Koi no Yokan escrita por Angélica Chibis


Capítulo 2
"Koi no Yokan" Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Rurouni Kenshin não me pertence!



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"Koi no Yokan"

Parte 2

Por Chibis

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Toda adolescente sempre aguarda ansiosa pelo aniversário de dezesseis anos. Uma fase tão gostosa, e ao mesmo tempo conturbada, em que se perdem os privilégios da infância e o mundo adulto começa a se abrir de forma diferente. Uma nova visão sobre a politica, a vida em sociedade, o descobrimento sexual...

A juventude na sua forma mais fervilhante e a transição definitiva.

Apesar de não ter mãe, que faleceu quando ela tinha cinco anos, Kaoru Kamiya foi como qualquer outra adolescente de dezesseis anos. Tinha os mesmos interesses, gostava dos mesmos ídolos pop, das festinhas, e fofocas sobre garotos. Mas o tempo começou a passar mais rápido, quando foi jogada de forma abrupta na realidade adulta.

No seu aniversário, Kaoru Kamiya descobriu que seu pai, Kojishirou Kamiya, instrutor de um dos maiores dojos de kendo de Shitamachi, estava prestes a entrar na luta mais sofrida de sua vida. Kojishirou foi diagnosticado com um câncer agressivo no pâncreas.

Aos dezessete , Kaoru Kamiya já tentava conciliar seu dia-a-dia entre frequentar a escola , cuidar da casa e trabalhar meio período na lanchonete para pagar as contas básicas. Água, luz, telefone e a vida no Japão não era nem um pouco barata.

À noite, cochilava na poltrona dura da enfermaria do hospital de Tóquio. Acordava nas manhãs seguintes sempre com o corpo moído e a cabeça latejando. Ia para aula como uma zumbi, absorvia uma ou duas palavras de toda a discussão geo-politica entre professores e alunos. O que Kaoru mais queria, era encostar a cabeça na carteira e dormir. Não existia mais tempo para amigos, para namoradinhos, ou passeios no shopping. Os amigos começaram a se afastar.

Exames de sangue, ultrassons, ressonâncias, tomografias, cirurgias eram palavras que faziam parte de seu vocabulário. Muitas horas perdidas nas salas de espera. Observando o clock clock clock do relógio, e os pingos do soro gotejando devagar nas veias de seu pai.

No mês de seu aniversario de dezoito anos, veio a noticia, a metástase do mestre Kamiya tinha atingindo a corrente sanguínea. Não havia mais o que fazer. Kojishirou entrava no estado terminal da doença. Ele não saía mais do quarto, ele não levantava mais da cama, ele mal tinha forças para falar. As horas que Kaoru passava no hospital, estudava ao som do bip, bip, bip das máquinas e respirador.

O emprego meio período supria as necessidades básicas de Kaoru, mas as últimas contas hospitalares lhe tiravam o sono. A sequência de cirurgias, remédios , quimioterapia, radioterapia e transplante sugou todos os recursos da família.

Primeiro foi o carro, a propriedade nas montanhas herdada dos avôs, o terreno da casa e do dojo foi hipotecado. Restava a poupança de Kaoru, que era guardada com muito sacrifico para que a jovem pudesse se formar.

Além do fundo universitário, que Kaoru e Kojishirou fingiam não existir, não havia mais nada.

E quando Kaoru não dormia, estudava, ao som do bip bip bip.

As drogas já não funcionavam mais, Kaoru segurava a mão de seu pai, rezando para qualquer Deus, para que pudesse lhe tirar a dor. Irreconhecível, Kojishirou Kamiya sorriu pela última vez quando Kaoru abriu a carta e leu em voz alta, havia sido aceita em uma das melhores faculdades, e com uma bolsa de 40%.

Lágrimas escorreram dos olhos de pai e filha.

