O Teste da Deusa escrita por Risurn


Capítulo 25
Capítulo Vinte e Quatro – Afrodite enlouquece


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Eu estava um pouco ansiosa pra postar, então vim mais cedo!
Espero que gostem, beijo!
[ATUALIZADO 01/02/2017]



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Digamos que eu não fiquei mais tão entusiasmada quando a passagem se fechou atrás de mim com um estrondo.

— Nico? – Murmurei em um fiapo de voz, estava tudo no mais completo breu.

— Estou aqui. Só um segundo que vou até você.

Esperei alguns segundos que pareceram se arrastar por uma eternidade enquanto ouvia os passos de Nico se aproximarem, até ele finalmente pegar minha mão e me deixar instantaneamente mais calma.

Era bom saber que eu não estava sozinha na escuridão.

— Como vamos achar? Eu não consigo enxergar nada.

— Bem... eu consigo. Por mais estranho que possa parecer, as vezes sinto que enxergo melhor no escuro do que na claridade.

Bom. Isso explica algumas coisas.

— Ótimo, para qual lado então?

— Ali.

Fiquei em silêncio esperando por mais alguma coisa.

— Ali onde Nico? Se você apontou, eu não consigo enxergar.

— Ah. É verdade, claro. – Eu tinha certeza que Nico estava corando. – À nossa esquerda, lá na frente, tem um feixe de luz. Acho que pode ser por ali.

Forcei os olhos para tentar enxergar o tal feixe de luz, mas não obtive sucesso. Dei de ombros.

— Tudo bem. Pode ir.

Nico foi à minha frente e me guiava, indicando as elevações e buracos, evitando quedas vergonhosas da minha parte.

Depois do que pareceu uma eternidade, Nico finalmente parou.

— Acho que encontramos alguma coisa. Aqui tem uma porta, mas não consigo abrir.

Nico soltou minha mão para empurrar a porta e eu instantaneamente me senti perdida.

— Nico. – Ofeguei tentando buscar apoio no escuro. Minha mão escorregou para a parede e meus dedos atingiram a porta, fazendo-a tremeluzir e iluminando todo o lugar.

Agora que não estávamos na escuridão eu conseguia ver a enorme câmera em que estávamos. Um grande balão vazio com passagens em todas as direções, mas bem na minha frente erguia-se uma enorme porta dourada, brilhando.

— Ah, aqui está.

Nico encostou na maçaneta e tirei a mão da porta.

O brilho sumiu instantaneamente e tudo voltou à escuridão de antes.

— A maçaneta sumiu! – Ele parecia surpreso. Franzi o cenho.

— Como assim sumiu? Ela estava ai agora mesmo, eu vi!

— Espere, Annabeth, coloque a mão de volta na porta.

Obedeci sem entender e tudo voltou a se iluminar. A maçaneta estava no mesmo lugar de antes.

— Interessante. – Nico murmurou olhando ao redor. – Você tem que fazer isso. Abra.

Levei a mão até a maçaneta e empurrei a porta que abriu sem dificuldade.

— Vamos.

Atravessei a porta e Nico deu um passo em minha direção, mas parou.

— Não posso.

— O que? É claro que pode, venha.

Estendi minha mão e peguei a dele, trazendo-o comigo, mas sua mão não vinha. Tentei de novo e de novo, sem sucesso.

— Não é que eu não queira. Eu realmente não posso. Não consigo atravessar.

Suas duas mãos subiram e ele as posicionou no ar a minha frente. Ambas as mãos perfeitamente esticadas, imóveis.

Ele suspirou, derrotado.

— Você precisa fazer isso sozinha.

Arregalei meus olhos, com medo.

— Eu não sei se posso.

— Tenho certeza que você consegue. Vai logo. Eu não vou sair daqui. Estou te esperando.

Minha respiração estava um pouco entrecortada. Me sentia uma adolescente de quinze anos outra vez, e não uma adulta de vinte e três.

Tudo bem. Eu posso fazer isso. Eu consigo. Já derrotei Cronos e Gaia. Derrotei até mesmo Aracne com uma perna quebrada. Tudo bem que eu caí no Tártaro depois disso, mas não importa, sobrevivi a ele também. Eu consigo.

Nico sorriu para mim, me encorajando a continuar e eu entrei completamente no novo cômodo. A porta sumiu atrás de mim e de repente tudo à minha volta se transformou. O lugar era mal iluminado e sufocante.

