Faux Dieux escrita por Mandy


Capítulo 3
Capítulo 2 - A Roda da Fortuna


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Como vão? Novamente, comecei a escrever com uma ideia e o capítulo acabou completamente diferente do que eu havia imaginado. Espero que gostem :D



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A escuridão da noite não era nada comparada aos sentimentos dela naquele momento. Apesar da lua cheia exuberante, Alyssa só enxergava trevas. Sentia seu corpo doer por inteiro, mas os pés continuaram a correr. A respiração ofegante misturando-se ao ar gélido que batia contra seu rosto. Não acreditava em fantasmas, mas tinha toda a certeza de que demônios existiam. Aliás, cada pessoa tinha o seu próprio demônio e o mantinha devidamente escondido e encarcerado. Infelizmente, algumas dessas pessoas não eram fortes o suficiente para dominar seus demônios e, quando os libertavam coisas ruins aconteciam. Alyssa sabia que alguém tinha soltado um demônio, só não sabia até onde ele estava disposto à ir e até quando ela aguentaria.

Ao sentir-se nauseada pelos próprios pensamentos, se viu obrigada a sentar em uma calçada desconhecida. As únicas luzes acesas na rua eram dos postes, o que a fez perceber o quanto ela havia corrido. A sensação de estar sozinha era assustadora e a fez cobrir o rosto com a echarpe que usava no pescoço. Não tinha ideia do que ia acontecer a seguir. Tinha esquecido seu celular na casa de Peter.

– Idiota! - Reclamou para si mesma.


Em outros tempos, Alyssa estaria aproveitando as férias para viajar e ir à festas com pessoas desconhecidas enquanto Anthony ficava bêbado até cair. Lembrar de Tony não era ruim, o que a incomodava era saber que alguém havia tirado a vida de seu irmão e, não contente com o acontecido, estava brincando com os sentimentos de outras pessoas. Estava brincando com os sentimentos dela. A situação mais perturbadora da noite foi o comentário no bilhete sobre um dia na casa de sua avó. O dia em que Anthony havia salvado a vida dela, sem se importar com as consequências. Atualmente, a única pessoa viva a saber daquilo era ela mesma. E isso a fez ficar mais confusa do que já estava antes.

De longe, pode perceber um vulto aproximando-se em meio as sombras. Seus passos eram largos e firmes. O medo, que era evidente, a paralisou. Não conseguiu se mover um centímetro para o lado quando a pessoa parou ao seu lado. O corpo relaxou completamente, aliviado. E um suspiro foi involuntário da parte dela.

– É impressão minha ou está feliz em me ver?

Ela nunca tinha prestado atenção na voz dele. Foi de uma embriaguez total para seus pensamentos. Após alguns segundos tentando raciocinar normalmente, Alyssa levantou os olhos para encarar o ruivo.

– Mas é claro que estou! - Sussurrou fracamente. - Eu estava esperando um estuprador ou algo assim… Apesar de eu também não saber se você é um louco psicótico, né? - Completou confusa.

A risada dele foi incrível. O que a fez rir também, pois deveria estar com uma expressão estúpida no rosto por admirar a risada de outra pessoa que tivesse mais de dez anos.

– Eu vi você correndo e resolvi te seguir, achei que não estava bem… - Explicou o motivo de estar ali, mesmo sem ela ter perguntado. - Moro há umas três quadras daqui. - Erich sorriu para ela enquanto se sentava na calçada também.

– Se eu soubesse que você mora para esses lados, teria ido na direção contrária. - Alyssa direcionou um meio sorriso ao ruivo.

Ele fixou os olhos cinzentos nela, claramente a estudando. Era óbvio que estava intrigado com o que podia ter acontecido, porém não perguntou.

– Eu não acho que você estivesse em condições de pensar em nada enquanto corria. - Semicerrou os olhos, ainda examinando Alyssa. Examinando e contemplando.

– Sou capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo Erich. - Retrucou a garota.

Ele apenas levantou uma sobrancelha em resposta. Ela notou o duplo sentido de sua frase, mas resolveu não continuar com aquele assunto. Não antes de corar, é claro. O ruivo a encarava, divertido.

