Koi no Yokan escrita por Angélica Chibis


Capítulo 3
"Koi no Yokan" Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer: Rurouni Kenshin não me pertence.



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"Koi no Yokan"

Parte 3

Por Chibis

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Prego que se destaca leva martelada.

Kenshin escutou essa expressão uma vez e marcou para a vida toda. O ruivo nunca foi capaz de esquecer o momento exato que seu tio, Hiko disse isso. Aos nove anos de idade, para explicar o motivo pelo qual era rejeitado.

Ele não era um prego, mas levou muitas marteladas. Mesmo em um país de primeiro mundo e moderno como o Japão, o preconceito conseguia ser bem forte, bem intenso. Ser diferente sempre foi motivo de chacota.

E a linha do que é suportável é bem tênue..

Estudar na melhor escola do país não foi sinônimo de tranquilidade. O cabelo ruivo rendeu muitos apelidos, de Tocha Humana, passando por Pica Pau e Água de salsicha e coisas piores.

As provocações não paravam por aí. O garotinho tímido de oito anos tinha acabado de perder os pais, pai e mãe de uma vez só, e era infernizado na escola, literalmente. A violência era tanto física quanto psicológica.

"Tocha Humana" sempre foi o menor aluno da sala. Quieto e mirradinho, usava óculos por causa da miopia, e aparelho para corrigir a dentição, uma combinação que só podia acabar em piada. Quando ele caminhava pelo corredor da escola escutava os risos e gargalhadas.

Algumas crianças são as criaturas mais cruéis.

Baratas no seu armário, cola na sua cadeira, caricaturas desenhadas no quadro escolar, intrigas envolvendo seu nome.

A implicância dos outros alunos ficou tão forte a ponto de Kenshin se envolver em brigas seguidas de brigas. Volta e meia ele voltava para casa com o olho roxo. Perdeu as contas de quantos pares de óculos foram quebrados. Hiko estava sempre ocupado, ele não queria perturbar seu tio com esse tipo de problema.

Os ataques de pânico começaram aos nove anos, depois de uma brincadeira na aula de natação. Os outros alunos começaram a brincar de "roxinho" . Sufocar alguém até que essa pessoa fique literalmente roxa. E obviamente o contraste entre o cabelo vermelho de Kenshin e a cara roxa sufocada parecia algo interessante de se obter.

A brincadeira foi longe demais. Kenshin ficou quase cinco minutos fora do ar. Ele não lembra do professor correndo, da massagem cardíaca, da respiração boca a boca, da pneumonia, dos dias e noites no hospital, nada. Só alguns clipes que vinham nos seus olhos cada vez que ele os fechava. Alguém segurando sua cabeça ruiva debaixo dágua enquanto ele se debatia e perdia a consciência.

Kenshin ficou com trauma incorrigível. Ele simplesmente não conseguia deixar que ninguém chegasse muito perto do seu pescoço. Medo do sufocamento, a psiquiatra explicou.

Obviamente Hiko o tirou da escola. Depois de um processo que envolveu diretor, professor e até os pais dos outros alunos, a escola foi fechada e a conta bancaria do pequeno ruivo ficou mais gorda do que já era. Realmente gorda.

Mas dinheiro não importava, o dano já estava feito dentro do pequeno órfão. Foram necessários anos e anos de terapia para tirar Kenshin de dentro daquela concha que ele havia se enfiado.

Aos quatorzes anos, no inicio do despertar sexual, e após as aulas didáticas sobre o sexo e suas consequências, Kenshin começou a dizer que nunca seria pai. Nunca teria um filho. Nunca passaria essa maldição ruiva que tinha herdado do pai, descendente de irlandeses, para frente.

O adolescente criou uma casca dura ao seu redor que começou a se quebrar aos dezesseis anos. Ele operou a miopia e se livrou dos óculos, e finalmente do aparelho dental, seus dentes agora estavam perfeitos e alinhados, uma piada a menos. Com a auto estima crescendo, ele pediu finalmente para que Hiko o deixasse ingressar no clube de kendo.

Finalmente Kenshin havia encontrado alguma coisa que o fazia esquecer de todas as coisas ruins. A morte e ausência dos pais, o bullying, a experiência de quase morte.

Quando treinava se sentia livre, dentro do dojo de kendo se sentia verdadeiro. A imaginação voava, ele era como um samurai, usando sua espada para salvar os fracos e ajudar os oprimidos.

Fora do dojo continuava a ser um adolescente rebelde, questionador, um tanto quando depressivo e sombrio. Só melhorou um pouco quando, aos dezessete, conheceu os primeiros amigos verdadeiros.