Abaixo dos meus pés, a grama estava imóvel pela falta de vento. Girei meu corpo e atrás de mim havia um enorme lago. O céu não era céu, e sim o teto de uma caverna. Ainda girando meu corpo eu pude ver o enorme templo branco e dourado, tudo era pálido. A estátua da deusa estava bem no centro da construção e a mesma vinha caminhando, em carne e osso, na minha direção.

— Seja bem-vinda minha querida, achei que não fosse chegar nunca. Agora eu posso dar um jeito nesse lugar. – Ela bateu palmas e de repente uma brisa de verão nos atingiu, trazendo cor e luz à caverna. – Temos muito a conversar.

Tentei puxar o ar pela boca, estava difícil de respirar.

— Você é... É...

— Sua tia que você jurou matar? Sim, sim, criança. – Ela sacudiu a mão como se não fosse nada. – Eu adoro tragédias de família, mas sinto desapontar que não sou eu que você vai querer matar.

Afrodite era estonteante.

Ou pelo menos, era nisso que ela queria que eu acreditasse.

Uma vez eu vi Afrodite e ela não era nada parecida com o que é hoje. Alguns dizem que ela se adequa ao padrão de beleza do mundo quando não estão olhando, outros dizem que você vê o que acha bonito.

Eu só conseguia ver um cabelo longo, rebelde, profundamente escuro, olhos verde-mar e uma pele absurdamente branca.

— Oh. – Ela piscou, como se pudesse ler meus pensamentos. – Temo que esteja ficando tarde demais e um problema familiar realmente vai acontecer. – Ela tocou a ponta dos meus cachos loiros e me olhou como se estivesse orgulhosa. – Eles vão matar um ao outro por você.

Arregalei os olhos, apavorada. O choque foi tão grande que consegui formular uma frase completa sem parecer uma completa idiota.

— O quê? Quem vai fazer uma coisa horrível dessas?

Ela deu de ombros.

— Venha aqui, ande, vamos entrar, eu tenho uma sala de chá que você vai amar e...

— Me desculpe. – A interrompi sentindo meu corpo sair do torpor. Todo o estresse e ansiedade acumulados das últimas semanas sendo jogados para fora. – Mas não tenho tempo para chá. Eu preciso de respostas e dois malditos oráculos me disseram que você as têm, então me dê ou eu realmente vou reconsiderar a possibilidade de matar você.

Ela sorriu, como se eu fosse um show que a divertisse profundamente.

— Deuses não podem ser mortos querida. – A risada dela era irritantemente perfeita.

— Eu já matei titãs, gigantes e até mesmo Gaia. Não tente a sorte.

O sorriso impecável pareceu vacilar e a deusa mordeu os lábios apreensiva.

— Tudo bem, do seu jeito então. Você era muito mais educada antes. Me chamava de Lady e tudo o mais.

Ela estalou os dedos e dois sofás surgiram à nossa volta.

Afrodite abraçou o próprio corpo e sentou-se em um deles, convidando-me a sentar no outro. Um tanto quanto intimidada me sentei, lembrando-me que era com uma deusa que eu falava.

Respirei fundo antes de começar.

— Por favor. Eu sinto que tem algo profundamente errado. Eu acordei sem memória alguma, e conforme elas foram voltando não pareciam fazer sentido. E outras... Algumas das que surgiram, sumiram logo depois. Não sei explicar.

— Deixe-me adivinhar. Suas memórias com Nico não parecem familiares? As memórias com Percy sumiram? Tudo e qualquer coisa que envolva Percy Jackson está... Bagunçado? E o que dizer de sua melhor amiga Thalia? Você sequer lembra dela?

Abri a boca.

— Como... Como...

— Ora essa, eu sou uma deusa ou não sou? – Ela abanou as mãos como se aquilo não importasse. – Eu tenho observado você o tempo todo, tentei lhe ajudar algumas vezes, mas meu poder aqui é limitado. – Ela encarou as próprias mãos, um tanto quanto irritada. – Mas você está certa. – A deusa se aproximou um pouco mais de mim e pegou minhas mãos. – Algo está errado. Pessoas têm brincado com sua mente.

— Quem fez isso? E por que só você sabe a resposta?

Ela se afastou e apoiou-se no sofá, tentando pensar.

