Hisui começou a estalar os dedos ameaçadoramente, tentando avançar para as Parcas e terminar o que começara no jardim. No entanto, Shark agarrou-lhe no antebraço, impedindo-a de continuar.

– Elas escaparam ao fogo – disse ele, virando-se para as Parcas com o rosto endurecido de determinação – Vamos ver se também escapam da água.

Shark avançou, com água começando a pingar-lhe dos dedos e deixando pegadas molhadas onde poisava os pés. Não demorou até o seu cabelo ficar também molhado, pingando mais água para o chão.

– Achas que consegues fazer alguma coisa com isso? – perguntou Esmeralda, sacudindo os braços e fazendo com que duas tesouras enormes surgindo magicamente nas suas mãos.

Shark limitou-se a inclinar a cabeça ligeiramente para o lado, com um pequeno sorriso desafiador nos lábios.

Esmeralda avançou a correr para atacar, mas viu subitamente erguer-se uma onda na sua frente, a qual se despenhou em cima da sua cabeça, atirando-a ao chão. Enquanto Esmeralda lutava para se levantar, o corpo protestando da queda, Axinite já estava também a correr na direção de Shark, com um pequeno fio nas mãos, quase invisível, mas que o Deus Supremo da Água não tinha vontade nenhuma de sentir perto de si. Portanto lançou uma bolha de água contra a Parca da Vida, com a mesma força com que seria lançada uma bala de canhão. Se não morresse ao ser atingida, ficaria inconsciente durante um bom pedaço de tempo.

No entanto, nenhuma das duas coisas aconteceu. Axinite limitou-se a mover o fio como de se um chicote de tratasse, lançando-o contra a bola de água. E, para choque de Shark, o fio cortou a sua bola de água ao meio, fazendo a água espalhar-se num V pelo chão, com Axinite logo atrás do vértice.

– Cuidado! – gritou Saya, avançando para Shark. No entanto, foi tarde demais.

O fio que Axinite usava como chicote enrolou-se em Shark, prendendo os seus braços e as pernas e apertando com força. Não demorando muito até o rapaz soltar um grito de dor, enquanto o fino fio penetrava na sua carne, cortando-o lentamente.

Com um grunhido de raiva, Saya avançou, descalçando a luva da sua mão direita enquanto o fazia.

– Meteste com a pessoa errada! – gritou ela, agarrando o fio com a mão direita… que era feita de gelo, de um azul claro e transparente. O fio congelou automaticamente, fazendo Axinite largá-lo com um pequeno grito, linhas vermelhas nas palmas das mãos e nos dedos, nas zonas em que a sua pele entrara em contacto com o gelo. Shark, por outro lado, viu-se por fim livre, precisando apenas de fazer uma pequena pressão com os braços para o gelo se partir e o libertar. No entanto, também o gelo o afetou a ele, fazendo-o cair de joelhos, gemendo com dores.

Nessa altura já Saya estava com a atenção centrada em Esmeralda, que a tentava atingir com as suas tesouras. As duas raparigas envolveram-se numa luta que parecia saída de um filme de ação, Esmeralda tentando atingir Saya e conseguindo por várias vezes, apesar de a rapariga se esquivar.

Todavia, apesar de Esmeralda atingir a Deusa Suprema do Gelo, não lhe causava qualquer tipo de dano. Onde as suas tesouras tocavam Saya, um pedaço de gelo aparecia magicamente. Não levou muito tempo até Saya ficar quase completamente coberta por gelo, em especial os antebraços, que era a zona que ela mais usava para se proteger e impedir as tesouras de lhe acertar na cabeça.

– Morre de uma vez! – gritou Esmeralda, fora de si, preparando-se para a estocada final, que atingiria a cabeça de Saya, num poderoso golpe vindo de cima. Porém, para surpresa de todos, Saya conseguiu agarrar a tesoura com a mão direita, fazendo um sorriso vitorioso que não deixava dúvidas quanto ao facto de aquilo ser o que ela pretendia desde o início. A tesoura de imediato se começou a cobrir de gelo, Esmeralda tentando arranca-la da mão de Saya, sem sucesso. Antes de poder tentar atingir Saya com a outra tesoura, a Deusa do Gelo agarrou-lhe o pulso.

– Sabes? – disse Saya, em tom casual – Tudo o que está no gelo… pertence-me.

E bastou um movimento do pulso para partir a tesoura gelada.

– Saya! – chamou Shark, que conseguira agarrar Axinite e a mantinha presa no chão, no meio de uma poça de água, da qual escorria um fino fio de água que avançava na direção de Saya.

Saya olhou, atirou Esmeralda para longe para ganhar tempo, e depois correu na direção do fio de água, tocando-o com a ponta dos dedos. A água começou de imediato a gelar, avançando rapidamente na direção de Axinite e Shark. O rapaz estava completamente concentrado no avanço do gelo, segurando Axinite que ainda se debatia, e atirou-se para trás quando estava quase a ser apanhado. Nessa altura já era tarde demais para Axinite, que ficou com metade do rosto preso ao gelo, assim como um braço e uma perna, guinchando como um porco no matadouro enquanto sentia o frio cortante queimar-lhe a pele.

– Ajuda-me, Obsidiana, sua inútil! – gritou ela, batendo no gelo com a mão que tinha livre, tentando parti-lo.

Obsidiana, porém, recuara para as sombras, parecendo estar a tentar sair dali muito sorrateiramente, não querendo envolver-se mais na luta.

Não teve sorte.

Bastou a Jade agachar-se, com uma mão espalmada no chão, para uma grossa planta brotar do chão mesmo por trás de Obsidiana, apanhando-a e impedindo-a de fugir.

E a luta ficou por aí.

No momento seguinte o chão começou a estremecer e um pequeno cometa vermelho saiu disparado do poço, subindo câmara acima na direção do teto, enquanto uma data de linhas vermelhas surgiam a parti do ponto onde o cometa em breve bateria, descendo pelas paredes, no espaço entre cada nicho.

Aconteceu tudo numa fração de segundo: o cometa a surgir, a subir na direção do teto da câmara, a chocar com ele e a desfazê-lo.

– Para baixo! – gritou uma voz qualquer, quando enormes pedregulhos começaram a cair na sua direção. O pânico instalou-se enquanto todos corriam à procura de um lugar seguro, onde se pudessem abrigar das pedras.

A câmara encheu-se de poeira, fazendo com que todos começassem a tossir descontroladamente. Quando a poeira finalmente assentou e todos se endireitaram, começaram por se certificar de que todos estavam inteiros. Incluindo as Parcas que, apesar de estarem imobilizadas, se tinham safado.

– G-Gina? – chamou Niko, assustado, reparando que a rapariga estava muito concentrada a olhar para o poço.

Não demorou muito até Gina começar a avançar na direção do poço, logo seguida por Hisui, Dest e Tech.

– O… o que é que eles estão a fazer? – perguntou Elpída, confusa.

Ninguém lhe conseguiu responder, limitaram-se a ver Gina, Hisui, Tech e Dest reunir-se em volta do poço, de onde algo brilhante estava a sair. Algo que na verdade era L, aparentemente desmaiada, o seu corpo flutuando no ar e do qual emanava um misterioso brilho branco.