Foi um momento feliz, quando Kaoru saiu do hospital em disparada com o coração batendo forte e fez a inscrição na faculdade. Ela rezou para conseguir um bom quarto na república, pois já não havia mais casa para voltar. Infelizmente Kaoru teve que aceitar a dura realidade, aceitar que seu pai nunca mais voltaria para o dojo em Shitamachi.

Uma parte dela se quebrou para sempre, quando segurou seu pai em seus braços pela última vez. Beijando-lhe a testa e sussurrando que um dia compraria o terreno da família de volta. O dojo Kamiya, que estava na família há gerações, e um dia voltaria a existir.

Satisfeito por ter criado sozinho uma filha tão boa e honrada, o mestre Kamiya sorriu. E o bip bip bip dos aparelhos cessou finalmente, e o peito de Kojishirou Kamiya arfou pela última vez.

Kaoru vendeu alguns itens da família na loja de penhores para pagar as despesas funerárias. Katanas, suiboku-gas e haikus . A cerimônia, mesmo com poucas pessoas, a maioria vizinhos e ex alunos do dojo, foi belíssima. O céu estava azul e o clima agradável enquanto o caixão de Kojishirou Kamiya descia para sua última morada. Uma revoada de pássaros brancos cruzou o céu, Kaoru guardou isso como sinal de que seu pai estava em paz, finalmente.

A jovem estudava até que seus olhos ficassem vermelhos e começasse a ver as palavras em dobro. Toda sua dedicação era uma forma de honrar a esperança que seus pais tinham em seu futuro. Ela não se importava com as famosas festas na universidade, regadas a álcool e muitas vezes drogas ilícitas. Nem nos rapazes, que com seus hormônios fervilhantes só pensavam em sexo.

Kaoru não se importava em ser chamada de careta, nem em ser alvo de piadas. Já tinha vivido coisa pior, as chacotas não faziam diferença na sua vida.

Em uma noite fria de inverno, Kaoru voltava de seu emprego meio período. Era quase meia noite quando desceu do ônibus. Ela nem estudaria para a prova na manhã seguinte, só queria chegar à republica, tomar um banho e se aquecer com um chocolate quente e uma boa noite de sono.

A rua estava deserta, pela neve que agora caía densa do céu e pela festa que rolava em um dos prédios da universidade. Enquanto caminhava pela calçada gelada escutava o som alto da música eletrônica, os gritos e risadas. E som de pessoas gritando. "Vai, vai, vai vai!" Kaoru ouviu o barulho de carros acelerando. Aquilo tinha barulho de encrenca. Um racha talvez?

Ela acelerou o passo para chegar logo no seu dormitório. Suas mãos e rosto estavam congelando com o vento gelado. No final da rua escura, saído da casa da festa, ela percebeu um carro com as luzes apagadas vindo a toda velocidade na sua direção. O gelo e granizo não davam estabilidade aos pneus que escorregavam. "Wow!" Quem quer que fosse que estivesse dentro do carro não conseguiria parar a tempo.

...Oh não!...

O carro estava desgovernando.

A luz do carro finalmente acendeu, bem forte, atingindo os azuis dos olhos de Kaoru. Tão forte que ela sentiu como se fizessem um buraco no seu crânio tamanha a intensidade.

...É isso, é o fim...

Foi quase uma câmera lenta, uma sequencia de um filme de ação. O barulho da buzina, a freada brusca, e o carro escorregando na sua direção.

"HEII! CUIDADOOOOOOOOOOO!" A poucos metros de ser atingida pelo veiculo desgovernado, Kaoru sentiu um forte empurrão na sua lateral, que a fez ser jogada para longe, saindo finalmente da rota de colisão.

O motorista do carro até tentou frear, mas o gelo fez com que o carro patinasse ainda mais. Ele parou quando finalmente atingiu a pobre árvore, e quase arrancou a raiz completamente do lugar. Com a batida, toda a neve da copa da árvore caiu sobre o veiculo, que continuava a tocar a música eletrônica freneticamente, mesmo com toda a frente destruída.

