O Teste da Deusa escrita por Risurn


Capítulo 24
Capítulo Vinte e Três – Encontramos o Delta


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Eu achei que ia demorar mais porque estou sem tempo.
Como o capitulo ia passar de quatro mil palavras, resolvi dividir ele. Certo?
Se vocês gostarem, prometo não demorar para postar o próximo. Espero que gostem!
[ATUALIZADO 01/02/2017]



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Respirei fundo puxando todo o ar que consegui, mas mesmo isso não era suficiente. Meu corpo todo tremia e se dissolvia em espasmos. Tentei focar minha visão, mas o mundo não parava de girar.

Eu conseguia ouvir o vento à nossa volta, mas não conseguia ouvir Nico.

Eu ainda enxergava tudo embaçado quando o vi com a cabeça pendendo para trás.

Tentei chamar seu nome, mas minha garganta estava anormalmente seca.

Percebi num susto que Nico continuava com o pé no acelerador e o carro rumava sem controle pela rua.

Minhas pernas e braços pareciam gelatina enquanto eu tentava mover Nico, sem sucesso.

De alguma forma, consegui pular até o colo dele e manobrar o carro.

Eu não sabia para onde Nico havia nos trazido, mas não havia sinal da Quimera, nem da mãe de monstros. Ao menos, estávamos seguros.

Por enquanto.

Levei o carro para fora da estrada, até estarmos completamente cercados por árvores e puxei o freio de mão, nos mantendo parados.

— Nico! – Minha voz saia num sussurro enquanto eu tentava sacudi-lo.

Em um momento de pavor vi meus dedos atravessarem seus ombros, e puxei minha mão de volta.

Nico estava se fundindo às sombras outra vez.

Pulei para o banco de trás, ainda sem conseguir sentir direito minhas pernas e busquei pela mochila de Nico, abrindo-a.

— Onde está, onde está...

Nico havia pego uma pequena bolsa preta quando Quíron nos expulsou do chalé treze. Ele tinha seu próprio kit de sobrevivência para emergências.

Ofeguei ao encontrar a pequena bolsa e abri, encontrando pequenas garrafinhas negras.

Voltei para a frente e abri a mesma, fazendo Nico beber o néctar ou o que quer que tivesse ali dentro.

Não notei nenhuma diferença em seu semblante, mas então eu senti uma lufada de ar um pouco mais forte saindo do seu peito e presumi que Nico ficaria bem.

Ofeguei meio trêmula e apoiei minha testa em seu ombro, tentando pensar.

Fechei meus olhos, me perguntando se deveria ariscar beber do conteúdo dos frascos, mas eu não tinha certeza se era realmente néctar ou algo especial para os filhos de Hades, então cheguei à conclusão que era mais seguro comer um pedaço de ambrosia.

Continuei parada, de olhos fechados, tentando me acalmar.

Meu corpo doía como o inferno. Será que as viagens tinham todo esse peso sobre o corpo de Nico?

Um barulho do lado de fora colocou minha mente em alerta. Um galho se partindo.

Respirei fundo e busquei por minha adaga, esperando que não fosse necessário utilizá-la.

Me mantive alerta por mais de uma hora, até achar que era seguro nos movermos. Eu estava exausta, mas não podíamos arriscar. Eu não sabia para onde Nico havia nos trazido, mas eu seguiria em frente.

Quebrei um pequeno pedaço de ambrosia e engoli, sentindo-me imediatamente mais forte.

Puxei o corpo desacordado de Nico para o banco do carona e joguei sobre ele uma de nossas mantas, esperando que ele estivesse bem.

A bússola me mostrava à direção e eu tinha uma longa viagem pela frente.

***

Edmonton.

Nico nos levou nas sombras por setecentas milhas.

Eu juro que quando ele acordar, vou matá-lo eu mesma.

Um pouco depois de ter conseguido ajeitá-lo e me sentir estável o suficiente para dirigir, encontrei uma placa indicando que estávamos entrando na cidade, não que eu não pudesse adivinhar vendo as altas construções surgindo à nossa frente.