E Tomoe Yukushiro foi peça fundamental. A primeira namorada, Tomoe conseguiu tirar Kenshin dessa capsula anti social em que ele tinha se enfiado. O relacionamento amoroso não durou muito, apenas alguns meses, já que Tomoe era apaixonada por Akira Kyosato, mas a amizade entre Kenshin e Tomoe ficou pra sempre. A ponto dos dois trabalharem juntos na empresa, e Kenshin ser convidado para ser padrinho no casamento de Tomoe e Akira.

Depois veio Aoshi Shinomori, Sanosuke Sagara, Shogo Amakusa. A faculdade foi bem diferente do colégio, Kenshin se tornou popular por causa dos torneios de kendo. Ele aprendeu a beber, a paquerar as garotas, deixou o cabelo que antes lhe trouxe tantos problemas crescer. Kenshin começou a se orgulhar das madeixas vermelhas herdadas de seu pai.

Recém chegado na casa dos trinta, o balzaquiano estava com a vida tranquila, dinheiro na conta, carros importados e de luxo, um apartamento valiosíssimo recheado de obras de arte, uma empresa que estava indo de vento em popa, mas faltava uma coisa importante.

E Kenshin a encontrou finalmente.

Ele reconheceu, seis meses atrás, quando seus olhos multi coloridos bateram nos olhos azuis índigos da morena, que entrava timidamente na sala para a entrevista de emprego...

A mulher da sua vida...

Kaoru Kamiya...

Se ao menos ela soubesse disso...

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Kenshin parou o carro desleixadamente no meio da rua, tirou as duas mãos do volante, levantando-as, mostrando para Kaoru que não tentaria nenhum movimento brusco. "Antes de qualquer coisa tira essa espada do meu pescoço... " A voz firme e resoluta. ...Justo no pescoço?... Pelo espelho, o ruivo olhou feio para Kaoru, ele tinha certeza de que seus olhos estavam dourados como ouro.

Tum tum...tum tum...

Kenshin respirou fundo e contou até dez, acalmando os nervos e o próprio coração.

"OH!" Chocada consigo mesma, Kaoru abriu e fechou a boca várias vezes, como um peixe fora d água. Sem conseguir coordenar a fala, ela fechou os olhos com força, balançando a cabeça de um lado a outro.

...O que você estava pensando? ...

...Como pôde cair tão fundo a ponto de ameaçar outra pessoa?...

... Um inocente?...

Rapidamente Kaoru colocou a espada pesada de volta à bainha, quando Kenshin percebeu que era seguro, arrancou a katana das mãos da morena, um jeito um tanto quanto brusco. E depositou finalmente a arma sobre o do banco da frente do carro.

Kaoru largou seu corpo sobre o banco traseiro da espaçosa Mercedez Benz, deitando-se antes de abraçar os próprios joelhos com os braços e começar a chorar. Kenshin virou o corpo para enxergar a moça, ela estava aos prantos. O ruivo se deu conta de que havia freado o carro no meio da rua sem cuidado algum, e manobrou o veiculo para estaciona-lo de forma adequada.

Sem dizer uma só palavra, Kenshin desceu do carro, abriu a porta traseira e se sentou no banco de couro, ao lado de Kaoru. Ela agora hiperventilava em um mini ataque de pânico. O ruivo percebeu que a moça estava tendo dificuldade de respirar estava gelada, pálida e trêmula. Ela simplesmente não conseguia parar de chacoalhar.

"Senhorita Kaoru, olha pra mim!"

Ela nem se mexeu, continuou a chorar, agarrando-se em si mesma.

"Kaoru!"

O ruivo levantou o rosto da morena e o segurou com as duas mãos. Kaoru simplesmente não conseguia respirar normalmente. Ela abria a boca como se estivesse sendo asfixiada.

Kenshin conhecia bem a sensação.

"Olha pra mim" Ele comandou novamente. A voz baixa, porém carregada de autoridade. "Olha pra mim!"

Com dificuldade, Kaoru fixou seus olhos azuis índigos na íris colorida de seu chefe. Violeta rajada com âmbar. "Escuta só a minha voz..."

As lágrimas escorriam do rosto de Kaoru, molhando os dedos de Kenshin.

"Calma..." O dedão de Kenshin fazia movimentos circulares nas bochechas de Kaoru.

Completamente absorvida, sem conseguir desviar do hipnótico olhar de Kenshin, Kaoru engoliu a saliva e começou respirar um pouco mais devagar.

"Relaxa o corpo." Kenshin percebeu a tensão diminuindo dos ombros dela, estava funcionando.

