. Ele arremete contra Tsuna, que se prepara para se defender do ataque com o cano em suas mãos.

 

   Mukuro ergue o tridente alto, forçando Tsuna a focar sua defesa na cabeça. Porém, ao chegar perto dele, Mukuro gira o tridente e o atinge no estômago com o lado oposto da arma.

 

   Enquanto Tsuna estava sem defesa e sem reação, Mukuro gira o tridente novamente e bate com lado de metal no rosto de Tsuna. O golpe é seguido quase instantaneamente por um chute no mesmo local.

 

   A violência do golpe arremessa Tsuna contra o chão, seu rosto caindo em primeiro lugar. Tsuna tenta se levantar, mas é atingido por mais um chute na lateral. Tsuna cai novamente no chão, abraçando a barriga. Mukuro afasta o cano caído com a ponta do tridente.

 

   Tsuna tenta alcançar a arma. Ele estende uma mão, a outra protegendo sua barriga. Mukuro pisa na mão de Tsuna. O garoto grita.

 

“Não pense que vai acabar rápido, Tsunayoshi-kun.” Diz Mukuro apontando o tridente para o rosto de Tsuna. As pontas de sua arma brilhando cruel e friamente.

 

   Mukuro desce o tridente, perfurando uma das pernas de Tsuna. O garoto grita. Mukuro desce outro golpe. E outro. Ele ataca as pernas de Tsuna as perfurando diversas vezes.

 

   Ele pára o ataque para contemplar sua obra. Pequenos filetes de sangue saiam das pernas de Tsuna. As pontas do tridente brilhavam vermelhas.

 

   Tsuna esboça uma reação. Ele tenta alcançar sua arma com a mão que lhe protegia. Tsuna se arrasta como pode. Mukuro apenas observa aquela atitude patética que ele podia impedir tão facilmente. Mas qual seria a graça nisso?

 

“Isso. Reaja. Lute. Dê o seu melhor. No final será inútil.”

 

   Tsuna apanha o cano e tenta se erguer. Seu corpo, não habituado a dor física operava com dificuldade. Mukuro o segura pela camisa e o força a ficar de pé. Ele afasta o garoto que cambaleia e se mantêm de pé com dificuldade.

 

   Tsuna ergue o cano. Mukuro arremete novamente, o tridente apontado para o peito. Tsuna se pronta para se defender, mas seus braços não resistem ao ataque. As pontas do tridente entram em seu peito, sua defesa apenas retardou um pouco o golpe.

 

   Mukuro avança, uma mão ainda segurando o tridente e atinge Tsuna com um soco no rosto. Ele larga sua arma que cai no chão que começa a desferir vários socos, sentindo o prazer de bater em alguém com as próprias mãos.

 

   Tsuna, que apenas recebia os golpes, desfere um de sua conta. Suas mãos, ainda segurando o cano, golpeiam Mukuro no rosto. O ataque o faz recuar um pouco, dando tempo para os dois respirar.

 

   O rosto de Tsuna estava uma bagunça. Os vários golpes haviam deixado sua marca e ele teria problemas em explicar isso para sua mãe, embora ele só tivesse se lembrado disso em um nível subconsciente. Mukuro, que até agora só recebeu um único ataque estava em evidente melhor forma. A única marca criada pelo golpe do cano, uma mancha vermelha do lado esquerdo de seu rosto.

 

“Bem melhor. Não teria graça se você não reagisse.”

 

   Os dois avançam. Mukuro parecia fora de si por atacar, desarmado, um oponente trazendo uma arma. Tsuna desce o cano entre o ombro e o pescoço, um lugar perigoso. Porem ao atingi-lo o golpe não conecta e simplesmente passa direto.

 

   Mukuro desaparece como névoa. Um chute atinge Tsuna pela lateral. Ele se vira, uma mão protegendo seu flanco. Mukuro, com o tridente na mão, surgiu repentinamente atrás de si.

 

   Antes que ele pudesse pensar a respeito, ele sente um golpe na cabeça. Tsuna cambaleia e se vira. Mukuro o atingiu com o cabo do tridente. Havia dois Mukuros, em lados opostos. Não, havia três, quatro...

 

“Afinal, eu sou um mestre ilusionista.” Declara Mukuro, como se a luta já estivesse acabada.

