"Koi no Yokan"

Parte 1

Por Chibis

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"Koi no Yokan" é uma daquelas expressões japonesas que não tem correspondente direto em outras línguas. É algo como "a sensação de amor", mas também não é bem isso. Mais ou menos quando você encontra uma pessoa, e tem a sensação de que vai se apaixonar, mas também não é amor à primeira vista. É mais uma conexão, um feitiço.

Mas como reconhecer o que é verdadeiro, quando o verdadeiro caráter do outro ainda está oculto sob do véu de encantamento?

Por que alguns relacionamentos mudam tanto?

Por que o que te fazia tão bem , de repente vira tragédia, e começa a te sufocar e te fazer tão mal? Te deixa marcas pelo corpo e um grito ecoando em seu ouvido...

Será que as pessoas mudam mesmo ou ,simplesmente depois de um tempo, somos capazes de enxergar o que é verdade dentro elas. Além do "koi no yokan"?

Quanto tempo dura o amor?

Sozinha, Kaoru lamentou.

Quebrar a cabeça pensando nisso não resolvia nada, mas infelizmente não era sua escolha. Pensar ou não pensar. Involuntariamente, essas perguntas vinham assombrar cada vez que ela fechava os olhos. Ou que se via sozinha no banheiro, no elevador, no ônibus, ou quando deitava a cabeça no travesseiro duro do hotel.

Maldita sensação de amor.

Agora só restou um gosto amargo na boca...

Koi no Yokan, nunca mais...

Suas mãos ajeitaram os fios soltos do cabelo. Ela estava nervosa e seu cabelo parecia acompanhar, os fios eletrificados teimavam em ficar fora do lugar. Kaoru tirou da bolsa um pequeno pente e penteou o cabelo curto, ajeitando para que não ficasse com cara de maluca.

Sentia falta das longas madeixas, mas não havia muito o que se fazer, esperar crescer ou comprar uma peruca, um aplique sei lá...

Mas o corte Chanel na altura do queixo até que estava apropriado para o momento que estava vivendo. Eventualmente cabelo cresceria, assim como seu autoconfiança, assim como sua auto estima.

...Tudo que me que resta agora é ter paciência...

"Você consegue! Ganbatte! Dê o seu melhor Kaoru Kamiya" Olhando no espelho mais uma vez, sorriu para si mesma, puxando do fundo alma ânimo pra enfrentar o que vinha pela frente.

Certificou-se que a maquiagem ao redor dos olhos estava perfeita. A base que comprou as pressas no shopping era cara, MAC. Ao menos era excelente, valeu cada centavo. Durante aquela semana infernal não foi obrigada a responder inúmeras perguntas, nem inventar desculpas ridículas. ...Caí da escada. Dei de cara com a porta. Escorreguei... Kaoru não tinha estômago para isso.

Os comentários sobre o "novo corte de cabelo" foram inevitáveis. A maioria elogios.

Se eles soubessem...

Olhou no espelho uma vez mais. O interior estava péssimo, queria voltar no tempo, antes do câncer do seu pai ser diagnosticado, antes de perder sua casa, seu dojo, antes de conhece-lo... O exterior não estava tão ruim assim. A casca Kaoru Kamiya estava bonita a apresentável.

"Humm...Ok Kamiya ! Nenhum roxo aparecendo..."O corretivo e a sombra escura ao redor dos olhos também eram poderosos, escondiam bem o corte, e o colorido horrível, roxo amarelado no canto de seu olho direito. "Tudo bem que as pessoas pensam que eu vou para a balada as oito da manhã! Quem me dera...Tomar coragem e encher a cara até entrar em coma."

...Bêbado...Não, ela também não queria pensar nisso. Na madrugada infernal... Nos gritos, nos vasos, copos, no espelho espatifado, os vizinhos assustados... O apartamento destruído, e as marcas em seu rosto.

Uma semana e ainda estava lá...

