Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 46
Capítulo 45




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Os dias se passaram vagarosos, tanto para Sam, quanto para Dean. Depois de três dias alegando não passar bem, Winchester achou por bem voltar ao trabalho. Era isso ou ter que ir atrás de um atestado médico. E, no seu caso, provavelmente só conseguiria um das mãos de um psiquiatra. Mas não, ele preferia que seus colegas de trabalho não o considerassem um louco...

As olheiras profundas e o olhar perdido do professor de teatro, entretanto, denunciavam, principalmente para os mais observadores, que o homem não estava bem.“Andei muito gripado”, alegava ele. E foi com essa cara de “enterro” que o homem ministrou suas aulas tanto na quinta quanto na sexta-feira, antes do primeiro fim de semana após voltar de viagem.

Durante toda a semana Winchester chamou por seu mentor, Castiel, tentando invocá-lo. Olhou na internet maneiras de contactar os espíritos... Fez rituais... Mas nada parecia dar certo. Tudo o que tinha eram palavras espaçadas, dadas por Justin e Misha, que procuravam o professor sempre que podiam para dar alguma notícia de Dean. Desde o dia em que estiveram na casa do louro, os meninos passaram a trocar mensagens com ele diariamente. E, graças a Deus, o louro parecia estar bem.

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“Tudo bem por aqui! Mackenzie está fazendo uma torta de maçã hoje. O cheiro está delicioso!” – teclou Dean para os amigos.

Justin ia responder que ele era um sortudo por poder ficar uma semana inteirinha sem ir à escola, só no conforto de seu lar, comendo torta de maçã. Depois pensou melhor. Não, ele não queria estar no lugar do outro... Sua mãe podia ser chata. Seu pai podia ser mandão. Mesmo assim, preferia os dois vivos, no seu pé, se fosse o caso.

“Coma um pedaço por mim!” – respondeu Justin.

“Que bom que está tudo bem. Aqui está um pouco mais chato sem você. Já sabe se vai mesmo voltar na semana que vem?” – quis saber Misha. Na verdade, fazia a pergunta a pedido de Sam.

Dean demorou um pouco a responder. “Não vou voltar. ” Logo em seguida se despediu, provavelmente para ir comer a tal torta. Ou, pelo menos, assim imaginaram seus amigos.

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Dean silenciou o telefone celular. Não queria mais saber de trocar mensagens por enquanto. Voltar para a escola na semana seguinte? Nem pensar... Ele não voltaria àquele colégio nunca mais na vida. Pelo menos não enquanto Sam andasse por lá. Dean simplesmente não conseguiria ficar diante do homem que tanto amara e que agora... Bem, agora odiava.

O menino desceu as escadas pé-anti-pé, e aproximou-se da irmã de mansinho. Precisava conversar com ela sobre isso. Quem sabe pudesse mudar de escola?

– Macky... Eu estive pensando... – falou o louro, cortando o silêncio.

– Nem adianta vir pedir desculpas agora. Nada de sobremesa pra você! – exclamou a mulher, enquanto tirava a torta do forno. Era a predileta de Saul...

Pedir desculpas por que? Dean nem saberia dizer... Afinal a irmã reclamava de absolutamente tudo o que ele falava e fazia. Sobremesa ele não podia comer desde o seu aniversário, quando reclamara a respeito do Impala. E pra quê afinal? Saul continuava a usar o carro, sem lhe dar a menor satisfação.

Bem... Mas quem se importava com sobremesa? Ficar sem sobremesa era castigo de criança mimada, e isso, Dean já não era mais... Pior eram as noites mal dormidas, com Mackenzie e Saul drogados e alcoolizados... As vezes brigavam entre si. As vezes, brigavam com Dean. Muitas vezes, sobravam até tapas e empurrões.

– Não... É... – titubeou o menino. – Eu queria só sugerir, quem sabe, de você me colocar em um colégio mais barato... Quem sabe até público...

Mackenzie desviou o olhar do doce e fitou o irmão por alguns segundos.

– Seu colégio já está pago até o fim do ano. Depois vou decidir isso... – respondeu, pensativa. Até que seria bom não ter que gastar tanto com a educação do garoto. Ao mesmo tempo, o colégio semi-interno era um sossego. Só precisaria aturar o caçula nos fins de semana. Mackenzie mal podia esperar pela segunda-feira.

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Sam se encaminhava para o estacionamento carregando suas coisas e seu cachorro, quando encontrou-se com Misha.