"Ohhh" Caída na calçada, Kaoru sentiu um peso sobre o seu corpo, braços enormes protegendo sua pequena figura. Ela abriu os olhos, assustada. Olhou rapidamente para seu próprio corpo, percebendo que todos os membros estavam intactos. Piscou e viu a frente do carro esmagada contra a árvore.

"Você está bem?"

Kaoru não encontrou a voz para responder. Escapara da morte por um triz há apenas alguns segundos. Ela não conseguia nem coordenar os próprios movimentos. Balançou a cabeça positivamente depois de um tempo.

O homem que lhe salvou a vida se levantou, ajoelhando-se na calçada na frente dela. Ele a ajudou a se sentar, e passou as mãos nos braços de Kaoru, procurando por algum machucado.

O estranho tinha cabelos descoloridos, ele que estava com luvas nas mãos levantou o rosto de Kaoru, observando que a moça tinha apenas ralado o queixo, provavelmente da queda contra a calçada, e estava sangrando um pouco.

"Tudo bem mesmo?"

"Hai , sim... Só um pouco chocada. Esse carro apareceu do nada! Se não fosse você..." Kaoru estava assustada, em choque, com a adrenalina fazendo zigue e zague no corpo.

"Saiu da festa..." Que depois desse acidente provavelmente seria a última festa permitida no campus da universidade. "Eu já volto, ok?" O homem tirou o celular de dentro do bolso e caminhou até o carro espatifado na árvore, observando o motorista do carro inconsciente, mas vivo. "Hei, policial Enishi Yukushiro falando. Acabou de acontecer um acidente bem feio aqui na rua da universidade Tokio City! Tem um moleque ferido dentro do carro. Provavelmente politraumatismo. Ok. Tô no aguardo!"

Alguns minutos depois, os curiosos já começavam a aparecer para ver o acidente, como formigas atrás de açúcar.

O homem que se identificou como policial voltou para perto de Kaoru, que agora estava sentada na guia da calçada, tremendo igual um galho na ventania.

"Maluco! O que um idiota desses pensa que está fazendo? Correndo por aí em uma rua escorregadia feito quiabo!" O homem tirou sua própria jaqueta, colocando nos ombros de Kaoru, que olhou para cima. Seu salvador se abaixou e sentou na guia do lado dela.

"Enishi Yukushiro..." O moço de cabelos descoloridos estendeu sua mão para Kaoru. "Eu morei aqui nesse prédio. Tranqueia a faculdade de direito no quarto ano, entrei para a corporação, sempre foi meu sonho. Vim buscar alguns pertences que larguei aqui na república."

"Kaoru Kamiya!" Ela ficou olhando para a mão enorme, e depois de um tempo aceitou o gesto e o cumprimentou. "Segundo ano de propaganda e marketing!"

"Prazer em conhecer Kaoru Kamiya... Parece que você precisa de uma xicara de café bem quente... Eu te acompanho." Ele riu da cara desconfiada que Kaoru tinha no rosto. " Pode confiar, eu realmente sou policial. É oficial!" Enishi tirou o distintivo de dentro do bolso e mostrou a foto que estava de ponta cabeça. "Opa! Agora sim"

"Ok! Senhor Yukushiro" Kaoru riu com o jeito do policial que tinha acabado de salvar sua vida. "Sim. Acho que eu preciso mesmo de uma xicara de café."

Foi a primeira vez que Kaoru teve a sensação. Sensação de que iria se apaixonar. A primeira vez que ela pensou na expressão tão popular "Koi no Yokan..."

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Dois anos depois, Kaoru correu para o estacionamento no subsolo da empresa, descendo desesperadamente pela escada de incêndio, pulando dois, três degraus de uma vez só. Ela queria se encolher em bola e desaparecer no ar.

