Annabeth

Completamente entediada. É isso. Entediada. O recreio havia acabado á uns minutos e estávamos numa aula vaga entediante porque o Percy está se enturmando bem até demais com essa tal de Bianca. Ela é bonita. Por que ela é bonita? Estávamos sentados do lado de fora, em uma toalha estilo piquenique. Quer dizer, acho que eram umas quatro remendadas porque ficou gigante, já que coube uma boa parte do grupo que havia ido à escola.

Agora, Bianca estava sendo acariciada e recebendo olhares de dó porque contou que sua mãe havia morrido e blá blá blá. Resmunguei, mas não chamei a atenção de ninguém sentado na toalha. Bufei e me levantei.

–Aonde vai, Annabeth? – Caly me perguntou.

–Tomar um pouco d’água, ir ao banheiro, o de sempre – Revirei os olhos.

–Okay, okay... – Ela voltou a prestar atenção em Bianca, e eu sai com os braços cruzados e provavelmente com a cara vermelha. Sem querer, esbarrei em alguém.

–Ah, me desculpe. Sou muito desastrado mesmo - O garoto se desculpou e eu sorri, percebendo um sotaque bem carregado em sua voz. Ele tinha cabelos negros, olhos azuis perfeitos. Uma camiseta azul e uma calça jeans. E era magro... bem magro, não tão magro, um magro legal.

–Tudo bem – Uma oportunidade passou por meus olhos. E eu não poderia deixar para lá – Sou Annabeth Chase, e você?

–Sou o Aaron, Aaron Campbell. Sou australiano – Australiano? Ai ai ai. Se bem que ele tinha um jeito meio gay, não sei.

–E bonito – Elogiei e ele sorriu, mas depois me encarou sério.

–E gay.

–Sabia! – Eu ri e ele me acompanhou.

–E então, o que faz Annabeth Chase, uma garota popular e bonita, vir falar com um nerd?

–Você está na escola a quanto tempo? – Arregalei os olhos.

–Um ano e meio – Ele coçou a cabeça e fez uma careta – E fazemos... umas oito aulas juntos.

–Sério? Como nunca te percebi por aqui? – Cerrei os olhos.

–Hum... Você está muito ocupada olhando para o Jackson que acaba não percebendo o resto – Ele cruzou os braços – Vocês formariam um casal legal.

–Eu e o Percy? – Levantei a sobrancelha – Não, não... o Percy não gosta de mim, eu não gosto dele...

–Sério, Annabeth? – Ele me encarou. Hesitei, mas o respondi.

–‘Tá tão na cara assim?

–Para quem te observa olhando para ele por uma aula inteira, sim, está na cara.

–Como eu olho para ele? – Fiz uma careta.

–Do modo mais apaixonado que você possa imaginar – O encarei por um tempo e sorri.

–Quer saber, você vai virar meu G.B.F. Ou melhor, G.N.F. por enquanto. Acabei de inventar esse último. – Sorri.

–G.B.F.? G.N.F.? – Ele arqueou as sobrancelhas.

–É, já ouviu falar Gay Best Friend? Melhor amigo gay. Uma bicha como melhor amigo... enfim, G.N.F. é Gay New Friend, porque acabei de conhecer você – O cutuquei.

–Primeiro: isso foi muito... perdoe-me, idiota, - Revirei os olhos - segundo: o Percy é seu melhor amigo – Ele apontou discretamente para Percy.

–Eu sei, mas ele é meu melhor amigo hetero, com o qual não posso conversar sobre garotos, com você eu posso – Sorri.

–Mas isso você faz com suas amigas – Eu e ele começamos a caminhar.

–É, mas elas têm namorados, sentem como se não pudessem dar a opinião delas. Além disso, você é homem, sabe o que os homens querem. Você não tem namorado, não é?

–Não, não conheço muitos gays – Ele mordeu o lábio.

–Perfeito – Sorri, o abraçando. Ele se assustou com o gesto, mas abraçou-me de volta – E principalmente, vou ter alguém com quem falar sobre certo moreno de olhos verdes que ferrou com meu emocional – Mordi o lábio, olhando em direção a toalha em que Percy e todo o resto riam de algo que Bianca estava falando.

–Ah, me passa seu número – Ele sorriu, pegando o celular. Depois que eu lhe disse meu número, ele me passou o dele.

–Você pode se sentir confortável comigo, ‘tá? Não sei se sou legal, mas para manter todos os meus amigos, não devo ser chata, não é? – Sorri em direção a ele, que sorriu de volta – Vem – Segurei seu pulso e puxei-o na direção da mesa onde todos estavam.

–E Annabeth está de volta com um... Um cara realmente muito gato, meu pai! – Caly comentou exagerada, recebendo um olhar triste e ciumento de Leo. Aaron corou instantaneamente e eu me sentei, indicando para que ele se sentasse do meu lado.

–Esse é o Aaron. Ele é australiano e estuda com a gente a um ano – Sorri.

–Um ano? Como nunca o vi? – Percy perguntou, mas o ignorei.

–Um dia, ainda vou poder chama-lo de G.B.F. – Sorri, gesticulando.