Eu estava exausta, mas dirigi até amanhecer e estar bem longe de onde Nico nos levara, parando algumas cidades antes de entramos na província da Columbia Britânica.

Invadi um estacionamento residencial de um apartamento e encostei nosso carro lá. Eu não ia correr o risco de sair dali tão cedo. Dei um pequeno gole de néctar para Nico e comi um sanduíche que consegui comprar no drive-thru. Vou deixar nossas bolachas e comidas secas para emergências.

Dormi por lá, e acordei poucas horas depois, logo após o meio dia.

Meu corpo reclamava de cansaço e exigindo uma refeição decente, mas eu nada poderia fazer até Nico acordar.

Àquela altura eu já conseguia ver as belas paisagens do norte. As montanhas verdes com os picos brancos me davam nós no estômago, indicando que eu não estava muito longe do meu destino final.

Dirigi por um dia e meio até finalmente chegar à primeira balsa e também ao território do Alasca.

Nico acordou somente quando estávamos na segunda balsa, chegando à Juneau.

Ele piscava devagar e sentou, olhando ao redor.

— Eu dormi por quanto tempo?

— Nós fomos atacados antes de ontem.

Ele colocou a mão na cabeça e me encarou.

— Deuses, Annabeth, você está horrível.

— Ah, obrigada por avisar.

Ele franziu um pouco o nariz em minha direção e recuou, cheirando a si próprio.

— Não tomamos mais nenhum banho? – Me mantive em silêncio, tentando me controlar. – O que aconteceu com a Quimera?

— Eu não sei, ficou para trás.

Ele assentiu.

— Onde estamos?

— Estamos chegando à Juneau, é logo mais à frente.

Ele arregalou os olhos e eu já não estava mais conseguindo conter minha irritação.

— Como chegamos aqui tão rápido? Você não tem dormido?

— Como eu poderia? – Gritei, empurrando seu ombro. – Você esteve apagado durante dias. Por vezes eu achei que você fosse morrer. Você fez a estupidez de atravessar um estado inteiro e metade de outro nas sombras! Eu vi você sumir por um segundo debaixo dos meus dedos sem que eu pudesse fazer nada! Eu morria de medo que à cada nova cidade, lanchonete, posto ou estacionamento que parássemos alguma coisa me atacasse e eu não poderia fazer nada. Nada. A menor das minhas preocupações tem sido dormir nos últimos dias.

Abaixei minha cabeça e a prendi entre os braços. Me permiti finalmente chorar. Meu corpo inteiro tremia pelos meus soluços.

Estou precisando de um banho, estou cansada, com sono, faminta, confusa e perdida.

Não aguento mais isso.

A mão de Nico pousou sobre meu ombro, tentando me levar até ele, desajeitadamente, por causa das peças do carro entre nós.

— Está tudo bem. Eu... calculei mal a distância, mas fiquei apavorado. Há muito tempo eu não transportava tantas coisas assim de uma só vez. Me desculpe. Eu não quis te deixar desse jeito.

Eu podia ver que aquele maldito estava mentindo e isso me fez chorar um pouco mais.

— Por que você tinha que ser tão irresponsável? O que eu ia fazer se você morresse Nico? O que eu ia fazer? Eu não tive um único dia de paz desde que acordei na sua cama em Nova Roma. Depois disso descobri que sou filha de uma deusa que nunca tem tempo para mim ou qualquer um dos meus irmãos, que precisei salvar o mundo mais de duas vezes por puro capricho de seres que acham que somo insignificantes e não ligam para o nosso estado, principalmente se eu levar em conta que estou assim por causa de algum deles. Se Afrodite é a culpada disso tudo eu vou encontrá-la Nico. Ela pode ser mãe da Piper, da Si, os deuses sabem lá de quem mais, mas eu vou encontrá-la e vou matá-la.