Depois desse dia sua vida nunca mais seria a mesma. Ao menos seus pais não estavam mais vivos para testemunhar tamanha humilhação. Que vergonha para a família Kamiya. Uma filha exposta dessa forma.

Por que ela permitiu que Enishi gravasse um momento tão intimo?

Vamos apimentar as coisas, ele disse...

Vai ser divertido, ele disse...

É uma coisa só nossa, ele disse...

A moça sentiu enjoo, o café da manhã subiu pelo seu esôfago. Ela não chegou a vomitar, mas o gosto amargo explodiu na sua boca. Kaoru se abaixou entre os carros. Ela fechou os olhos com força, e abraçou os próprios joelhos, balançando o corpo pra frente e para trás, tentando acalmar o próprio corpo que tremia muito. O celular desligado em uma mão, e a bolsa na outra, era tudo que ela tinha.

Se ao menos tivesse algum veiculo para se enfiar dentro e fugir dali. Mas infelizmente seu carro tinha sofrido uma pane elétrica dois dias atrás e acabou pegado fogo no estacionamento do supermercado enquanto ela fazia compras. O seguro ainda nem tinha entrado em contato para passar os valores do prejuízo, e agora ela começava a acreditar que a perda do carro também foi obra de Enishi

A morena escondeu-se rapidamente atrás de uma pilastra, quando escutou passos ecoando pelo estacionamento. As lâmpadas fluorescentes da garagem começaram a piscar e faziam um barulhinho um tanto quanto assustador, logo cessou porque em questão de segundos a energia elétrica apagou de vez.

Kaoru ficou no escuro total dentro daquela garagem, escondida entre um carro e uma pilastra.

Os passos continuaram na direção dos veículos. "Senhor Himura deu ordem para que a manutenção cortasse a energia do prédio! Mas como eu acho meu carro agora?" Kaoru reconheceu a voz, era um de seus colegas de trabalho.

"Usa o celular como lanterna, baka!" A voz agora era de Fukuoka, que trabalhava no setor de produção. "Himura está muito bravo, mandou todo mundo pra casa! Eu vou para um bar, que tal?"

"Sanosuke está furioso. Hei, eu sempre achei que Sano e Kaoru tinham uma certa química. Será que rola algo entre os dois? Esse papo de amizade entre homem e mulher não me engana não."

"Sei lá cara..."

...Droga...

Kaoru percebeu que o carro de Fukuoka estava estacionado bem do lado da pilastra onde ela se escondia. Em um momento de desespero, Kaoru ainda agachada, começou a procurar por um carro que estivesse com a porta destravada.

Desafiando o bom senso, uma Mercedez Benz preta, que provavelmente valia mais do que as economias de uma vida toda, estava com a porta aberta. Kaoru entrou no carro e se agachou, escondendo-se no assoalho, atrás do banco do motorista. As vozes ficaram bem altas e animadas agora, eles riam.

"Quem diria hein cara! Kaoru é bem gostosa, viu aqueles peitinhos? "

"Há nem deu pra ver nada demais, o cara só filmou as costas e as pernas."

"As quietinhas são sempre as piores, ou melhores. Hahahaha"

"Eu vou tentar dar uns "pegas" na Kamiya."

"Ah tá, cara. Você e a firma toda! Sei não, acho que a gente não volta a ver a cara da Kaoru por aqui..."

Os risos morreram quando os respectivos carros deram partida e deixaram o estacionamento, deixando Kaoru novamente no silêncio do estacionamento vazio. Ela ligou o seu celular para usa-lo como lanterna.

Na tela...

"27 mensagens. 12 chamadas perdidas..."

Kaoru discou o número que durante dois anos fez parte da sua vida.

"Eu te avisei! Eu te dei todos os avisos Kaoru..." Antes que Kaoru dissesse uma palavra sequer, ele respondeu.

"Como você teve coragem de fazer isso comigo?...Depois de tudo que nós vivemos juntos?..." Kaoru não aguentava a dor, ela mal conseguia falar entre os soluços. "Você me expôs para a firma toda...Doushitte? Doushitte Enishi?"