– Falamos com ele agora a pouco, professor. Dean está bem, comendo torta de maçã...

– Perguntou que dia ele volta? – quis saber o homem afoito. Winchester precisava ver seu bebê novamente e finalmente ter a oportunidade de explicar-se pra ele.

Misha titubeou.

– Ahhh.... É...

– O que ele disse? – apressou-se o professor.

– Disse que não ia mais voltar. Mas claro que vai... É besteira dele... – amenizou o garoto.

Sam horrorizou-se. Como assim não ia mais voltar? Mas Misha não tinha mais muita coisa a dizer, afinal Dean não se explicara pra ele. O menino sentia muito pela notícia ruim. Torcia para que Winchester não fosse se torturar com isso por todo o fim de semana.

Assim que o aluno se afastou, Brian Scott surgiu ao lado do colega.

– Está tudo bem? – perguntou, notando o ar de desespero do outro. Mas não que Brian já não estivesse acostumado em ver Sam sofrer. Aquilo agora parecia ser regra...

O professor de teatro acenou a cabeça de forma afirmativa e apertou o cachorrinho com mais força em seu colo. Andava descuidado, deixando Ben ser visto a torto e a direita.

– Tenha um bom fim de semana, Sam. Aproveite pra descansar! – recomendou o treinador então, simpático.

Brian não deixou de reparar em Ben, é claro... Mas não iria reclamar. Não agora, com Winchester sofrendo como estava... Se o cachorro fazia o homem se sentir melhor, então que ficasse com ele...

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– Boa noite, Patrick! – disse Brian assim que chegou em casa e encontrou o rapaz pela cozinha.

– Boa noite! – respondeu ele, contente por ver o amigo.

Patrick havia feito um jantar bem gostoso, segundo ele, para comemorar o fato de Brian ter finalmente aberto os olhos.

– Aberto os olhos pra quê? – o treinador não entendeu, ou se fez de desentendido.

– Finalmente enxergou que o padre Matthews não presta! E que os seus alunos vão ser muito mais felizes longe dele. Os garotos se gostam. Tem mais é que ficar juntos!

Brian baixou os olhos. - Patrick, você sabe muito bem o que eu acho disso... Homem namorar homem...– disse ele, timidamente. Em seguida sentiu um toque no braço. Era um toque macio, e ao mesmo tempo eletrizante. Quando Brian levantou a cabeça, e fitou os olhos avermelhados de Patrick, sentiu seu coração palpitar de maneira estranha.

– Eu sei o que você ACHAVA disso. Mas já está mudando de opinião, não é? – disse o mais novo, dando uma piscadela e finalmente se afastando. Brian sentiu suas pernas tremerem. Achou melhor nem responder.

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Sam chorou mais uma noite inteira. Mais uma vez implorou para Castiel se materializar diante dele. E se Dean não voltasse? E se ele nunca mais encontrasse seu bebê, e jamais pudesse se explicar? Mas não. Ele não podia permitir que aquilo acontecesse. Sabia o endereço de Dean, e apareceria em sua casa se fosse preciso! Mesmo que fosse arriscado... Mesmo que alguém denunciasse alguma coisa e ele fosse parar na cadeia...

No dia seguinte pela manhã, o homem planejava sua visita aos Campbell, quando leu no jornal que domingo seria a missa de décimo dia da morte dos pais de Dean. Por que Misha e Justin não lhe contaram? Talvez achassem que era melhor que ele não fosse até lá... De qualquer forma, era melhor na paróquia que na casa de Dean! Pronto, estava resolvido. Sam iria à missa.

O homem tentou se alimentar bem e relaxar o máximo possível no sábado. Não queria aparecer para Dean com cara de doido no dia seguinte. Ele se controlaria e conversaria com o menino de forma civilizada. E tudo ficaria bem... Afinal, Dean e ele tinham sido feitos um pro outro. O destino haveria de soprar nos ouvidos do louro que o perdoasse.

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– Sua filha da puta, sem vergonha! Mulher vadia!

Dean respirou fundo e aumentou o som de música que ouvia. Já estavam aqueles dois brigando de novo... Eram sempre os piores xingamentos, mas o louro já estava até se acostumando.

– Filho da puta! Gay do caralho!

– Ahh então eu sou gay?! – vociferou Saul com raiva.

– É! Só pode ser! – respondeu a loura, com a voz também alterada.