 

   Os Mukuros começam a atacar de forma simultânea. A velocidade de seus movimentos era superior ao normal. Tsuna tenta se defender, mas os golpes vinham de quatro direções simultâneas e ele não tinha como discernir onde estava o Mukuro real. Além disso ele sentia cada um dos ataques, como se todos eles fossem o verdadeiro.

 

“O golpe final!”

 

   Os quatro Mukuros apontam seus tridentes para o coração de Tsuna e atacam ao mesmo tempo.

 

   Tsuna sente o ataque. Mas estranhamente ele não veio em seu peito e sim em sua cabeça. Mais estranho era que não parecia um golpe de tridente, mas sim uma porrada com um objeto grande e pesado.

 

   Na verdade o golpe foi tão violento que arremessou Tsuna no ar. Por causa desse golpe, ele foi tirado da trajetória das estacas da morte.

 

   Mas ele não teve tempo de imaginar o que houve, pois seu vôo foi curto e logo a gravidade o chamou de volta para o chão sem nenhuma piedade.

 

“O que você pensa que está fazendo brincando desse jeito?” Uma voz grave e ríspida é ouvida ecoando pelo salão.

 

“Reborn?” Tsuna não conseguia nem falar e sua mente estava trabalhando com dificuldades. Seus olhos estavam abertos, mas ao mesmo tempo ele não via nada. “Você está aqui não é? Então, por favor, faça alguma coisa, eu não tenho mais forças... Gokudera-kun, eu não quero que ele se aproxime do Mukuro, então ajude a Vongola... Eu não avisei para a minha mãe que ia voltar tarde, será que ela vai ficar acordada até tarde?” Os olhos de Tsuna se focam num pequeno objeto que estava não muito distante. “Ah, o amuleto da sorte que a Kyoko-chan fez... Será que ela vai chorar? Gomen, eu não queria decepcioná-los dessa forma...”

 

   Reborn que estava pendurado em uma das altas janelas do salão pula para dentro e se aproxima de Tsuna. Mukuro apenas observa esse evento inesperado em silêncio.

 

“Até quando vai ficar dormindo aí? A luta ainda não acabou, Dame-Tsuna.”

 

“Dame-Tsuna? Depois de ter me esforçado tanto...” Tsuna gira os olhos e pára observando Reborn. “Está... atrasado”. Murmura ainda com a cara no chão.

 

“Fui pegar um presente. Abra.”

 

  Tsuna queria dizer que não tinha mais forças, que só queria ir pra casa, mas sabia que ainda podia se colocar de pé, era apenas a presença de Reborn ali que dava a impressão de que ele podia relaxar e tudo ficaria bem.

 

  Mas ele conhecia Reborn, e se ele estava ali as coisas provavelmente ficariam ainda mais complicadas. Tsuna esticou a mão e tocou na maleta, a puxou para perto do peito e se forçou a se sentar.

 

  Ele demorou alguns segundos até a visão se acostumar, ou até entrar algum foco, pois seus olhos estavam inchados e o rosto todo estava dolorido. A única conclusão que ele podia chegar ao ver a maleta era que ali estava alguma arma, ele abriu realmente esperando por isso.

 

 “Luvas?” Ele perguntou segurando o tecido macio delas.

 

“Com isso você está pronto.”

 

   Tsuna vestiu as luvas e olhou novamente para Reborn.

 

“São só luvas”. Disse olhando novamente para elas como se quisesse ter certeza.

 

“Eu sei.” Diz tirando do bolso uma bala branca. “Veio em conjunto com isso aqui.”

 

   Tsuna fez uma careta pior do que já estava fazendo naturalmente, a bala só podia significar uma coisa... Mas onde as luvas entravam nisso?

 

   Mukuro era outro que não estava satisfeito com aquela intervenção. Embora já tivesse ouvido falar do homem misterioso que às vezes aparecia junto com a Vongola, não tinha nenhuma idéia de quem ele era ou qual era seu propósito. Além disso, ele podia sentir que ele não era uma pessoa comum.

 

   Reborn tira de dentro do terno sua pistola preferida. Desliza o cartucho e insere a bala, recarregando a arma. Os olhos de Mukuro estavam atentos aos movimentos do hitman. Ele não poderia se defender de uma arma, mas com suas ilusões poderia escapar.

