Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 45
Capítulo 44




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Dean abriu os olhos e esfregou-os, ainda sonolento. Mas um miserável dia se iniciava, mas não um dia como outro qualquer. O menino sentiu uma pontada no peito quando lembrou-se que era seu aniversário. A lembrança de aniversários passados inevitavelmente invadiram seus pensamentos, formando-lhe um nó na garganta. O bolo, os parabéns, as festas, os beijos e abraços dos pais. Agora era tudo passado...

Dean tivera quase dezesseis anos de felicidade. Talvez fosse mais que muita gente por aí... O louro suspirou, e tentou esquecer. Não se surpreendeu quando Mackenzie entrou em seu quarto resmungando, e não lhe deu os parabéns. É claro que a irmã sequer tinha se lembrado da data... Ou então, pouco se importava com ela.

Já era quase meio dia quando bateram na porta.

– Dean, é pra você! – gritou Mackenzie da sala, como sempre mal humorada.

Quem haveria de ser? Dean não estava a fim de ver ninguém... E se fosse Sam? Talvez ele devesse pular a janela e fugir para bem longe. Mas a janela era alta demais... Desesperado, e com o coração aos pulos, o garoto trocou o pijama correndo e desceu as escadas, temendo o que o aguardava. Para seu alívio, entretanto, o homem que esperava por ele era desconhecido.

– Ahhh, você que é o aniversariante? – perguntou o sujeito, dando um enorme sorriso. Dean acenou a cabeça, um pouco confuso. Não fazia ideia do que poderia ser. - Seus pais estão em casa? – completou o estranho, em seguida.

Surpreso, e sem vontade de falar sobre o assunto, o garoto simplesmente acenou negativamente. Não, eles não estavam... Mas aquela informação não abalou o sujeito, que continuou com a mesma expressão de comercial de paste de dentes no rosto.

A essa hora Saul e Mackenzie chegaram para espiar. Estavam curiosos...

– Meus parabéns, garoto! – exclamou o homem – Aqui está! Pensou que o papai fosse esquecer do presente, né? – perguntou ele, dando um tapinha nos ombros do louro, e entregando-o uma chave de carro. Em seguida apontou para um Impala antigo e muito bonito, estacionado a poucos metros da entrada.

Dean ficou parado alguns segundos, boquiaberto, enquanto o homem se afastava. Quando recuperou os movimentos, correu em direção ao carro, com Mackenzie e Saul ao seu encalço. O menino lembrava-se com detalhes do dia em que vira um carro igual. Estava com seu pai em uma feira de automóveis, e apaixonou-se por ele. Um Impala 67. Ele não devia ter mais que doze anos de idade... “Quando você fizer dezesseis, te dou um de presente”, prometera Roger. É claro que Dean já havia esquecido... Mas o pai, esse jamais esqueceu.

O louro tinha lágrimas nos olhos quando abriu a porta do veículo e olhou-o por dentro. É claro que gostara do presente, mas o que verdadeiramente o emocionava era a surpresa que Roger lhe fizera, e o carinho com que escolheu o presente. A tristeza invadiu sua alma quando sentiu falta do pai para compartilhar aquela alegria.

– Carro bonito! – comentou Saul.

Mackenzie sorriu. O namorado estava sem carro depois do último acidente que sofrera, alcoolizado. Aquele veículo vinha na hora certa.

– Você pode ficar com ele, amor! – respondeu a loura.

Dean mal prestava atenção a conversa daqueles dois, pois havia encontrado uma carta de Roger junto aos documentos do carro, no porta-luvas.

Dezesseis anos, hein? Quem diria... É com uma pontadinha de tristeza que vejo meu garotinho crescer. As vezes queria que você, Dean, fosse ficar pequenino pra sempre... Mas a vida continua, e é com enorme felicidade e orgulho que observo meu filhinho se tornar homem. Um homem bonito, inteligente, decidido, e também sensível e com um enorme coração. Um homem que merece ser feliz, e que se dependesse de mim, realizaria todos os seus sonhos. O que eu puder, farei por você. Hoje e sempre... E é com enorme alegria que te presenteio com seu primeiro carro. Um sonho de menino que se torna realidade para o rapaz. Espero que o Impala te traga muitas alegrias e muitas aventuras. Parabéns, meu filho. Ahhh, mas só pode dirigir o carro sozinho depois de tirar a carteira, hein? No próximo fim de semana começo a te ensinar! Te amo, meu filho. Parabéns! Agora me dá um abraço, porque eu vou estar ao seu lado, com lágrimas nos olhos, esperando por isso...