Kaoru fechou os olhos, balançou a cabeça, espantando os pensamentos negativos. "Basta! Kaoru" Se ela estava realmente disposta a dar um ponto final nessa fase de sua vida, deveria parar de pensar nisso. Pra sempre. "CHEGA de sentir pena de si mesma!"

O momento decisivo de sua carreira havia chegado, pela primeira vez desde a formatura, comandaria uma reunião. Todo seu esforço e horas de estudo poderiam decidir a assinatura de uma conta importante para a empresa de propaganda e marketing que estava trabalhando. Um emprego que não poderia perder por nada. Ela estava agarrada com unhas e dentes a isso. "Eu ainda tenho meu emprego. Eu posso construir minha vida sozinha!"

Depois de todas as lágrimas derramadas na frente da tela notebook e em cima de seus papéis, Kaoru chegou a uma resolução, usar toda sua energia no trabalho, e criar uma apresentação perfeita. O tema era o mais apropriado, esportes, o melhor seu esporte preferido Kendo.

A revista Hiten salvou sua vida...

O diretor de arte e redação já havia chegado, na verdade ele era o dono da agencia, Senhor Himura... Podre de rico... Baixinho, mas sempre tão serio e concentrado, Kaoru tremia quando seu olhar cruzava com o dele. Era tão intenso... Kaoru tinha um pouco de medo dele, tinha que admitir.

Não que Himura fosse um grosso, um estupido, pelo contrario, ele era bem educado. Nunca fazia nada desrespeito, com ninguém, mas Kaoru tinha medo de fazer alguma coisa errada e perder o emprego.

A principio Kaoru pensou que o chefe nem se importava com sua existência, mas quando ele acabou passando um projeto grande para a novata recém-formada, causou um certo alvoroço e surpresa em todos.

E quando Kaoru cruzava seu olhar com o dele, tremia um pouco nas bases. O olhar do chefe era diferente de tudo, assim como seu cabelo peculiarmente ruivo para um asiático. E os olhos...intimidadores e viviam mudando de cor, às vezes violeta, as vezes âmbar quando ele fica muito concentrado ou irritado.

Sanosuke tinha bastante amizade com o Senhor Himura, e costumava dizer que fora do ambiente de trabalho, o ruivo era quase um tapado. "Ah para de me zoar Sano!" Ela dizia. Kaoru não acreditava muito em Sanosuke, mas ela não trabalhava tanto tempo assim na empresa pra julgar.

Bem, seja lá qual fosse a verdade sobre Himura, Kaoru estava se esforçando bastante.

Talvez fosse só um teste, porque ele estava passando esse projeto de um cliente bem conhecido, na verdade seu tio. Irmão da falecida mãe de Kenshin Himura.

Hiko Seijuro, presidente da revista de esportes Hiten, a mais vendida do país. Se o senhor Himura era intimidador, o senhor Seijuro era aterrorizante. Um homem alto e forte, com um ar de superioridade e uma certa arrogância ao seu redor. O tanto de dinheiro que ele tinha não veio de graça, foi a custas de muito trabalho, persistência e inteligência. Senhor Seijuro era admirável, e sua revista de esportes era a mais vendida de todo os país.

Bom, mas se ela queria fazer o seu melhor tinha que tomar coragem e sair do banheiro. Ela se olhou uma ultima vez no espelho, passou o batom rosa clarinho nos lábios. "Isso!"

Kaoru se vestiu um tanto quanto careta para quem trabalha em uma empresa de propaganda e marketing, mas ela não se importava. Hoje queria ser reconhecida como uma adulta, responsável e capaz.

Estava com uma saia azul marinho cuja barra passava uma pouco do joelho, um salto alto apropriado, que diga-se de passagem, custou mais do que os olhos de sua cara, e uma blusa de cetim com estampa colorida, para dar um ar leve e descontraído. O corte de cabelo chanel fazia com que ela parecesse mais velha do que realmente era. ...Sinto falta do meu cabelo... Mas não era hora de chorar pelo leite derramado, pela milésima vez.