 

“Não se preocupe.” Diz Reborn entendendo os pensamentos de Mukuro. “Essa bala não é pra você.” Diz apontando a pistola na direção de Tsuna. “Tsuna. Todas as suas decisões e sua vontade serão postas em teste agora. Não me decepcione.” E ele atira a misteriosa bala branca, atingindo em cheio a testa do garoto.

 

   Tsuna que não estava acostumado àquilo e esperava nunca precisar chegar a esse ponto, ele arregala os olhos, embora pouca diferença fizesse com o rosto já deforme. E como todas as outras vezes a bala o arremessa e ele se vê pensando no que gostaria de ter feito.

 

   Sim, o arrependimento. Pois ele já estava se dando por vencido quando Reborn havia aparecido e a idéia de que o presente que havia recebido eram apenas luvas o fazia pensar que Reborn tinha enlouquecido.

 

“A Vongola... eu gostaria de tê-los protegido”. Ele pensa antes de atingir novamente o chão.

 

“O que está fazendo?” Pergunta Mukuro vendo Reborn guardando a pistola.

 

“Apenas equilibrando essa luta. Com habilidades como as suas seria demais esperar que Tsuna pudesse vencer. Eu estou apenas tornando as coisas mais justas.”

 

“Com um tiro na testa? Kufufu é um jeito bem estranho de dar vantagem a alguém. E o que eu deveria fazer? Esperar que ele milagrosamente se levante? Lamento, mas eu não sou assim tão bonzinho.” Diz se virando na direção de Tsuna, erguendo o tridente na direção do coração dele. “Parece que sua sorte acabou.”

 

   Tsuna sentia o corpo leve, em sua cabeça passavam tantas coisas. Ele conseguia ver Gokudera lá em baixo. Assim como via a luta dos outros membros da Vongola, tudo que eles passaram até chegar em Mukuro e quando eles finalmente chegaram.

 

   Por que ele estava conseguindo memórias que não o pertenciam?

 

Os punhos de um boxeador são suas armas extremas!

 

Eu me recuso a seguir sobre sacrifícios!

 

Mesmo que seja egoísmo, eu ainda sou verdadeiro!

 

“Todos vocês se esforçaram...” As imagens iam desaparecendo aos poucos. “Eu não cheguei a fazer nada... Eu ainda não terminei Reborn!”

 

  Tsuna abre os olhos e estica a mão segurando a ponta do meio do tridente. As luvas de lã se transformam, elas parecem se ajustar à mão de Tsuna, e o desenho de um ‘x’ ocupavam as costas da luva.

 

“Mukuro, eu não vou perdoá-lo”. Diz com a voz séria e completamente acordado.

 

   Mukuro tenta puxar o tridente de volta, mas Tsuna não larga a arma de jeito nenhum.

 

“Parece que você ainda tinha uma carta na manga.” Diz Mukuro calmo, apesar da mudança súbita.

 

   De seu canto, Reborn sorri discretamente. Tsuna se levanta sem largar o tridente.

 

“Você vai sentir o espírito de luta da Vongola”.

 

   Chamas alaranjadas surgem das mãos de Tsuna. As chamas rapidamente derretem a ponta do tridente. Com isso, Mukuro consegue recuar. Havia clara surpresa em seu rosto. Ele podia não entender o que estava acontecendo, mas sabia que uma transformação incrível se deu lugar.

 

   Agora era a vez de Tsuna avançar. Seus movimentos eram muito diferentes dos de antes, quando ele arremeteu sem saber o que fazer. Agora ele agia de forma clara, seus movimentos muito mais fluidos do que antes.

 

   Ele rapidamente cobre a distância e desfere o primeiro soco. Mukuro se defende segurando o punho de Tsuna. Porém Tsuna reage mais rápido. O segundo soco vem quase que instantâneo e atinge em cheio o rosto de Mukuro.

 

   Mukuro recua alguns passos e tenta um ataque com a barra do tridente, mas Tsuna já não estava mais a sua frente. Ele pode apenas olhar estarrecido.

 

   Uma mão toca seu ombro e o vira para trás. Antes que Mukuro possa reagir, um novo golpe conecta com seu rosto. Ele cambaleia, mas se reequilibra.

 

“Nesse caso.”

 

   Percebendo que ficar na defensiva seria desvantajoso, Mukuro avança. Mais dois Mukuros surgem do primeiro. Tsuna deixa que eles se aproximem e agarra o tridente do Mukuro, que vinha a sua esquerda, entre as pontas que restavam.