Dean olhou ao redor com os olhos embaçados, quase como se esperasse por um milagre. Ao seu lado, o espírito de Roger chorava ao ver o sofrimento do menino. O abraço foi sentido na alma, mas não no corpo, o que aliviou o sofrimento mas não a saudade..

– Dean!

O louro desviou os olhos para Mackenzie e Saul, que já se preparavam para entrar no carro.

– A gente vai dar uma volta pra testar o motor. Vai lá e desliga o forno pra mim? – pediu a irmã, displicente.

Dean demorou um segundo para voltar a realidade, mas quando o fez já estava avançando em cima dos dois para impedi-los.

– Não! Esse carro é meu! Eu que vou dar a primeira volta! – protestou o menino, com raiva.

Mackenzie deu-lhe um safanão, mas o garoto só foi detido quando Saul interveio, e puxou-o pelo braço, dando-lhe um empurrão em seguida. Os casal se enfiou no veículo depressa, maldizendo o aniversariante por ser tão egoísta, e partiu.

Dean estava tão transtornado que nem sentiu o sangue que escorria de seu cotovelo com o rompimento dos pontos. Foi para dentro de casa segurando a cartinha nas mãos, e chorando como uma criança. Não fosse o espírito de Roger ali, para soprar-lhe palavras de apoio e carinho, talvez não tivesse se consolado. Mas Dean conseguiu se acalmar e dormir... Muito tempo depois, ao sentir cheiro de queimado, lembrou-se do forno, e desligou-o. Mas era tarde demais... O frango tinha virado carvão.

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Mackenzie e Saul ficaram fora por um bom par de horas. Dean já estava pouco ligando para eles quando voltaram, e ficou irritado quando chamaram seu nome.

– Dean! – insistiu Mackenzie. – tem visita pra você.

Depois de tantas emoções durante o dia, o louro não sentiu o mesmo calafrio de antes. Desceu as escadas pouco animado e deparou-se com Justin e Misha, que olhavam para ele com certo nervosismo.

– Parabéns! – foram logo cumprimentando os dois, e estendendo dois embrulhos em sua direção. Uma camisa e um joguinho. O louro agradeceu, e convidou os meninos para ficarem com ele no quarto.

Misha e Justin começaram a conversa com muito tato. Não falaram do acidente, nem de Roger, nem de Sarah, e muito menos de Sam. Contaram sobre fofocas do colégio, e besteiras que viram na internet. Foi o suficiente para descontrair um pouco o ambiente.

– Quando você vai voltar pro colégio? – perguntou Justin, lá pelas tantas.

Dean deu de ombros. Ele não voltaria...De jeito nenhum... Não queria encontrar com Sam nunca mais.

– Não sei... – respondeu.

– Sam está muito triste... – atreveu-se Misha a comentar.

Dean ficou sem reação por um momento. Talvez devesse ter sentido raiva, afinal, que direito tinha Sam de ficar triste? Quem enganou quem? E quem perdeu os pais em um acidente? Quem tinha que morar com a irmã psicopata? Sam?... Não! Mas Dean não reclamou ou questionou. Apenas deu um sorrisinho forçado, de lado. – Problema dele... – respondeu com frieza.

– Ele conversou com a gente... Explicou tudo... E pediu ajuda... – Misha acrescentou.

– Não quero saber das desculpas esfarrapadas do Sam.

Dean estava sério e o clima, ficando tenso. Justin olhou para Misha sem saber se era boa ideia insistir, mas o moreno de olhos azuis precisava ir mais além.

– Escuta, Dean... O Sam gosta de você de verdade... Ele falou pra gente que...

Misha parou de falar quando Dean tapou os ouvidos com os dedos e poe-se a cantarolar.

– Deixa de ser infantil! – reclamou o moreno, puxando os braços do amigo pra baixo. – Ele disse que você é a reincarnação do seu irmão, e por isso ele ama os dois!