– Você tem um celular que possa me emprestar? Por favor? - Alyssa desviou o olhar. Estava morando com Peter, pois seus pais estavam insuportáveis após a morte de Anthony. Lamentavelmente, após o dia de hoje, ela não estava disposta a voltar para a casa do Sterling. Apesar de ter um apego por Bartolomeu.

– Eu tenho. Mas vou te deixar em casa. - O olhar dele era preocupado. - Eu vou sim porque você não está em condições de ir sozinha. Mesmo que chame um táxi. - Falou rapidamente ao notar que a garota abria a boca para protestar. O ruivo se levantou da calçada e estendeu a mão para a menina fazer o mesmo.

Alyssa percorreu todo o caminho de volta até a casa de Erich em silêncio. Ele também não fez esforço algum para iniciar uma conversa. Embora a primeira estivesse lutando contra a vontade de abraçar o ruivo. Quando chegaram à casa, ele não a convidou para entrar.

– Eu já volto. - Sorriu para ela antes de ir em direção à garagem.

A garota apenas assentiu com a cabeça.

Menos de um minuto depois, a garagem se abriu e o carro preto de Erich saiu. Ele parou para Alyssa entrar e perguntou o endereço da menina. A resposta foi balbuciada, quase inaudível.

– Está com frio ainda? - Antes mesmo de ela dizer qualquer coisa, o ar-condicionado estava ligado. - Daqui a pouco melhora. - As palavras soaram afetuosas. E ela sorriu.

– Obrigada.

– Não foi nada. - Erich a fitou de canto, para não perder a atenção na estrada.

Então o silêncio voltou. E Alyssa se pegou encarando o garoto. Erich era um pouco mais alto do que ela. Possuía aqueles olhos cinzentos que combinavam perfeitamente com o cabelo ruivo, que se encontrava bagunçado. Ela tinha certeza de que ele não se importava em desarrumar o cabelo na frente do espelho como muitos faziam.

– É aqui? - Fora arrancada de seus devaneios pelo próprio causador deles.

A menina olhou em volta. O pequeno e delicado jardim antes das escadas que levavam à casa estava mal cuidado. Negligenciado por sua mãe, provavelmente. Alyssa lembrou-se de que gostava de cuidar do jardim. As luzes da casa continuavam acesas. Sorte! Pois as chaves da casa não estavam com ela e também não lembrava os números de telefone. Sorte. Como a sua havia mudado desde o início até o fim do dia.

– Alyssa, você está bem? - Erich indagou. - Eu posso ficar mais um pouco, se quiser. Não tem problema. - Adicionou ele, sabendo de que deveria ser muito difícil para ela voltar para a casa e não ver Anthony.

Ela suspirou pela segunda vez em menos de uma hora.

– Me diz porquê você foi atrás de mim hoje.

Ele não esperava aquilo. No entanto, não hesitou no momento de responder.

– Eu nunca tive um problema direto com você, se é isso que pensava. - O ruivo fez uma pausa. - E não acho que você deva saber o motivo, não agora. - Continuou calmamente.

– Foi por causa do Anthony, não foi? - Alyssa sorriu, porém sem vontade.

Quando a resposta não veio, ela soube que significava um sim. Anthony sempre fora muito protetor com ela. Na verdade, não sempre. Desde o incidente na casa de sua avó, ele havia se tornado incrivelmente chato com relação à qualquer possível relacionamento da irmã.

– Ele ouviu um comentário meu sobre você e…

– Não precisa me contar o que ele fez, Erich. - Ela interrompeu ao perceber que o garoto ainda se sentia constrangido. - Tony podia ser muito cruel às vezes, mesmo com suas brincadeiras.

– Ele foi péssimo e ao mesmo tempo genial. - O ruivo gargalhou. - Eu tinha uma namorada, Marion Dawson. Não sei se você a conhece?

Ela fez que sim.


– Seu irmão pegou muitas fotos suas e as escondeu nos meus livros, cadernos, armários, gavetas... Tinha uma dentro do meu travesseiro também, se não me engano. - Erich sorriu antes de continuar. - E acredito que ele tenha roubado uma lingerie sua e colocado no banheiro do meu quarto. - Ele a fitou, divertido.

