Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 31
Capítulo 30




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Dean entrou em casa cauteloso e foi até a cozinha ao perceber vozes vindo de lá. O menino, de longe, não podia entender o que falavam, mas o tom da conversa era alegre e convidativo.

– Dean, que bom que você chegou! - comemorou Mackenzie ao avistar o irmão. Ela, em um momento raro, parecia estar ajudando a mãe com o jantar. Em seguida a moça foi até o menino e abraçou-o com entusiasmo. As coisas pareciam estar indo mesmo muito bem...

– Como foi o estudo? Trabalharam bastante? - perguntou Roger que desceu do quarto em seguida, unindo-se ao resto da família.

Dean balançou a cabeça afirmativamente. Não era bom com mentiras, e tinha passado longe dos estudos naquele sábado... Ficou ainda mais sem graça quando percebeu que o pai o fitava com atenção. Será que estava na cara que tinha passado o dia na praia? Queimado de sol ele não estava... Sam tomara conta disso, espalhando protetor solar por todo o corpo de seu namoradinho. Só então o louro lembrou-se do cordão que usava no pescoço... Ele esquecera completamente de tirá-lo... Tarde demais...

– Que correntinha é essa? - perguntou Roger por fim, se aproximando mais do filho, e fazendo-o estremecer.

Um milhão de desculpas passaram pela cabeça do menino. Misha poderia ter lhe dado de presente... Por que não? Ou melhor, podia dizer que havia achado no chão, caída no meio da rua. Era uma corrente muito bonita para ser deixada assim, largada. Se não fosse ele, outro haveria de tê-la pego...

Quando Dean abriu a boca para responder a pergunta do pai, já tinha a desculpa na ponta da língua. Mas em outra fração de segundo lembrou-se de Christian. Como ele queria ser como Christian - o garoto que falava abertamente sobre sua homossexualidade com a família... E ele, Dean, estava prestes a perder mais uma oportunidade.

– Ganhei do meu namorado... - o garoto então respondeu com a voz fraca, encarando o chão. Ele não iria mais mentir para ficar se remoendo por dias, quem sabe meses, por ter evitado enfrentar a verdade. Iria contar se lhe fosse perguntado...

Roger olhou o filho sem entender.

– Ganhou da sua namorada? - o homem perguntou ao filho, abrindo um sorriso em seguida. Então seu menino estava novamente em um relacionamento? Isso era uma ótima notícia. Dean não precisava ficar sem graça...

– Meu namorado... - respondeu o louro, imóvel, e ainda olhando pra baixo. Dessa vez respondeu com a voz mais forte, enfatizando a última sílaba.

Fez-se silêncio. Sarah e Mackenzie, que haviam parado o que estavam fazendo, olhavam para Dean e Roger, esperando uma explicação. Roger, por sua vez, desviou seu olhar para as duas, sem conseguir decifrar o significado do que Dean acabara de lhe dizer.

– Ahh, não é possível! - lamentou-se Sarah, finalmente processando a informação que acabara de receber. - Será possível que todo filho homem que eu tenho é bicha? Isso só pode ser culpa sua, Roger. Mima os meninos, e é nisso que dá...

Dean baixou o rosto ainda mais envergonhado ao ouvir as palavras da mãe. Será que Sarah poria a culpa em Roger agora? Mas ser homossexual não tinha nada a ver com ser mimado...

– Dean, desde quando você é gay? - prosseguiu a mulher. - Bem que você falou, hein Mackenzie? E eu não acreditei... Não tem vergonha não, menino, de sair anunciando assim, de qualquer jeito, que tem um namorado? Vai matar o seu pai de desgosto...

Dean sentia-se péssimo por causar aquele mal estar na família. Tudo parecia estar na mais perfeita harmonia antes dele ter soltado a "bomba". Talvez não tivesse escolhido o momento certo afinal... A opinião de Sarah parecia clara. Ela não estava nada feliz... Mas o louro conhecia bem a mãe. As vezes era irritada e mal humorada, mas logo esquecia o que quer que fosse. Quantas vezes não saíra de um castigo direto para a sorveteria porque Sarah queria sorvete e não tinha com quem deixá-lo? E não fora ela também que há pouco tempo não queria ver Mackenzie nem pintada de ouro? Pois agora cozinhavam lado a lado...

Era a reação de Roger que mais importava agora... Dean amava muito seu pai, e a última coisa que queria era que o homem se voltasse contra ele. Roger permanecia calado, e isso era angustiante. Estaria bravo? Com raiva dele? Quem sabe triste, decepcionado? Ou, desgostoso, como falara a mãe? Dean Respirou fundo, e enchendo-se de coragem, ergueu os olhos em sua direção.

O louro surpreendeu-se quando viu que o pai não olhava para ele, e sim para a esposa. E era um olhar de meter medo...

– Não fala assim com o meu filho! - sibilou o homem entre dentes. - Ele é muito novo. Está confuso. Não precisa da nossa crítica, e sim do nosso apoio!

Roger então pegou Dean pelo braço e encaminhou-o para o quarto. Lá poderiam ter uma conversa a sós, de homem para homem. O tom de voz do mais velho era calmo e reconfortante. Não, Dean não precisava ter medo. Ficaria tudo bem...