— Na verdade, todos os deuses sabem. Nós temos uma visão muito mais ampla dos multiversos que vocês. Mas nós não podemos interferir, você sabe, há não ser que seja da nossa esfera de poder. Mas dessa vez foi longe demais. Alteraram demais a linha do tempo. Algo muito ruim pode acontecer.

Franzi o cenho.

— Não consigo entender. Quíron me disse algo parecido. Não consigo... não consigo entender como isso está relacionado comigo.

— Criança, quando foi que você conheceu Perseu Jackson?

Franzi o cenho, tentando lembrar, sem sucesso.

— Eu... eu... não tenho certeza. Ele... apareceu em um dos verões? Foi... trazido por um sátiro? Enviado pelo pai divino? Não sei porque isso pode me ajudar.

A deusa negou.

— Vocês tinham doze anos. Percy havia acabado de enfrentar o Minotauro e estava carregando um Grover desacordado até o acampamento. Você podia jurar que ele era o seu passe livre para o mundo que você sempre quis conhecer e a partir daí, nunca mais se separaram. Bem, até agora. Quer dizer, teve também aquela vez que Hera sequestrou o pobre coitado e...

Sorri ironicamente. Será que esse tempo sozinha deixou Afrodite com uns parafusos a menos?

— Isso não é possível. E nem tem por que eu me lembrar disso. Aconteceu há mais de dez anos. Além de que, Percy e eu nos odiamos desde... – Franzi o cenho. Desde quando? Quando abri a boca novamente para continuar minha frase, uma enxurrada de lembranças me atingiu.

Esse livro é tão fascinante. Um dia serei uma arquiteta famosa. Vou projetar o lugar mais importante de todo o mundo, um dia...

— Criança, tem alguém lá fora.

Levantei a cabeça e deixei meu livro sobre a mesa. Puxei minha adaga, olhando ao redor até encontrar Grover. Ele estava desacordado e o garoto que o trazia revirou os olhos e caiu no chão com ele.

Não consegui conter minha empolgação. Finalmente.

— É ele. Tem de ser.

— Silêncio Annabeth. – Quíron me repreendeu. – Ele ainda está consciente, traga-o para dentro. ”

 

Eu? Babá? Inacreditável! Respire fundo Annabeth. É por uma boa causa.

Enfiei mais uma colher na boca do garoto que estava desacordado e então ele piscou lentamente, abrindo os olhos. Não acredito que ele finalmente acordou!

— O que vai acontecer no solstício de verão? – Perguntei rapidamente abaixando meu tom de voz.

Ele parecia um tanto quanto perdido e revirou os olhos, quase fechando-os novamente.

— O quê?

Eu sabia que Argos estava lá fora, de vigia, sabia que precisava ser rápida.

— O que está acontecendo? O que foi roubado? Nós só temos algumas semanas!

Eu queria gritar o quanto ele era lerdo e perguntar se ele tinha algas na cabeça no lugar de um cérebro, mas ele só conseguia se desculpar. Todas as minhas chances acabaram quando Argos entrou e precisei enfiar comida na boca dele novamente antes que desmaiasse. Garoto tapado. ”

“ O garoto me encarou de cabeça erguida. Havia acordado há apenas algumas horas e o quê? Já achava que era o rei do mundo? Esperava que eu beijasse seus pés por ter matado o Minotauro? Achasse-o assustador e declarasse meu amor e devoção? Hoje não queridinho.

— Você baba enquanto dorme. – Falei simplesmente enquanto ele abria a boca atônito e eu ia em direção ao meu chalé. Eu tenho uma captura à bandeira para vencer essa noite. ”

As lembranças continuavam vindo num fluxo constante demais para que eu pudesse segurá-las e se eu não estivesse sentada, cairia.

— O que... O que significa tudo isso? – Levei as mãos à minha cabeça. Ela doía como o inferno e eu só queria fechar meus olhos e dormir. Por que eu não havia me lembrado dessas coisas antes?

— Muita informação de uma vez só? Talvez eu deveria pular o conteúdo inútil e ir direto ao ponto. Você é noiva de Percy Jackson, Nico é namorado da Thalia e Rachel é o grande problema dessa equação. Tudo bem que o Castellan também não me agrada tanto assim, cá entre nós, sou muito mais Thalico que Thaluke, mas gosto não se discute, não é mesmo? Onde foi que eu parei mesmo? Ah é...

— Você é completamente louca. Isso é ridículo. Nico é meu namorado. Ou era... Percy é noivo da Rachel, Thalia é uma caçadora e Luke... Bom, eu nem sei o que diabos Luke faz da vida dele.