Alyssa estava boquiaberta. Por isso suas lingeries sumiam! Sabe-se lá em quantos quartos seu irmão colocou suas calcinhas. Aquilo era péssimo para ela. Infelizmente, não podia deixar de aceitar a genialidade de Tony.

– Então… Marion chegou no outro dia de manhã e eu ainda estava dormindo. Aparentemente, ela foi arrumar a bagunça que eu - no caso seu irmão - tinha feito e achou tudo. Acordei com ela aos prantos enquanto gritava comigo. Dizia que eu era um doente, que estava perturbado e que nunca mais era pra eu chegar perto dela. - Ele gargalhava. Certamente se lembrando da situação e achando tudo muito engraçado. - Depois disso, Marion espalhou boatos de que eu era um louco perseguidor de calouras e eu não quis me complicar mais. Ela inclusive tirou fotos do quarto e postou no instagram. E eu que era o louco! Mas enfim... Achei que você sabia da história e te evitei. - Erich parou para refletir. - Pensando bem… Foi muito idiota da minha parte.

– Você ainda tem guardada?

– Guardada o quê? - O ruivo a observou confuso.

– A minha lingerie! - Ela retrucou como se fosse óbvio.

– Ah sim! Eu a tenho guardada junto com as minhas cuecas. Dei até um nome para ela, não é fofo? - Erich fez uma careta ao receber um soco no braço. - É claro que não. Marion a queimou, eu acho…

– Eu nunca imaginei que ela fosse tão insensata. - Alyssa piscou várias vezes, incrédula.

– Você teria feito o quê? No lugar dela? - O ruivo indagou, fitando os olhos verdes da garota.

– Provavelmente nada. - Ela se virou para olhá-lo também. Os lábios dela se contorceram em um pequeno sorriso.

Permaneceram alguns segundos se olhando. Nenhum dos dois sabia o que dizer naquele momento. A madrugada poderia terminar como um filme de comédia romântica, onde a mocinha, após sofrer muito, acaba conquistando o mocinho e eles vivem felizes para sempre. Infelizmente, eram três horas da manhã e a sensação que Alyssa tinha era de que quando o Sol surgisse, tudo seria diferente. Então, ao invés de ceder aos seus instintos, ela resolveu se despedir.

– Acho que já está na minha hora. Muito obrigada, Erich. - Murmurou.

– Não precisa me agradecer mais de uma vez, Alyssa. E o prazer foi meu. - As palavras soaram gentis e verdadeiras.

Ele inclinou-se, passando os braços ao redor do corpo pequeno dela, para envolvê-la em um abraço. Era um abraço muito agradável para ambos e Alyssa sentiu que poderia ficar ali por mais tempo do que deveria.

– Linda. - Erich sussurrou no ouvido dela, fazendo-a se arrepiar instântaneamente.

– Hein?

– Linda. - Ele repetiu, porém dessa vez já estava desfazendo o abraço para fitá-la. - Eu sei que ficou curiosa para saber qual comentário eu tinha feito sobre você. E percebi também que é muito orgulhosa para perguntar. - Sorriu. - Se eu já tivesse te abraçado, acrescentaria que você é muito cheirosa.

– Eu sei que sou linda e cheirosa. - Alyssa riu. Aproximou-se do garoto, fazendo os narizes se encostarem. Pode perceber que Erich respirou fundo, mas não desviou o olhar. Suas respirações ficaram descompassadas, e ela soube que era o momento de se afastar. - Você também é cheiroso e um pouco bonitinho. - Completou ironicamente enquanto abria a porta do carro. - Boa noite, Erich!


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Notas finais do capítulo

Espero q tenham gostado, apesar de não ter tido nenhum suicídio e nenhum bilhete maldito. UHAUHAHUAHU Mandem reviews com as opiniões, sendo elas críticas ou elogios. Tudo é mt válido vindo de vocês s2 Tbm arrumei a format de tds os cap depois da LittleLullaby me dar essa dica. Boa noite e obrigada por lerem!



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