Com essa frase Misha conseguiu finalmente prender a atenção de Dean que o fitou incrédulo. – Como é que é? É essa a desculpa que ele deu?

– Ué... Pode ser verdade. A história que ele contou é incrível e envolve encarnações anteriores... Ele tem certeza que vocês são o mesmo espírito.

Dean ficou com raiva. Sam era um louco que inventava histórias mirabolantes para justificar seus atos. Ele não queria saber.

– Nem adiante me contar. Não acredito em reencarnação e em baboseiras desse tipo. Aliás, nem gosto mais do Sam. Não quero saber mais dele. Acabou. – respondeu o menino, decidido.

– Como não gosta mais?! Você está só magoado com ele! – espantou-se Justin.

– Magoado? – Dean riu, debochado. – Não fico mais magoado com nada nessa vida. Eu simplesmente não ligo pro Sam. E aliás, melhor assim... Aluno com professor não dá certo. E melhor cortar essa conversa por aqui. Não vamos estragar nossa tarde falando do Winchester.

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Quando Misha e Justin voltaram para o colégio, foram direto para o quarto de Sam. Sabiam que o homem esperava desesperadamente por eles, e não fazê-lo seria cruel.

– O Dean está bem. Quando perguntamos da Mackenzie e do Saul, ele disse que não o incomodavam. Não precisa se preocupar. – contou Justin.

E ele não estava mentindo. Dean não gostava de se queixar. Do que adiantava? Só faria com que os outros sentissem pena dele, e o louro não gostava do papel de coitadinho. O menino sequer contou do carro que ganhara ou da cartinha do pai. Também não gostava de mostrar-se vulnerável e emocional. Melhor conversar sobre o tempo, séries de TV e jogos eletrônicos.

– Vocês falaram de mim? – Sam então perguntou, temeroso. O fato dos meninos não terem ainda tocado nesse assunto parecia mal sinal.

Os alunos acenaram a cabeça afirmativamente, mas não tinham como esconder a verdade.

– Ele não quis escutar, professor. Desculpa... Ele ainda está abalado com o que aconteceu... É muito recente... – tentou amenizar Misha.

Winchester desesperou-se, principalmente depois que Justin contou que Dean disse não acreditar em reencarnação. Ele estava perdido, desse jeito, nunca mais teria seu bebê de volta.

– E o Ben? Será que tem como Dean ficar com ele? – perguntou então o mais velho, tentando conter as lágrimas.

Os meninos acharam má ideia. Tinham visto Mackenzie chutar um gatinho assim que se aproximaram da casa dos Campbell. Com o relato, Sam se lembrou da garota, ainda pequena, torturando todos os insetos que encontrava no jardim. Não... Definitivamente Ben não estaria seguro morando com ela.

Winchester suspirou tristemente. Esperara pelos alunos o dia todo, cheio de esperança, mas as notícias não alegraram seu coração. O homem tentou despedir-se antes que não pudesse mais evitar as lágrimas, mas Misha e Justin, o vendo tão abalado, preferiram ficar para consolá-lo. Um pegou água com açúcar. O outro, não parava de dizer que não perdesse as esperanças. No meio de tanta desgraça, aqueles jovens tornavam-se inesperados e valiosos amigos.

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A noite, quando os meninos já não estavam mais lá, Sam rezou de novo para Castiel. Por que seu mentor não podia aparecer pra ele? Por que? Parecia que havia sido largado no mundo, com todo o peso dos erros que cometera nas costas. Mas se ele não podia errar, então que lhe apontassem o caminho certo! Sam sentia-se como alguém perdido no meio de uma encruzilhada. Não tinha a menor ideia do que fazer, e para onde ir.

– Castiel! Castiel! Pelo amor de Deus! Não me abandone agora! Eu preciso de você! –suplicava ele.

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Enquanto isso, Dean amargava um final de aniversário jantando miojo ao lado de uma Mackenzie muito irritada, que culpava-o pelo frango estragado. Saul, ao contrário, parecia de bom humor, falando no carro novo.

– O carro é meu... – gemeu Dean, lá pelas tantas.

– Mas enquanto não tira a carteira, vai ficar com o Saul. – ordenou Mackenzie. E nem adiantava insistir.


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