"Agora feche a boca e respire fundo pelo nariz. Desacelere. Enche o pulmão de ar e vai soltando aos poucos... Use o diafragma. Eu sei como pode ser assustador, todas as emoções explodindo de uma vez só, mas vai passar! Você está segura aqui... Respira devagar ..." A morena permitiu que Kenshin a guiasse para fora do ataque de pânico. Ela obedeceu todos os comandos e foi relaxando. Sentiu-se exausta e vencida, mas conseguiu controlar a respiração e o choro.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Kaoru não sabia o que falar, sua garganta estava tão seca que ela mal conseguia engolir.

"Kaoru..." Kenshin sempre usava o "senhorita" para se referir a ela, mas dessa vez não. O que aconteceu foi muito serio, mesmo que Kaoru não conhecesse sua historia, não poderia se repetir.

"..."

"Nunca mais faça isso. Você me assustou, eu poderia ter te machucado!" O nervoso tinha passado, eKenshin agora respirava aliviado por ter conseguido ajudar. Ataques de pânico e ansiedade não eram novidades na sua vida.

"..."

Kaoru sentiu um arrepio e tremeu. Frio, muito frio. Kenshin percebeu, tirou um casaco que levava sempre no carro e colocou ao redor dela. "É normal, por causa do choque! Logo vai passar!"

Mortificada de tanta vergonha, Kaoru não sabia onde enfiar a cara. Que por sinal estava medonha, toda a maquiagem tinha derretido. Ela mais parecia o coringa do último filme do Batman. Kaoru esfregou as mãos nas pernas, porque ainda estava sentindo a sensação incomoda de formigamento.

Em algum ponto, Kaoru tinha que falar alguma coisa, ela precisava se desculpar, se explicar. Mais alguns segundos de silencio até que finalmente ela reencontrou sua voz.

"Senhor Kenshin, não sei nem como me explicar... Não sei de onde saiu essa a brilhante ideia de colocar a espada no seu pescoço! Foi um impulso! Por favor, me perdoe!"

Kenshin sorriu levemente, balançando o rosto positivamente.

A verdade é ambos poderiam ter se machucado nessa. Kenshin não gostava de se sentir ameaçado, às vezes o instinto de defesa e sobrevivência chutava com força e ele era tomado por uma força maior. Uma energia forte e intensa como uma tempestade.

A sorte é que rapidamente o ruivo teve a habilidade de perceber, os olhos azuis conhecidos através do retrovisor. Ele se ligou de que a "tocaia" não passava de uma moça desesperada.

"Meu Deus, que vergonha! Quando esse dia infernal vai acabar?" Kaoru enfiou a cabeça no meio dos próprios joelhos, escondendo seu rosto transtornado.

Kenshin colocou a mão nas costas dela, esfregando carinhosamente. "Você disse que precisava ir para a estação de trem? A senhorita não tem condições de viajar. Acho melhor ir para o seu apartamento. Tomar uma chuveirada, comer alguma coisa, descansar, e depois decidir se quer mesmo sair de Tóquio por uns dias ou não... Eu te levo pra casa."

Kaoru começou a rir. "Que apartamento senhor Himura? É só mais uma mentira que eu contei para os meus amigos..." Kaoru passou as duas mãos no rosto, enxugando as lágrimas e borrando ainda mais a maquiagem.

"Como assim? Onde você está morando?" Kenshin não entendeu nada. Misao disse que Kaoru havia alugado um apartamento após o rompimento com o ex namorado, chegou a cogitar um aumento de salario a partir do próximo mês para ajuda-la com as despesas. Como assim?

"Em um hotel. Olha, eu já te perturbei demais senhor Himura... Peço perdão por todos os inconvenientes..." Kaoru fechou os olhos com força, as palavras de Enishi vieram na sua mente.

...

Eu vou te achar, mesmo que você mude de país. Mesmo que você mude de nome. Você vai voltar para minha casa, pra nossa casa ! E nem pense em pedir ajuda para esses seus amigos...Eu sei o nome de todos eles... Cada um deles... Eu sei onde eles moram. Eu sei de suas rotinas... Sanosuke Sagara! Megumi Takani! Misao Machimachi...Eu sei com quem você sai. E eu sei aonde você vai... E eu sei como me livrar deles...E nem pense na Tomoe...

...

...Eu não posso envolver mais uma pessoa nisso...

"Perdão pelo que aconteceu na reunião de hoje cedo... E o que eu acabei de fazer com o senhor... Obrigada pelo voto de confiança que depositou em mim desde o primeiro dia de trabalho... Eu sinto muito tê-lo decepcionado senhor Kenshin!" Kaoru abaixou a cabeça, rapidamente abriu a porta do carro e pulou fora. "Sayonara!" Ela fechou a porta com mais força do que o necessário e começou a se afastar rapidamente.

"HEI! HEI!" Kenshin demorou alguns segundos para reagir, Kaoru falou tudo e agiu tão rápido, que ele nem computou.