 

   Ao atingirem Tsuna, as duas ilusões se dissipam. Mukuro rapidamente recua, antes que sua arma fosse destruída.

 

“Ele pode ver através de minhas ilusões?”

 

   Novamente Tsuna desaparece diante de seus olhos. Ele tenta se virar, prevendo um golpe por trás, mas sua reação é lenta. Tsuna golpeia com o cotovelo a parte de trás da cabeça de Mukuro. Antes que ele se refaça, Tsuna ressurge na frente de Mukuro e desfere um poderoso soco no estomago de Mukuro.

 

   A força do golpe afasta Mukuro alguns metros e o faz cair de joelhos no chão. Mukuro tenta recuperar o ar.

 

   Tsuna encara as próprias mãos, vestidas com as luvas misteriosas e envoltas por chamas, tentando entender que poder era esse.

 

“Não é a Shinu Ki Dan”. Ele diz para si mesmo.

 

   E ele podia sentir a diferença, ele sabia o que estava fazendo, ele tinha controle e também ainda podia sentir a dor dos golpes anteriores de Mukuro, com a Shinu Ki Dan ele nunca sentira nada, nenhum dano interno ou externo.

 

“Agora sim está pegando o jeito.” Diz Reborn para si mesmo.

 

Kufufu Entendo. Por isso aquele homem falou em equilibrar a luta.” Diz Mukuro se levantando. “Se esse é seu poder máximo, então eu devo responder a altura.”

 

   Mukuro leva a mão ao olho direito. Uma aura negra envolve seu corpo. Ao afastar sua mão, o kanji de “cinco” fica visível.

 

“Mesmo que eu não queira usar essa habilidade, não me resta escolha.”

 

“O-o que é isso?” Não era somente o fato do desenho do kanji no olho de Mukuro, a aura negra que Tsuna conseguia ver. Era o fato de que toda sua cabeça gritava que aquilo não era uma ilusão.

 

“Das minhas seis técnicas, essa é a mais poderosa e a mais perigosa. Vocês da Vongola são mesmo persistentes, me fazendo usar essa habilidade pela segunda vez.”

 

“Segunda vez?” A mente de Tsuna começa a trabalhar rápido demais. “Você usou isso contra o Gokudera-kun!”

 

“Exato. Aquele garoto se provou um adversário formidável, então eu o presenteei.”

 

“Mukuro...” Tsuna sentia o corpo inteiro tremer. “Acabar com você agora não seria o bastante”.

 

   Mukuro da uma gargalhada.

 

“Esse é o espírito! Venha com tudo, Vongola! Mostre-me seu pior!” Grita com uma expressão afetada.

 

   Tsuna arremete contra Mukuro. Ao se aproximar, Mukuro da uma estocada com o tridente. Tsuna prevê o ataque e se abaixa, deixando a arma passar sobre sua cabeça e desfere um soco. Mukuro apanha o punho de Tsuna, mas não comete o mesmo erro de antes. Ele desfere um chute contra a cabeça de Tsuna. Por estarem muito próximos, é sua perna que conecta.

 

   Mukuro gira o tridente na mão e se prepara para perfurar Tsuna de cima. Tsuna rola para trás, fugindo do ataque. Ele se levanta a tempo de ver Mukuro arremetendo.

 

   Ele inicia uma chuva de estocadas. Os golpes são todos velozes e mortais, visando atingir Tsuna em seus pontos vitais. Tsuna bloqueia os golpes com suas mãos e braços, evitando ser atingido. Logo surgem mais quatro Mukuros o cercando. Os ataques param por um breve instante.

 

   Os instintos de Tsuna lhe dizem que Mukuro havia trocado de lugar com uma de suas ilusões. Os cinco atacam simultaneamente, mas Tsuna apenas se defende de um. Ele apanha o tridente que vinha do segundo Mukuro a sua direita, da um chute na arma, a tirando das mãos de Mukuro e desferindo um soco no rosto dele.

 

   Tsuna começa a desferir uma série de golpes, mas Mukuro se defende rapidamente, evitando receber mais ataques. Mukuro tenta um chute na lateral desprotegida de Tsuna, mas ele segura a perna com firmeza.