— Você tem mesmo certeza disso?

Minha visão estava turva e eu sentia que podia vomitar.

— Oh, que descuido o meu! Eu esqueci a parte mais importante!

A deusa se aproximou e tocou minha cabeça com as duas mãos, instantaneamente as dores sumiram e eu nunca me senti tão aliviada. Eu não sabia que minha cabeça estava doendo tanto assim o tempo todo. Se Afrodite não estivesse enlouquecendo eu poderia beijá-la, sem dúvidas.

— O que você fez?

— Eu sempre esqueço de como a mente dos mortais é mais frágil aos universos. Está disposta a me ouvir agora e acreditar?

Sendo louca ou não, Afrodite ganhava alguns pontos por ter pelo menos feito minha dor de cabeça passar.

— Você pode tentar.

— Ah, e por onde eu começo?

— Que tal do início?

— Certo. No início, tudo era uma bagunça, o universo estava afundado até o pescoço em uma escuridão sem fim, já que o meu bisavô, o Caos, o único deus que existia desde sempre, comandava o nada, sozinho, super deprimente, não é? E aí...

— Não. – Cortei-a. – Não tão do início. Adiante uns seis mil anos.

— Mas eu nem comecei a falar de mim ainda! – Ela pareceu chateada, mas deu de ombros no fim. – Tudo bem então. Você e Percy eram muito felizes, blá blá blá, raio de sol, mas tinha essa garota, Rachel Dare, aí, eu tinha tantos planos para ela, que decepção! Deus me livre de colocá-la com Octavian como alguns queriam, mas – Ela apertou os olhos e me encarou, percebendo minha confusão. – estou divagando, não é? Bom. Ela estava amargurada e se sentindo sozinha. Eu podia ter obrigado meu filho a flechá-la para fazer se apaixonar por outra pessoa? Podia. Mas a dor de um sofrimento de amor é tão maravilhosamente deliciosa para desperdiçar... Bom. De qualquer forma, Nêmesis ofereceu a ela um acordo.

Eu entendi mal ou Afrodite estava gostando de ver Rachel sofrer?

— Que tipo de acordo?

— Um que muda as estruturas do nosso universo. Basicamente, se resume a tirar você da jogada.

— Eu? Mas o que eu fiz?

— Ora essa, você estava com o homem que ela amava, afinal, não estava?

— Nico?

Afrodite revirou os olhos, um pouco impaciente comigo.

— Percy. Percy Jackson. Quantas vezes vou precisar dizer que vocês eram um casal? O mais perfeito da humanidade, se me permite dizer. Se bem que aquele filho de Ares é tão fofinho, como é mesmo o nome dele? Francisco? Francis?

— Frank? O filho de Marte?

— Isso, foi o que eu disse. – Mais uma vez ela sacudiu as mãos, e eu estava ficando particularmente irritada. – Enfim. Ela queria ficar com Percy e Nêmesis ofereceu uma nova vida. Aparentemente ela decidiu que estragar um dos meus casais favoritos não era o suficiente e resolveu estragar dois.

— Quem?

— Eu preciso te dizer tudo? Nico e Thalia. Minha jovem, sua cabeça está onde?

— Nico e Thalia? Isso nem faz sentido...

— Bom, como eu dizia, Rachel aceitou o acordo. Foi logo depois que o Percy te pediu em casamento, um pedido tão lindo. Você tem tanta sorte. Sonhei tantas vezes com minhas filhas partindo o coração dele...

— O quê?

— Esqueça, esqueça, foque no que é importante.

— Espera aí só um segundinho dona coisa. Você está querendo me dizer que eu aparentemente era a melhor amiga de Thalia e ela saia com Nico e eu nem sabia? Eu nem lembro dela! E eu era noiva de Percy? E Rachel é a grande vilã? Eu falei com ela e ela parece muito amável. Acho que você está ficando maluca de ficar tanto tempo sozinha.

Afrodite sorriu como soubesse de coisas que eu não sei. Provavelmente ela sabia mesmo.

— Não existem vilões ou mocinhos nessa história Annabeth. Todos são vítimas dos caprichos de uma deusa arrogante. Nenhum de vocês é perfeitamente bom ou mau. Nenhum. Nem mesmo você.

Me perguntei qual das deusas era a arrogante. Afrodite ou Nêmesis?

— E por que eu sou a única que parece saber que tem algo de errado?