–Ei, eu sou seu melhor amigo! – Percy exclamou, mas o ignorei novamente.

–Enfim, qual era o assunto?

(...)

–Então... cos x = 3/5 – Sorriu Aaron.

–Você é um gênio – Levantei a mão e fizemos um Hi-Five. Fomos os primeiros a terminar a prova de matemática, que era em dupla. Percy fez com Reyna... prevejo que ela tenha feito a prova toda como eu fazia com ele. Com Aaron, pensávamos com duas cabeças. Era bem melhor. Depois que entregamos a prova, peguei um livro e comecei a ler, enquanto Aaron, folgado, resolveu dormir.

Quando o sinal tocou e todos saíram da sala, olhei de relance para Percy, que estava um pouco atrás de mim, e sorri. E ele retribuiu com seus lindos dentes que deixavam seus lábios perfeitos, não que não fossem sem. Tropecei em meu próprio pé e me apoiei em Aaron, que sorriu.

–Você não sabe esconder isso mesmo, não é? –Ele sorriu e eu corei.

–Quer ir a minha casa amanhã? – Perguntei-lhe.

–Claro, por que não? – Ele sorriu e eu o acompanhei logo depois sentindo uma mão segurar e puxar meu braço.

–Que é? – Perguntei a Thalia.

–Que é o caramba. Por que está fazendo isso? Que ciúme idiota! Como você não percebe que o Percy te ama? Mais do que como você pensa, Annie. Bem mais.

–Ei, o Aaron é só meu amigo! Não vou trocar o Percy por causa dele – Exclamei, indignada.

–Foda-se, Annie.

–Quem mandou? Primeiro a Rachel, depois da Bianca.

–A Bianca é muito legal! – Thalia cruzou os braços.

–Viu? Até você.

–Annabeth, ela perdeu os pais dela!

–Eu sei! Eu ouvi a história, mas continua não sendo motivo! Todos sabem que eu tenho ciúme com meus amigos.

–Não, você não tem. Só com o Percy – Thalia fez uma careta, mas depois sorriu.

–Todo mundo está contra mim agora? – Cruzei os braços – Não reclamem se passar muito tempo com o Aaron, ele não me julga – Sai pisando fundo e indo até Aaron, que me encarou com uma cara estranha, decepcionada.

–Não vou dizer nada, mas ela só quer te ajudar.

–Não, ela quer que todos acreditem que eu e Percy formamos o melhor casal, mas ele e eu somos amigos... Ele não gosta de mim, sei que não, por que gostaria? – Disse cabisbaixa e ele me olhou indignado.

–Cachorra, escuta aqui – Ele disse com uma voz muito gay – Você é bonita, engraçada, e eu só te conheço a algumas horas e já vejo trezentos motivos para gostar de você. Se eu gostasse da fruta que deveria gostar, eu te pegava – Sorri, com minha confiança aumentando.

–Bom, o Percy me dá carona e acho que ele não se importa se você for também.

–Acho que ele se importa sim – Ele indicou com a cabeça um Percy observando um pouco nervoso. Mordi o lábio e olhei para baixo.

–Até amanhã.

–Tchauzinho – Ele acenou (de um modo gay demais).

Olhei para Percy e ele sorriu, me abraçando de lado e andando até seu carro sem dizer uma palavra. Mas quando chegamos no carro, Percy se pronunciou.

–Quem é ele? – Perguntou-me e eu o encarei.

–Um amigo – Respondi calma e voltei a olhar para frente.

–Annabeth, eu... – Ele hesitou antes de falar – Não preciso me preocupar com seu ciúme bobo, não é? Digo, eu só me dei bem com a Bia.

–Bem, se a Bia e você se deram tão bem, por que não dá carona para ela? Cada semana é uma, eu... Só tenho medo de ser trocada.

–Annabeth, quantas vezes eu vou ter que dizer que eu nunca te trocaria? Já está ficando cansativo tentar colocar isso na sua cabeça – Olhei para ele com minha melhor cara de “vou chorar”.

–Me desculpe, eu... Desculpa – Olhei para os meus pés, que pareciam bem mais interessantes.

–Chegamos – Ele disse depois de um tempo.

–Obrigado – Disse, abrindo a porta do carro.

–Annie – Ele colocou a mão no meu ombro – Eu te amo – Sorri e assenti.

–Eu também, e o Aaron é só um amigo aí, você é meu melhor amigo para sempre, sempre – Quando sai do carro, olhei para trás na esperança de ver um Percy sorridente, mas o vi com a testa encostada no volante. Pensei em voltar para conversar com ele, mas não tinha como, ele já havia dado a partida no carro e estava prestes a sair. Sentei-me do lado de fora de casa e peguei o celular, enviando uma mensagem para Aaron.

“O Percy estava estranho, depois que me despedi dele, olhei para trás e vi que ele estava... triste, no carro”.

“Mama mia, você é cega?” Ele respondeu depois de alguns segundos.

“Como assim?” Não sou burra, mas não entendi.

“Esquece. Quer ir no shopping hoje a tarde?”

“Por que não?” Assim que enviei essa última mensagem, levantei-me e abri a porta, torcendo para que a comida já estivesse pronta.