 

   Um poderoso soco é desferido contra Mukuro. Que, sem poder fugir, apenas se defende. O golpe o empurra vários metros para trás e ele cai no chão. Tsuna da um salto e arma o ataque, mas Mukuro rola para fora do alcance de Tsuna.

 

   Ele recupera seu tridente, mas Tsuna já estava sobre si. Um novo soco conecta com seu rosto. A violência do golpe o arremessa no ar. Tsuna salta junto, sem dar trégua.

 

   Mukuro enfia o tridente no chão e gira na base da arma, o resultado era que ele vinha agora na direção oposta a de Tsuna.

 

   Ele chuta Tsuna que é arremessado contra o chão. Mukuro se equilibra, apanha sua arma e avança. Tsuna mal se levanta e já precisa se defender. Embora ele consiga desviar o ataque, não consegue evitar de ser atingindo na lateral.

 

   Ainda apoiado no tridente, Mukuro gira o corpo e desfere um chute alto. Tsuna recebe o golpe em cheio e não tem tempo de se defender do seguinte. Um novo chute o atinge no rosto. Mukuro gira o tridente no ar e se prepara para espetar Tsuna, mas o ele se afasta.

 

   Usando as chamas como propulsores, Tsuna se afasta alguns metros. Mukuro tenta adicionar esse novo movimento a seu esquema de combate, mas Tsuna age mais rapidamente. Ele avança, usando as chamas para se lançar feito um foguete.

 

   Tsuna acerta uma cabeçada em Mukuro. Os dois caem no chão. Tsuna se levanta primeiro, apanha o tridente e o joga para trás. Ele ergue Mukuro pela camisa e se prepara para dar o golpe final, seu punho carregado de chamas.

 

   Porem é ele que recebe um golpe. Tsuna sente o tridente o atingir nas costas. O Mukuro que ele segurava desaparece. Atrás de si, Mukuro tinha o tridente em suas mãos, suas pontas enterradas nas costas de Tsuna.

 

“Parece que você não consegue distinguir ilusões em alta velocidade.”

 

   O tridente é recolhido. Tsuna avança alguns passos para frente e se vira, mas seus movimentos perderam a velocidade, suas reações estavam lentas.

 

   Mukuro arma a estocada final, mirando no coração de Tsuna.

 

“Dame!” Ela grita antes mesmo de entrar na frente de Tsuna, com os braços esticados e de frente para Mukuro. Os olhos fechados e bem apertados, as mãos tremendo violentamente.

 

   A arma para a poucos milímetros de atingir a garota. Nenhum dos presentes poderia ter imaginado uma interrupção dessas, ainda que Reborn tivesse visto quando ela entrou no salão.

 

   Para Mukuro aquilo era algo impensável. Completamente impossível e fora da realidade. Ele teria achado que uma de suas ilusões se voltou contra si se não se conhecesse.

 

   Simplesmente não havia como isso acontecer. Ela nunca soube desse lugar. Ninguém nunca contou a ela, então como...?

 

“Chro...me...”

 

   Ela abriu os olhos lentamente, as lágrimas caiam, mostrando o olho vermelho provavelmente como resultado de ter vindo chorado.

 

“E-eu não quero que você machuque o Tsunayoshi”. Ela disse com a voz abafada. “Eu não quero que você continue a machucar as pessoas”. Ela sussurrou antes de voltar a chorar.

 

   Havia muitas perguntas que ele queria fazer, mas ao ouvir o nome de Tsuna da boca de Chrome, Mukuro se lembra de onde estava e o que estava acontecendo.

 

“Saia da frente, Chrome!”

 

“Não vou!” Ela gritou balançando a cabeça. “Se você quiser fazer isso, vai ter que passar por mim”. Ela disse tentando encará-lo com seriedade, mas ela estava com medo. Ela estava morrendo de medo.

 

“Chrome...” Tsuna apenas consegue murmurar o nome dela. Com as costas e a perna perfurada, ele já não tinha mais forças.

 

“Saia da frente.” Ele repete, chiando com os dentes cerrados. “Senão eu não vou te perdoar.” Suas mãos tremiam e o tridente balançava levemente.

 

“Não vou sair!” Ela gritou encolhendo os ombros. “Eu estou com medo... Porque você não parece com o Mukuro-Sama, porque você está machucado e está machucando as pessoas. O Mukuro-Sama não faria uma coisa dessas”.