— Ah. Isso também faz parte do acordo. Exigi que Nêmesis te deixasse perceber a verdade. E Rachel também sabe de tudo.

— Por que eu? – Ignorei às acusações contra Rachel propositalmente. Ainda não acredito completamente em Afrodite. – Se era assim mesmo, por que não Percy? Ele já não perdeu a memória uma vez? Saberia lidar com isso melhor que eu.

— Porque Percy é a peça principal da maldição. Veja bem, mesmo você que tem consciência de todos os eventos conseguiu se apaixonar pelos dois ao mesmo tempo! Percy se deixaria levar muito mais facilmente pela maldição. Você nunca facilitaria para ele e ele veria que a Rachel era uma opção muito mais calma e viável de se manter.

— Eu não estou apaixonada por eles!

— Ah, não está? Por que o fato de Nico e Thalia estarem juntos em outra dimensão é tão difícil de aceitar? Por que você não fica feliz quando Nico fala de Thalia? Qual é a sensação de imaginar os braços dele ao redor dela e não de você? Ele a consolando, beijando-a...

— Você não sabe de nada. – Fechei meus punhos com força.

— Por que não acreditou quando todos, sem exceção, disseram que você e Percy se odeiam? Por que você passava suas tardes com ele e não com outras pessoas? Qualquer um podia te ensinar esgrima novamente! Mas você prefere passar suas tardes com alguém que está noivo. Você...

— Eu já avisei para parar! – Gritei enquanto segurava minha adaga contra o pescoço de Afrodite. Pisquei sem saber como havia feito aquilo tão rápido. Ela olhou para a adaga com pouco caso e afastou-a com um dedo.

— Não me entenda mal criança. Não estou te julgando. Como eu disse mais cedo, estou orgulhosa. Você tornou minha estádia nessa prisão muito mais suportável!

Aproximei novamente minha adaga do pescoço dela até ver uma gota de ícor surgir.

— Você está errada. Existem sim vilões nessa história. E eles são vocês, deuses, constantemente atrás do que se distrair com suas existências vazias. Não quero fazer parte dos seus joguinhos doentios. Se você sabe de tanta coisa por que não está lá fora? Quem te prendeu aqui?

— Ah, isso, foi Nêmesis, ela não queria ser interrompida no planinho de quinta dela.

— Como ela fez isso? Pensei que os deuses não tivessem poderes por aqui.

— A entrada do meu templo é pelo Alasca. Ao menos, para os mortais. Mas estamos bem longe de lá.

— Onde estamos agora?

— Isso não importa. O que importa é que você precisa acreditar em mim. Pense Annabeth. Você não sente nada diferente quando Percy fala com você? Quando te toca? Quando ele sorri?

Minha mente me traiu ao pensar em todas as vezes que Percy fora... Percy.

E então, de surpresa, me lembrei do sonho que tive antes de acordar na cama de Nico, semanas atrás.

“— O que está havendo? – Gritei.

— Eu não... – E então o homem a minha frente começou a desaparecer.

— Não! Por favor! Não vá! Não me deixe!

— Calma! – Só de ouvir sua voz e sentir seus dedos apertando os meus eu me sentia mais tranquila, e apesar disso, não importava o quanto eu olhasse para seu rosto, eu não conseguia enxerga-lo. – Eu vou te encontrar! Me espere, por favor.

— Prometa. – Apertei seus dedos com mais força enquanto o via sumir, junto com todos a sua volta. O vento estava mais forte, me afastando dele. – Prometa que vai em encontrar!

— Eu... – E então ele sumiu. Sua voz morreu e eu estava sozinha. Tudo ficou escuro e a única coisa que eu conseguia ouvir era uma risada. Uma risada fria e cruel.” 

 

Larguei a adaga ante a minha surpresa. Ela caiu sem fazer qualquer ruído por causa da grama.

O homem sem rosto agora tinha um contorno definido. Cabelos escuros e rebeldes, pele bronzeada, nariz fino e olhos verdes. Verdes. Verdes como o mar.

— Não pode ser. – Sussurrei. – É mentira.

— Você percebe agora, não é?

Continuei negando com a cabeça, em choque.

— É mentira. Eu não percebo nada.

A deusa suspirou e se levantou, juntou minha adaga e devolveu-a a mim.

