Koi no Yokan escrita por Angélica Chibis


Capítulo 6
Parte 06




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"Koi no Yokan"

Parte 6

Por Chibis

Sabe-se lá de onde Misao reuniu energias para acordar cedo e ir trabalhar naquele sábado frio e chuvoso. Ela normalmente tinha os finais de semana livres, e pretendia distribuir folhetos com a foto de Kaoru Kamiya nas estações de trem, mas seu chefe, Kenshin Himura, havia marcado uma reunião extraordinária justo naquele dia, e obviamente, sua secretaria o auxiliaria.

A jovem magricela de longos cabelos trançados mal tinha chegado à empresa, e o chefe já estava no celular "Misao, vamos ter que mudar a reunião, estou com um problema em cas...".

"Misao, eu te ligo daqui a pouco ,ok?!" Ela aguardou a outra ligação enquanto colocava os computadores para funcionar. Por um minuto o xingou mentalmente. ...Aquela versão ruiva de Miranda Priestly... Misao estava irritada com Himura.

Obviamente ele não era uma peste como Miranda Priestly,a chefe de "O diabo veste Prada", pelo contrario, ele era extremamente educado, duro e exigente quando precisava, mas sempre respeitoso. Porém Misao exagerava mesmo nas comparações, principalmente quando aborrecida.

...Insensível...Deve estar envolvido com alguma modelo peituda... Imperdoável

Apesar da grana, affairs com gostosas peitudas e festas badaladas da alta sociedade,também não faziam o perfil de Kenshin Himura, mas Misao não conseguia evitar e reclamava dele mesmo assim. Himura simplesmente não parece se importar muito com o sumiço de Kaoru Kamiya.

...Mais essa agora? Não acredito que ele me fez acordar cedo, vir até aqui em um sábado chuvoso pra simplesmente cancelar tudo na última hora!....

Mas a voz de Kenshin no telefone tinha um tom um tanto quanto aflito, e Misao estranhou. "Misao, por favor, me encontre em quinze minutos na farmácia Sumiré. Eu preciso da sua ajuda! É urgente!"

...Ok, ok. Tanta urgência!...Ela correu para seu carro um Smart vermelhinho, que Sanosuke teimava em chamar de caixote ou carrinho de brinquedo.

Misao estava encostada na parede da farmácia Sumirê, aquela que Kenshin havia lhe mandando, as duas mãos juntas nas costas e as pernas cruzadas, olhando de um lado ao outro a espera de uma cabeça ruiva. Quando viu o carro preto do chefe dar seta para estacionar, ela se endireitou e abriu um pequeno sorriso educado.

Kenshin o retribuiu, ao passo em que descia e fechava o veiculo.

"Bom dia senhor Himura!" Ela o cumprimentou entrando no modo secretaria competente. Encaminhando-se para a entrada do estabelecimento.

"Ohayo senhorita Misao... Como está?" O ruivo tinha seu habitual sorriso bobo, apesar de caminhar mais rápido do que de costume.

"Bem!"

O que ela poderia dizer? Preocupada e frustrada com o sumiço de sua amiga, ela não era um poço de alegria naquele sábado chuvoso.

Ambos entravam no estabelecimento, o sininho pendurado na porta de vidro tocou conforme a porta abriu e fechou. Misao pegou logo uma cestinha de compras, e franziu a testa, olhando preocupada para o ruivo. "Senhor Himura... Porque estamos aqui? Você não está doente, está?"

"Não senhorita Misao, não se preocupe. Estamos aqui, porque eu preciso de ajuda com essa lista..." Kenshin tirou um pedaço de papel do bolso, entregando-o para a secretária e amiga. O ruivo ficou muito sem graça e levou a mão até a nuca, massageando-a, deixando exposto seu embaraço.

"Hmm...Ok, vamos ver!" A morena pegou o papel, estranhando a atitude do chefe e começou a ler. Seus olhos se arregalaram ao ver as palavras, e logo voltou sua atenção para o chefe, com uma sobrancelha levantada, e ao ver a cor vermelha refletida no rosto de Kenshin, esboçou um gracioso sorriso.

"Muito Bem... Himura, me conta... Para que você precisa de artigos tão femininos?"...talvez a teoria sobre a modelo peituda esteja correta...

Misao deu as costas pra Kenshin, andando em direção as prateleiras. Se seu humor estivesse melhor poderia provoca-lo até o fim dos tempos. Sentia a presença do ruivo a suas costas, a seguindo, mas só parou e o encarou ao ouvi-lo gaguejar.

"Bem... É... É... " Kenshin não sabia como explicar, pensou em mil e uma formas de dar a noticia para a menina a sua frente, dentro do carro, mas desde que a viu todo seu discurso esfumou-se de sua mente.

"É?" Misao olhou para ele e logo voltou à atenção para a prateleira de absorventes a sua frente. E Kenshin agradeceu o fato dela não estar mais olhando para ele. Kenshin leu rapidamente as opções à sua frente. Absorventes com abas, sem abas, cobertura seca, suave, perfumada, sem perfume, fluxo intenso, médio, escasso, para pratica de esporte, diurnos, noturnos... E ficava ainda pior, os absorventes internos pequenos, médios, grandes, extra grande. ...Como um homem poderia saber algo assim? Medindo, claro. Deve ser compatível com o tamanho do meu... "ORO?!" ...Melhor não pensar...Seu rosto todo era um enorme tomate. "Que diabos é Mooncup, menstrual cup?" Ele pegou uma caixa, lendo o estranho rotulo, e perguntou mais pra si mesmo do que pra Misao. "ORO?" Era melhor nem saber essa resposta.