...Droga, mais essa?...

O sol já estava se pondo, Kaoru se deu conta de que a "soneca" dentro do carro do chefe tinha sido uma coisa de horas. Ela precisava tomar um rumo mais rápido do que imaginava, e sem envolver ninguém nisso.

O problema é que agora Kaoru nem sabia bem onde estava. Era um bairro residencial, cheio de ladeiras e casas de luxo. Teria que andar, e muito para chegar à estação. Como ela desejou poder trocar os sapatos caríssimo por um confortável par de tênis.

...O dinheiro que eu tenho na bolsa dá pra pegar o trem até Osaka, eu acho...Eu vou procurar um emprego...Alugar um quarto, e logo eu começo a me virar...

"Onde você pensa que vai?! KAORU!"

Kaoru ignorou os gritos de Kenshin. Ela descia a rua rapidamente, que era uma ladeira, sem olhar para trás. Seus saltos altos faziam toc toc toc a cada passo apressado que batia no asfalto.

Kenshin a seguia no mesmo passo apressado.

"Senhorita Kaoru! Espera!" O ruivo era bem veloz. Ele a alcançou em questão de segundos. "Logo vai anoitecer, onde você pensa que vai andando nesse estado?" Kenshin segurou levemente o braço dela, impedindo que a morena continuasse.

"Eu não posso envolver ninguém Himura-san. Para o seu próprio bem, mantenha distancia! Kaoru Kamiya é sinônimo de problema!" Kaoru se encolheu um pouco. Ela olhou para a mão de Kenshin segurando seu braço, o ruivo a soltou imediatamente.

"Senhorita Kaoru, entre no carro, por favor. Eu vou te ajudar!" Kenshin deu um passo pra trás, tirando a chave do carro do bolso e segurando em suas mãos. Era melhor distrair as mãos com alguma coisa antes de tocá-la novamente.

"Por que você faria isso? Você nem me conhece!" Kaoru começou a pensar nas suas opções. Talvez devesse aceitar a ajuda, só por uma noite.

Kenshin riu. "Você é bem difícil hein... Como pode dizer que eu nem te conheço? Trabalhamos juntos, no mesmo lugar, uma sala do lado da outra há mais de seis meses!"

Kaoru rolou os olhos. Ela olhou para os lados tentando reconhecer as redondezas, estava completamente perdida. "Senhor Himura, se o senhor trocou mais de três palavras comigo nesse tempo todo foi muito..."

"Porque você está sempre com essa cara fechada!" Kenshin falou como se fosse a coisa mais óbvia. Kaoru parecia querer manter a distancia do chefe, apesar de ser próxima de Sanosuke.

A morena finalmente olhou para o ruivo. "Que?"

"Eu?" Kaoru estava completamente surpresa. Ok, sua vida nos últimos meses estava um inferno, mas ela não olhava para as pessoas com cara fechada! Ou olhava?

Kenshin encolheu os ombros. "Sim, eu tenho até medo que você jogue alguma coisa na minha cabeça. Viu? Cara fechada!"

"É você quem me olha com cara feia!" Kaoru apontou o dedo indicador no peito dele. Depois imitou a cara que ele fazia de vez em quando. Com os olhos apertados e postura de mal.

"Oro?"

"Oro? Que diabos é isso? ORO?" A morena riu.

"Senhorita Kaoru, nesse bairro aqui não passa nem ônibus. Você está a quilômetros da estação de trem. Vem comigo, eu vou te ajudar, nem que seja só por essa noite!" Kenshin ofereceu sua mão para Kaoru, que ficou olhando para palma estendida antes de finalmente aceitar. "ANDA MULHER! DEIXA DE SER TEIMOSA!"

Vencida finalmente Kaoru balançou a cabeça e sorriu. Ele era terrível. Como Kaoru nunca percebeu isso antes? Os dois começaram a caminhar na direção do carro, a bela e luxuosa Mercedez Benz preta C63 Coupé. Dessa vez Kaoru se sentou no banco do passageiro, na frente ao lado de Kenshin Himura. "Me conte sua historia..." Kenshin deu partida no carro e dirigiu para casa. "Pode contar tudo, dona Kamiya"

"Meu pai faleceu de câncer quando eu tinha dezoito anos, foi uma luta muito intensa. Eu entrei para a faculdade, estudando muito. Uma noite de inverno conheci Enishi e depois de um tempo começamos a namorar. Para diminuir as despesas aceitei morar com ele... Tudo ia bem, até que comecei a notar um comportamento possessivo, ciumento, agressivo...Seis meses atrás, Tomoe revelou que ia se casar, Enishi começou a ficar pior... Eu já não me sentia a vontade nesse relacionamento. Uma semana atrás nós brigamos. Eu propus o fim, sai de casa...E...ele não aceitou, não aceita. E mesmo que diga que seu laptop foi roubado, como disse, eu não acredito...Ele armou a exibição do vídeo de hoje, e está disposto a me infernizar... Eu não quero envolver meus amigos nisso..." Ela começou a contar o básico do que estava acontecendo na sua vida. Um resumo do resumo, deixando de fora os detalhes sórdidos, o espancamento, o corte do cabelo, as ameaças de morte, as ameaças das armações contra Misao, Sano e Megumi.