"Não! Você prestou atenção! Meu amor, eu editei o vídeo. Não apareceu nada Kaoru... Eu só quero mostrar para todo mundo que você é minha! Koishii! Você é só minha, nós somos perfeitos juntos! Eu só quero que você volte para casa!" A voz doce que ele usava depois que aprontava alguma coisa não ajudaria dessa vez.

"Casa Enishi? Que casa? Eu não tenho casa...Eu não tenho mais nada..."Aos prantos, Kaoru estava inconsolável.

"Kaoru! Não fala assim. Me diz onde você está...Eu tô indo te buscar! Você não precisa desse emprego. Você não precisa dessa gente...Eu posso te dar tudo que você quiser...A gente vai se casar, logo você vai engravidar e... Aishiteru Koishii, Aishiteru! Ninguém vai te amar como eu!" Enishi já começava a ficar descontrolado.

"ENISHI! CALA A BOCA! PARA DE FALAR...PARA, pelo amor de DEUS! PARA!" Kaoru mal conseguia falar, ela soluçava, tremia e chorava muito. "Eu nunca mais quero te ver! Eu nunca mais quero ouvir sua voz! Eu nunca mais quero saber de você! Você tá morto pra mim... Acabou Enishi... Acabou! Esse é o ponto final!"

Enishi ficou em silencio, Kaoru podia escutar os padrões de respiração dele mudando. Era como uma chaleira cheia de água prestes a entrar em ebulição e soar um alarme.

"NUNCA! NUNCA, ME OUVIU?! Escuta bem Kaoru. ESCUTA! Eu vou te achar, mesmo que você mude de país. Mesmo que você mude de nome. Você vai voltar para minha casa, pra nossa casa ! E nem pense em pedir ajuda para esses seus amigos...Eu sei o nome de todos eles... Cada um deles... Eu sei onde eles moram. Eu sei de suas rotinas... Sanosuke Sagara! Megumi Takani! Misao Machimachi...Eu sei com quem você sai. E eu sei aonde você vai... E eu sei como me livrar deles...E nem pense na Tomoe! Eu odiaria ter que armar alguma coisa contra minha própria irmã, mas aí não vai ser minha culpa, vai ser culpa sua! Porque eu estou te avisando" Enishi tinha voz cheia de ódio agora, pelos barulhos que Kaoru ouvia através do telefone, seu ex namorado estava destruindo alguma coisa.

"Eu sei do que você é capaz Enishi...Eu sei bem que você não mede as consequências das suas ações...Meu rosto machucado e meu cabelo cortado estão aqui pra provar! Mas você não vai precisar armar nada contra meus amigos, ou sua própria irmã. Pro lugar onde eu vou você não pode me seguir, nem fazer mal. Meus pais estarão lá pra me proteger..." A voz de Kaoru nunca esteve tão séria e sombria, e provavelmente nunca mais estaria. Ela sabia o peso daquelas palavras, ambiguidade por trás do que estava falando e o impacto que causaria em Enishi. "Kaoru Kamiya vai deixar de existir! E não precisa chorar Enishi, e não precisa levar flores para o meu túmulo. Pegue sua obsessão, suas lágrimas e suas flores e enfie no seu..."

"KAORU! O que? Nem ouse...KAORU!" O homem de cabelo prateado berrava ensandecido. "NÃO OUSE, VOCÊ É MINHA! KAORU!"

Kaoru desligou o telefone celular, tirando a bateria. Ela abriu a porta do carro e jogou o aparelho com toda sua raiva contra a parede, espatifando-o. Kaoru não tinha intenção de tirar a própria vida. Ela nunca teve esse desejo, nem no período mais sombrio da sua vida, durante a doença e a morte do seu pai. Mais ela não conseguia evitar a depressão e a falta de esperança. Quem sabe se ela ameaçasse se matar, Enishi não a deixaria em paz?