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Horas mais tarde, Dean revirava-se na cama, sem conseguir dormir. Estava feliz, imensamente feliz. Parecia ter se livrado de um peso enorme contando toda a verdade para seus pais. Ou pelo menos, quase toda... Falar sobre seu relacionamento com Sam era proibido por enquanto. Inventou um tal de Jaremy, vizinho de Misha, e seu suposto namorado. Roger conversara com ele, e aceitara tudo da melhor forma possível. As vezes Dean se perguntava como podia merecer ter o pai mais maravilhoso do mundo... Como previsto, Sarah logo esqueceu o assunto, e passou o jantar conversando sobre a novela. Nem Mackenzie, estranhamente, pegou no seu pé por causa disso... Tempos atrás ela teria implicado, gozado da cara dele... Talvez quisesse evitar a todo custo indispôr-se com a mãe. Ou, quem sabe, finalmente tivesse se tornado uma mulher madura, após tudo o que sofreu em seu relacionamento com Saul.

Sam também já estava sabendo da notícia, por e-mail. Estava tão orgulhoso do seu bebê... Quisera ele também poder sentir-se leve e não esconder mais nada do garoto que tanto amava. Mas seu caso era muito mais complicado... Teria que conviver com seus segredos por mais um tempo, até estar seguro que tudo ficaria bem.

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– Olha a foto que eu tirei! - Ruby mostrou o celular para Dean, exibindo seu conteúdo, e rindo sem parar.

Dean arregalou os olhos. Queria dizer alguma coisa, mas sua voz não saía. Brian e Sam juntos, agarrados e semi nus? Dean sabia que era montagem, mas mesmo assim a imagem lhe chocava. Aquela garota era louca, insana...

– Por que você fez isso? - perguntou sem conseguir esconder o desprezo. A vontade que tinha era de quebrar o celular da amiga.

Dean estava com nojo? Garotos não sabiam de nada mesmo... Uma foto linda como aquela, perfeitamente manipulada para arrancar suspiros de seu público. Ruby não devia ter mostrado para alguém que não sabia apreciar sua obra... É que ela estava tão ansiosa para mostrar sua montagem... E Dean fora o primeiro amigo a aparecer na cafeteria aquela manhã de segunda-feira. Ruby suspirou.

– Ahh, Dean. Deixa pra lá... Foi só uma brincadeira...

Em seguida a morena avistou Jo e correu em sua direção. Ambas, ao risinhos, passavam o celular de uma para a outra. Que ódio! Dean parecia muito irritado quando Justin e Misha sentaram-se ao seu lado no refeitório. O pior de tudo era ter que lembrar de tal horripilante imagem quando encontrasse com Brian dali a pouco tempo, no maldito treino de basquete que tinha sido intimado a comparecer.

– Que mau humor todo é esse? - quis saber Misha.

Dean então contou da foto, e os dois amigos tiveram que concordar com ele: ver uma imagem, mesmo que manipulada, do seu amor com outra pessoa, não era nada agradável. Imagina se soubesse das histórias que as meninas publicavam na internet? Melhor que não descobrisse... Sorte que o fim de semana do louro tinha sido mais que perfeito. Com pouco tempo de conversa o garoto já estava animado de novo, contando para os colegas do dia maravilhoso que passara ao lado de Sam e da conversa que tivera com o pai.

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Enquanto leitores vibravam com a publicação de mais um capítulo de "Teachers in Love", e liam sobre Brian e Sam se agarrando, Sam, o verdadeiro, preparava suas aulas inocentemente. Enquanto suspiravam com a imagem de Sam e Brian juntos, publicada pela primeira vez, Brian, o verdadeiro, reunia seu time para mais um treino de basquete. Mas aquele não era um treino qualquer... Dean estava de volta, e isso deixava o professor animado. Gostava muito do menino, provavelmente por ele ser tão parecido com o irmão que morreu. Se o primeiro Dean era como um irmão para Brian, o treinador gostava de pensar que este, bem mais novo, era quase que como um filho pra ele. Precisava tomar conta do menino.. Cuidar para que não se desviasse do caminho de Deus.

Contrastando com o bom humor do treinador em ver Dean de volta, Pablo não parecia nada feliz. Aliás, o louro jamais havia visto Navalhada daquele jeito: não se esforçava e não se comunicava com o resto do time.

– Aconteceu alguma coisa com ele? - Dean se atreveu a perguntar, puxando conversa com Christian.

O garoto suspirou. - Não sei... Ele está desanimado há algum tempo. Mas não se abre comigo...

Pobre Christian... Dean passou o restante do treino ao seu lado, fazendo-lhe companhia. Pablo, às vezes olhava. Na maior parte do tempo, fitava o chão. Ao final do treino os meninos viram Navalhada conversando por um bom tempo com o treinador. Mais tarde Dean viu quando o colega entrou no carro de Brian e foram sabe-se lá para onde...