Kaoru apertou as pastas com seu trabalho contra o peito e deixou finalmente o banheiro da empresa, marchando rumo à sala de reuniões. Através da enorme janela de vidro ela viu a cabeça ruiva de seu chefe, e as costas enormes de seu cliente, o poderoso senhor Hiko Seijuro.

A voz de Misao a fez sorrir.

"BOM DIAAA! Seu dia chegou finalmente. Tudo pronto?" A sempre elétrica secretaria Misao Machimachi sempre a recebia com um sorriso, sempre.

Mesmo quando Kaoru passava pelos dias mais sombrios, mesmo quando ela mesma não tinha a habilidade de sorrir de volta.

Kaoru disse uma única vez que não queria falar sobre seus problemas, e Misao respeitou, e nunca insistiu em saber o que estava acontecendo com sua amiga de olhar azul cobalto. O que deixou Kaoru realmente surpresa, Misao era conhecida por sua insistência. Mas ela respeitou o momento da sua amiga. E a amizade das duas só cresceu desde então.

"Tudo pronto! Me deseje sorte e que eu não gagueje e passe vergonha!" Kaoru fez um bico com a boca e soltou o ar. Como um jogador de futebol se concentrando antes de entrar em campo, e substituir o craque do time que se lesionou durante a partida.

"Nah, você não vai gaguejar! Senhor Himura passou essa tarefa para você por um motivo. Ele confia na sua competência, assim como eu!" Misao passou o braço ao redor da amiga.

"Oh Misao..." Kaoru estava emocionada. Ela tinha encontrado uma pessoa especial nessa moça. "Arigato! A noite a pizza é por minha conta! Ok?" Kaoru nem podia gastar dinheiro, mas uma conquista profissional pedia por algum tipo de comemoração. Uma pizza de vinte pratas, para dividir com Misao, Sano e talvez Megumi, ela conseguia manejar.

"OK! Cerveja por minha conta...! Ou melhor, não...Se você chamar o Sano pra beber cerveja, eu vou a falência!" Misao matutou alguma coisa e disse. "A sobremesa fica por minha conta. Sorvete, ok?"

"Ok, mas tem que ser na sua casa! Tudo bem?" Kaoru não dar detalhes, Misao não sabia que ela esta dormindo no hotel. "Mas você tem razão, se chamar o Sanosuke pra beber você quebra! hahahaha!"

Quando Sanosuke Sagara se agarrava a uma garrafa de cerveja ou sake, ficava difícil conseguir contornar. E o diretor de mídia da empresa e sua namorada, a médica Megumi Takani sempre acabavam com as brigas mais inusitadas e engraçadas...

Completamente diferentes das brigas que Kaoru tinha com seu namorado. Ex...namorado...

"Hei, pode se na minha casa, claro! Mas por quê? Tudo bem com você Kaoru? Você ainda não me convidou pra ir no seu apartamento novo. Estou curiosa!" Misao tinha a pulga atrás da orelha.

"Claro que está tudo bem. Só que eu ainda estou em transição...Falta muita coisa antes de convidar os amigos..." Kaoru não queria confessar que estava temporariamente sem casa. Há uma semana vivendo no hotelzinho vagabundo na periferia da cidade. Era o que sua poupança permitia, e o dinheiro estava quase no final, Kaoru teria que economizar pelo menos até o próximo pagamento, que graças a Deus já seria na próxima semana. Ela ficou tentada em pedir um adiantamento ao chefe, mas achou melhor aguentar em silêncio por mais alguns dias. Ela não queria causar mais problemas, mais do que já tinha causado com toda a vizinhança naquela noite. Aquele escarcéu entre ela e o Enishi, no meio da rua, no meio da madrugada...Vergonha!

Ela não queria envolver seus amigos no inferno que era sua vida.

"Sem problemas, hoje a noite na minha casa... Agora vai! Chega de papo! Para a reunião mocinha, porque Senhor Himura e senhor Seijuro já estão lá dentro. Ganbatte kudasai!!" Misao sorriu, e levantou o dedo polegar em sinal positivo.