Nico arregalou os olhos e colocou a mão nos meus ombros, me sacudindo.

— O que você está dizendo Annabeth? Tá ficando maluca? Ameaçando os deuses assim, abertamente? Você quer que Zeus jogue um raio na sua cabeça ou o quê?

— Eu fiz a minha lição de casa. Estamos no Alasca. Os deuses não têm poder aqui.

Nico estremeceu e minha visão ficou turva.

— Eu sei, mas isso não significa nada. Eles provavelmente ainda podem nos ouvir. Você só está estressada, não diga bobagens.

— Eu não estou estressada! – Gritei contra Nico.

Ou pelo menos, foi isso o que eu acho que fiz, já que minha visão ficou ainda mais enegrecida e eu apaguei.

Quando eu finalmente acordei ainda parecia claro lá fora. As roupas de cama eram macias e convidativas ao meu redor, me chamando para me aprofundar mais nelas.

Eu também estava com outras roupas, pude sentir.

Estava prestes a deixar meu corpo ser levado pelo cansaço quando minha barriga roncou.

— Estou com fome. – Falei baixinho.

— Ah, finalmente acordou, eu estava começando a ficar preocupado.

A cortina ao lado da minha cama se moveu e eu dei um pulo.

— Nico! – Levei a mão ao meu coração tentando me acalmar. – Que... Que horas são?

— Três e meia da tarde.

Franzi o cenho.

— Como... como pode ser três e meia? Quando você acordou eram quatro horas. Não faz sentido.

— Você dormiu o dia todo Annie. Desde ontem.

Arregalei meus olhos.

— O dia todo? Porque não me acordou antes? – Sai da cama num pulo e dei de cara com meu reflexo. – Eu tomei banho? Eu não lembro de ter tomado banho. – Abri a boca e arregalei os olhos novamente, apontando para Nico. – Você me deu banho?

Nico corou da ponta do pé até as orelhas, mas negou veemente.

— Não fui eu, convenci uma das camareiras a fazer isso.

Encarei Nico por um momento e peguei minhas roupas que estavam dobradas e lavadas no pé da cama.

— Nós precisamos ir, agora. Quero acabar logo com isso. – Comecei a me trocar dentro do banheiro.

— Eu também. – Pude ouvi-lo gritar do quarto.

— Para onde nós devemos ir? Já estamos em Juneau.

Voltei para o quarto pulando num pé só, tentando colocar a bota.

— Bom, eu pesquisei um pouco enquanto você, ãn, se recuperava. Uns vinte quilômetros daqui tem um conjunto de cavernas bem famoso. E tem várias outras espalhadas. Talvez a gente devesse ir explorar. Já que Afrodite está presa em uma, talvez tenha alguma pista, eu não sei...

— Tudo bem. Vamos separar algumas coisas pra levar com a gente. Na verdade, só se agasalha e pega um pouco de néctar ou ambrosia para caso a gente precise. Se a gente não achar nada antes de escurecer, voltamos para cá e continuamos amanhã. O resto das coisas a gente podia deixar no carro, caso aconteça alguma coisa e, sabe, precisemos fugir.

Nico assentiu e colocou um dos casacos, enchendo os bolsos com coisas que talvez precisássemos. A comida dos deuses, alguns dracmas e dinheiro mortal.

Peguei minha adaga e a coloquei na minha cintura.

— Acho que podemos ir.

***

Depois de três dias de busca, Nico e eu conseguimos pegar o guia de visita das cinco horas, o último do dia, para o conjunto de cavernas mais próximas do nosso hotel. O nosso grupo tinha um tamanho médio e admito que depois da experiência do elevador fiquei um tanto quanto paranoica, esperando pelo momento que todos iam criar braços verdes e escamosos e suas câmeras fotográficas começassem a cuspir fogo.

Nico parecia notar meu desconforto, então ele apenas apertou levemente uma das minhas mãos e me manteve ao seu lado.