A cada palavra que ouvia, Kenshin inconformado apertava o couro do volante. E ele nem conhecia a raiz do problema. "Não se preocupe senhorita Kaoru, quando eu disse que te ajudaria não estava mentindo. Fique tranquila!"

"Olha, senhor Himura..." Kaoru foi não deixou ser interrompida ."Eu vou aceitar sua ajuda essa noite. Não posso voltar pro hotel, porque corro o risco de ser recebida pela Enishi lá! Mas eu preciso tomar um banho, comer alguma coisa...Pela manhã eu pego um trem...e Finito! Vai ser melhor pra todo mundo, eu te garanto..."

"Você não vai mais precisar lidar com o Enishi. Tomoe é minha amiga, eu sei que ela ama muito o irmão, mas não é de hoje que ele apronta. Tá na hora do Enishi começar a responder pelas coisas que faz..."Kenshin já estava farto do Enishi. Sempre ele...

"Eu não quero envolver Tomoe nisso... Nem ela, nem meus amigos. Eu pego o trem e fico um tempo longe..."

"Nem pense! Depois de tudo que você me contou, sem chance de te largar em um estação de trem qualquer..." Os dois trocaram um olhar, enquanto Kenshin dirigia por uma das ruas mais famosas de Tóquio.

"Como você é teimoso! BAKA!" Frustrada, Kaoru bateu as duas mãos nas coxas.

"Você é a pessoa mais teimosa que eu já conheci na vida!" Kenshin sorriu, e o sorriso foi aumentando cada vez mais com a expressão vencida que ela tinha no rosto. Até virar uma gargalhada "Me desculpe dizer, mas a senhorita está simplesmente horrível! Com a cara toda borrada, o cabelo em pé."

...Argh... O Sanosuke tinha razão esse tempo todo. Esse Kenshin Himura é um BAKA!...

Kaoru fez uma careta, balançou a cabeça apertando os lábios em um bico.

...Esse ruivo!...

Pelo menos ela não estava tendo sensação nenhuma do tal "Koi no Kyon" dos infernos.

Não, Kenshin e Kaoru, nunca! Sem chance!

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O apartamento de Enishi era grande e luxuoso para um simples investigador de polícia, mas Kaoru nunca questionou isso porque a família dele era muito rica. Mas o apartamento de Enishi era um chalé comparado com o de Kenshin Himura...

...WOW... Era imenso, um duplex na cobertura de um dos prédios mais altos e caros de Omotesando, Tóquio. O prédio era tão alto que da janela Kaoru pôde avistar, em um giro de 360 graus o rio Sumida e a famosa torre de Tóquio.

Lá embaixo uma avenida maravilhosa cheia de árvores, e prédios de belíssima arquitetura. Ao longo da avenida famosa ficavam as lojas exorbitantes Gucci, Prada, Channel, com suas vitrines iluminadas e modernas constatando com as famosas Cerejeiras Japonesas no canteiro central.

Kaoru sentiu-se em um mundo alternativo. Bem ela já devia prever isso, quem mandou se esconder na Mercedes Benz mais cara da empresa? O carro devia valer uns 300 mil dólares e dava pra morar uma família de refugiados dentro de tão confortável. O sono tranquilo que teve lá dentro provava isso.

Se um terreninho no centro de Tóquio custava mais caro que mansões em Beverly hills, Kaoru nem conseguiu computar em sua mente quanto esse apartamento valia. "Kami sama...Se o Sr Himura quiser, ele acaba com a minha vida, nunca mais eu saio da cadeia." Sussurrou para si mesma. Relembrando o momento constrangedor quando o ameaçou com a espada no pescoço.

"Sua cara de espanto..." Kenshin riu.

"Eu não tinha a menor ideia. É um andar inteiro..." Kaoru estava zonza.

"Sei que é muita ostentação... A verdade é que nem combina com meu estilo. Eu sou um homem simples Kaoru, mas esse apartamento foi um presente do meu pai. Foi uma das últimas coisas que ele comprou. Ele adquiriu o terreno antes mesmo do prédio ser construído." Kenshin sentiu um nó no estômago. Ele sempre sentia quando as pessoas descobriam o quanto ele realmente possuía.O julgamento nem sempre terminava de forma agradável para ele.