Antes de entrar na sala de reuniões, Kaoru sentiu o celular vibrando em cima da pasta de apresentação. Ela olhou rapidamente para a tela. "Quem?" O celular vibrou insistentemente. Todas as pessoas que faziam parte de sua vida atualmente estavam ali, a alguns passos de distancia, mas podia ser uma propaganda da operadora de celular oferecendo mais um serviço ou vantagem, ou podia ser...ele, o famigerado.

...Ele já descobriu o numero novo?...

"Plim" Era o som de uma mensagem recebida.

Com as pontas dos dedos Kaoru percorreu a tela, lendo finalmente a mensagem. ... "...Sem casa. Sem carro. Sem cartão de credito. Sem dinheiro. Falta só esse seu empreguinho de merda, Kaoru. Esse é meu ultimo aviso, largue tudo isso agora e volte para casa por vontade própria. Se não fizer, vai voltar para casa obrigada, porque não vai lhe restar mais nada..."...

Kaoru sentiu o corpo estremecendo. Era ele. ... Enishi... Disposto a fazer da sua vida um inferno maior do que já era.

. ...O que ele está inventando agora?...Kisama...

"Querida! Você está bem?" Uma mão delicada tocou o ombro de Kaoru. Tomoe Yukushiro, sempre linda, elegante. Atenciosa, preocupada com todos...

Como duas pessoas criadas dentro da mesma família podem ser tão diferentes?

"Sim, sim...Daijoubu" Kaoru tocou o próprio rosto com mãos tremulas e dedos gelados. Ela piscou varias vezes espantando a lagrima que estava pronta para escorrer e borrar toda a maquiagem.

"Kaoru, gostaria de conversar com você...sobre aquele assunto. Almoçamos juntas, que tal?" A última coisa que queria era envolver Tomoe nisso. Enishi estava descontrolado e nem a irmã escaparia. A elegante mulher de longos cabelos e olhos castanhos escuros definitivamente era a única coisa boa que Kaoru guardaria de sua experiência infernal com os Yukushiros.

Kaoru não respondeu. Estava tensa com a reunião, abalada com a mensagem que acabara de receber. ...Ela quer falar sobre nosso rompimento. Enishi provavelmente armou o maior teatro para Tomoe...

Sem a resposta de Kaoru, Tomoe caminhou até o bebedouro. Encheu dois copos de água gelada. Voltou bebendo um, e ofereceu o outro para Kaoru.

"Não fique nervosa! Lembre-se que estou aqui se você precisar!" Tomoe havia indicado Kaoru para essa vaga na agência, apesar da contrariedade de Enishi, seu irmão e Kaoru namorado.

...Eu não posso permitir que ele controle a minha vida...Essa é a MINHA vida!...

"Tomoe, estou..." Kaoru chacoalhou a cabeça, espantando os pensamentos negativos. "Só um pouco nervosa...é a primeira vez, ne?"

Sua ex cunhada sorriu gentilmente. "Venha! Não se preocupe. Meu Deus, você está tensa como seu Himura ou Seijuro fossem te devorar. Nada vai acontecer, a não ser o fato de que eles perceberão a funcionaria talentosa que existe nessa empresa...Kaoru eu já disse que esse corte de cabelo ficou realmente divino? Você esta elegantíssima!" Tomoe colocou a mão nas costas de Kaoru e a dirigiu para a sala de reuniões.

Definitivamente a única coisa boa... Kaoru sorriu sem graça.

Tomoe nem imaginava que Enishi, em um ataque de fúria e ciúmes, havia picotado o longo cabelo da própria namorada...Depois de faze-la desmaiar ao bater sua cabeça na mesa de centro da sala. Kaoru faria uma homenagem a MAC qualquer dia desses, pela fabricação das excelentes maquiagens...

"Obrigada Tomoe...obrigada!"