"Estou esperando..." Misao falou fazendo suas escolhas.

Kenshin começou a tossir "São... Para a senhorita... Ka... Kaoru Kamiya." O ruivo falou bem baixinho.

Ao ouvir o nome da amiga desaparecida, Misao soltou a cesta da mão, que bateu no chão. Por sorte, nada que tinha dentro dela era quebrável. Kenshin olhou para as compras no chão e logo para a amiga, quem havia congelado na mesma posição que estava. Misao estava com a boca entreaberta, olho arregalado, fixo em um ponto qualquer.

"Senhorita Misao?..." O ruivo perguntou receoso. Essa confissão era um voto de confiança enorme. Misao certamente não o decepcionaria. Ele viu sua secretaria virar-se, lentamente, com os olhos brilhando, pareciam estar se enchendo de lágrimas, mas nenhuma escorreu.

"Eu posso explicar, mas você tem que me prometer..." Kenshin levantou as duas mãos, pedindo para que o tom da conversa permaneça baixinho.

Misao tremeu um pouco. "Ka... Kaoru? Você disse Kaoru? Kaoru Kamiya?"

Kenshin apenas assentiu e viu a moça abrir seu mais sincero sorriso de alegria. "Kaoru..."

Mas o sorriso logo se desfez. "Seu ruivinho filho da mãe! Anão de jardim! Mergulhador de aquário! Seu...seu...seu..." Misao segurou Kenshin chacoalhando. Isso não era jeito de falar com o chefe, mas ela estava emocionada e começou a bombardeá-lo de perguntas, do tipo: Ela está bem? Como ela está? Ela não está doente, está? Ela precisa de mais alguma coisa? Ela está segura? Onde ela se escondeu?

"Oro!?" O ruivo tentava responder, mas a moça falava sem pausa e ele já estava ficando atordoado. A cada instante, ela iniciava uma nova questão, até que a viu parar e ficar séria.

"Misao, está todo mundo olhando. Vai com calma!" Realmente eles começaram a chamar atenção das outras pessoas da farmácia e era tudo que Kenshin não queria.

Misao se calou de repente e olhou bem fundo nos olhos do chefe. Suspirou esperando uma resposta sincera. "Onde Kaoru esteve durante todo esse tempo?"

Kenshin engoliu em seco ao escutar essa pergunta. Sentiu o perigo ao lembrar-se da reação de Sanosuke na madrugada anterior, mas sabia que essa seria a primeira e mais importante pergunta que a pequena ninja não deixaria passar sem resposta. "É importante que isso seja mantido em sigilo... Existem fatos que você desconhece..."

"FALA LOGO!" Misao estava perdendo a paciência. Se ela tivesse uma das suas kunais por perto, certarmente já estariam no couro do ruivo.

"Shh...As vezes eu me pergunto quem é o chefe aqui...Kami-sama!" Kenshin usou as duas mãos fazendo sinal para que ela diminuísse o tom. Preocupado com a reação da moça, mas sem escapatória, ele tomou fôlego e resolveu falar, com firmeza e de uma só vez. "Escondida comigo, na minha casa"

"Na...na...na sua casa? Esse tempo todo?" Misao baixou levemente o rosto e fechou os olhos. O ki dela começou a ser liberado, e uma veia pulsou na testa da pequena. O ruivo viu o pequeno corpo da moça se tencionar por inteiro e as mãos se fecharem em forma de punho. "Himura..."

"Oro?" A secretaria explodiria.

Kenshin arregalou os olhos e deu um passo para trás quando viu a pequena estourar aos gritos com ele.

"HIMURAAA! Como você ousa fazer isso com a gente? Tem ideia da preocupação que passamos? Das noites em claro? O Sanosuke vai te matar!"Misao começou a pegar tudo o que tinha em sua frente e jogar sobre o chefe, que pode agradecer de que as coisas mais próximas as mãos da jovem eram os pacotes de absorventes, que eram leves e macios, se bem que ele estava conseguindo se desviar da maioria, mas a menina era boa com a mira e velocidade, e um ou outro pacote acabava o acertando.

" Oro, oro, oro..."

Kenshin só consegui falar isso ao passo que Misao, não parecia se cansar, continuando a reclamar aos gritos. Chamando a atenção de todos no estabelecimento, até mesmo do segurança que quando chegou para segura-la , recebeu um olhar mortal da moça, o que fez o homem recuar alguns passos."Eu tive pesadelo, imaginando o pior... E ela estava com você o tempo inteiro? HIMURA! Eu vou te matar!"

Envergonhando, Kenshin a balançar as duas mãos. "Senhorita Misao se acalme, por favor. Posso explicar, mas não aqui..."

"Juro por Deus, Himura..." A morena parou de tacar os pacotes de absorvente. Apesar que só sobraram uns dois na prateleira, por que todos os demais estavam amontoados atrás do ruivo. Misao estava alucinada de ódio, seu ki formava uma pequena onda ao seu redor e o segurança não se atrevia mais a se aproximar.

