Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 86
Capítulo 86




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A sensação da substância dourada contra a sua pele não era nada do que ela estava à espera. Era como se estivesse a ser levada pela suave ondulação do mar, mas não se sentia como se estivesse dentro de água. Na verdade, sentia-se simplesmente a flutuar no meio de uma bolha de ar quente. Abriu os olhos, vendo tudo em seu redor tingido de dourado, ficando mais escuro e concentrado à medida que a distância aumentava.

O espaço em que estava a substância tinha o mesmo diâmetro que a câmara acima, e L conseguia também distinguir nichos nas paredes, a maior parte vazios. Os mais próximos do topo tinham todos restos dos fusos que ela vira lá em cima, desfazendo-se lentamente em pequenas partículas douradas, que se juntavam ao resto da substância que por ali ondulava.

No entanto, apesar de ter o mesmo diâmetro que a câmara dos fusos, parecia ser muito mais profunda, uma vez que L não conseguia ver o fundo. Começou por se perguntar se teria fôlego suficiente nos pulmões, perguntando-se logo de seguida de realmente precisava de suster a respiração. Talvez pudesse respirar…

L arriscou uma pequena inspiração, soltando depois um suspiro quando compreendeu que podia respirar livremente. A sensação de ter a substância dourada entrar-lhe pelo nariz era um pouco desagradável, mas o que lhe interessava era obter oxigénio.

Olhou para cima, vendo os rostos dos seus amigos em redor do muro do poço, olhando para ela com alguma preocupação. Sorrindo, ergueu o polegar, para lhes indicar que estava tudo bem. E depois deu aos braços e às pernas, como se estivesse a nadar, para conseguir mover-se na direção do fundo. Enquanto o fazia, olhava cuidadosamente em volta, tentando encontrar algo que lhe parecesse suspeito. A questão era: o que é que ela deveria tomar como suspeito? Afinal, tudo naquele lugar lhe era estranho. E ela não fazia ideia de por onde deveria começar a procurar o Livro dos Nomes. Mas não vendo nada digno de atenção, continuou a nadar, mais e mais profundamente, na direção do fundo.

Demorou ainda um pouco a começar a distinguir o que deveria ser o chão daquele “depósito”. A primeira coisa que lhe saltou à vista foi a cor, o dourado-negro transformando-se em dourado-castanho. Logo depois começou a distinguir as arestas das rochas e algumas reentrâncias. E, por fim, o pedaço de rocha lisa que havia bem no centro da câmara, e sobre o qual estava um livro de capa dura aberto, as páginas formando um leque enquanto eram muito lentamente viradas pela ondulação da substância dourada.

“O Livro dos Nomes!”, constatou L, com o coração a palpitar.

Nadou com ainda mais força e, quando estava prestes a chegar ao livro, uma data de linhas vermelhas fugiram de debaixo dele, desenhando várias runas e outros símbolos que ela não entendeu.

Recuou de imediato, perguntando-se se aquilo seria alguma espécie de proteção contra alguém que quisesse roubar o livro e que efeitos poderiam aquelas runas provocar.

“Saya, preciso da Saya”, pensou L para si. Afinal, a sua Madrinha era uma perita em runas, com certeza que conseguiria ler o que ali estava escrito. Mas não se poderia dar ao luxo de voltar para trás para ir chamar Saya e as duas voltarem a descer. Levaria demasiado tempo e eles tinham de completar a profecia o quanto antes.

Engolindo suavemente em seco, L tornou a aproximar-se do livro. As linhas vermelhas que haviam desenhado as runas mantiveram-se quietas, brilhando suavemente no meio do dourado da substância.

“Pega no livro. Pega no livro e nada pela tua vida.”

L estendeu hesitantemente as mãos para o livro, conseguindo distinguir, no meio das páginas amareladas, uma infinidade de palavras escritas numa brilhante tinta vermelha. No entanto, apesar de curiosa, não se permitiu a distrair com isso. Os seus olhos miravam desconfiadamente em redor enquanto continuava a direcionar as mãos para o livro, tocando-lhe por fim. Esperou alguns segundos por uma reação àquele toque, mas tudo se manteve calmo e inalterável. Portanto, L pegou no livro, fechando-o para poder olhar a capa.

Era de couro, castanho e duro, com um rubi muito brilhante no centro da capa. Quando L lhe tocou, curiosa, a gema explodiu numa luz brilhante que a cegou e fez cair no vazio.

* * *

– Ai, aquilo foi muito esquisito – gemeu Shark, quando viram a forma estranha como a substância dourada ondulou ao receber o corpo de L.

– Estará bem? – perguntou Dest, enquanto observavam L a olhar de um lado para o outro, talvez a verificar o terreno.

– Ela parece bem – opinou Saya, encolhendo levemente os ombros.

– Como é que a vamos tirar de lá? – perguntou de repente Gina, fazendo com que todos olhassem na sua direção por um momento, antes de voltarem a olhar para L.

– Boa pergunta – murmurou Tech.

– Podias criar uma planta para a puxar – sugeriu Lilás.

Gina lançou-lhe um pequeno olhar zangado, voltando logo depois a olhar para dentro do poço, onde L voltara o rosto para cima, para eles, e sorria enquanto erguia o polegar, para indicar que estava tudo bem lá em baixo. Depois mergulhou, nadando cada vez mais para o fundo, até que deixaram de a conseguir distinguir no meio da substância dourada.

Hisui respirou fundo, endireitando-se com as mãos na cintura.

– Bem, agora só nos resta esperar – constatou ela.

– Pela morte? – perguntou uma voz desdenhosa que os fez olhar todos na direção da entrada da câmara.

As três Parcas estavam lá, despidas e mal tratadas, mas vivas.

A Parca do Nascimento, Obsidiana, era a que estava em pior estado, o cabelo tinha ardido completamente, apenas restando alguns tufos negros e encaracolados na sua cabeça enfarruscada. Ostentava também algumas queimaduras nas palmas das mãos e, pela fuligem nos seus pés, também deveria ter as plantas destes queimadas. Deveria ser-lhe extremamente doloroso andar.

Quanto à Parca da Vida, Axinite, tinha apenas alguns arranhões distribuídos pelo corpo, e ramos e folhas emaranhados no seu, outrora sedoso, cabelo castanho. Agora o seu cabelo apresentava seco e sem vida, como se ela tivesse abusado do secador de cabelo.

A Parca da Morte, Esmeralda, parecia ser a única que se encontrava completamente incólume, apenas com as bochechas ligeiramente escaldadas.

– Aguentaram com o Burn, hã? – constatou Shark, cruzando os braços na frente do peito, com gestos lentos e ameaçadores.

– Ele não era par para nós – disse Axinite, abanando levemente a mão, como se para afastar uma mosca irritante – Mas, ainda assim, foi uma pena ter de o matar. Ele tinha potencial para se tornar um grande deus.

Os amigos empalideceram enquanto trocavam alguns olhares assustados.

Burn? Morto? Era impossível…

– Eu saberia – murmurou Hisui, parecendo estar a tentar convencer-se – Eu saberia se ele tivesse morrido…

– Sim, saberias, se o teu poder fosse direcionado exclusivamente para a morte – disse Obsidiana – Mas o teu poder é bem mais abrangente do que isso, pelo que tens de o concentrar num só ponto para realmente saberes o que se passa em teu redor.

– Chega de conversa! – gritou Esmeralda, de repente, afastando os pés e fletindo os joelhos, em posição de combate – Chegou a vossa hora, deuses da profecia!


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