"Plim..." O maldito celular novamente..."Último aviso! Volte pra casa! Nunca se esqueça Kaoru, eu tenho acesso a tudo!"

Kaoru balançou a cabeça ...Enishi não vai ganhar. Enishi não vai me intimidar. Não agora!... Com resolução no olhar, ela desligou o aparelho e entrou finalmente na sala de reuniões.

"Ahh, minha garota chegou!" E lá estava ele, Sanosuke Sagara, um amigo extraordinário. Desde o primeiro dia de Kaoru na empresa, há seis meses, esse homem diretor de mídia da empresa a acolheu. Ele e sua namorada a médica Megumi Takani, que não era tão amorosa assim, diga-se de passagem, mas também era uma pessoa fenomenal.

"Ah Sanosuke, sempre galanteador...Não, você não está livre, ainda me deve 10 pratas!" Ela sorriu para o amigo.

Infelizmente, Kaoru foi obrigada a manter distancia de Sanosuke para evitar conflitos e crises de ciúmes. Porém, desde que confessou para Sano, há uma semana , que estava deixando Enishi, ele estava se comportando com um irmão bobão e super protetor.

Sanosuke nem sabia sobre as brigas e agressões. Coisas pesadas que Kaoru escondia, para protegê-lo.

"Hei Jou-chan. Eu te levo pra almoçar, conheço um lugar que serve um hot dog com uma salsicha gigante, você nunca mais vai esquecer. E ficamos quites!" Ele piscou para Kaoru de um jeito maroto, sua risada recheada de duplo sentido.

"Sanosuke! Seu safado! Mou!" Kaoru fez cara feia e não precisou dizer mais nada, seu amigo entendeu o recado.

"Sagara, menos..." E essa foi a voz de Himura, o chefe e seu olhar âmbar penetrante....Esse homem tem olhos de gato...

"Tá parei! Parei!" Sanosuke disse rindo. "Ânimo Jou-chan!"

"Que terrível! Sua namorada vai gostar de saber disso Sagara!" Tomoe sorriu timidamente, como era de seu perfil. Percebeu que Sanosuke estava tentando fazer. Quebrando a tensão visível que pairava sobre os ombros de Kaoru naquela manhã. Tomoe sabia que sua jovem cunhada teve uma semana terrível após o rompimento com Enishi. Kaoru não entrava em detalhes, não dizia nem onde ficava o apartamento que tinha alugado. E Enishi estava um poço de mau humor, intragável, não dava pra ter uma conversa decente com ele.

"OH" Kaoru então percebeu que nem havia cumprimentado os chefes. Que tragédia.

"Sumimasen... Ohayo, senhor Himura, senhor Seijuro, senhor Sagara!" Kaoru se curvou respeitosamente e o gesto demorou mais do que o habitual.

"Ohayo Ka...Kamiya-san!" Himura que bebia água e quase engasgou.

Sanosuke teve que segurar o riso. Ele sabia que o amigo estava de olho na moça desde que ela colocou os pés na agencia. Mas o ruivo, surpreendentemente, não tinha o menor jeito para se aproximar dela. E toda vez que tentava, passava a impressão de que estava bravo ou não tinha esse problema com as outras moças, na verdade ele era bem galanteador, mas com Kaoru o ruivo travava. E isso fazia com que Sanosuke gargalhasse escondido toda vez que percebia Kenshin e Kaoru cruzando o olhar.

Quando a noticia de que Kaoru havia se separado do irmão de Tomoe começou a pipocar na agencia, Kenshin tratou de dar um basta no casinho que estava tendo com Shura, uma bióloga marinha que vivia nos sete mares, mas que tinha atracado no porto de Tóquio só para tentar fisgar o coração de Kenshin Himura.

Sanosuke sabia que não existia nenhuma coincidência na solteirice de Kenshin. Ele esperava por uma pessoa especial...