O chefe se aproximou cauteloso, sob o olhar assassino da jovem o seguindo através do corredor. "Pegue o que falta da lista. Vamos para o caixa pelo amor de Kami-sama. Sair logo dessa farmácia. Eu já lhe explico tudo!"

Misao olhou para Kenshin, um pouquinho mais calma e assentiu. Foi até a pilha de absorventes no chão, escolheu os que iria levar, e com ajuda do ruivo guardou os restantes de volta ao lugar. Em silêncio, ainda chateada com Kenshin, buscou por cada artigo da lista e entregou a cesta cheia para o ruivo.

Kenshin pegou a cesta e viu a moça sair da farmácia parando em frente o carro dele. Kenshin pagou as compras. Ao passar no caixa acrescentou um item que não estava na lista, e que Misao não precisaria saber...Mas Kenshin pretendia usar... Um dia, quem sabe...Com sorte...Se for reciproco... Ele pagou tudo, guardando o pacote de camisinhas no bolso traseiro da calça... Apesar de ficar vermelho feito um pimentão. Ele não se sentiria culpado por essa compra. Kenshin tinha que parar de arrumar desculpas para si mesmo, ele não era um pervertido tirando vantagem de uma mocinha. Ele era um homem adulto apaixonado por uma adulta, com perspectivas adultas para um futuro não muito distante. ...Ok, chega disso Himura...Tá comprado e acabou...

"Sumimasen..." Pediu desculpas as pessoas do local, da forma mais tradicional japonesa, se curvando. O ruivo fez um pedido formal um pouco mais demorado para o segurança e saiu, com a chave do carro em uma mão e a sacola em outra.

A caixa da farmácia olhou para Kenshin com cara estranha conforme ele deixava o estabelecimento pela porta que tinha um sininho. A mulher nunca tinha visto uma guerra de absorventes antes na sua vida. "Arruaceiros..." O gerente disse, apesar de Kenshin e Misao terem colocado os itens de volta ao lugar, ao lugar errado, mas pelo menos tentaram.

Kenshin destravou o carro, o alarme mal desligou e Misao, bastante emburrada, já se sentou no banco do passageiro. O ruivo sentou-se no banco do motorista, e passou a explicar o mesmo que disse para Sano e Megumi, cada detalhe, sem ocultar nada.

Misao foi relaxando pouco a pouco e sendo inundada pela tristeza, ao saber tudo pelo qual a amiga passou. Para Misao, Kaoru era sua melhor amiga, e agora seu ódio começou a ganhar um novo foco, ela queria era a pele de Enishi, mas se controlou. "E?...Cadê ela! Ela está na sua casa agora?"

"Calma! Ela está bem." Falou o chefe e amigo, ao entender a pergunta não completada da moça. "Kaoru precisava dessas coisas e eu não sabia como comprar isso...Eu vou te contar tudo que eu sei... Senhorita Misao, por favor, precisamos manter isso em segredo. Enishi é um homem perigoso, e eu sei que ele está caçando Kaoru como um bicho! Aoshi Shinomori e seus detetives estão de olho no Enishi pra mim..."

Misao estava magoada. Que tipo de amiga essa gente pensa que ela é? "Você acha que eu não sei disso?... Você acha que eu não percebi a tristeza e a infelicidade que a Kaoru tentava esconder durante esses seis meses? Eu tentei a todo custo dar liberdade e não pressionar a Kaoru, e qualquer um que me conhece sabe quanto isso é difícil pra mim!..." A moça agora tinha lagrimas nos olhos. "Você acha que eu não percebi como Enishi a sufocava todos os dias? Como ele ligava e queria satisfação de todos os passos dela? Quando a gente saia pra beber, conversar, rir, Enishi simplesmente a proibia? Ou aparecia do nada pra levar ela embora?"

"Exato!" Kenshin respirou fundo. "Kaoru está protegida na minha casa, mas só se o Enishi não desconfiar que ela esteja lá. Precisamos fingir que as "buscas" continuam... Pelo menos até reunirmos provas que levem Enishi para cadeia..."

Misao abriu os braços. "A policia não devia estar cuidando disso não?"

"Misao, Enishi faz parte da polícia! Aoshi e eu temos uma desconfiança. Nós acreditamos que Enishi manipula provas de crimes. Faz parte da máfia que incrimina inocentes e inocenta culpados... Os detetives de Aoshi o fotografaram conversando no porto de Tóquio com um dos capangas de Shishio Makoto..." Parecia coisa de filme e era, mas sem provas concretas e definitivas de que Enishi fazia isso, eles não podiam denuncia-lo.

Misao não queria parecer insensível nem nada, mas ela pouco se importava para as ligações de Enishi, com a máfia, ou com o papa, ele iria pagar do mesmo jeito. "Kenshin...O que aquele maluco de cabelo branco fez com ela?" Misao olhou para o chefe, sua face sempre sorridente dessa vez estava séria , muito séria.

"Olha Misao..." Kenshin não sabia bem o quanto revelar. A secretaria era esquentadinha, se dissesse que Enishi bateu na Kaoru, Misao se meteria em encrenca...