"Você é dono do terreno?" Kaoru deu um passo pra trás, intimidada. "Masaka!"

Kenshin acenou positivamente com a cabeça.

"O apelido dos meus pais era "casal Indiana Jones". Foram exploradores reconhecidos mundialmente. Minha mãe arqueóloga, meu pai antropologista. Muitas descobertas importantes estão documentadas sob o signo do casal Himura. Egito, Grécia, China, Machu Picchu... Eles descobriram artefatos valiosos em diversos países. Coisas que datam até mesmo da pré historia... Infelizmente, a carreira de sucesso acabou quando em uma das expedições ao interior da China eles adquiriram o vírus da cólera... Eu tinha oito anos, e fui o único sobrevivente da expedição..." Kenshin se sentou no encosto de um dos sofás do hall de entrada, enquanto Kaoru ainda rodopiava espantada com a beleza da decoração.

Ela parou e se virou para Kenshin "Sinto muito senhor Himura..." A jovem conhecia bem a dor de perder os país. Imagina perder os dois de uma vez só, aos oito anos de idade?

"Meu tio Hiko me criou desde então, mais ou menos... Eu mantenho esse apartamento mais como investimento do que qualquer outra coisa...E grande demais pra mim. É quase um museu, onde eu guardo as obras de arte que pertenciam ao meu pai."Kenshin percebeu o olhar espantado no rosto da moça. "Um tanto quanto solitário se você me perguntar..."

"Ok..." Kaoru estava mais tímida do que de costume. Na verdade ela estava intimidada com tamanho luxo. Mentalmente ela começou a demarcar os lugares por onde iria ou não caminhar naquele apartamento...Imagina quebrar uma obra de arte dessas. Do jeito que eu sou desastrada e azarada? ...

Kaoru se arrepiou ao passar perto de uma escultura.

"Vem, eu vou lhe mostrar o apartamento...a cobertura é meu lugar favorito. É fantástica eu tenho uma vista..." Kenshin pediu pela mão de Kaoru, para conduzi-la através dos ambientes. Ele tinha orgulho do terraço, que era tão grande quanto o restante do apartamento, mas infelizmente nunca trazia visitas, por motivos óbvios de segurança. O terraço era quase um mundo separado do resto do apartamento. Com balanças, horta, grama, piscina.

Kaoru travou no mesmo lugar.

"Na verdade... Senhor Himura, eu não quero ficar andando por aí não. Só me mostra onde fica o quarto de emprega, cozinha e banheiro , onegai...E se possível me emprestar uma camiseta para me trocar depois de uma chuveirada e..."

"O que?" Kenshin chacoalhou a cabeça.

"Senhor Himura, eu não quero incomodar, mais do que já incomodei...Eu... Olha pra esse piso, é um espelho. Acho que até as minhas meias mais finas arranhariam essa madeira... É melhor eu ficar na área de serviço somente..." Kaoru riu constrangida.

...Essa tal Kaoru Kamiya é impossível. Que moça...geniosa... Como ela não percebe? Eu a quero andando no apartamento. Explorando cada canto...

"Primeiro lugar, me chame de Kenshin! Segundo lugar, você acha que vai ficar no quarto de empregada?" Kenshin fez uma careta. "Eu nem tenho quarto de empregada, eu acho... Senhorita Kaoru! Não precisa mais ter medo! De agora em diante nós vamos dividir esse apartamento como colegas de quarto...E você vai andar pelos mesmos lugares que eu..."

Os olhos de Kaoru saltaram do tamanho de dois pires.

"Colegas de quarto? FICOU MALUCO? De jeito nenhum! Eu vou passar uma única noite aqui! Amanhã cedo eu pego o primeiro trem para Osaka ou sei lá!" Kaoru não acreditou, ela estava prestes a ser arremessada novamente nesse redemoinho?

...Eu já vivi isso com o Enishi. Começou exatamente do mesmo jeito. Querendo me ajudar, por causa das minhas despesas atrasadas e olha só o que aconteceu...

Ignorando Kaoru completamente, Kenshin usou um tipo de controle remoto para acender as luzes do apartamento. "Eu vou levar essa espada para o quarto de kenjutsu. Você não quer conhecer minha coleção? Eu sei que você gosta do assunto, seu pai era dono de um dojo não é? Tenho espadas da era Meiji, tenho shinais, bokens...A minha favorita é a sakabattou, uma espada rara que tem a lamina invertida."

"Senhor Kenshin! Você nem me conhece, eu sou desastrada! Poderia quebrar alguma coisa, e não tenho a menor condição de pagar, e... se o Enishi descobrir ele vai te prejudicar..."

