Fantasmas escrita por Odette Swan


Capítulo 4
Melodia do Coração


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Nesse capítulo tem uma "surpresinha" no final. Pois é, não é o que eu tinha planejado para o final deste capítulo, mas acho que ficou bem melhor do que a primeira idéia, espero que gostem. E não se esqueçam de ler as notas finais, recadinho importante.

Boa leitura!



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Algumas vezes os fantasmas que nos assombram podem trazer de volta sentimentos que gostaríamos de esquecer. Mas como? Como esquecer sentimentos tão fortes, que até você mesmo se perguntava se eram reais? Como esquecer pessoas que passaram por nossas vidas e deixaram profundas marcas em nós, tanto boas quanto ruins? Como uma triste melodia tocando em nossas mentes, essas lembranças, esses sentimentos, tudo de uma vez, voltam, e você se pergunta o porquê de ter que reviver tudo isso. Por que não podemos simplesmente esquecer?

Enquanto tocava a doce melodia para o senhor Lewis, Margaret Willians se lembrava dos momentos especiais que havia passado, cujo quais eram tão especiais para ela, que essa melodia era uma das que tinha composto, inspirada por esses momentos. Mas uma pequena pontada atingia seu coração, toda vez que via os inúmeros corações desenhados naquele caderno de composições, ou quando via a marca da foto rasgada que ela arrancara da parte de dentro da capa do mesmo.

Depois de tocar durante uma hora, ela foi embora, não queria ficar em casa, e como não tinha mais trabalho a fazer decidiu dar algumas voltas pela cidade. A jovem professora de música adorava buscar inspiração no Central Park, era um lugar calmo e bonito, onde ela podia relaxar e compor suas melodias.

Mas havia algo que a incomodava, poderia ser o fato dos casais felizes passarem a sua frente, como se esfregassem na sua cara o que tinha acontecido, ou talvez o fato daquele banco perto do pequeno lago ainda estar ali, vazio, como se esperasse que ela fosse até ele e resgatasse a boas lembranças, se é que ainda existiam. Aquelas imagens ainda estavam nítidas em sua mente, mas não como boas lembranças, e sim, como imagens que serviam como motivo de desgosto, ódio, dor e tristeza.

Seis anos antes

Os jovens estavam sentados naquele banco, felizes, o rapaz dizia belas palavras à moça, até que finalmente disse o que ela queria ouvir.

–Margaret quer casar comigo?- Ela o olhava espantada e alegre ao mesmo tempo, com um enorme sorriso estampado no rosto.

–Sim!- O abraçou e o beijou com todo amor.

...

Ah, como o tempo passa rápido não é mesmo? Alguns meses depois, Margaret e Willian estavam no cartório, felizes. Ainda eram bem jovens, mas quem se importava?

–Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.- Completaram a cerimônia enfim. Para Margaret esse casamento prometia, mas ela mal sabia o que lhe esperava lá na frente.”

Margaret andava pelo mercado procurando algo para jantar, e uma surpresa um tanto desagradável apareceu diante de si.

–Oh, me desculpe.- Disse ao homem com quem tinha se esbarrado, e no mesmo instante congelou como se tivesse visto um fantasma. A vida tem suas ironias, não é?

–Margaret? Nossa, você está...diferente.- Sorriu.

–Oi Willian.- Respondeu seca.

–Querido vamos?- Apareceu uma mulher segurando seu braço.- Oh.- Disse encarando Margaret.

–Eu já vou.- Respondeu sorrindo, a mulher foi para a fila do caixa, mas antes analisou Margaret de cima abaixo e depois deu um risinho sarcástico.- Como você está?

–Muito bem, obrigada. Vejo que vocês estão muito bem.- Comentou apontando com o olhar a mulher de Willian.

–É.- O sorriso ainda não sumia de seu rosto.

–Bom, se me dá licença, tenho coisas a fazer.- Disse saindo de perto dele.

–Ei, até parece que não quer falar comigo.

–Não tenho nada para falar com você.- Disse isso, e foi embora.

No dia seguinte, levantou cedo e já se sentou a frente de seu piano e começou a tocar, muitos pensamentos rondavam sua mente. Ela se lembrava do que acontecera no dia anterior. Por que isso a incomodava tanto? Por que não conseguia apagar aquelas memórias? O que passou, passou, mas para ela ainda era difícil aceitar. Onde ela errou? Será que merecia aquilo?

“Um ano e meio antes

–Alô?

–Amor? Você não vai vir pra casa?