Kenshin percebeu a moça o encarando firmemente.

"Kenshin Himura... Eu quero ver a Kaoru, agora!"

"Oro..." Tentou ganhar tempo, dando uma de bobo.

Misao não deixaria isso passar batido, sua amiga precisava de ajuda e ela não fugiria. "Oro nada...Isso é muito sério! A Kaoru deve estar sofrendo! Presa como uma criminosa, encarcerada dentro daquele apartamento a semana toda! Sem ninguém pra conversar !"

"HEI! Não é assim. Ela não está presa... E como assim, sem ninguém pra conversar?...Eu não conto?" Kenshin pensou bem.

...Talvez seja a melhor coisa a fazer. Kaoru e Misao são amigas...Eu não quero admitir, mas Kaoru está trancafiada mesmo... A situação é bem diferente dá de Sanosuke. Misao não tem ligação com Enishi, nem vai responder a processo na justiça por causa dele... Misao ainda nem sabe sobre o Sanosuke, Kaoru não vai se sentir culpada...

Misao olhou para a janela e disse baixinho. "Hunf... Aposto que Kaoru estava morrendo de cólica e só falou alguma coisa quando não aguentou mais..."

"É..."

Kenshin tomou uma decisão, rapidamente seu celular já estava discando o número do administrador do prédio. "Himura falando, por favor, preciso falar com Morita da segurança. Ok, eu aguardo...!"

Enquanto aguardava o retorno do senhor Morita para aprovar a entrada de Misao no prédio, o ruivo tirava de sua carteira um dos cartões, e entregava para Misao. "Esse cartão é a chave de acesso ao condomínio e da casa. Vou te passar a senha que destrava a porta do meu apartamento... Misao, leve discretamente essas coisas para Kaoru. Por favor, lembre-se que as pessoas do meu condomínio não sabem que ela está vivendo lá, oficialmente, eu digo. E eu vou para o escritório para a reunião com Amakusa e volto para preparar o almoço!"

Munida de sacolas, do cartão e com a senha na memoria, Misao saiu da Mercedez preta e entrou no seu pequeno Smart vermelhinho. E correndo mais do que necessário, se dirigiu para o famoso apartamento de Kenshin Himura. ...Quem diria esse ruivo safado, anão de jardim, mergulhador de piscina, escondendo a Kaoru da gente a semana toda...Espera até o Sano ficar sabendo...

^^x

Enishi olhou com fascinação as gotas de chuva escorrendo pelo vidro da janela. Cada gota. Escapando. Escorrendo. Assim como Kaoru escapou da sua vida.

Ele bebeu o whisky puro, sem gelo em um gole só, já virando a garrafa de Jack Daniels, repondo o conteúdo do seu copo. Antes das nove da manhã ele já terminaria a garrafa. Enfiou os dedos no cabelo loiro, arranhando o couro com as unhas. Seus cabelos descoloridos estavam tão claro, praticamente brancos, ficaram ainda mais bagunçados.

Seus olhos inchados e roxos das porradas que levou noite anterior estavam lacrimejando. Cheios de lágrimas, que agora escorriam pelo rosto como a chuva na janela. O sobrinho do corregedor já tinha sido solto, enquanto Enishi era atendido na emergência do hospital, mas ele nem se importou tanto assim. Ele ia ferrar o tal Sanosuke de um jeito ou de outro.

O que preocupava agora, era a ficha caindo. Kaoru não estava com Sanosuke. Ou foi só teatro?

...Talvez a tal Misao saiba onde ela está!... Essa mocinha irritante vai receber minha visita...

...Mas por quê?...

...Por que Kaoru não volta? Por que não a encontro?...

Ele tragou profundamente a fumaça, era o último cigarro do maço. Nem tinha percebido que o maço tinha acabado antes das nove da manhã. O rádio tocava o CD tão alto que o som das guitarras distorcidas fazia o vidro da janela vibrar. Aquela música exprimia exatamente seu sentimentos, sua aflição.

Enishi olhou para trás. O apartamento tão quebrado quanto ele mesmo. ...Eu preciso colocar tudo no lugar... Kaoru vai voltar e ela não vai gostar de ver o que aconteceu com nossa casa... Todos os enfeites que ela comprou, tudo despedaçado...

Ele caminhou até um pequeno pato de cristal. Kaoru amava aquele pato. Foi uma das primeiras coisas que ela comprou quando estavam montando o apartamento. Agora estava dividido no meio, quebrado bem no pescoço. Aquele patinho não tinha mais conserto, nada faria o cristal voltar a ser uma peça só.

...Por que?... Por que eu sinto que essa casa não é mais um lar?...Toda a vez que essa raiva acalma eu sinto que essa casa não é mais um lar!...

"Enishi! Quanto mais você me obrigar, a força, a manter esse sentimento vivo, mais vai mata-lo! Você vai matar qualquer resquício de amor que eu tive por você. O QUE VOCÊ FEZ, EU NÃO SEI SE VOU CONSEGUIR PERDOAR...!" A lembrança de Kaoru se olhando no espelho do banheiro, aos prantos com o rosto machucado, sangrando, segurando longo o cabelo picotado nas pequenas mãos. "O cabelo vai crescer, eventualmente, mas sua atitude não tem mais volta!"