Onde haveriam de estar indo? Dean não custou a descobrir... Na quarta-feira, o louro suspirava pelos corredores lembrando-se de Sam no ensaio da peça de teatro do dia anterior, quando foi abordado por Brian. Mas ele não estava sozinho... Navalhada estava ao seu lado, muito sério, e Christian também, um tanto sem graça. O treinador queria carregar os três para fora do colégio. Segundo o treinador, Pablo estava se beneficiando por conversar com um santo homem, que há anos vinha ajudando meninos a se sentirem mais seguros de sua masculinidade. Agora
ele pretendia levar Christian e Dean também. Afinal, todos os três precisavam de ajuda...

– Não, treinador, muito obrigado... - gaguejou Dean, sem jeito. Maldito Pablo que contara seu segredo, logo para Brian! Estava doido para correr dali e se esconder em algum lugar onde aquele homem maluco não pudesse encontrá-lo.

– Dean, eu sei que você é tímido... Mas vai gostar do Padre Mathews! Sei que não vai se arrepender se vier comigo... Eu já falei com o seu pai. Aliás, tenho autorização dos pais de vocês três!

– Falou com o meu pai? - perguntou Dean sem entender. Haveriam eles conversado por telefone sobre sua homossexualidade? Aquilo não fazia sentido... Além do mais, Roger já tinha aceitado. Para ele, Dean podia ser gay o quanto quisesse...

– Meu pai me aceita do jeito que eu sou... - murmurou o menino.

– Claro que aceita... - A voz de Brian agora era doce. - A adolescência é uma fase difícil. E ele concorda comigo que os aconselhamentos de um homem de Deus só haverão de ajudá-lo. A consulta de vocês é às 5h da tarde. - olhou o relógio, com um ar resoluto - Nos encontramos no estacionamento daqui a 30 minutos. E nada de atrasos..

Assim como fizera antes, tratando do treino de basquete, Brian se retirou sem dar a Dean a opção de argumentar mais. Estava marcado. Se Roger havia dado permissão, não tinha escapatória. O menino não pôde acreditar. Como seu próprio pai podia tê-lo traído daquela maneira? Será que tudo o que lhe dissera fora da boca pra fora? Sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Não tinha verdadeiramente o apoio de seu pai, e estava prestes a ser condenado a uma conversa horrorosa com um padre homofóbico...

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Dean tentou pedir ajuda a Sam, mas o moreno estava tão ocupado que nem teve tempo de ler os e-mails desesperados de seu bebê. Depois da última aula do dia, estava se arrumando para encontrar Clark quando recebeu um telefonema do veterinário. O pequeno Ben não estava bem... Apesar de sua saúde em geral estar melhor, resolvera parar de comer. Não comia direito há dias, e desde o dia anterior não aceitava mais nada. Nem mesmo líquido... E isso para um bichinho tão pequeno era perigo de vida.

– Clark, desculpa, não vou poder te encontrar... - Falou Sam, esbaforido, ao telefone, enquanto dirigia correndo para o veterinário.

– Não vai poder? Mas eu viajo amanhã de manhã... - Clark, que já havia inclusive chegado ao bar onde encontraria o amigo, ficou decepcionado. - Aconteceu alguma coisa?

Sam então contou sobre Ben, e Clark, querendo ver o Winchester antes de sua viagem, combinou de encontrar-se com ele.

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Tanto que Clark aguardara aquela noite... Queria conversar com Sam. Contar sobre suas perspectivas para o trabalho novo... Falar sobre seu relacionamento com Trevor... Mas seus planos foram por água a baixo. Veria o amigo rapidamente no veterinário, conversariam sobre o cachorrinho moribundo, e só... Que azar Ben ter piorado logo no dia de sua despedida!

O bar ficava distante do veterinário. Quando Clark finalmente chegou ao seu destino, e procurou por Sam, encontrou-o chorando, segurando o bichinho mole nas mãos. Ele não estava morto. Não ainda. Mas estava fraco... Pelo jeito era dele que o amigo pretendia se despedir àquela noite...

– Sam, não chora... - pediu Clark, penalizado. - Vai lavar o rosto, vai...

Winchester foi. Não queria parecer um bobo... Um bebê chorão. Precisava controlar suas emoções, colocar a cabeça no lugar... Mas era muito triste ver seu bebezinho peludo assim tão mal. Ele não conseguia entender a lógica daquilo tudo. Para quê Ben voltara, então, se iria morrer em seguida? Não fazia sentido... Pior ainda era saber que Dean nunca chegaria a conhecê-lo.

Sam assoou o nariz. Talvez tivesse sido culpa dele. Não resgatara o cachorrinho a tempo da lata de lixo... Vai ver acabara ficando pior por causa disso, e agora não tinha mais salvação... Será que ele deveria ter apresentado o bichinho a Dean mesmo doente? Pelo menos poderiam ter se reencontrado nessa vida, mesmo que brevemente... E quem sabe o louro não teria inclusive ajudado o bichinho a se restabelecer? Winchester respirou fundo. Tinha que parar de se martirizar com tanto sentimento de culpa, ou não conseguiria voltar para junto de Ben e Clark... Mas fazer o que, se a culpa era mesmo dele? As lágrimas, teimosas, insistiam em inundar o rosto do homem.


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