–Vou ficar até mais tarde hoje.

–Você tem trabalhado demais. Não é melhor vir pra casa descansar cedo? Só um dia. Sinto falta de jantar com você.- Disse amorosa.

–Margaret não vai dar...Tenho que desligar agora.

–Tudo bem.- Disse desapontada.- Eu te amo.

–Tchau Margaret.- Desligou. Margaret não conseguia entender o que estava acontecendo.

...

Duas semanas se passaram, Margaret havia chegado a uma conclusão e exigiria sérias explicações de Willian. Ela notou que ele estava estranho nos últimos meses, estava distante, seu comportamento em relação a ela havia mudado, mas preferiu não criar confusões por causa disso, achou que fosse algo plausível, como o trabalho, mas isto já estava indo longe demais. Assim que chegou em casa foi recebido por Margaret, que o esperava na sala.

–Willian, precisamos conversar. Tenho algo importante a dizer.- Se levantou, ele colocou sua maleta em um canto e a fitou.

–Ótimo, pois também tenho algo a dizer.- Seu tom de voz estava mais seco, Margaret estranhou, mas não ligou muito.

–Eu não agüento mais isso.

–Isso o que?

–Isso que você está fazendo. Eu fingia que não via porque não queria brigar com você, mas agora não dá mais. Você está distante, frio, indiferente, tem chegado tarde em casa, você nem passa mais tempo comigo, não é o mesmo Willian que eu conheci há alguns anos atrás, e por isso quero que me diga o que está acontecendo. E por favor, não me diga de novo que é o trabalho, porque eu sei que isso não te mudaria dessa maneira.

–Você quer a verdade não é?- Ela assentiu com a expressão nervosa e os braços cruzados.- Pois é exatamente isso o que eu queria te dizer.- Seu tom indiferente já não era mais surpresa.

–Estou ouvindo.

–Eu vou embora Margaret.

–O quê?- Um tom de confusão tomou conta de si.

–Isso mesmo que você ouviu.

–Por quê?

–Eu me apaixonei por outra, Margaret.- Um desespero misturado com mágoa preencheu Margaret.

–Eu não acredito.- Disse com os olhos marejados.

–Pois é Margaret. Ela é diferente de você, ela me dá tudo o que já cansei de pedir a você.

–Como assim Willian?

–Ela não vive focada no trabalho como você, e se esquece do marido, ela não está presa no mundinho dela ao invés de dar atenção a mim e a casa...

–Willian! Você sabe que eu adoro o meu trabalho e que eu nunca me esqueci de você, eu sempre tentei fazer de tudo para você ser feliz, para nós sermos felizes.

–Não é tão simples.

–Como?! Como não é tão simples?

–Ela está grávida Margaret.

–O que?- Ela encarou o chão por alguns segundos.- Então é por isso, não é? Você sabia muito bem que eu não poderia te dar filhos! E por isso você correu atrás de outra?- Perguntou indignada.

–Oras, Margaret não faça drama.

–Não fazer drama? Quantas vezes eu te pedi para adotarmos um filho e você disse não?

–Não é só por isso que estou com ela. Como eu já disse, ela é diferente de você, o que eu sinto por ela não se compara.

–Então é isso?- Perguntou já chorando.- É assim que você quer terminar tudo, me dizendo que está apaixonado e vai ter um filho com uma vagabunda qualquer?!

–Margaret!

–Cale a boca! Eu não sei como pude ser tão burra a ponto de me apaixonar por você. Quer dizer que durante todo esse tempo você me enganava? Você fingia me amar?- Respirou fundo e depois continuou.- Você quer ir embora? Ótimo você vai embora. Agora.

Margaret subiu correndo as escadas, seguida por Willian, pegou o máximo de roupas que pôde, colocou em uma mala e jogou contra ele.

–Vá embora daqui!- Disse enquanto o empurrava até a porta.

–Não pode me expulsar assim!

–Ah eu posso.- Quando disse isso, Willian já estava do lado de fora.- E não se preocupe em vir buscar as suas porcarias, pois amanhã mesmo estará tudo na rua esperando você!- Então voltou para dentro e bateu a porta com força, e Willian foi embora.

Ela ficou encolhida no sofá chorando por horas, era demais para ela. Como ele pôde fazer isso? Anos de sentimentos desperdiçados com uma pessoa que não merecia. Agora tudo fazia sentido, as discussões que Willian começava, a falta de carinho, as curtas conversas. Tudo o que Margaret esperava ter em seu casamento ocorreu ao contrário. Depois daquilo Willian não voltou mais.”