"Eu não sei o que aconteceu! Eu perdi o controle! Amor, eu prometo, nunca mais vai acontecer. Nunca mais!" Enishi andava de um lado para o outro puxando os fios do cabelo descolorido.

"Enishi...Essa é a última vez que você me diz que nunca mais vai acontecer...Porque acabou...! Se você tem um pouco de consideração pelo que nós vivemos, me deixe ir..." E assim, atordoado pelo que tinha acabado de fazer contra a namorada, Enishi viu Kaoru deixando o apartamento, carregando somente uma mala com algumas mudas de roupas, e o laptop com suas coisas do trabalho.

Enishi aumentou ainda mais o som, e fechou os olhos. O ritmo alucinando de "Bodies" agora entrava em seu sistema.

"Cast the pearls aside, of a simple life of need; Come into my life forever; The crumbled cities stand as known; Of the sights you have been shown; Of the hurt you call your own; Love is suicide; The empty bodies stand at rest; Casualties of their own flesh; Afflicted by their dispossession; But no bodies ever knew; Nobodys; No bodies felt like you; Nobodys; Love is suicide"

Enishi riu da ironia da música. " Amor é suicídio!"

Olhando agora para seu apartamento e sua vida, tudo aos pedaços, era sim. Amar é um modo de se suicidar, de morrer aos poucos. Era como ele sentia sem Kaoru.

Ele mergulhou fundo na mensagem secreta que tinha na letra da música. Destruir, desprezar, desconfiar, desobedecer, trair, desarmar, dissecar, negar, desprezar. A música ficava ainda mais nervosa, assim como a cabeça de Enishi.

Enishi apanhou o controle remoto do som e aumentou ainda mais o som do stereo. Billy Corgan berrava agoniado e Enishi se identificava com o desespero da música.

Ninguém vai sentir como você koishii...

Enishi fechou os olhos, o sorriso dela veio à tona. Os olhos azuis brilhantes. A pele cheirosa e macia, como ele queria sentir a maciez em contato com suas digitais.

...Por que você não pensa mais em mim?...

"Now we drive the night, to the ironies of peace; You can't help deny forever; The tragedies reside in you;The secret sights hide in you; The lonely nights divide you in two;"

Ele precisava vê-la. Ele precisava dela agora! Não só através da foto dos dois pousando com o mar azul ao fundo e o sol se pondo. O ou o vídeo que passava na tela da televisão, de Kaoru rindo de alguma piada boba que ele tinha contado. Ele queria lembrar qual foi! Ele queria faze-la rir novamente.

Fotos. Vídeos.

Nada era suficiente.

Ele queria a carne dela, sentir a pele dela na palma de sua mão.

Por que ele não podia voltar no tempo? Voltar para aquelas férias ao Hawai! Onde tudo era perfeito ? Onde só existiam os dois?

"Kaoru! Por que você não entende? Eu preciso de você!"

"All my blisters now revealed; In the darkness of my dreams; In the spaces in between us; But no bodies ever knew; Nobodys; No bodies felt like you; Nobodys; Love is suicide."

"Eu sinto sua falta!"

Patético. Impotente.

Enishi odiava se sentir assim. Sua face, toda dolorida com as pancadas que Sanosuke tinha lhe aplicado na noite anterior, começou a se contorcer com uma raiva ebulindo. Ele mostrou os dentes como um cão rosnando. Jogou o copo de whisky com força contra a parede espatifando-o. Mas uma coisa quebrada em sua vida.

Por que Kaoru o fazia sentir assim? Como os cacos de vidro espatifados no chão do apartamento?

"Eu te odeio por isso Kaoru! ODEIO! EU TE ODEIO KAORU!"

Por que ele fechava os olhos e a enxergava? Toda vez? Por que Kaoru morava dentro dos seus olhos fechados? Por que sua risada ecoava nos seus ouvidos? Vindo provocar, vindo pra rir da sua cara!

"Maldita! MALDITAAAAA! EU TE AMO!"

Por que ele queria inalar Kaoru pra dentro de si, como se ela fosse a maldita fumaça de um cigarro?

TOC TO TOC TOC

"Enishi! Abra essa porta! ENISHI!" Enishi ignorou as batidas. Ele conhecia bem a voz de quem batia na porta. "Pelo amor de Deus Enishi, me ligaram do hospital! Como um homem adulto de vinte e cinco anos, policial se envolve em uma briga de rua? O que está acontecendo com você meu irmão? Você não era assim... ENISHI, QUERIDO! O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM VOCÊ?"

TOC TOC TOC

"VAI EMBORA TOMOE!" Enishi sentou na poltrona. Olhou as dezenas de fotografias dele e de Kaoru espalhadas no chão do apartamento.

Sorrisos, abraços, risadas, carinho...pra sempre congelados naquelas imagens. "Vai embora pro seu noivo!" Enishi disse baixinho, se debruçando sobre a mesinha de centro, agarrando o potinho que continha dezenas de comprimidos coloridos.

TOC TOC TOC TOC "ENISHI! ABAIXA ESSE SOM E CONVERSA DIREITO COMIGO!"