"Kamiya-san, escutei muito sobre a senhorita nos últimos dias...Ao que tudo indica, temos um talento nato aqui, pronto para desabrochar" Seijuro Hiko olhou para Kaoru, depois para seu sobrinho Kenshin Himura. "... E ao que tudo indica a senhorita tem fãs na empresa..."

Senhor Himura ficou com as bochechas avermelhadas?Ou foi impressão de Kaoru. ...Que viagem...

"Gulp!"Kenshin engasgou a água que bebia. "Cof...Cof!" Sanosuke bateu nas costas do amigo, socorrendo-o.

"Senhor Seijuro...Arigato" Kaoru abaixou a cabeça sem saber exatamente o que dizer. Quanto mais as pessoas falavam que ela era um talento, mas Kaoru ficava desorientada.

...Será que ele é baka como o Sano diz que ele é?...

"Concordo plenamente!" Foi a vez de Tomoe, a chefe de produção. "Com tudo!" Ela se sentou ao lado de Himura, abrindo suas pastas cheias de gráficos e tabelas.

"Baka deshi , comece logo com isso ou perco meu voo para a Alemanha!" Hiko tinha tantos compromissos naquele dia, já estava era querendo um belo copo de saquê para desestressar. As oito horas da manhã. Não que ele fosse alcoólatra nem nada...

Um pouco constrangida com o tom áspero de Hiko, Kaoru caminhou até a ponta da mesa, atrás dela um telão. Ela respirou fundo ajeitando a sequencia de seus papeis sobre a mesa, as ideias fresquinhas dentro da cabeça. Na outra ponta da mesa de reuniões estavam os chefes. Tomoe Yukushiro, Seijuro Hiko, Kenshin Himura e Sanosuke Sagara.

Sano mexia no laptop que comandaria o telão atrás de Kaoru.

"Ok. Eu preparei uma apresentação em vídeo. Já enviei para o seu email. Por favor Senhor Sagara, pode abrir o arquivo?"

"Claro!" Sanosuke sorriu, ele estava contente por sua amiga, recém saída da faculdade realizando um dos seus sonhos.

Kaoru começou passou a dizer suas ideias para o marketing da empresa Hiten.

"Minha proposta para a nova campanha de propaganda da revista Hiten, alia o conceito manual com o virtual e a interação entre os leitores. Como todos sabemos a internet é uma ferramenta poderosa na propagação de vídeos e propagandas... mas o clássico, o papel ainda tem o seu valor. Assim como o kenjutsu e kendo, que mesmo depois de tantos séculos despertam a curio...sida...de..."

Kaoru começou empolgada

"O que?"

Mas se calou imediatamente...

O que estava passando no telão atrás dela...

Era chocante...

Não era sua apresentação...

E ela conhecia aquele lugar...

Era o quarto onde dormiu nos últimos dois anos...

Era...

...Eu vou destruir tudo. Até que você não tenha mais nada. NADA! E perceba que o seu lugar é do meu lado, dentro dessa casa...

...Destruir tudo que você mais gosta...

"Aahh..." Kaoru colocou a mão na frente da boca, tapando o grito que ia sair. "Não" A cabeça balançava de um lado para outro, negando que aquilo estava acontecendo... No seu grande dia... Na frente dos seus chefes!

O que se viu na enorme tela, não tinha a ver com apresentação de propaganda e marketing, ou tinha dependia do ponto de vista.

Na tela um quarto bem confortável, era uma suíte grande. Uma cama de casal, cheia de almofadas. A luz do teto apagada, mas os abajures que ficavam sobre os criados mudos, estavam acesos criando uma iluminação um tanto quanto lúdica. A porta do banheiro estava aberta, podia-se ver velas acesas lá dentro, refletindo na agua da banheira. Uma musica suave com uma batida sensual tocava ao fundo. A câmera parou de focalizar o ambiente, e percorreu a cama, uma mão masculina jogou todas as almofadas para longe, enquanto uma pessoa nua se deitava, o cabelo negro e comprido escondendo o rosto e os seios arredondados.

O corpo da mulher era simplesmente perfeito.