"Para! CHEGA..." Kenshin levantou a voz e percebeu Kaoru se encolhendo. Ele se arrependeu na mesma hora

...Como eu sou burro, ela está traumatizada...

Kaoru deu um passo pra trás. ... Ter vindo até aqui foi um erro. Onde eu estava com a cabeça? Eu devia ter ido para a estação. Eu devia estar bem longe de Tóquio...

Kaoru agarrou a bolsa e caminhou rapidamente para a porta de saída doapartamento. Foi impedida por Kenshin. "O que você quer de mim. Qual a pegadinha dessa vez?

"Matte...Calma!" Kenshin segurou a mão dela, mas soltou imediatamente. "Não tem pegadinha, Kaoru, eu só quero te ajudar!"

"Por que? Se você quer me ajude, só acerte meu salario desse mês, e pronto!" Kaoru apertou a bolsa.

"Porque você está precisando de ajuda. E não, eu vou te pagar o salario, espere semana que vem como todos os outros funcionários."Kenshin sorriu levemente observando a expressão chocada no rosto dela.

"Ora! Muquirana!" Kaoru estava ultrajada.

"Confie em mim!" Kenshin piscou, mas apesar da brincadeira ele estava sendo sincero.

Kaoru deu um passo na direção dele, afastando-se da porta do elevador. "Eu já escutei tudo isso antes e não acabou nada bem pra mim... "

Kenshin estava ganhando. "Eu não sou o seu ex namorado. Kaoru-dono, você pode dormir onde quiser, na cozinha se achar que é confortável!"

"Mou..."kaoru desistiu de ir embora. "Kaoru-dono? Daqui a pouco você vai se chamar de "este servo" para me convencer a ficar!"

"Este servo convenceu?" Kenshin sorriu satisfeito. Kaoru se aproximou e deu um tapa de leve bem em cima da cabeça do ruivo. E depois riu da cara que ele fez.

Kenshin tinha conseguido "Oro?"

"Baka!" Desde a morte do seu pai Kaoru não se sentia assim, irreverente, com vontade de brincar, de ser sarcástica. Esse ruivo era irritante, ao mesmo tempo em que ela não queria se afastar dele.

Kaoru caiu na gargalhada. Tão forte e intensa que até a sua barriga começou a doer.

"Você é bipolar, né? Só pode!" Kenshin estava rindo junto. Gargalhando. E destruindo dezenas de muros que ambos tinham erguido aos seus redores.

Kaoru colocou a mão na barriga ,enquanto as risadas iam morrendo. "Arigato! Eu quis morrer com aquele vídeo, me senti tão mal, tão amarga... Você me ajudou já. Você é diferente de tudo que eu pensava... Sanosuke tinha razão, Kenshin Himura é um bobo!"

O ruivo sorriu " A verdade é que...Se eu disser que não existe uma satisfação pessoal em te ter aqui, estaria mentindo...Kaoru-dono, olhe ao redor, estou sozinho nesse apartamento há tanto tempo...Eu não quero mais ficar sozinho. Nesse tempo que você trabalhou na empresa...Eu vi..." Kenshin soltou o ar dos pulmões de uma vez. "Você não é superficial ou oportunista como as outras mulheres. Você é simples como eu... Por isso eu quero te ajudar e de bônus ganho uma amiga... Portanto pare de me chamar de Senhor Himura, me chame de Kenshin, ok?"

"E você, me chame de Kaoru, ok?" Kaoru estava emocionada. "Senh...Ken...shin! Eu não sei o que dizer...Se Enishi descobrir que eu estou aqui, ele vai te prejudicar. Eu tenho que ficar aqui escondida... Pelo menos até descobrir o que fazer a respeito dele... E o que fazer com a minha vida!"

"Meu advogado já tomou as primeiras providencias em relação à Enishi Yukushiro! Você pode se esconder aqui o tempo que for necessário." Kenshin puxou Kaoru pela mão, fazendo com que ela saísse do hall e entrasse pra valer no valioso apartamento.

"Como?! Seu advogado?..." Kaoru largou a bolsa em cima do sofá e se deixou levar.

Ao pisar no terraço Kaoru entendeu porque aquele era o lugar favorito de Kenshin, existia uma horta com ervas, legumes, arvores frutíferas, e as luzes da cidade, os prédios iluminados., e uma imensa lua cheia em cima deles. "Kirei..."

"Ne?" Kenshin só podia concordar, mas ele não estava olhando exatamente para as luzes da cidade e nem para lua. O ruivo não conseguia desviar o olhar dela. "Kaoru, hmm... Bem, eu não tenho uma empregada. Eu cuido da casa sozinho. Lavo, passo, cozinho... Pode se dizer que eu não sou um homem muito comum..."