Enishi tirou a tampa e jogou três comprimidos para dentro da boca, de uma vez só. "ME DEIXA TOMOE!" Ele terminou de tomar a garrafa de whisky e já pegava outra na pequena adega.

"Meu irmão... Você não está bem! Por favor, me deixe entrar..." Tomoe já estava ficando rouca. Quase duas horas batendo na porta de Enishi, quanto mais ela gritava, mas ele aumentava o som.

Enishi jogou o pote longe. Esses comprimidos haviam se tornado uma obsessão tão grande quanto Kaoru, desde a primeira vez que os colocou na boca. E pensar que tudo começou quando ele quis se manter acordado durante as horas intermináveis das investigações. E pensar que tudo começou porque ele queria ganhar mais. Porque ele queria oferecer só o melhor para ela. Porque ele queria prover a melhor vida possível. Pra que ela não tivesse que trabalhar.

...Pra que ela ficasse na porra da casa! Fosse minha esposa! E me desse meu filho!...

Enishi se levantou, chutando a mesinha de centro, virando-a! Ignorando Tomoe que do outro lado da porta escutava tudo, ele foi para o quarto, se jogando de uma vez só na cama de casal. Chorando, aos prantos, sem entender porque estava sentindo tudo aquilo.

"Por que ela não voltou pra mim?"

Enishi fechou os olhos lembrando-se da primeira vez. Naquele mesmo quarto, naquela mesma cama. Ela era tão doce e inocente, apesar dos vinte anos. Tão macia, cheirosa e amorosa. Os cabelos negros, grudados no corpo nu, úmidos de suor. Como ele amava aqueles cabelos...Ele não queria mais ninguém admirando ou tocando. "Serei pra sempre sua! Você é meu primeiro amor..." Kaoru disse sussurrando e murmurando enquanto Enishi a invadiu pela primeira vez. Enishi e Kaoru eram um só. Como nenhum outro homem ousou antes fazer. "O que mudou Kaoru?"

"Aishiteru Kaoru..."

^^x

"Ufa, ainda bem que Kenshin tem secadora de roupas, se fosse depender desse clima... Ele está demorando um pouco..." Kaoru caminhou até a janela da ampla sala do apartamento de Kenshin. Era só Kenshin sair que ela se pegava assim, pensativa. Relembrando tudo que aconteceu, com seu pai, com Enishi. Seus dedos finos deslizaram pelo vidro gelado seguindo uma gota de chuva que escorria. "Enishi..."O nome dele escapou tristemente de seus lábios. Como alguém que um dia salvou sua vida se tornou o responsável por tantas lágrimas e noites sem dormir? A primeira vez que aconteceu, sete meses atrás, foi com um tempo assim, nublado e chuvoso.

Impossível esquecer, o começo do fim. "O que era pra sempre..."

Kaoru fechou os olhos e deixou sua mente viajar no tempo.

03:15 da madrugada.

Apenas a luz vermelha do rádio relógio iluminava o quarto escuro. Como fizera já dezenas de vezes, ela olhou para o aparelho, depois para o teto. Alcançou o celular que estava no criado mudo, e o tirou do modo stand-by.

Na tela do celular uma foto do casal sorridente, posando em cima de rocha com um lado ao fundo. Não havia nenhuma mensagem, nenhuma ligação retornada.

Frustrada ela jogou o edredom para longe, e se sentou. Não adiantava mais lutar contra a insônia. Nem contar carneirinhos, nem passarinhos, nem nuvens, nada resolvia. Nem tentar ler o livro. Ela ficou quase dez minutos "lendo" a mesma pagina sem conseguir se concentrar em uma palavra sequer.

03:19

Kaoru levantou-se finalmente. Procurou a pantufa debaixo da cama, não encontrou, e nem se importou muito. Caminhou descalça mesmo até a sala de estar. Sentou no sofá e usando o controle remoto procurou alguma coisa pra assistir na tv. No meio da madrugada não haviam muitas opções. Acabou deixando em um canal que passava desenhos animados, o coiote perseguia o papa-léguas com algum plano maluco que nunca dava certo.

03:24

Ela desligou a tv. Foi até a janela, abriu a cortina, e observou a rua deserta, lá fora caia um temporal. Apenas alguns gatos de rua correndo pra lá e pra procurando abrigo. Olhou novamente para o celular e discou o número. Sem sucesso deixou uma mensagem. "Onde você se meteu?" e continuou observando a rua deserta, a chuva estava tão forte que já se formavam poças no asfalto.

"Finalmente !" Virou-se quando escutou a chave abrindo a porta do apartamento. "Por que você fez isso Enishi? Estou tentando falar com você desde as duas horas da tarde!"

Enishi entrou no apartamento silencioso. Chutou o sapato, tirou o casaco molhado e o jogou sem cuidado em cima da poltrona. Ignorando Kaoru, caminhou direto para o quarto.

Kaoru o seguiu. "Estou falando com você!"

A cara dele não era das melhores. Estava com o semblante fechado e os olhos vermelhos. "Eu falei que ia demorar!"

"Falou! Falou sim, às duas da tarde, DUAS! Eu não sabia onde enfiar a cara, nem sabia o que dizer para Tomoe e Akira! Você simplesmente saiu no meio do almoço! Poxa Enishi custava fazer uma ligação? São 03:30 da manhã! Eu não consegui pregar os olhos até agora!" Kaoru gesticulava com as mãos.