O foco da câmera se perdeu no meio dos lençóis, mas escutou-se o som de beijos apaixonados.

"Kimochii?" A voz masculina perguntou, ofegante. A câmera voltou a focalizar a pele, branca e macia da mulher.

"Hmmm" Foi a resposta.

A mulher que estava deitada de barriga para cima, se virou, e pode-se ver as costas nuas. Agora ela estava ajoelhada sobre a cama, de quatro. A câmera focalizou a mão masculina percorrendo a coluna vertebral dela, apertando possessivamente e arranhando a pele.

A mulher jogou sensualmente a cabeça para trás, e o longo cabelo negro cobriu da mulher, chegou quase nas nadegás, cobrindo a mão do homem. A câmera não focalizou o ato, nenhuma parte intima, mas pelo movimento era óbvio que o homem a havia penetrado naquele momento. A mulher gemeu e desceu a testa até tocar a cama, afundando o rosto no edredon. Os movimentos dos dois, de vai e vem ficaram realmente intensos, frenéticos assim como os gemidos.

"Kimochi, kimochi!" Ela repetia. "Mais rápido! Ahhh"

O homem segurava a câmera enquanto seu corpo se chocava contra o da mulher, então não se via exatamente a união dos dois. Nem mesmo as partes intimas. Só as costas dela, os músculos tencionando e relaxando, e os movimentos dos corpos, vai e vem.

Um som de tapa foi ouvido, e a câmera passou pelo corpo da mulher. A cintura torneada como um violão, até chegar nas nádegas. Ela era pequena, mas bem voluptuosa. A palma da mão do homem estava impressa na pele clara da mulher.

Outro tapa foi ouvido, agora a câmera visualizou a outra nádega, igualmente avermelhada pelo tapa.

A mulher apertou fortemente o lençol, enquanto o vai e vem chegava no ápice. O som dos corpos se batendo e o homem gemendo, e agarrando o corpo da mulher. A mulher gritou alto. "AHHH" E ela se contorcer com o orgasmo, caindo vencida em cima da cama.

"Você é minha Kaoru. Minha!" Após seu próprio orgasmo, a voz masculina disse cheia de orgulho pela sua perfomance, a mulher estava em extasie A câmera agora percorria o corpo nu da mulher. Deitada de lado na cama, ela era uma visão bem sensual. Ofegando, ainda sentindo espasmos no baixo ventre, respirando como se tivesse corrido uma maratona. Pode-se ver os pés, as pernas, as coxas, a diferença entre o largo quadril e a cintura acentuada. Os seios, que mesmo escondidos debaixo dos braços dela, não pareciam tão pequenos assim, e finalmente o rosto Kaoru Kamiya. Seu sorriso aberto e caloroso, os olhos azuis, a testa suada e o longo cabelo negro espalhado ao redor dela. "Você é minha Kaoru!" Ele repetiu mais uma vez.

"Hei...Vamos de novo?" Kaoru sorriu de um jeito maroto para a câmera.

"Quantas vezes você quiser" Enishi disse satisfeito.

O vídeo acabou.

A tela da sala de reuniões ficou escura novamente.

Os ocupantes da sala se entreolharam.

Kaoru tremia. Perplexa. Ela estava hiperventilando. Ela ia desmaiar porque o oxigênio não estava chegando suficiente ao cérebro.

Seu olhar passou por todos. Sanosuke não sabia como reagir, ele puxava os fios do telão tentando desligar o aparelho. Tomoe absurdamente vermelha, com a mão tapando a boca. Hiko tinha um sorriso estranho, como se estivesse se perguntando "que porra é essa?". E Kenshin, os olhos de seu chefe escondidos atrás das franjas ruivas.

...O que você fez? O que você fez Enishi?...

...Eu quero morrer...Eu...

...Você conseguiu acabar comigo...

Kaoru já não segurava mais as lágrimas, conseguiu mover seus pés com dificuldade. Eles pesavam chumbo.