— Não espero que você perceba. Pelo menos, ainda não. Mas você veio buscar a verdade e irá embora com ela. Eu removi o encantamento de confusão de você. Aos poucos, irá se lembrar das coisas e conseguir separar facilmente o que é real e o que não é. E aí você vai poder consertar tudo.

— Você quer que eu destrua um casamento por algo que eu nem tenho certeza que é verdade?

— Exatamente! Mas você tem outra opção. Pode escolher viver essa vida de fantasia. Percy vai casar com Rachel e possivelmente você dará uma chance ao Nico que acabará casando com você também. Mas você vai decidir no final das contas. Com o passar dos dias você vai ver tudo com muito mais clareza e poderá ajudar quem estiver à sua volta a ver também.

Respirei fundo.

— Achei que todas as minhas perguntas iam ser respondias, mas sinto que vou voltar com ainda mais dúvidas.

Afrodite riu.

— Não se engane, nem tente me enganar. Você está aliviada. Você estava certa afinal. Algo realmente estava errado. O que você sente por Percy não é errado, é o certo. Nico não ama você. Ele apenas está programado para isso.

Neguei com a cabeça. Não Nico.

— Ele... Claro que ele me ama. Percy ama a Rachel. É sim errado eu ter qualquer tipo de afeição superior à amizade com ele.

— Você está confusa. Tudo bem. Eu entendo.

Não estou confusa. Estou me agarrando ao meu único ponto de certeza e segurança. Nico não pode ser uma mentira também. Não pode.

— Você precisa ir, ou Nico ficará preocupado. Vou fazer algum esforço e sua visita vai te levar até o acampamento rapidamente.

— Visita? Quem...

— Cuidado Annabeth. Nem todos estão dispostos a te ajudar como eu. E, principalmente, nem todos os deuses tolerariam sua petulância. Eu mesma já deveria tê-la transformado em pó. Sua vida ficará ainda pior agora que você sabe a verdade e todas essas reviravoltas românticas... não serão culpa minha. Eu estou presa. O próprio amor primordial está agindo em você. – Ela suspirou levando as mãos às têmporas e massageando-as. – Diga à Piper para parar de se preocupar e que estou bem. Faça uma boa viagem.

Com um aceno de mão eu estava de volta à câmara escura em que Nico me aguardava.

Minha cabeça girava um pouco e eu sentia que poderia vomitar a qualquer momento.

Aquilo precisava ser um pesadelo.

Eu preciso desesperadamente acordar.

— Annabeth! – A voz de Nico transmitia animação, mas ao ver meu semblante ele diminuiu o ritmo. Eu não conseguia ver seu rosto no escuro. – O que houve? Correu tudo bem? – Fiquei em silêncio encarando o vazio de onde a voz de Nico vinha. Ele pegou minhas mãos e apertou-a contra as dele. – Ei. Não importa o que ela disse. Esqueça. Nós daremos outro jeito, ok? Estou aqui para você. Sempre.

Nico soltou minhas mãos e envolveu meu corpo em um abraço que eu não me atrevi a recusar. Respirei fundo.

Eu descobri algumas coisas que não sentia antes. Lembrei de coisas que eu não sei se gosto e decidi que não contaria para Nico. Não que eu aprovasse as memórias, mas sei que se as dissesse em voz alta elas o machucariam e se tornariam reais.

Então me calei.

Mas não pela falta de palavras, e sim pelo excesso delas.

Me afastei um pouco de Nico e fiquei na ponta dos pés, segurando seu rosto entre minhas mãos e o beijei. Beijei verdadeiramente Nico. Pela primeira vez desde que acordara, me entreguei completamente a ele. De início ele ficou estático, pego de surpresa, mas agora todos os seus sentidos já haviam despertado. Eu tinha plena noção de todas as partes de nossos corpos que se tocavam e de todas as sensações que ele me causava. Afastei nossos rostos apenas um pouco e sussurrei, como se não quisesse que ninguém ouvisse.

— Você me ama, não é?

Seus braços se apertaram em volta da minha cintura e me trouxeram para ainda mais perto de seu corpo, se é que isso era possível.

— É claro que amo, que pergunta boba. Por que está dizendo isso?

— Por nada. Vai ficar tudo bem.

Apoiei minha testa em seu ombro, minha mente e meu corpo se estilhaçaram em desespero.

Pela primeira vez eu não consegui acreditar em Nico.


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Notas finais do capítulo

Eu estou bem feliz, sei lá *risos*
Me digam o que estão achando e o que acham que vai acontecer! Beijão s2



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