Como faria para viver agora?

Para onde iria?

Quem a ajudaria?

Kaoru não podia correr o risco de colocar a vida dos seus amigos em perigo. Ela sabia que Enishi era capaz de armar. Usando sua influência dentro da policia, ele seria capaz até mesmo incrimina-los com entorpecentes e narcóticos, ou pior, com uma morte acidental. Ele não tinha muito tempo de carreira, mas tinha muita influência. Kaoru tinha certeza de que ele estava envolvido com coisas ruins.

Tomoe?

...Ele ameaçou armar contra a própria irmã? Meu Deus...

Kaoru não podia pedir ajuda a sua ex cunhada, ela estava prestes a se casar com Akira Kiyosato, e começar uma vida nova. Desde a notícia do casamento, Kaoru sentiu piora no estado mental e emocional de Enishi. As coisas não estavam boas entre Enishi e Tomoe.

Enishi não queria dividir ninguém...

"Eu preciso desaparecer... Mas como? Sem dinheiro, sem carro, sem lugar para ficar!"

Escondida dentro daquele carro de luxo, ela chorou como só tinha chorado uma vez na vida, na morte de seu pai.

"Doushiyou? O que eu devo fazer?!" Kaoru chorou tanto que acabou adormecendo toda encolhida no assoalho do carro, atrás do banco do motorista.

"Trrimmm trimmmm"

Kaoru acordou desorientada com o toque insistente de um celular. Ela não soube precisar exatamente quanto tempo ficou dormindo.

"Trimmmm trimmmm"

Talvez fora só um cochilo de minutos, talvez um sono de horas. Sentiu o cheiro do couro novo, e olhou para os lados rapidamente, percebendo que ainda estava dentro da confortavel Mercedez Benz de luxo.

O único problema é que agora o carro estava em estava em movimento.

E a pessoa que dirigia o carro nem notou a carga extra escondida atrás de seu banco.

...DROGA... Os olhos de Kaoru arregalaram, e imediatamente colocou uma mão na frente da boca sufocando qualquer ruído.

...Como eu vou sair daqui sem que ele perceba?...Oh meu Deus!...

"Mochi mochi...Hai...hai!" O Motorista da Mercedez atendeu o celular que tinha o toque escandaloso.

Kaoru precisou tapar a boca com mais força com as duas mãos, quando reconheceu a voz de quem dirigia a Mercedes. Seus olhos azuis enormes de tanto choque.

Ela entrou no carro só para se esconder de seus colegas de trabalho e agora estava presa, abaixada no assoalho traseiro, sem poder se mexer e sem saber como sair dali sem chamar atenção.

E pior de tudo, o motorista da Mercedez era seu chefe. Kenshin Himura.

...OH MEU DEUS...KAMI SAMA!...

"A coisa mais bizarra aconteceu hoje na firma... Oro...Já sabe? Quem te contou?...Entendo, a Misao está preocupada, são amigas e a moça sumiu no ar... Reviramos o prédio. O segurança não sabe por onde ela saiu...Mas eu tive que mandar cortar a energia, talvez tenha sido nessa hora. Foi um caos!"

Kaoru sentiu mais uma lágrima escorrendo por cima das suas mãos, que abafavam a boca. Era muita humilhação para uma pessoa só.

...Ele deve estar furioso...Eu acabei com a apresentação de uma conta importante...

...Eu tinha que me esconder justo no carro dele? Por que Deus, por que faz isso comigo?...

"Aoshi, eu já estava com muito dó dessa moça! E agora você está me contando que caiu na internet... " Kenshin apertou o volante do carro, tirando som do material. Do jeito que estava, Kenshin ainda mataria alguém naquele dia.

"Pode cuidar disso pra mim? Hai...Eu sei que não é facil!" Himura continuava a conversar com seu advogado, totalmente alheio ao sofrimento de Kaoru espremida no assoalho do carro.