Algumas lágrimas caíram sobre o piano, lágrimas que ela queria evitar, mas não podia, não conseguia. Enxugou as lágrimas rapidamente assim que ouviu alguém bater a porta.

–Jonathan, oi. Entre.- Ele o fez e sentou no sofá seguido por Margaret.

–Margaret você está bem?- Perguntou preocupado.

–Por que não estaria?- Disfarçou um sorriso.

–Por que está com os olhos vermelhos e úmidos?- Perguntou tocando seu queixo para que ela o encarasse.

–Não é nada, é que...eu encontrei Willian ontem.

–Vocês conversaram?

–Mais ou menos, não exatamente.

–E por que você está assim?

–Você sabe Jonathan, é difícil conviver com tudo o que aconteceu, é difícil esquecer tudo o que ele me fez.- Seus olhos marejaram.

–Ei.- Segurou suas mãos.- Você não pode se martirizar pelo resto da vida.- Margaret riu ao se lembrar do que tinha dito.- Não importa o que o Willian fez, você não pode deixar que isso atrapalhe sua felicidade. Ele deve estar muito bem sem você, não é?- Ela assentiu.- Então por que você não pode ficar bem também?

–Eu não sei...Eu não consigo.- Suspirou.- Podemos parar de falar dele?

–Ta, claro.

–Você está melhor?- Perguntou, o encarando nos olhos dessa vez.

–Muito. Eu...falei com Joanne.

–Isso é ótimo.- Sorriu.

–Ela me disse que encontrou com você.

–É...bem, ela foi me procurar no meu estúdio. Ela não tinha como falar com você, já que você mudou o número do celular. Ela me perguntou sobre você, e eu disse a verdade...Vocês se acertaram?

–Sim.- Respondeu sorrindo, Margaret também sorriu.

–Bom, pelo menos um de nós consegue superar o passado.- Ficou cabisbaixa.

–Ei.- Segurou seu rosto a fazendo encará-lo.- Eu perdi muita coisa, sofri demais, mas agora que eu consegui me entender com Joanne, não vou desperdiçar o tempo que tenho sofrendo. E você deveria fazer o mesmo, você não perdeu nada demais, Willian não fez por merecer uma pessoa maravilhosa como você, e quem perdeu foi ele.- Margaret sorriu com o elogio.

–Obrigada...Você deve ser uma das únicas e poucas pessoas com quem posso realmente me abrir.

–Não precisa agradecer.- Sorriu.- Você também foi um ombro amigo sempre que precisei, não acho que poderia encontra alguém como você em qualquer lugar. E...sabe o que eu acho?

–O que?

–Que você deveria parar de pensar no Willian e se dar uma nova chance para encontrar alguém que realmente goste de você.

–Você fala como se fosse fácil.

–Eu sei que não é. Mas acho que se você abrisse seus olhos, poderia ver que está mais perto do que você pensa.

–O que quer dizer?

Jonathan colocou a mão no rosto de Margaret delicadamente e foi se aproximando lentamente, ela não entendeu no início, mas, quando seus lábios se tocaram, ela percebeu que talvez a amizade que tinha com Jonathan poderia ser algo a mais, talvez tivesse que ser assim, só que ainda não era o momento. Margaret passou os braços pelo pescoço de Jonathan, que segurou em sua cintura. Aquele beijo talvez fosse tudo o que precisavam naquele momento, talvez fosse o que precisavam a muito tempo, um turbilhão de sentimentos tomou conta dos dois, mas era algo bom, uma sensação nova e completamente boa.

Mesmo que o passado insista em te assombrar, talvez ainda haja um jeito de fazê-lo sumir, talvez haja um jeito de acalmar e curar seu coração. Mesmo que você não veja, a solução para tudo talvez esteja mais perto do que pensa. Mesmo que você não consiga se desprender de suas marcas, você ainda pode encontrar um jeito de fazê-las desaparecer da sua mente e criar um espaço no seu coração para a felicidade que de alguma forma você acreditava que não seria possível.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Bom, como está escrito nas notas iniciais da história, esta é uma Short Fic, ou seja, ela é bem curta.
E por que estou escrevendo isso? Bom, como toda história chega ao fim, com essa não vai ser diferente, e pelo fato de ser uma história curta, o fim chegou bem rápido também. Este é o PENÚLTIMO capítulo, sim estamos chegando no fim. Passa rápido não é? Enfim, agradeço a todos que estão lendo essa história.

Até o próximo capítulo o/.



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