As cavernas eram enormes e cheias de gelo, deixando tudo com uma luz azul estranhamente bonita. No chão, um pequeno córrego sempre cortava as cavernas, ficando cada vez mais estreito até finalmente sumir.

Depois de várias cavernas, alguns tropeços e sem dúvidas, vários juramentos da minha parte atestando que o verão era a melhor estação do ano, o guia anunciou o fim do passeio e que voltaríamos para o ponto inicial. Nada de pistas. Sem mais cavernas para explorar.

— Ei, – Nico apertou meus dedos entre os dele – tudo bem. Amanhã a gente vê outro grupo de cavernas. Talvez sejam mais afastadas. Talvez... talvez nós tenhamos deixado passar alguma coisa. Vamos encontrar

Assenti com a cabeça, desanimada. Apesar do lindo lugar, eu não consegui prestar muita atenção depois dos últimos dias frustrados. Nico, ao contrário de mim, encarava cada pequeno ponto ao nosso redor com muita atenção. Àquela altura já havíamos saído de dentro das cavernas e estávamos na superfície. O parque Mendenhall Glacier era deslumbrante. Daqui onde estávamos, víamos neve ao nosso redor e um pouco mais à frente o grande rio. As enormes cavernas azuis ficavam para trás a medida que nos direcionávamos para a saída.

De repente, Nico estancou no lugar enquanto o guia continuava falando.

— O que foi?

— Aquilo já estava ali quando viemos?

Nico apontou em direção à enorme montanha verde à nossa esquerda. Ela tinha o pico congelado ao longe e à nossa frente havia uma elevação de pedra, coberta de neve. Franzi o cenho sem entender.

— O que? A montanha? Olha, eu diria que sim...

— Não a montanha. Aquilo. Olhe ali Annabeth.

Nico direcionou a mão para um lugar bem no centro da elevação de pedra, que eu não havia visto antes, mas agora era inconfundível.

— O que é aquilo? Está... brilhando?

Olhei ao redor, mas ninguém mais parecia ter notado o brilho dourado vindo da pedra.

Nico se aproximou dela e passou o dedo indicador em cima.

— Achei.

Antes que eu pudesse me opor, Nico pressionou o símbolo com o dedão e a pedra se afastou com um estrondo, exibindo uma entrada circular.

O símbolo. Um delta. Eu já vi isso há muito tempo.

— Isso... é uma entrada para o Labirinto?

Nico assentiu.

— Não pode ser. Ele não havia sido destruído quando Dédalo morreu?

— Mais ou menos. Há alguns anos... Como se diz? Pasifae meio que jogou um “folego da vida” e o labirinto começou a se estender de novo. Você não lembra?

Neguei e olhei ao redor. Os mortais pareciam bem entretidos com uma planta crescendo ao pé de uma pedra.

— Como eles podem não estar vendo isso? O que será que eles veem?

— Não sei. Mas nós devemos entrar. Acho meio difícil não ser por aqui.

Respirei fundo quando Nico desapareceu na escuridão à minha frente. Tantos lugares agradáveis para Afrodite se esconder, tantas praias caribenhas, tantas campinas floridas... e ela prefere justo aqui?

Reuni a minha coragem e levantei a cabeça.

Era agora ou nunca.

Finalmente teria a resposta para todas as minhas perguntas.

Estou com medo.

Sou corajosa.

Não quero as respostas.

Preciso delas.

Vou dar meia volta e desistir.

Estou entrando.

 


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Notas finais do capítulo

Quem quiser dar uma olhada em como é o parque, aqui está: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150825_vert_tra_geleira_alaska_ml
Esse é só um dos links, claro. Existem milhares por ai.
Espero que tenham gostado.
No próximo capítulo Afrodite finalmente vai aparecer, e quem sabe já esteja na hora de alguns velhos amigos darem as caras, não é mesmo?
Aliás, me digam, o que acham da ideia de um capítulo narrado pela Afrodite? Não esse do encontro delas, claro.
Obrigada e até o próximo s2



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