"...Você sabe que meu tio não gosta desse tipo de atenção, Hiko acha melhor acertar a homologação dela. Não tem condições dela voltar a trabalhar na empresa. Eu já escutei de tudo hoje dos outros funcionários, as piadas e gracinhas...Alguém acabaria sofrendo um processo por assedio sexual...Eu não sei, estou quase usando minha espada...Não queria que fosse assim...Ela é talentosa e esforçada... Quero que me tragam essa moça para uma conversa, mas até agora ninguém foi capaz de encontrá-la... Não...Estou indo pra casa agora...O dia passou voando e foi praticamente perdido... A Tomoe? Tomoe está possessa! Nunca vi a Tomoe tão brava. Ela ligou para o irmão, que simplesmente disse que teve o laptop, com todos os arquivos pessoais, roubado semana passada... Pra mim esse cara não presta..."

... Enishi já inventou um emaranhado de desculpas...Desgraçado! Eu não tenho mais carro, eu não tenho mais casa, eu não tenho mais emprego, eu não tenho mais a minha poupança! Enishi acabou com a minha vida, e ainda vai dar uma de santo!...O que eu vou fazer? Eu preciso de tempo! ... Eu preciso de um plano para sumir...Quem sabe...Se eu usar o Himura...Eu...eu...

Kaoru percebeu uma coisa brilhante no banco de trás do carro, uma bainha de metal deitada sobre o banco de trás do carro.

Uma katana?

...Eu preciso de...de uma espada?...O que uma espada está fazendo no carro do senhor Himura?...

...Hmm, se eu conseguir fazer com que ele me leve até a estação de trem, eu sumo de Tóquio ainda essa noite...

...Papai me perdoe pelo que eu estou prestes a fazer...

...Perdoe-me...

Kaoru agarrou rapidamente a espada, em silencio ela removeu a lâmina da bainha. Em um movimento rápido ela se levantou detrás do banco e direcionou a lâmina para o pescoço do ruivo. "Sinto muito senhor Himura, mas o senhor vai ter que fazer exatamente o que eu disser..."

Kenshin pisou no freio bruscamente, o corpo de Kaoru foi jogado pra frente. Ela mal pode controlar o peso da espada, e acabou tirando um filete de sangue do pescoço de Kenshin Himura. "Aoshi, a gente conversa mais tarde..."

Ela viu o sangue no pescoço de Kenshin. Os olhos de Kaoru eram dois pratos de tão grandes, ela não tinha intenção de machucá-lo. Nunca! Só queria que o senhor Himura dirigisse o carro pra a estação de trem, e lhe desse um pouco mais de tempo para que ela pudesse pensar no que fazer.

"Kaoru Kamiya...?"

"Ok, parece bem ruim, não é?...Sequestro relâmpago...Eu sei...mas...Droga! Senhor Himura...Eu..."

Através do retrovisor, Kaoru notou os olhos furiosos de seu chefe direcionados exclusivamente para seus olhos azuis indigos. Ela engoliu seco e ruidosamente, os olhos que lhe assustaram estavam dourados, como ouro derretido, lhe mirando firmemente através do espelho.

Suas mãos que ainda seguravam a pesada espada rente ao pescoço de Kenshin, tremiam involuntariamente.

"Agora eu tô ferrada de vez, né?! Mas eu preciso de algum dinheiro... O final do mês tá próximo, eu só preciso do meu salario...adiantado... E, e... que o senhor me leve até a estação de trem! Onegai...senhor...Himura-san...!" Pedir por favor para alguém apontando uma espada rente ao pescoço parecia piada, mas Kaoru Kamiya estava mais perdida que cego em tiroteio. Ela realmente estava confusa, e agora se arrependia pela ação impensada. Kenshin Himura emanava uma energia bem estranha... Novamente Kaoru engoliu seco.

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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. Comentários são sempre bem vindos!



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