 

“Por que você esta fazendo isso? Esse sujeito é um dos lideres das gangues! Uma das razões de todo o caos! Por que está defendendo uma pessoa assim?!” Grita Mukuro, perdendo toda a compostura que normalmente tinha.

 

   Ela junta as mãos como se estivesse rezando, os dedos cheios de curativos, e fecha os olhos, com medo que Mukuro pudesse fazer alguma coisa. “E-ele é meu amigo, e ele me protegeu também”. Ela diz como uma criancinha chorosa que recebe uma bronca dos pais, e encara Mukuro com receio. “Ele não me da medo, você dá”.

 

   Afinal o que estava diante dela não era o Mukuro-Sama que ela tanto adorava.

 

“Q...”

 

   As palavras de Chrome o atingiram com mais força do que os golpes de Tsuna.

 

   Afinal, por quem ele havia feito tudo isso? Por quem havia começado a caça as gangues? Não era pela cidade, como seu discurso dava a impressão. Mukuro nunca se importou antes. Sua razão era...

 

“Eu... fiz isso por você. Para trazer a paz que você sempre quis.” Diz Mukuro, sem entender porque estava se explicando.

 

“É verdade que Namimori me assusta...” Ela disse com a voz controlada. “Mas eu não tenho medo quando você está por perto, quando Mukuro-Sama está ao meu lado eu me sinto em paz. Se você está fazendo isso tudo pra conseguir a paz, então eu não quero! Se for pra ver as pessoas da cidade com mais medo, se for pra ver você fazendo coisas cruéis, eu prefiro continuar assustada”.

 

   Mukuro fita o rosto de Chrome. Ele não sabia o que fazer. O que dizer. Ele não conseguia se mover. As palavras doíam. Aquele olhar doía.

 

   Ver Chrome sofrendo doía. Provocar sofrimento em Chrome doía mais ainda.

 

   Quando...? Quando foi que eu deixei de ver o que ela queria? Quando foi que eu comecei a agir dessa forma? Quando foi... que eu me perdi?

 

   Desde que eu nasci tinha esses poderes estranhos. Era capaz de fazer coisas fora do normal. Podia criar ilusões, ou convocar os animais que quisesse.

 

   O que uma pessoa faz quando recebe poderes? Eu sempre pensei que elas agem conforme sua índole. Pessoas boas farão coisas boas. Pessoas más farão coisas más. Simples assim.

 

   Mas e quando a pessoa que recebe esses poderes não é nem uma coisa, nem outra? Alguém sem um senso de moral, mas que não é egoísta? Alguém sem um senso de si.

 

   Meu caso sempre foi o mais complicado. Eu tinha esses poderes, mas não sabia o que fazer com eles. Não possuía um propósito. Às vezes ajudava as pessoas. Às vezes as feria. Mas nunca com um propósito claro. Agindo apenas conforme meus caprichos...

 

   Foi assim por muito tempo. Eu não tinha um propósito na vida. Mas não tinha vontade de morrer também. E tinha esses poderes estranhos e não sabia o que fazer com eles.

 

   Ainda me lembro daquele dia. Não passava de um dia tedioso como todos os outros. Nada em especial.

 

   Uma garota estava sendo judiada por várias outras. Elas diziam ofensas, zombavam e riam dela. Eu não sei porque agi. Não, nunca houve um propósito em primeiro lugar. Nunca houve.

 

   Eu apenas afastei as garotas que atormentavam a menor. Eu estava ajudando alguém, ou apenas sendo intrometido? Não fazia diferença. Me afastei sem dizer nada.

 

   Nos dias seguintes, algo diferente aconteceu. Alguém começou a me seguir. Eu podia sentir um olhar por trás de mim. Andando em passos curtos, mas nunca se aproximando.

 

   De alguma forma isso pareceu divertido. Por um capricho, decidi brincar um pouco. Agindo como se não soubesse de nada, deixei ser seguido. Às vezes acelerando depois de virar uma esquina e despistando aquela pessoa.

 

   A mesma garota de antes. A garota judiada. Ao me perder de vista, ela apenas ficava olhando para os lados, sem saber para onde ir. Então eu entrava em seu campo de visão e agia como se nada tivesse acontecido. Como se não a visse. A garota voltava a me seguir.

 

   Foi assim por vários dias, até que por capricho, decidi por um fim naquele jogo. No final do dia, me aproximei dela.