"Não torra Kaoru! NÃO ME ESTUFA!" Enishi enfiou os dedos nos cabelo espetados e descoloridos, bagunçando os fios, jogando as gotas da chuva que estavam impregnadas para todos os lugares. Depois se sentou na cama, tirando a camisa, as meias, e a calça, e jogando de qualquer maneira.

"O que?" Foi uma surpresa. A primeira vez que Enishi usava esse tom para falar com ela. Kaoru ficou brava. "Não acredito nisso! Eu aqui morrendo de preocupação, sem saber onde você se enfiou, e simplesmente me diz "Não torra Kaoru? NÃO TORRA? ISSO É MUITA FALTA DE CONSIDERAÇÃO! "

"EXATAMENTE! NÃO TORRA!" Enishi se levantou rápido. Ele parecia outra pessoa vindo na direção de Kaoru. Aquele não era seu namorado . "E PARA DE GRITAR COMIGO!" Enishi agarrou os dois braços de Kaoru com força, chacoalhando-a, levantando-a do chão.

Enishi afundou os dedos dolorosamente nos braços de Kaoru.

"ENISHI...Me solta! Você está me machucando! Itai!"

Alguns segundos depois, ele percebeu o olhar chocado da namorada. Enishi a largou sem cuidado, fazendo com que ela perdesse até o equilíbrio, e caísse no chão. Batendo o quadril dolorosamente no assoalho de madeira.

"O que... O que foi isso?"

Kaoru se levantou, mas imediatamente deu um passo para trás afastando-se do namorado. Esfregando com suas mãos, os bíceps vermelhos. "O que está acontecendo com você?" Assustada ela perguntou, enquanto Enishi puxava os próprios fios de cabelo.

"EU FALEI! ME DEIXA" Enishi parou de repente de arrancar os cabelos e apontou para Kaoru. "Vai dormir..."

"Porque você está se comportando assim?! Me tratando como se eu fosse um... " Kaoru estava lutando bravamente para não começar a chorar.

"Porra, 03:30 da madrugada Kaoru! Não enche... VAI DORMIR!" Enishi simplesmente se virou, entrou no banheiro e fechou a porta com força, fazendo um barulhão. Perplexa, Karou foi deixada no vácuo, sem nenhuma explicação, parada no meio do quarto de casal. Ela escutou o som da água correndo e viu o vapor do banho escaldante saindo pela fresta da porta.

Furiosa, Kaoru agarrou o edredom e o travesseiro e foi para o sofá. Ela disse para si mesma que não passaria o resto da noite chorando, ela não derramaria uma lágrima sequer, ele não merecia.

Quase quatro horas da manhã, não tinha dormindo nadinha preocupada com Enishi. E ele a tratava dessa forma?

Kaoru deitou no sofá, enfiando a cabeça debaixo das cobertas. Ela escutou quando Enishi abriu a porta, saiu do banheiro e se jogou na cama. A morena não resistiu, voltou para o quarto, pisando ferozmente pelo assoalho de madeira do corredor. Pronta para dizer umas poucas e boas.

Entrou no quarto do casal, pronta para dizer algumas verdades. Engoliu todas as palavras quando encontrou Enishi, roncando, nu, de bruços, todo largado, ocupando a cama inteira.

...Por que?... ...Por que ele fez isso?...

Ela respirou fundo, e voltou frustrada para o sofá. Levantou a manga do pijama e viu as marcas dos dedos de Enishi impressas nos seus braços. Ela escondendo-se debaixo das cobertas. Contrariando a promessa que fez para si mesma, chorou até o sol nascer.

^^x

"Amor!" Uma mão enorme e quente acariciou seu rosto. "Acorda, amor!"

Kaoru abriu os olhos devagar, sentiu uma dor de cabeça lancinante começando atrás dos olhos e irradiando pelas têmporas. As cortinas estavam totalmente abertas, e os raios de sol entravam com força através da janela da sala.

Pela intensidade já passava das onze da manhã, graças a Deus era um sábado, pelo menos não perdeu nenhuma aula importante dias antes da sua graduação.

Kaoru percebeu a bandeja em cima da mesinha de centro. Suco de laranja, pães com queijo e frios, geleias e frutas. E uma flor vermelha dentro de um vasinho.

Enishi se ajoelhou na frente dela, enquanto Kaoru se sentava. "Me deixa ver..." Ele segurou o braço de Kaoru, levantando as mangas do pijama. "Tsc..."Balançou a cabeça, fez uma careta, e se inclinou, beijando cada uma das marcas. "Às vezes eu perco a noção da minha própria força! Nunca mais vai acontecer Kaoru!"

"..."

Ela não contestou. Com um ano e meio de namoro, Kaoru sabia que Enishi tinha um temperamento complicado. O pavio dele era bem curto. Principalmente quando ele lidava com uma investigação complicada. Mas apesar dos gritar de vez em quando, ele nunca tinha usado a mão pesada contra ela.

"Nunca mais vai acontecer Kaoru..."

"..." Ela não respondeu.

