“Na verdade eu não sei bem o que está acontecendo. Num momento você estava comigo e agora não está mais. Bem, na verdade você está. Talvez seja por isso que eu esteja aqui. Porque você está aqui. Mas porque não levanta da cama logo? Essa cama é tão diferente daquela que nós costumávamos dormir. É tão pequena... Só cabe você. E há flores por todos os lados. Você sabe que eu gosto muito de flores, não é mesmo? É por isso que estamos cercados de flores? Aquelas que você tentou plantar uma vez no jardim lá de casa eram tão lindas e cheirosas que eu não pude me conter. Tirei todas de lá. Nós brigamos. Quer dizer, você brigou comigo. Lembra? Eu fiquei meio mal por um tempo, fui pra minha cama e tentei dormir. Era uma tarde bem ensolarada, mas o vento gelado criava um perfeito equilíbrio de clima.
Mas eu não guardo ressentimentos, você sabe disso. Depois da cochilada eu fui falar com você como se nada tivesse acontecido. E eu sei que você também não é uma pessoa rancorosa. Pelo menos não comigo. Deitei ao seu lado, me aconchegando em sua roupa, trocamos carinhos e estava tudo bem de novo. Seu comportamento comigo era diferente do que com os outros. Eu me sentia tão à vontade, tão feliz, só de estar ao seu lado. Porque eu sabia que você nunca faria nada pra machucar. Sentia na sua pele o amor que você nutria por mim. Mas você não sente mais nada. Porque você está cercada de pessoas que choram.
Acho que o momento mais feliz do meu dia era quando você chegava a casa. Porque meu dia só se resumia a comer, dormir e me divertir, até porque, eu preferia sair de casa só com você, e a rotina até que era boa. Mas nada se comparava com o momento no qual você chegava. A euforia que eu sentia chegava a ser sufocante. E eu só pensava em te mostrar o quão feliz eu estava, esperando o mínimo de atenção que você pudesse me dar. Porque eu te amo. Eu te amo sem esperar nada em troca.
Nosso auge já passou faz um tempo. Eu fui ficando velho, e parecia ser mais rápido que você... Já não tinha tanta energia quanto antes, mas não deixava de me esforçar. Mesmo debilitado, ainda esperava você chegar todas às noites.
Naquela noite eu soube que algo estava errado. Sentia dentro de mim. Um arrepio percorreu meu corpo e eu comecei a gritar. Alguém, de certo, me ouviria.
Acabou que minha certeza só foi dar as caras de manhã, quando sua mãe foi me buscar. Você não havia voltado aquela noite. E não iria mais voltar.
E eu estou aqui. Sentado ao seu lado, esperando que você volte, mesmo sentindo que isso não vai acontecer. Mas eu não vou sair daqui. Porque quero que você saiba e tenha certeza de que eu nunca vou lhe abandonar. E eu não sei viver sem você.
Com amor,

Batatinha.”