 

Obrigada por aquele dia. – Ela diz depois de muito esforço.

 

   Por que ela me agradece? Eu não entendi. Não fiz nada que merecesse um agradecimento. Agi apenas por um capricho. Eu poderia tê-la ignorado, ou ter me juntado ao grupo que a ofendia. Não houve um propósito.

 

   Eu vou embora. A garota vem junto. Por que? Ela já não disse o que queria dizer? Mas eu decido que ela pode ficar. Enquanto não me decidir o contrário.

 

   E ela ficou. Aos poucos eu descubro sobre a garota. O que era para ser apenas um capricho temporário foi ficando longo, longo e longo. E por fim eu não queria mais que ela fosse embora.

 

   Aos poucos falando. Aos poucos conversando. Aos poucos entendendo. Aos poucos gostando. Aos poucos precisando.

 

   Quando foi que aquela garota se tornou uma presença importante? Quando ela passou a ficar e não foi embora? Quando ela se abriu e às vezes, por breves momentos parecia sorrir?

 

   Quando que protegê-la se tornou meu objetivo? Por que alguém que nunca teve um propósito de repente se viu protegendo uma outra pessoa?

 

   Sim... por que só agora eu entendi? Naquele dia não fui eu que a salvou. Ela que me salvou. Aos poucos, removendo as trevas, deixando sua luz passar. Brilhando cada vez mais forte.

 

   E mesmo... naquele dia ela me agradeceu, certo? Então... então porque eu nunca agradeci também? Se eu também fui salvo...?

 

   A aura negra que envolvia Mukuro, que vinha desaparecendo, se dissipa por completo. Seu olho direito volta a mostrar o kanji de “seis” que trazia normalmente.

 

   Suas mãos derrubam o tridente que cai no chão fazendo um som pesado.

 

   Sua mão direita toca o rosto de Chrome, acariciando a face da garota.

 

“Chrome... minha bela Chrome...” Diz sorrindo seu sorriso costumeiro. A expressão quase debochada que sempre tinha.

 

“Mukuro-Sama”. Ela coloca a mão sobre a de Mukuro e da um sorriso.

 

   Ela não precisava de nada quando tinha Mukuro por perto. E aquele sim, era o Mukuro que ela tanto adorava. Ela não estava mais com medo.

 

   Os olhos de Mukuro descem até Tsuna. O garoto que lutou com todas as forças, cuja existência era oposta a dele próprio. Ele chegou a acreditar que seria impossível eles dois, tão diferentes, coexistirem.

 

   Ele viu de perto a determinação do garoto. Mesmo diante de um inimigo superior, não, talvez por isso mesmo, ele se agigantou, lutou por seus companheiros e para proteger o que lhe era querido.

 

   No final, não era a mesma coisa que ele vinha fazendo esse tempo todo? Será que, no final das contas, eles apenas escolheram caminhos diferentes com o mesmo objetivo em mente? Talvez... apenas talvez... eles dois não fossem tão diferentes quanto Mukuro havia imaginado.

 

“ ‘Eu não quero que você machuque o Tsunayoshi.’ ‘Ele é meu amigo, e ele me protegeu também.’, huh? Então talvez... apenas talvez... eu possa confiar o desejo de Chrome a você... por um tempo...”

 

   Sentindo as pálpebras pesadas e sua consciência se esvaindo, Mukuro se lembra da violenta batalha que acabara de passar. Ele usou seu poder máximo, é claro que estava exausto.

 

   Antes que não pudesse mais, ele decide dizer as palavras que deveria ter dito a tanto tempo.

 

   Já perdendo a força, Mukuro se inclina para frente e sussurra ao ouvido de Chrome.

 

“Obrigado, Chrome... obrigado... Nagi.”

 

“Mukuro... Sama?” Chrome o segura antes que ele atingisse o chão. “Mukuro-Sama!” Ela olha para Tsuna que fechava os olhos lentamente, apagando. “Tsunayoshi!” Ela estica a mão, tocando no rapaz também desacordado.

 

   Do seu canto, Reborn, que já tinha um celular na mão diz.

 

“Podem entrar.”

 

   Imediatamente um grupo de paramédicos entra no salão e logo assumem os cinco caídos.

 

“Muito obrigada”. Ela diz para o homem que esteve ali o tempo todo.

 

Continua...


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