Kaoru observou enquanto o namorado beijava as marcas vermelhas que ele mesmo causou em seus braços. "O que está acontecendo com você?" Ela perguntou entristecida, lágrimas contidas queimando atrás de seus olhos.

Enishi ignorou a pergunta, passou a beijar o pescoço de Kaoru. Ele enfiou a mão por debaixo do pijama, tocando os seios de Kaoru, enquanto seus dentes mordiscavam o pescoço da namorada. "Eu te amo! Eu te amo! Você sabe disso não é? Eu te amo como ninguém nunca vai te amar..."

"ENISHI!" Brava, Kaoru lhe chamou atenção. "De que adianta ficar me dizendo eu te amo, eu te amo, e me tratar como se eu fosse só uma coisa?"A lágrima finalmente escorreu. Ela não permitiria que ele continuasse com isso como se nada tivesse acontecido. Não sem uma desculpa, sem uma explicação. "O que você está pensando que eu sou? Onde você quer ir com esse relacionamento me tratando assim?"

Enishi fez cara feia.

"Primeiro a Tomoe, agora você. Eu aqui me matando de trabalhar, e vocês não dão o mínimo valor! Dispensam-me na primeira oportunidade. A Tomoe agora se casa com o Akira e você começa a trabalhar semana que vem . Ótimo! Excelente." Enishi se afastou abruptamente. De um jeito dramático. "Se você não quer Kaoru, eu não vou forçar... Mais saiba que tudo que eu faço é por você! SÓ POR VOCÊ! Eu aposto que você vai arrumar um cara nessa empresa e eu vou tomar um chute na primeira oportunidade! Estou contando os dias pra isso. Você já está diferente comigo Kaoru!"

...Quase um ator de tão dramático...

"EU?" Kaoru se levantou, ficando frente a frente. Esse relacionamento estava começando a afundar, eles nunca ficavam juntos e quando ficavam era discussão atrás de discussão. "De onde você tirou tudo isso? Foi você quem sumiu noite passada e me deixou sozinha aqui arrancando os cabelos. Onde você se meteu Enishi?"

"Eu não tenho tempo pra isso! Preciso trabalhar, mesmo que você não dê o menor valor ao meu sacrifício..." Enishi se afastou rapidamente de Kaoru, agarrou a jaqueta que tinha largado em cima do sofá e saiu batendo a porta do apartamento.

"O que...?" Sem entender absolutamente nada do que se passava com o namorado, Kaoru foi deixada sozinha no apartamento. Aos prantos, ela caminhou até a porta, Enishi já não estava mais no hall do elevador. Desde que teve a feliz noticia que havia sido contratada pela empresa de Tomoe, Enishi estava estranho, mas com o anuncio do casamento de Tomoe e Akira, ele simplesmente explodiu.

Caminhando de volta para a sala, ela viu a bandeja perfeita de café da manhã "Por que muda tanto de uma hora pra outra?". No caminho escorregou em um potinho. Kaoru se abaixou, ela não reconheceu o pequeno pote de lugar nenhum. Dentro da caçapa diversos compridos brancos e vermelhos . Kaoru leu o rotulo "*Anfipropiona*. O que é isso?"

^^x

"Uma moeda pelos seus pensamentos, Kaoru Kamiya!"

"Hã?" Os olhos de Kaoru se arregalaram ao se virar. Ela mal podia acreditar na voz que havia lhe tirada de suas memorias, e agora dizia seu nome com emoção. "MI...MI...MISAO? MISAO-CHAN!" Todas as sacolas que Misao trazia consigo já estavam no chão

"Eu te achei!". Imediatamente as duas se abraçaram com força. Emocionada, Kaoru derramou lágrimas que ela nem sabia que estava segurando. E como Kaoru necessitava daquele abraço sincero. As duas amigas choraram juntas.

^^x

Continua...

*Anfipropiona* Não existe claro, só um nome que eu inventei para Anfetamina

As anfetaminas são drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso central, isto é, fazem o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais "acesas", "ligadas" com "menos sono", "elétricas", etc. É chamada de rebite principalmente entre os motoristas que precisam dirigir durante várias horas seguidas sem descanso, a fim de cumprir prazos pré-determinados. Também é conhecida como bolinha por estudantes que passam noites inteiras estudando, ou por pessoas que costumam fazer regimes de emagrecimento sem o acompanhamento médico. Quando a dose acaba, a pessoa geralmente apaga de uma vez. Despenca com muito sono.

Se uma pessoa exagera na dose (toma vários comprimidos de uma só vez) todos os efeitos ficam mais acentuados e podem começar a aparecer comportamentos diferentes do normal: ela fica mais agressiva, irritadiça, começa a suspeitar de que outros estão tramando contra ela: é o chamado delírio persecutório. Dependendo do excesso da dose e da sensibilidade da pessoa pode aparecer um verdadeiro estado de paranóia e até alucinações. É a psicose anfetamínica. Os sinais físicos ficam também muito evidentes: midríase acentuada, pele pálida (devido à contração dos vasos sanguíneos) e taquicardia.

Pequeno dicionário

Ohayo-Bom dia.

Sumimasen- pedido de desculpa um pouco mais formal.

Itai- expressão de dor.

Aishiteru- eu te amo.

Shinai- espada de bambu usada no kendo.

Kunai- uma lança ninja.


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