A respiração ofegante de ambos predominava no quarto. Não se olhavam como adolescentes apaixonados, tampouco se beijaram carinhosamente depois que acabou. Apenas encararam o teto por vários minutos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Já estavam acostumados àquela situação, pois ela vinha se repetindo há mais ou menos um mês. A culpa havia se esvaído com a mesma rapidez em surgira. A verdade é que eles gostavam do que faziam. Conseguiam se divertir juntos e também viver separados, porque as cobranças de um relacionamento estável não existiam. Com certeza não consideravam certo o que acontecia, mas a fração de felicidade que sentiam quando eram capazes de esquecer o resto do mundo fazia valer a pena. O quarto onde se encontravam era muito bem decorado em tons de marrom e branco. Visivelmente masculino.

– Bart! - A garota riu ao sentir o gato angorá pular em cima dela. - Não me assuste, Bartolomeu! - O bichano preto mordeu o antebraço dela, em sinal de desaprovação.

– Não adianta… - Sussurrou a voz cansada do menino. - Ele nunca vai ser tão educado quanto eu.

A risada feminina ecoou pelo cômodo, seguida de um olhar cínico do garoto. Eles podiam permanecer daquele jeito por horas. Se sentiam livres trancados naquele quarto.

– Você teve notícias deles? - O medo era perceptível na pergunta da garota. Ela pode ouvir um suspiro em resposta e notou que ele não queria ter entrado naquele assunto.

– Não… - Ele passou uma mão pelos cabelos pretos. - Nenhuma. - Fez uma pausa. - De certa forma, eu estou bastante decepcionado. Esperava pelo menos uma mensagem de texto ou um e-mail. - Concluiu virando-se para encarar a menina.

– Eu também… - Ela concordou suavemente. - E Grace? Como está? - Indagou com receio.

Ele a analisou friamente com os olhos azuis antes de respondê-la.

– Está bem. - Murmurou. - Grace está muito bem. - Colocou mais claramente. - Mas ainda se recusa a falar sobre o que aconteceu naquela noite. Somente o psicólogo sabe. - Ele desviou o olhar. - Se é isso que você queria saber. - Completou ríspido.

Ela o encarou surpresa e piscou várias vezes antes de conseguir formular uma frase.

– Peter Sterling, eu perdi meu irmão há três meses! E nós dois sabemos que ele não se jogou daquela sacada por querer! Então não me desculpe por ter perguntado sobre a Grace. Sua namorada fica agindo como uma criança mimada enquanto o assassino do meu irmão está solto por aí! - Alyssa paralisou por alguns segundos, antes de chorar.

Quando Peter tentou puxá-la para um abraço, ela se desvencilhou e saiu do quarto enrolada em um lençol. - Não preciso disso.

– Me desculpe Alyssa! Não foi a min… - A frase foi interrompida por uma porta batendo. Então Peter jogou-se na cama, incomodado com o que acabara de acontecer. Lembrar da noite em que Anthony havia supostamente se suicidado fez ele se sentir mal.

Alyssa não! - Gritou Peter tentando impedir a garota, mas era tarde demais. Quando ele a alcançou, o vestido azul já estava coberto de sangue. Ele gostaria de ter conseguido evitar a imagem de Tony, principalmente da mente de Alyssa. Sem saber como agir, apenas a abraçou. Ela se deixou levar e chorou baixo. Ficaram sentados e abraçados ao lado de Tony por poucos segundos, pois a polícia logo tratou de os tirar dali e cobrir o corpo. Contudo, aqueles poucos segundos foram uma eternidade para ambos. Compartilhavam muita coisa em vida, e agora também compartilhavam a morte. Era uma sensação muito estranha. E quando deu por si, Peter notou que chorava.

Peter notou que chorava mais uma vez.

***

Alyssa não conseguia acreditar no que sua vida tinha se transformado. Seu quarto estava mais arrumado se comparado com os últimos três meses da sua existência. Muitas pessoas acreditaram no suicídio de seu irmão e, por consequência disso, acabaram chamando-a de louca diversas vezes. Felizmente não era isso que conseguia tirá-la do sério. Após a morte de Anthony, Grace havia se aproximado dela consideravelmente, assim como Peter. A diferença é que a loira queria a atenção de Alyssa enquanto Peter estava disposto a dar atenção para Alyssa. O que a fazia se sentir pior era a certeza de que o moreno estava com ela para amenizar a tragédia que acontecera no Baile de Máscaras. Apesar de ele ter sido sempre muito carinhoso e atencioso para com ela; Alyssa não amava Peter, e nem Peter amava Alyssa. Eles apenas sentiam-se muito bem juntos, mas diferente do que havia pensado alguns minutos atrás, isso não bastava para fazer valer à pena. Caminhou até o espelho do banheiro, sendo seguida por Bartolomeu. Peter talvez estivesse arrependido como ela. Ainda assim, ele foi o único que teve coragem de se aproximar dela. Enquanto observava seu reflexo, lembranças da noite em que seu irmão havia morrido, vieram.

Ela queria muito falar, mas as palavras simplesmente não saíam. De repente, sentiu uma dor muito forte no peito, como se uma parte dela tivesse sido levada. Sem forças para ficar em pé, caiu ao lado do corpo do irmão. Logo sentiu um abraço afetuoso e não precisou olhar para ver quem era. Tinha certeza de que o único capaz de abraçá-la daquela maneira num momento como aquele era Sterling. Deixou os braços do amigo a envolverem e chorou. Não chorou desesperadamente, entretanto o sofrimento que havia em suas lágrimas era intenso. Percebeu que Peter também chorava. Aquilo não a fez se sentir melhor, mas sim alcançada.

– Alyssa? - Chamou Peter.

A garota pôs um vestido branco que estava jogado no chão do banheiro, meio perdida ainda em seus pensamentos e abriu a porta. Sterling segurava um envelope vermelho, que estava rasgado, indicando que o garoto já tinha aberto. Ele estendeu a mão e quando olhou para Alyssa, seu rosto estava vazio. Ela estreitou os olhos verdes e pegou o envelope da mão dele. Não havia remetente, apenas o endereço da casa de Peter.

Eu sei sobre vocês, meus caros. Maninha, como pôde agir assim? Logo o Sterling?
E você, Peter? Grace está sabendo disso? Se não estiver, eu vou contar! haha
Amo vocês lindos e estou com saudades! Me esperem para o jantar.
P.S.: Alyssa, se lembra daquela noite na casa da vovó? Ninguém além de nós sabe, não é?