"OH...Ohhh" A mente de Kaoru vagou por lugares coloridos. ...Claro, o cabelo comprido, perfeito , sem nenhuma ponta dupla, o jeito educado de falar com funcionários, a solteirice eterna. E ele é uma dona de casa. Oh...Kenshin é gay! Como eu não percebi isso antes...? "Ah Kenshin daijoubu! Eu não sou uma pessoa preconceituosa, acredito no amor de todos os jeitos... Por isso você nunca se casou, nem tem uma namorada oficial, apesar da idade avançada!"

"AH! Eu não sou gay se é isso que você está imaginando." ...Seu vídeo tá bem gravado na minha memória Kaoru, cada curva desse seu corpo... "IDADE AVANÇADA? Oro!"

"Oh desculpe!" Kaoru ficou vermelha e colocou as duas mãos na frente da boca para parar de sorrir. Que estava acontecendo com ela? Meia hora do lado de Kenshin e já estava contando piadas?

"Pelo menos eu não tenho vinte e poucos anos, mas estou com uma cara de quem saiu de um filme de terror!" Kenshin colocou a mão no ombro dela, afagando levemente.

"ARGH! Eu esqueci da maquiagem borrada". Kaoru piscou pra ele. "Ponto pra você Himura!"

"Foi um dia cansativo. Eu vou te levar para o seu quarto! Vem, tome um banho enquanto eu preparo o jantar..."

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Kaoru não tinha roupas, a sorte é que ela era pequena como Kenshin. O ruivo emprestou uma camiseta e uma calça de moleton para sua colega de quarto. Ele garantiu que no dia seguinte compraria roupas para ela e todas as coisas femininas, o que ela quisesse.

Kenshin terminava de preparar o jantar feliz da vida, como não se sentia há séculos. Ele não devia se sentir assim. Era muito precipitado, mas não conseguia evitar. Kaoru ainda não percebia seus sentimentos, mas como Sanosuke costumava a provocar, o ruivo tinha seus olhos multicoloridos focados na bela morena desde que ela colocou os pés na empresa.

Tê-la em sua casa, usando suas roupas, fazia seu coração bater igual um tambor. Infelizmente Kaoru estava traumatizada. Ganhar seu coração não seria fácil. Provavelmente sentiria medo e resistência em se entregar novamente. Com sorte e paciência, Kenshin conseguiria vencer esse desafio, se o destino dos dois fosse esse.

Bem, ao menos ele tentaria.

Kaoru apareceu na porta da cozinha. Com a camiseta surrada, ela escolheu assim, e um moleton molinho, o cabelo ainda úmido do banho, e o rosto limpo finalmente.

"Espero que você goste de tempu..."

Imediatamente Kenshin largou os utensílios de cozinha, que fizeram som metálico ao colidir com o piso. O ruivo estava do lado dela, segurando o rosto de Kaoru com as duas mãos. "Ele fez isso?" Sem o quilo de maquiagem que ela usava todas as marcas estavam visíveis. A horrível pancada roxa amarelada no canto do olho, o corte na sobrancelha, que já estava quase fechado.

E a marca no pescoço, os dedos de Enishi perfeitamente impressos no pescoço de Kaoru. "O maldito fez isso com você?" Kenshin sentiu um ódio revirando dentro dele, dentro do seu estomago, e adrenalina bombeando nas veias. Enishi era enorme comparado com Kaoru; Kenshin imaginou Kaoru, sem defesa, enquanto o desgraçado a esganava. Enquanto ele a asfixiava.

...KISAMA!Covarde, maldito!...

Kaoru não respondeu verbalmente, ela só balançou a cabeça positivamente. A jovem percebeu uma energia muito forte ao redor do ruivo. O cabelo dele chegava a levantar. Ele tinha um ki realmente poderoso, tanto que fez a farinha usada no tempura, que estava espalhada em cima da mesa voar longe.

"Oh Kaoru!" Mesmo com todo o ódio correndo nas suas veias, ele a abraçou,de forma protetora e delicada. Kenshin passou os dois braços ao redor dela. Um abraço reconfortante que Kaoru nem imaginava o quanto precisava. Lágrimas molharam os ombros de Kenshin, e ele disse baixinho no ouvido dela "Isso nunca mais vai acontecer... Eu prometo!".

...Eu vou matar o desgraçado! Tomoe que me desculpe, mas dessa Enishi não vai escapar. Não tem desculpa!...

Kaoru enfiou o rosto no ombro do ruivo, sentindo-se segura naquele abraço, enfim... "Arigato...Ken...shin..."

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