Dean nem teve tempo de pensar no que fazer. Assustado, ouviu o barulho de passos apressados que subiram até seu quarto. Em seguida apareceu Saul, com Mackenzie logo atrás.

– Se sou gay então vou transar com esse seu irmãozinho gostoso. – provocou o homem. – tira a roupa, garoto. – ordenou ele. Dean sentiu o bafo de bebida alcoólica e estremeceu.

– Eu sempre soube que você tinha mais tesão nele que em mim, seu veado, desgraçado! – descontrolada, Mackenzie se lançou contra o namorado aos tapas e pontapés.

Saul segurou o braço da moça com força e lançou-a contra a parede. Em seguida deu-lhe um tapa na cara. Dean assistiu à cena boquiaberto. Já tinha visto Saul ser violento antes, mas não daquela maneira. A reação demorou a vir, mas, quando o sangue subiu à cabeça do menino, levou-o a agir de imediato. Mackenzie podia ser a pior irmã do mundo, mas Dean jamais deixaria que fosse violentada diante de seus olhos. Ele era o homem da casa agora.

Com fúria e uma força que nem mesmo o menino acreditava ter, Dean se atracou com Saul, impedindo que homem machucasse ainda mais sua irmã.

– Você acha que pode comigo, moleque desgraçado? Eu te bato também! E ainda te como! – avisou o bêbado.

Dean, com raiva, acertou um soco bem no meio das pernas do sujeito. Orgulhoso, olhou para a irmã. Mackenzie, entretanto, em vez de agradecer ao garoto, avançou em sua direção e deu-lhe um pontapé no estômago.

– Tá maluco, moleque! Que golpe sujo! Não bate no meu mozão!

A reação de Mackenzie pegou o louro de surpresa. No memento em que se distraiu levou mais uma pancada, e dessa vez de Saul.

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Domingo de manhã estavam todos doloridos. Dean mais que Saul e Mackenzie... Afinal levara aquelas pancadas com as costelas quebradas. Pelo menos não estava de ressaca, como os outros dois.

O menino examinou-se no espelho. Estava com o corpo coberto de hematomas. Por sorte nenhum machucado no rosto. Vestiu-se e finalmente desceu as escadas, com certa dificuldade. Era a missa de décimo dia da morte de seus pais. Encontraria seus amigos por lá. Precisava parecer bem.

Mackenzie e Saul demoraram para ficar prontos, mas, pelo menos, não chegaram a se atrasar. Comportavam-se como se nada tivesse acontecido. A maquiagem pesada que a moça usava, entretanto, lembrava a Dean dos hematomas e cortes que ela desvia estar escondendo por baixo.

No carro, indo em direção à paróquia, o menino lembrava-se de Mackenzie, outras vezes, com maquiagens exageradas demais. Sentiu um frio no estômago. Por que ela nunca contara à mãe? Por que nunca denunciara Saul? Falta de coragem? Não, provavelmente era a paixão pelo desgraçado, que a forçava a perdoá-lo o tempo todo. Mas ele, Dean, não tinha nada a ver com isso... Talvez devesse denunciar o bandido, mesmo que Mackenzie o odiasse por isso. Poderia contar para os seus amigos, e para o treinador Brian Scott, que estaria também na missa.

Dean suspirou. A verdade é que não tinha coragem de falar com ninguém sobre o assunto. Não era medo de Saul ou mesmo de Mackenzie. De jeito nenhum... Era medo de se passar por fraco, e por coitadinho. Ele já era um homem afinal. Deveria ser capaz de se cuidar sozinho... Ou talvez fosse o medo de Mackenzie desistir dele de vez e mandá-lo para um orfanato ou algo similar.

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Sam havia chegado cedo. Viu vários colegas de Dean chegando, um a um, incluindo seus amigos mais próximos. Alguns professores também foram à missa. Não teria nada demais ele ser visto por lá também... Mas não queria que o menino se sentisse desconfortável naquele momento. Pretendia abordá-lo apenas no final, e era por esse motivo que Winchester havia encontrado um pequeno cômodo para se esconder, e espiava tudo através de uma janelinha.

Quando finalmente Sam avistou Dean chegar com a irmã e Saul, sentiu seus olhos marejarem e seu coração palpitar. Ele o amava tanto... Ao ver seu bebê, finalmente, diante de seus olhos, Sam teve a certeza de que não aguentaria passar muito tempo longe ele de novo.


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