Um falatório foi ouvido fora da sala de reuniões. O escritório inteiro estava em polvorosa. Aparentemente, um vírus invadiu todos os computadores da empresa. Todos os computadores estavam passando o mesmo vídeo na tela.

Todos!

...A minha vida...ele destruiu...

"É a Kaoru, do setor de criação. É a Kaoru!" "Nossa!" "Vejam só, a Kaoru!" "Caramba, que gostosa!" "Tão quietinha e cheia de fogo, sempre assim!" "Oh que vadia! E fica fazendo cara de santa!""Será que ela topa sexo a três?" O nome dela ecoava pela empresa toda! Palavras e comentários que ela nunca pensou que seus colegas de trabalho usariam para falar sobre ela.

Kaoru começou a caminhar, mas tremia. Ela abaixou a cabeça, querendo se esconder, mas nem o cabelo comprido Enishi permitiu que ela tivesse.

Humilhação;

Vergonha;

Sua dignidade destruída, finalmente.

Como Enishi sempre quis.

Kaoru saiu da sala de reuniões, passou pelas mesas e colegas de escritório em disparada. O vírus tinha feito com que todos os computadores da empresa travassem na frase "Você é minha Kaoru! "Você é minha Kaoru!" "Você é minha Kaoru!" "Você é minha Kaoru!" "Você é minha Kaoru!"

A jovem parou na frente de sua mesa. Jogou o monitor longe destruindo a tela, depois agarrou sua bolsa, que cismou em prender no encosto da cadeira. Ela precisava pelo menos da carteira com documentos e dinheiro, por isso continuou forçando a alça da bolsa até soltar do encosto.

Kaoru não escutou ninguém. Nada além da própria pulsação em seu ouvido.

Ignorando o elevador, a voz de Tomoe, de Misao, de Sanosuke, ela voou na direção da escada de emergências, pulando vários degraus de uma vez só. Ela não tinha certeza de onde ir, nem do que fazer, mas precisa sair dali.

Ou se jogaria pela janela do sétimo andar.

"PARE COM ISSO AGORA! CORTEM A ENERGIA DO PREDIO SE NECESSARIO!" Kaoru já estava na escada de incêndio, não escutou os gritos ferozes de Kenshin Himura. Ele estava possuído.

"JOU CHAN!" Ela não escutou nem o murro que Sanosuke Sagara deu no laptop, destruindo o equipamento que deu inicio ao vírus.

Nem a voz extremamente preocupada de Tomoe Yukushiro chamando seu nome aos prantos. "Kaoru, Kaoru...Meu irmão, o que você fez dessa vez?...Oh meu Deus! KAORUUU"

"Wow, foi a apresentação mais interessante dos últimos anos!" Totalmente alheio ao drama que se desenhava ao seu redor. Hiko Seijuro sorriu por alguns segundos, mas ficou sério. "Tsc...Pobre moça..." Seria o assunto da empresa, eternamente.

Hiko olhou para Kenshin que emanava uma energia estranha. Se houvesse uma expressão para definir o que seu sobrinho emitia com olhos esquisitos seria. "Esse tal Enishi tá morto!"

Continua, eu acho...

^_^x

Baka- Idiota;

Baka deshi- Discípulo Idiota;

Dojo- Sala de treinamento de artes marcias;

Ganbatte kudasai- expressão de conforto e incentivo, do tipo "se esforce" "dê o seu melhor";

Jou-chan- Senhorita "a la Sanosuke;"

Kendo-arte marcial moderna desenvolvida a partir de tecnicas de espada, geralmente com espadas de madeira ou bambu, shinais ou bokens;

Kenjutsu- Técnica da Espada, é a arte marcial japonesa clássica, geralmente com espadas com lámina, katanas;

Kimochi- sensação boa, gostoso;

Kisama-Desgraçado. Forma de dizer "você" rudemente;

Ohayo- Bom dia;

Onegai-Por favor;

Sumimasen- Desculpe-me;